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Por que temos tão pouca cobertura de pelos no corpo?



- Atualizado no dia 18 de junho de 2024 -

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            É interessante observar que somos um dos poucos mamíferos terrestres que apresentam cobertura capilar (pelagem) extremamente limitada. Ao longo do processo evolutivo na linhagem de primatas bípedes, robusta cobertura capilar persistiu apenas na região da genitália, nas axilas, no topo da cabeça e, restrito ao sexo masculino, na região facial, com o resto do corpo exibindo fios capilares muito pequenos, finos e menos pigmentados quando comparados com outros primatas ainda vivos (apesar da concentração capilar - 60 pelos por cm2 - não ser muito inferior). Mas quando e por que ficamos "pelados" durante o percurso evolutivo?


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   PERDA DE COBERTURA CAPILAR

           Todas as evidências genéticas, arqueológicas e paleontológicas acumuladas apontam que os humanos modernos (Homo sapiens) tiveram origem na África (1). Evidência paleontológica sugere que nossos mais antigos ancestrais divergiram de outros hominídeos aproximadamente 2,3-2,4 milhões de anos no Sul e Leste da África. Todos os nossos parentes evolutivos mais próximos ainda vivos, as 192 espécies de macacos e hominídeos não-humanos (chimpanzés, bonobos, orangotangos e gorilas), possuem um corpo com ampla e robusta cobertura capilar quando adultos (!). Evidência genética sugere que humanos há pelo menos 1,2 milhão de anos exibem um corpo relativamente "pelado", apesar da densidade folicular ser similar àquela de outros hominídeos de tamanho corporal equivalente (Ref.8).

(1) Sugestão de leitura:

           Há cerca de 1,8 milhão de anos, após estabelecimento de um bipedalismo efetivo e quando membros do gênero Homo (humanos) começaram a exibir uma estrutura permissiva à corrida, é especulado que a perda de ampla cobertura capilar teve início, ou seja, bem antes da emergência dos humanos modernos (Homo sapiens) na África, há ~300 mil anos.

          Mas é importante realçar que ainda é muito debatido quando exatamente começamos a perder de forma significativa nossa pelagem corporal. Existem duas linhas de evidências que a princípio suportam o início desse processo 1,8 milhão de anos atrás:

- Uso do fogo para cozinhar os alimentos: Com menos pelagem no corpo, noites frias se tornam um desafio considerando um contexto onde roupas não são uma opção. Nesse sentido, perda de pelagem precisaria ser acompanhada por uma quantidade extra e substancial de calorias para compensar o gasto calórico extra ao longo da noite. O uso do fogo para cozinhar os alimentos permitiu refeições mais fartas, e estimativas sugerem que humanos começaram a utilizar o fogo para esse fim há ~2 milhões de anos, concordante com a evolução de perda significativa de pelagem há 1,8 milhão de anos. Porém, existem cientistas que defendem um início bem mais recente do uso habitual de fogo para cozimento,  há ~500 mil anos. Clara evidência arqueológica do amplo uso de fogo data de 400 mil anos atrás, no Pleistoceno Médio, tanto na África quanto na Eurásia (Ref.9). Convincente evidência para o uso conhecido mais antigo de fogo por humanos para cozinhar carne [peixe] data de 780 mil anos, associada ao Homo erectus (Ref.10).

- Divergência evolutiva de ectoparasitas: Existem dois piolhos humanos modernos-específicos: Pediculosus humanus capitis (piolho de cabeça) e Pediculosis humanus humanus (piolho de corpo). Análises genômicas (DNA mitocondrial) indicam que essas duas espécies evoluíram de um único ancestral que parasitava os humanos, com essa divergência ocorrendo há cerca de 1,8 milhão de anos. Apesar de morfologicamente similares, esses piolhos habitam diferentes partes do corpo. Os piolhos de cabeça vivem no escalpo e se alimentam mais frequentemente do que os piolhos de corpo, estes os quais vivem nas roupas e se movem para o corpo uma ou duas vezes ao dia para se alimentarem. A ideia é que como existe uma grande extensão sem pelagem que divide o topo da nossa cabeça e os pelos pubianos (principal local alimentação do P. h. humanus), esses parasitas começaram a sofrer mudanças para se adaptarem a uma ou outra região do nosso corpo, com um eventual isolamento reprodutivo. Ou seja, a separação evolutiva desses ectoparasitas coincidiria com progressiva perda de pelagem no nosso corpo, com robusta retenção de cobertura capilar apenas no escalpo, axilas e região genital.

Leitura recomendada:

   (!) NEOTENIA?

          Notem que o rosto de um bebê chimpanzé é muito similar ao rosto humano [plano, figura abaixo], mas ficando bem protuberante na fase adulta.


          Humanos modernos (Homo sapiens) diferem de chimpanzés (Pan troglodytes) por apenas ~1% do DNA (em termos de genes codificantes), e mesmo assim existem muitas diferenças físicas entre as duas espécies. Porém, várias características anatômicas e fisiológicas humanas são similares àquelas de chimpanzés no estágio final de desenvolvimento fetal. Isso inclui padrão capilar na cabeça, crânio globular, formato da orelha, rosto vertical plano, ausência de osso peniano (báculo) nos fetos machos (1), posicionamento da vagina, presença de hímen em neonatais fêmeas (2) e estrutura do pé.

          Existe uma hipótese evolucionária que sugere um processo chamado de neotenia marcando a divergência evolutiva da nossa espécie em relação ao ancestral hominídeo comum entre chimpanzés e humanos (Ref.11-17). Ou seja, fomos atrasando cada vez mais a perda de traços infantis de hominídeos ancestrais ao longo do desenvolvimento até a fase adulta durante a evolução anatômica dos homininis.

           Isso poderia explicar, por exemplo, por que possuímos uma longevidade muito maior em relação a outros primatas hominídeos hoje vivos ou mesmo explicar o mecanismo evolucionário responsável pela ampla perda de cobertura de pelos corporais (ex.: bebês chimpanzés, gorilas e orangotangos também possuem amplas áreas "peladas" no corpo). E de fato, com o avanço da idade na fase adulta, tendemos a ficar cada vez mais peludos em várias partes do corpo - principalmente o corpo masculino -, incluindo barba, axilas, sobrancelhas, peitoral, etc. (seria apenas um atraso fenotípico muito prolongado?).

Recém-nascidos de hominídeos não-humanos, todos exibindo grande cobertura capilar no escalpo mas esparsa cobertura em outras partes do corpo (ex.: peitoral e abdômen) - um padrão típico de humanos adultos. Em (A), bebê chimpanzé (Pan troglodytes); em (B), bebê gorila (Gorilla); e, em (C), bebê orangotango (Pongo). Ref.11

          Aliás, o desenvolvimento sináptico no neocórtex humano é 2 a 3 vezes mais lento do que em macacos e camundongos, sugerindo neotenia na maturação de sinapses. O neurodesenvolvimento humano em geral é considerado significativo mais lento do que outros primatas hoje vivos, e fatores genéticos regulatórios já foram identificados nesse sentido. Algo similar é observado no período estendido de maturidade motora e física dos bebês humanos.

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(1) Diferente de muitos outros mamíferos - incluindo primatas hominídeos - humanos não possuem osso peniano. Mas existe um fator de seleção sexual explicando esse fenótipo? Ou apenas uma consequência da neotenia sem significado adaptativo? E o que "Adão e Eva" tem a ver com essa história? Fica a sugestão de leitura: Por que humanos não possuem um osso peniano? 

(2) É incerta a função biológica do hímen, também presente em fêmeas de alguns outros mamíferos, como elefantes. Em humanos, seria também apenas uma consequência da neotenia sem significado adaptativo? Fica a sugestão de leitura: Toda mulher sangra quando "perde a virgindade"?
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   HIPÓTESE DOS ECTOPARASITAS

            A perda de pelagem na linhagem de hominídeos levando aos humanos tem atraído a atenção de antropólogos e biólogos evolucionários desde Darwin (1871). Uma das principais hipóteses historicamente levantadas sugere que a rala cobertura capilar nos humanos é uma resposta evolutiva contra ectoparasitas (Ref.21). Essa hipótese propõe que a escassa pelagem reduz o risco de infecção por ectoparasitas diversos (carrapatos, piolhos, pulgas, etc.) que são frequentemente vetores de sérias doenças, como tifo, febre maculosa (3) e peste bubônica (4), particularmente em áreas geográficas próximas do equador. Portanto, humanos cada vez mais "pelados" são menos vulneráveis a ectoparasitas e doenças infecciosas, e, consequentemente, possuem maior sucesso reprodutivo e maior chance de passar o fenótipo benéfico para as próximas gerações.

Leitura recomendada:

          Além da seleção natural, humanos com pelagem mais escassa seriam preferidos por parceiros sexuais por sinalizarem menor suscetibilidade a doenças infecciosas. Os efeitos somados de seleção natural e de seleção sexual eventualmente levariam a uma dramática redução na pelagem corporal.

          Porém, em termos de seleção sexual, evidências recentes são conflitantes e não suportam essa hipótese (Ref.22-23). Enquanto que mulheres (sexo feminino) em geral tendem a preferir homens com menos cobertura capilar no corpo (ex.: peitoral "menos cabeludo"), não parece existir significativa diferença para essa preferência entre populações de diferentes regiões geográficas expostas a diferentes níveis de ectoparasitas e não parece existir significativa relação entre essa preferência e nível de repulsa a ectoparasitas ou histórico de doenças infecciosas.

          Nos humanos machos, é notável o excesso de cobertura capilar na região facial (4), peitoral e região abdominal em relação ao sexo feminino, devido aos efeitos pós-puberdade de andrógenos e hormônios de crescimento. É sugerido que a persistência de um maior nível de cobertura capilar em adultos do sexo masculino pode conferir benefícios em termos de competição intrassexual: por exemplo, presença de um peitoral "mais cabeludo" pode sinalizar idade (ou desenvolvimento corporal) mais avançada ou maior dominância de um macho para outros machos.

           Além disso, em termos de seleção natural, partes do corpo sem pelagem ficam mais suscetíveis ao ataque de mosquitos e outros insetos voadores hematófagos, transmissores de letais doenças que também têm exercido forte pressão seletiva sobre humanos, como malária (5) e doença de chagas (6).

Leitura complementar:

   AMOR AO CORPO PELADO?

          Uma hipótese proposta em 2010, e pouco citada e defendida na literatura científica, sugere que a perda de cobertura capilar é uma consequência adaptativa do bipedalismo no contexto da relação entre mãe-bebê (Ref.24). Devido ao bipedalismo, bebês de hominídeos ancestrais teriam perdido os pés preênseis (capazes de agarrar) e, portanto, perderam também a habilidade de agarrar a pelagem da fêmea progenitora, como observado em outros primatas não-humanos ainda vivos. Mães na nossa linhagem ancestral, então, começaram a sofrer pressão seletiva para carregar os bebês e estes teriam mais chance de sobreviver caso a mãe exibisse um maior desejo de carregá-los (7). Contato prazeroso pele-com-pele teria sido um fator fortalecendo a ligação materna e a necessidade de manter contato próximo entre mãe e bebê, promovendo progressiva perda de cobertura capilar. Esse "prazer feminino" pelo contato pele-com-pele teria também atuado a nível de seleção sexual favorecendo parceiros "pelados" de ambos os sexos e até mesmo abrindo caminho para a emergência do relacionamento romântico.

Sugestão de leitura:

          De fato, tão logo após o nascimento, bebês de orangotangos e gibões já começam a agarrar e a escalar na pelagem das mães, comportamento que dura até 4 anos no caso dos orangotangos. Em chimpanzés, apesar dos recém-nascidos inicialmente serem fisicamente apoiados pelas mães, em poucos dias os bebês já são capazes de agarrar completamente a pelagem materna por conta própria. Isso permite que esses primatas [fêmeas] fiquem com os membros livres para locomoção e desafiadora movimentação arbórea.

          Carregar um bebê implica em várias co-adaptações comportamentais e fisiológicas, incluindo reflexos primitivos neonatais (ex.: reflexo de Moro) e sinalizações vocais cooperativas no bebê (8). Bebês humanos são predispostos a e esperam ser carregados. E o simples contato pele-com-pele entre mãe e recém-nascido está associado a vários benefícios (9). É provavelmente uma estratégia evolucionária altamente conservada no gênero Homo e a norma biológica em humanos modernos (Ref.25).

Leitura recomendada:

          Por outro lado, essa hipótese não explica de forma satisfatória a extensa perda de cobertura capilar ao longo de quase todo o corpo. Subsequente seleção sexual favorecendo contato pele-com-pele seria suficiente para explicar a massiva perda de pelagem nos membros inferiores e costas?


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   DAS FLORESTAS PARA AS SAVANAS

           Humanos e nossos parentes evolutivos mais próximos ainda vivos exibem uma notável diversidade nos modos de locomoção, desde movimentação bípede e arbórea até movimentação quadrúpede. A locomoção bípede é considerada ser uma das mais antigas e mais extensivas adaptações na linhagem evolutiva levando aos humanos (gênero Homo), potencialmente evoluindo a partir de 6-7 milhões de anos atrás. A causa exata para a evolução do bipedalismo exclusivo em humanos é um mistério, e várias hipóteses têm sido propostas. Tradicionalmente, é argumentado que mudanças climáticas no Mioceno Tardio-Plioceno (10 a 2,5 milhões de anos atrás) tornaram o ambiente Africano mais árido e aberto, com vastas savanas substituindo florestas e forçando nossos ancestrais primatas a explorarem cada vez mais o ambiente terrestre, cenário que teria favorecido a evolução do bipedalismo entre homininis.


Ilustração de primatas extintos do gênero Lufengpithecus, que viveram há ~7-8 milhões de anos e que podem espelhar o repertório locomotor do ancestral comum entre humanos e chimpanzés que começou a se aventurar além das árvores. Análises fósseis e anatômicas sugerem que esse grupo de primatas hominídeos exibia vários modos posturais de locomoção nos ambientes arbóreo e terrestre, incluindo bipedalismo sobre galhos. Ref.26


Sugestão de leitura:

          A assim chamada Hipótese da Savana é amplamente defendida no meio acadêmico e traz a savanização como um mecanismo de forte pressão seletiva para uma locomoção cada vez mais terrestre e subsequente estabelecimento do bipedalismo como modo primário e eficiente para essa locomoção. Hominídeos explorando o ambiente de savana na busca por alimento, abrigo e áreas florestais remanescentes teriam sido fortemente beneficiados com o bipedalismo. Uma postura ereta e estável durante locomoção permite enxergar melhor na vegetação de savana - incluindo avistamento de potenciais predadores -, e braços livres permitem carregar alimentos, facilitam a coleta de sementes e frutos, e ainda permitem melhor uso de ferramentas.

          Porém, um estudo de 2022 na Science (Ref.27) desafiou essa hipótese, ao estudar uma comunidade de chimpanzés (subespécie Pan troglodytes schweinfurthii) vivendo em Issa Valley, Tanzânia. Essa região é similar ao "mosaico de savana" proposto para a evolução do bipedalismo na nossa linhagem hominini. Contrário às expectativas, os pesquisadores não encontraram maior exploração do ambiente terrestre por esses chimpanzés em relação a outras comunidades desses primatas vivendo em ambientes florestais mais fechados. Árvores continuaram sendo componentes essenciais para os chimpanzés em Issa Valley, e inclusive 86% das raras ocorrências de bipedalismo nessa região (<1% dos comportamentos posturais) foram observadas nas árvores. Isso sugere que o bipedalismo evoluiu primeiro para a locomoção nas árvores, sendo depois cooptado e otimizado para a locomoção terrestre.

Chimpanzés vivendo em Issa Valley e exibindo bipedalismo (postural e locomotor): em (A), exemplo de bipedalismo [postural] terrestre; em (B), exemplo de bipedalismo [locomotor] arbóreo durante busca de alimento. Favorecimento de bipedalismo nas árvores pode ser uma estratégia que permite otimizar a exploração e coleta de alimento. Ref.27



   SAVANAS E TERMORREGULAÇÃO

           Independentemente se bipedalismo foi um fator permissivo ou uma consequência da exploração das savanas, reconstruções paleoambientais apontam que os primeiros homininis na linhagem evolutiva levando aos humanos viviam em ambientes invadidos por savanas, incluindo os gêneros Orrorin (6 milhões de anos atrás), Ardipithecus (5,8 a 4,4 milhões de anos atrás) e antigos Australopithecus (4,2 a 2,9 milhões de anos atrás). E apesar de adaptações arbóreas persistirem nesses táxons, eventualmente fatores ainda pouco esclarecidos - talvez escassez de alimentos e/ou aumento de competição por recursos alimentares e território nas limitadas áreas florestais - levaram os homininis a deixarem as árvores e explorar mais abertamente a savana, sob um clima mais quente e árido.

            Os mais antigos membros primatas conhecidos diretamente associados à nossa linhagem pertenciam ao gênero Ardipithecus e viviam em maior parte dentro de florestas. Mais tarde, proto-humanos, particularmente homininis do gênero Australopithecus, passaram a viver em um mais amplo espectro de ambientes, avançando não provavelmente pelas savanas, mas em áreas florestais mais abertas e de fronteira. Registros fósseis indicam que há aproximadamente 2,6 milhões de anos, à medida que o período Pleistoceno teve início, o habitat dos homininis mudou à medida que a Terra entrou em um período de oscilações climáticas marcando as Eras do Gelo. 

          Apesar de pelos abundantes, grossos e compridos ajudarem a proteger os animais da forte incidência solar direta na região equatorial, eles impedem que o calor corporal seja dissipado mais facilmente através do suor. Se você possui ampla pelagem sobre a pele, ficar sob muita exposição solar e em um ambiente aberto e árido durante longas caminhadas irá causar grande elevação da temperatura do corpo em pouco tempo: um chimpanzé, por exemplo, não conseguiria caminhar por longas distâncias debaixo de muito sol sem sofrer sérios danos. 

           Talvez em resposta ao aumento de variabilidade climática no ambiente, evidências arqueológicas indicam que nossos ancestrais começaram a usar ferramentas de pedras para melhor extrair carne e ter acesso facilitado ao conteúdo nutritivo dos ossos de animais caçados. Carne é uma fonte muito rica em nutrientes do que alimentos vegetais, porém é escassa e móvel. Em adição às ferramentas de pedras, esses membros ancestrais do gênero Homo também evoluíram proporções esqueléticas humano-similares que refletem uma mais eficiente habilidade de andar a longas distâncias. 

Pintura na Caverna de Altamira, Espanha, retratando humanos pré-históricos (Homo sapiens) durante uma caçada. Essa arte foi feita por caçadores-coletores do Paleolítico Superior. Ref.28-29

         Com o maior gasto de energia durante o período diurno nas longas jornadas e atividades de caça, foram necessárias adaptações de regulação térmica para aumentar a chance de sobrevivência, particularmente melhores mecanismos de resfriamento corporal. Como mencionado, o bipedalismo traz significativa vantagem de velocidade, altura (melhor visão do ambiente durante o avanço nos campos de savana), e uso de ferramentas (mãos livres). E o Homo erectus, há ~1,8 milhão de anos, foi o primeiro hominídeo a ter membros alongados capazes de sustentar caminhada e corrida no modo bípede. Corrida, por sua vez, pode ser muito vantajosa durante caçadas (!). Portanto, a troca de um corpo com menos cobertura capilar para um mais eficiente sistema de resfriamento já estava, plausivelmente, em curso desde essa época.

           Existem desvantagens mas notáveis vantagens em um corpo mamífero sem efetiva cobertura capilar. Os hominídeos do gênero Pan (chimpanzés e bonobos) são os nossos parentes evolutivos mais próximos ainda vivos. Particularmente, os chimpanzés (Pan troglodytes) possuem pele clara e roseada coberta com uma densa pelagem preta por quase todo o corpo. Os homininis na nossa linhagem ancestral provavelmente compartilharam esse fenótipo. Para um estilo de vida relativamente mais sedentário, a pelagem corporal fornece efetiva proteção solar e termorregulação. O mais eficiente processo de resfriamento evaporativo ocorre na superfície da pele e então o vapor de água é transferido através da pelagem. Pelagem seca também protege o corpo do ganho externo de calor. Se a pelagem se torna úmida (ex.: suor excessivo), evaporação ocorre na superfície da pelagem e não da pele, e, portanto, o calor oriundo dos vasos cutâneos acaba encontrando mais uma barreira. Consequentemente, existe uma vantagem para a perda de pelagem quando existe a necessidade de significativa perda de calor, especialmente em um contexto de exercícios exaustivos.

           Em humanos modernos, existem três tipos de glândulas na pele - écrinas, apócrinas e apo-écrinas -, as quais secretam fluídos diretamente no duto e variam em tipo, densidade e localização anatômica. As glândulas écrinas são as mais importantes para o controle de temperatura. Aproximadamente 1,6 a 4 milhões dessas glândulas estão distribuídas ao longo da maior parte da superfície do corpo. O suor écrino é uma solução eletrolítica diluída e estéril. As glândulas apócrinas são limitadas em termos de distribuição às axilas, áreas anogenitais, pele periumbilical, mamilos e bordas dos lábios bucais, e conectam através de um ducto alongado para dentro do canal folicular. Suor apócrino é um fluído estéril viscoso e oleoso. As glândulas apo-écrinas são confinadas à axila adulta.

          Os chimpanzés-comuns, gorilas e orangotangos possuem robusta cobertura capilar. Esses primatas possuem glândulas apócrinas térmicas e glândulas écrinas. Portanto, é inferido que os ancestrais dos primatas superiores foram capazes de "suprir" glândulas écrinas para os hominídeos. A pelagem desses animais fornecem proteção física e são eficientes sistemas de resfriamento, usando suor apócrino quando seca, mas não efetivas no resfriamento quando úmidas pela produção de suor. Portanto, pelagem é desvantajoso para a perda de calor após prolongado exercício físico. Não existem glândulas apócrinas que não estão associadas com folículos capilares. Seleção natural, portanto, teria levado à perda de pelagem e glândulas apócrinas para favorecer o desenvolvimento de suor écrino visando efetivo controle de temperatura associado ao bipedalismo. Como efeito colateral negativo, também ficamos mais suscetíveis à desidratação e requerendo maior consumo de água (associada ou não a alimentos) em relação a outros mamíferos.

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> Entre os primatas ainda vivos, humanos modernos possuem, de longe, a maior quantidade de glândulas sudoríparas espalhadas pelo corpo (>5 milhões) - 10 vezes maior em humanos do que em chimpanzés e macacos! -, as quais exibem um potencial de produção de suor que pode chegar a 12 litros diários. Além disso, uma maior quantidade de glândulas sudoríparas na pele parece estar intimamente ligada a uma redução na quantidade de pelos, a nível genético. Ou seja, além de dificultar a dissipação de calor, a presença de muitos pelos acarreta em uma menor quantidade de glândulas sudoríparas, portanto outro fator contribuindo para uma menor cobertura capilar em humanos. Aliás, humanos exibem a maior densidade conhecida de glândulas écrinas de suor entre os mamíferos. Ref.7, 19-20

> Existe forte evidência de seleção natural para um aumento da capacidade de sudorese em espécies de primatas com glândulas écrinas na superfície corporal vivendo em climas quentes e secos. Aumento na produção de suor provavelmente acompanhou o aumento de exploração dos ambientes abertos de savana. Bipedalismo também favorece a dissipação de calor através do suor ao aumentar o fluxo de ar na superfície do corpo. Ref.18-19 

> Valor interindividual na densidade de glândulas écrinas de suor pode variar em mais de 2x (~61 até 133 glândulas/cm2) entre humanos modernos. Porém, essa variação não parece ter relação significativa com condições climáticas ou genéticas, e, sim, com características anatômicas. Ref.30

> A persistência de ampla cobertura capilar nas regiões axilar e genital (pelos pubianos), associada com a presença de glândulas apócrinas e apo-écrinas, parece estar ligada primariamente a um importante mecanismo de dissipação de odores comunicativos e de sinalização de maturidade sexual. Fica a sugestão de leitura complementar: 
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           Portanto, progressiva perda da cobertura capilar no corpo teria sido favorecida por seleção natural ao facilitar exploração do ambiente de savana por longos períodos e longe das sombras de árvores nas florestas. Pressão seletiva nesse sentido teria sido intensificada quando nossos ancestrais homininis começaram a caçar e incorporar quantidades cada vez maiores de carne na dieta (10), particularmente durante o avanço de humanos (Homo) nas savanas. Atividades de caça pelos novos "primatas caçadores" nas regiões quentes, abertas e áridas da África - onde presas ideais de médio e grande porte são encontradas em abundância - acabaram adicionando maior gasto calórico e aquecimento corporal. E, de fato, eventualmente humanos emergiram como um dos mais temidos predadores (11), ligados a vários eventos de extinção da megafauna.

           A Hipótese da Termorregulação - defendendo que a massiva perda de pelagem nos hominídeos e aumento concorrente da densidade de glândulas écrinas de suor emergiram no sentido de facilitar a dissipação de calor corporal - é atualmente a mais defendida no meio acadêmico. Entra em concordância também com outras notáveis diferenças adaptativas entre humanos e hominídeos do gênero Pan, em termos de composição corporal, facilitando locomoção bípede habitual, corridas e longas jornadas mesmo em ambientes com limitada presença de sombra e recursos alimentares (Ref.31-32):

- maior musculatura nos membros inferiores (pernas) e menor massa muscular relativa no corpo como um todo;

- aumento da gordura corporal (tecido adiposo), e maior acúmulo e armazenamento dessa gordura em partes específicas do corpo (similar ao observado em camelos), especialmente nas nádegas;

- Pele mais fina que facilita a dissipação de calor corporal.

- Coração com menor grau de trabeculação e otimizado no sentido de bombear um maior volume de sangue no corpo, garantindo também maior fluxo sanguíneo na pele para resfriamento;

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> Existe evidência de que australopitecos e outros homininis bípedes não teriam obtido significativo benefício termorregulatório com a perda de pelagem, por estarem vivendo em altas altitudes (>1000 m), exibirem limitada mobilidade e explorarem ambientes mistos (fechados e abertos). Bipedalismo seria suficiente para adequado controle termorregulatório nesses primatas mesmo com maior movimentação em ambientes abertos. Perda de pelagem teria sido favorecida, provavelmente, bem mais tarde, com a emergência do gênero Homo (~2 milhões de anos atrás) e a exploração preferencial de ambientes abertos (ex.: savanas) em baixas altitudes, longas jornadas bipedais e dieta mais carnívora. Aliás, essa perda de pelagem provavelmente foi essencial para antigas espécies Homo, como o H. ergaster e o H. erectus, escaparem do confinamento Africano e migrarem para a Eurásia. Ref.33
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          Nesse cenário, também para compensar a perda de pelagem - especialmente no contexto de maior exposição à radiação UV -, os humanos eventualmente evoluíram uma pele mais escura na África. Por exemplo, alelos do gene MC1R ligados à cor mais escura de pele parecem ter emergido e se tornado prevalentes via seleção natural há pelo menos 1,2 milhão de anos. Para mais informações, acesse: Cor da pele, Ácido Fólico e Vitamina D


   (!) NASCIDO PARA CORRER?

          Humanos possuem duas características raras em mamíferos: nossos músculos locomotores são dominados por fibras resistentes à fatiga e nós conseguimos efetivamente dissipar através de suor o calor metabólico gerado através de atividade física elevada e prolongada. A hipótese da perseguição sugere que ambos os traços - assim como a escassa cobertura capilar - evoluíram primariamente no sentido de facilitar corridas de longa duração durante caçadas. Embora humanos consigam manter velocidade máxima de ~10 m/s (36 km/h) por apenas ~20 segundos - no caso de corredores de elite -, nossa espécie é capaz de manter corridas a baixas velocidades por longos períodos de tempo (ex.: trotar por horas contínuas), algo permitido em especial pelo nosso eficiente sistema de resfriamento.

          Evidência etnográfica, histórica e experimental fornecida recentemente em um estudo publicado na Nature Human Evolution (Ref.33) suporta que perseguição de resistência pode ser um eficiente método de caça para humanos e utilizado ocasionalmente entre grupos de caçadores-coletores. Porém, existe ainda muito ceticismo na comunidade científica em relação à importância dessa habilidade humana na evolução de traços adaptativos associados, especialmente considerando o alto custo energético envolvido em corridas de longa distância e relativo raro uso dessa estratégia de caça em grupos de caçadores-coletores (Ref.34). 

Em um cenário hipotético, a perseguição de um órix (Oryx gazella) - um antílope de grande porte do sul da África - por um humano caçador, correndo até 10 km/h (trotando), pode levar a presa à exaustão em apenas 24 minutos e resultando em uma grande oferta de carne e calorias que compensaria o alto custo energético da maratona. Ref.33

           É talvez mais provável que a habilidade humana de "maratonar" tenha atuado favorecendo traços já em desenvolvimento evolutivo no corpo humano (ex.: maior quantidade de glândulas sudoríparas e menor cobertura capilar), ao invés de ser um gatilho para a emergência desses traços.


   PELOS VESTIGIAIS?

          É importante reforçar que humanos de ambos os sexos possuem grande densidade capilar mesmo em áreas de escassa cobertura capilar, incluindo aquelas que não exibem significativo dimorfismo sexual (ex.: braços, costas, nádegas, pernas), e onde os pelos são tipicamente pequenos e muito finos. Seriam estruturas vestigiais e sem funcionalidade? Enquanto o reflexo piloeretor - responsável pelo "arrepio" dos pelos - possui ainda importante função fisiológica nos humanos (12), é incerto se a fibra capilar em si possui relevante função em regiões "peladas" da pele, especialmente nos indivíduos do sexo feminino.

          Um estudo publicado em 2011 no periódico Biology Letters (Ref.36) sugeriu que os finos pelos conservados ao longo do corpo humano possuem importante função de otimizar a detecção de ectoparasitas, além de dificultar ou repelir o acesso à pele por esses animais, como mosquitos e percevejos. Experimentos conduzidos nesse estudo mostraram que insetos eram mais rapidamente detectados andando sobre uma pele repleta de finos fios capilares do que em uma pele depilada. Outras funções de detecção tátil podem também estar associadas à manutenção de pelos miniaturizados em humanos. 

         Nesse último ponto, em um estudo experimental recentemente publicado no periódico Frontiers in Aging Neuroscience (Ref.37), pesquisadores mostraram que enquanto a sensibilidade ao toque (tátil) era reduzida com o avanço da idade na superfície sem pelos dos dedos - talvez resultante de mudanças no sistema nervoso periférico -, essa perda de sensibilidade não era significativamente observada no antebraço e nas bochechas, superfícies cutâneas com pelos. E o mais notável: pele sem pelos (ex.: palma das mãos) geralmente possui maior densidade de mecanorreceptores. As bochechas demonstraram superior capacidade de detecção tátil, altamente conservada mesmo em idades avançadas, e consistente com uma maior densidade de pelos: entre 10 e 30 vezes maior do que em outras regiões cutâneas do corpo. O experimento envolveu 96 participantes com idades entre 20 e 75 anos, e seus resultados suportam a ideia que os fios capilares também agem como uma antena transmitindo estímulos mecânicos, incluindo aqueles associados a forças muito baixas (ex.: fluxos de ar).  

          Além disso, a estrutura capilar em geral, incluindo os folículos capilares, são habitat de uma complexa microbiota que coevoluiu com a nossa espécie, com funções biológicas que podem ser críticas para a manutenção de uma pele saudável e com potencial de efeitos sistêmicos benéficos, especialmente durante contínua comunicação entre os microrganismos e o sistema imune do hospedeiro (13). E as fibras capilares possuem proteínas com atividade antimicrobiana, talvez sendo críticas para um adequado controle do crescimento de microrganismos na pele e nos folículos capilares.

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*Leitura recomendada:

> Sobrancelhas, além de prevenir ou reduzir o avanço de suor para os olhos, também estão associadas com importante função de comunicação social em conjunto com a testa plana característica da nossa espécie. Fica a sugestão de leitura: Por que temos uma testa plana e vertical?
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   CONCLUSÃO

           Evidências acumuladas apontam que a dramática escassez de cobertura capilar no corpo humano é primariamente resultado de um processo evolutivo na linhagem Homo favorecendo um sistema mais eficiente de termorregulação. Esse processo evolutivo pode ter sido facilitado por neotenia, um cenário que também ajudaria a explicar outros traços anatômicos que nos distingue de outros primatas hominídeos ainda vivos. É incerto se os mecanismos e benefícios propostos por outras hipóteses também atuaram de forma sinérgica e significativa na perda de pelagem nos humanos.


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
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