Cientistas encontram "fórmula mágica" para o bebê parar de chorar e dormir
Um dos maiores desafios enfrentados pelos pais envolve a árdua tarefa de acalmar o bebê quando este começa a chorar excessivamente e se recusa a dormir, especialmente à noite. Agora, em um estudo publicado no periódico Current Biology (Ref.1), cientistas reportaram que a melhor estratégia para acalmar um bebê é carregá-lo e andar com ele por 5 minutos; e, para colocá-lo para dormir logo em seguida, o ideal é mantê-lo no colo por mais 5-8 minutos antes de deixá-lo no berço - isso tende a prevenir que o bebê acorde após curto período de tempo. Os resultados do estudo demonstraram que o choro dos bebês é atenuado pelo transporte, e não por simples colo como comumente pensado; além disso, o prolongado transporte no colo da mãe induz significativo sono no bebê.
Bebês humanos são capazes de reconhecer a mãe (ou, no geral, um indivíduo cuidador mais próximo) usando pistas visuais, auditivas e/ou olfativas já a partir do primeiro mês de vida pós-parto. E após 6 meses de idade, bebês começam a formar uma ligação seletiva com suas mães, e mostram sinais de estresse pela ausência materna (ansiedade de separação) ou pela aproximação de uma pessoa não-familiar (ansiedade do estranho). Tais adaptações comportamentais para um dado contexto social é vital para a sobrevivência do bebê e é adquirida como um importante componente do sistema de conexão familiar.
Aproximadamente 20-30% dos bebês choram excessivamente e exibem dificuldades para dormir sem razão aparente, causando estresse aos pais e até mesmo engatilhando impulsivos comportamentos deletérios desses últimos contra o bebê em um pequeno número de casos. Enquanto existem vários métodos de treinamento ou programas educacionais para pais que fornecem melhoras de longo prazo relativas ao choro e aos problemas de sono dos bebês, não existe uma estabelecida recomendação para métodos efetivos para intervenções comportamentais imediatas. Nesse último ponto, estudos prévios têm explorado algo chamado de 'resposta ao transporte', uma reação inata observada em vários mamíferos altriciais - aqueles cujos filhotes são imaturos e incapazes de cuidar de si mesmos, como ratos, cães, macacos e humanos.
Na resposta ao transporte, à medida que os animais pegam seus filhotes e começam a andar, os corpos desses últimos tendem a se tornar mais dóceis e as taxas de batimento cardíaco são reduzidas. Situações de necessidade ou de emergência (ex.: caça ou fuga de predadores) frequentemente forçam os animais adultos a carregarem seus filhotes para longe de um local de repouso ou de refúgio; durante essa trajetória, os bebês cooperam de forma automática com os pais (resposta ao transporte) para não atrapalhá-los e/ou ameaçar a família, ou seja, param de chorar e de se movimentarem.
No novo estudo, os pesquisadores exploraram a resposta de bebês humanos sob quatro condições: sendo carregados no colo enquanto caminhavam com as mães; carregados pelas mães enquanto estas permanecias sentadas; deitados em um berço sem movimento; ou deitados em um berço portátil sob movimento de balanço. Os pesquisadores encontraram que quando a mãe andava com o bebê, este se acalmava e o choro era eventualmente interrompido, com a taxa cardíaca sendo reduzida dentro de 30 segundos. Um efeito calmante similar ocorria quando os bebês eram colocados em um berço portátil, mas não quando a mãe segurava o bebê enquanto sentava ou colocava o bebê em um berço sem movimento.
Esses resultados iniciais apontaram que apenas segurar um bebê no colo pode ser insuficiente para parar o choro, contradizendo a tradicional ideia de que o simples colo materno reduz o estresse de um bebê. Além disso, os resultados suportaram que o movimento em específico possui efeitos calmantes, provavelmente via ativação da resposta ao transporte. Esse efeito foi mais evidente quando os movimentos da mãe de segurar o bebê no colo e de caminhar ao mesmo tempo eram continuados por 5 minutos. Nesse último cenário, todos os bebês em choro no estudo pararam de chorar, e quase metade deles caíram no sono.
Porém, quando as mães tentavam colocar os bebês que dormiam no berço - logo após terminarem de caminhar com eles -, mais de 33% deles se tornavam alertas novamente dentro de 20 segundos. Os pesquisadores encontraram que todos os bebês produziam respostas fisiológicas, incluindo mudanças na taxa cardíaca, capazes de os acordarem no segundo que seus corpos eram desconectados do corpo da mãe. No entanto, se os bebês eram deixados para dormir por um período mais longo - e no colo materno - antes de serem colocados no berço, eles eram menos prováveis de acordaram durante o processo.
Com base nesses achados, os pesquisadores propuseram um método para acalmar e promover efetivo sono em bebês chorando excessivamente. Eles recomendaram que os pais segurem os bebês em choro no colo e caminhem com eles por 5 minutos, seguido por um período de 5-8 minutos sentado com os bebês antes de colocá-los no berço (!). Essa metodologia fornece solução imediata para o choro e ainda pode garantir um sono profundo e maior tranquilidade para os pais, especialmente em ocasiões quando rotinas regulares de sono, amamentação e uso de chupetas não se mostram efetivos ou disponíveis.
Os pesquisadores também recomendaram - por motivos de segurança e de maior efetividade - que a caminhada com o bebê no colo deve ser feita com um passo constante, sobre um chão plano e sem obstruções no caminho, e preferencialmente sem paradas ou curvas abruptas.
(!) IMPORTANTE reforçar sempre: bebês devem ser colocados para dormir no berço de barriga para cima (decúbito dorsal), em uma área [colchão no berço] lisa, firme, sem deformações ou partes soltas, sem nenhum objeto ao redor (ex.: brinquedos, cobertas, travesseiros) e próximo de onde os pais estão dormindo, como explorado no vídeo abaixo. Esse é o cenário mais seguro para o sono de um bebê.
> Para mais informações, acesse o artigo completo: Qual é a posição correta para os bebês dormirem? E por que evitar posicionadores?
REFERÊNCIAS
- Ohmura et al. (2022). A method to soothe and promote sleep in crying infants utilizing the transport response. Current Biology. https://doi.org/10.1016/j.cub.2022.08.041
- Yoshida et al. (2018). Corticotropin-Releasing Factor Receptor 1 in the Anterior Cingulate Cortex Mediates Maternal Absence-Induced Attenuation of Transport Response in Mouse Pups. Frontiers in Cellular Neuroscience, 12. https://doi.org/10.3389/fncel.2018.00204
