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Existem raças humanas?



- Atualizado no dia 22 de março de 2023 -


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          Desde o primeiro rascunho do genoma da nossa espécie publicado em 1999, como fruto de esforço do massivo Projeto Genoma Humano, o debate sobre a existência de 'raças' humanas teve um acalorado re-início. Com os avanços no campo da genética nos últimos 30 anos e a descrição cada vez mais detalhada das características genômicas de diferentes populações humanas ao longo do planeta, ficou claro que as diferenças genéticas entre os atuais Homo sapiens vivendo em diferentes regiões geográficas são muito pequenas, ou seja, existe um elevado compartilhamento de sequências genéticas entre as populações. Por outro lado, a espécie humana, como um todo, possui uma imensa variação genética de indivíduo para indivíduo. Nesse cenário, existe plausibilidade científica para a separação dos humanos em diferentes raças? E, afinal, o que significam raças?       

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   PRECONCEITO HISTÓRICO

          Antes de entrarmos no debate da existência ou não de raças humanas, seria interessante primeiro esclarecermos uma ideia errônea implicitamente carregada por muitos hoje e explicitamente usada durante a maior parte da história humana Em um contexto histórico, tendemos a ver os Europeus, 'brancos', como muito superiores do que pretos, índios e aborígenes em termos de inteligência, esses últimos os quais estão historicamente associados a tribos atrasadas e pouco desenvolvidas. À primeira vista, isso pode parecer verdade, mas acaba caindo por terra quando analisamos a questão mais atentamente. Vamos entender o porquê.

O homem branco realmente era um ´ser humano' mais inteligente?

          Bem, o que os humanos modernos (Homo sapiens) enfrentaram quando chegaram no continente Europeu? Sim, frio excessivo, falta de luminosidade e menor oferta de alimento. O que as tribos indígenas, africanas e australianas tinham em excesso? Sim, as mesmas coisas que faltavam aos Europeus. O maior desenvolvimento tecnológico/estrutural dos grupos vivendo em ambientes ambientalmente desfavoráveis é naturalmente explicado pela maior necessidade de criar meios engenhosos para a sobrevivência. Diante das dificuldades naturais impostas pela posição geográfica, grupos humanos como os Europeus tiveram que criar diversos métodos para resistirem aos invernos rigorosos, enfrentarem a maior escuridão e conseguirem se alimentar apropriadamente. Métodos inteligentes tiveram que ser criados para aumentar a produção agrícola e a criação de animais, além de casas mais acolhedoras. Além disso, uma maior socialização ocorreu para fortalecer os grupos humanos e aumentar as chances de sobrevivência, gerando sociedades maiores e mais capazes de mudar o ambiente a volta.

O clima e facilidade em conseguir alimento são muito mais desafiadores em certas partes do planeta do que em outras

           O potencial de engenhosidade esteve sempre presente em todos os humanos modernos do planeta, mas nas áreas tropicais, ele não precisou ser muito explorado por causa dos fartos recursos alimentares presentes nessas regiões, climas agradáveis e ambientes mais ensolarados. A necessidade fomenta a criação a ferramenta. E muita gente esquece também que os humanos que chegaram ao continente Europeu, e aos demais outros, eram todos, essencialmente, os mesmos grupos humanos presentes na África (2). No geral, podemos dizer que os Africanos apenas tiveram que usar melhor da sua capacidade engenhosa para sobreviverem na Europa. Aliás, um estudo recente mostrou que os primeiros humanos a colonizarem a Grã-Bretanha possuíam uma pele negra (3).


          Na África, importante ressaltar, emergiu uma civilização bastante avançada que não era branca: os Egípcios. Devido à região onde se encontravam, nos severos desertos do Egito, e dependentes, basicamente, de um único rio (Nilo), os egípcios criaram uma enormidade de ferramentas, métodos de plantio, inovações nas irrigações, entre diversas outras conquistas tecnológicas. E, claro, eles conceberam as pirâmides, um desafio de engenharia mais do que impressionante para a época. Essa é uma prova clara: a necessidade cria a ferramenta, independentemente da população humana analisada. É o mesmo que dizer que os brancos hoje são mais bem sucedidos na média porque são mais bem capacitados e inteligentes. Ou será que é porque as chances escolares e oportunidades na vida são melhores para os brancos em geral, devido à herança histórica de preconceito e prejuízos? A resposta é óbvia.

Os egípcios possuíam uma pele bem escura, como diversos 'desenhos' feitos por essa civilização deixam explícitos

          E mesmo em regiões mais propícias à sobrevivência humana, como na Mesoamérica, civilizações também bastante avançadas emergiram na Antiguidade, como os Maias (3) e os Astecas (4). Os Maias, aliás, alcançaram avanços científicos e tecnológicos que chegaram a rivalizar ou ultrapassar outras civilizações mais notórias na mesma época, como a Romana.


   WATSON E POLÊMICA

          O cientista Norte-Americano James Watson, pioneiro nos estudos do DNA e ganhador do prêmio Nobel de 1962 junto com Maurice Wilkins e Francis Crick pela descoberta da estrutura de dupla hélice do DNA em 1953, infelizmente defende até hoje diferenças de inteligência entre as raças devido a "genes específicos". Watson fez essa alegação primeiro em 2007 e voltou a repeti-las ano passado (2018) para o documentário American Masters: Decoding Watson, o qual foi ao ar no canal PBS (Ref.68) no começo deste ano (2019). Nenhuma das suas alegações possui qualquer tipo de suporte científico.

          De acordo com Watson, negros são menos inteligentes do brancos, e que as políticas públicas são falhas por se basearem na premissa "de que a inteligência deles é a mesma da nossa". Ainda segundo Watson "pessoas que lidam com empregados negros sabem muito bem disso." O mais engraçado é que ele não propôs que os Asiáticos podem ser mais inteligentes que os Caucasianos, apenas atacou os negros e sugeriu uma superioridade intelectual 'branca'. Muito menos definiu o que é 'inteligência' e se baseou em testes aleatórios de QI que supostamente revelavam o menor nível intelectual dos 'negros' (mas sem nenhum estudo sistemático avaliando-os).

          Por causa das suas alegações infundadas, sem metodologia científica e claramente preconceituosas, Watson perdeu seu emprego como chanceler no Cold Spring Harbor Laboratory (CSHL) da Universidade de Cambridge, e só manteve seus títulos honorários porque pediu desculpas pouco tempo depois. Porém, acabou perdendo seus títulos após reafirmar seu ponto de vista preconceituoso em 2018 com 90 anos de idade. Atualmente ele se encontra em uma casa de repouso se recuperando de um acidente de carro.

          O CSHL fez uma declaração pública rejeitando as afirmações de Watson, as quais são hipotéticas e não baseadas em trabalhos acadêmicos (Ref.69). O problema não é defender uma hipótese, mas afirmar algo como certo com base em achismo. Essa nem é a área dele de pesquisa genética, e seu prêmio Nobel não foi sobre 'estudos genéticos e fenótipos associados' e, sim, sobre a elucidação da estrutura do DNA. Muitos grupos racistas acabam usando suas palavras e Nobel para justificar suas ações. Aliás, quando Watson faz referência aos 'negros' como raça, isso não faz muito sentido, como será demonstrado neste artigo.

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   O QUE É RAÇA?

          O termo 'raça' é vagamente utilizado no campo evolucionário da Biologia, no sentido de designar ramificações e diferenciações filogenéticas dentro de uma espécie. Ecotipos e subespécies são termos científicos mais usuais, com o primeiro usado para caracterizar processos evolutivos de adaptação e o segundo processos evolutivos de subespeciação. No contexto histórico de emprego do termo no meio acadêmico, 'raça' seria equivalente ao termo 'subespécie'. Então a pergunta que devemos fazer é: o que são subespécies?

          Uma definição para subespécie descreve populações geograficamente isoladas dentro de uma espécie que evoluíram substanciais traços genéticos diferenciais separando-as significativamente da população original, mas conservando similaridades genéticas suficientes que ainda as tornam pertencentes à mesma espécie. Essas diferenças genéticas de fronteira podem ser medidas por diferentes ferramentas analíticas. Uma ferramenta comum para isso é o AMOVA (Analysis MOlecular VAriation), a qual quantifica as diferenças genéticas entre duas ou mais sequências de DNA. No caso de populações dentro de espécies, o AMOVA discrimina uma ou mais subespécies quando as diferenças entre as populações analisadas são iguais ou ultrapassam 25% da variabilidade genética compartilhada por cada uma dessas populações.

          Outra ferramenta bastante utilizada baseia-se na análise das linhagens evolucionárias, ou seja, nesse sentido, subespécies seriam determinadas pela existência de diferentes linhagens evolutivas dentro de uma espécie. Uma linhagem evolucionária é a população de organismos caracterizada por uma contínua linha de descendentes tal que os indivíduos na população a qualquer momento estão conectados por relações de ancestralidade/descendência. No caso das subespécies, essas relações são limitadas a espécies dentro do mesmo gênero para facilitar as análises filogenéticas. Uma espécie nesse cenário pode ser classificada como indivíduos que compartilham a capacidade de troca de gametas (5) e/ou adaptações e outras variações genéticas específicas. Caso uma população se separe da original, mantenha a capacidade de troca de gametas, mas passe a apresentar uma substancial nova variabilidade genética, uma nova linhagem de subespécie pode ser formada. Geralmente uma barreira geográfica torna-se necessária para esse evento de subespeciação.

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(5) O cruzamento efetivo de gametas para a geração de descendentes férteis não é o único critério de definição de espécies, como muitos erroneamente tendem a acreditar. Diferentes espécies ou mesmo diferentes gêneros conseguem hibridizar entre si para a geração de descendentes férteis, especialmente entre as plantas. Aliás, hibridização é um importante mecanismo de fomento à evolução biológica. Sugestão de leitura: Nova espécie de ave surge em Galápagos, e os cientistas acompanharam o processo evolutivo
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          Para exemplificar o uso dessas duas ferramentas, tomemos nosso parente evolucionário mais próximo hoje existente, o chimpanzé comum (Pan troglodytes), o qual possui populações geneticamente diferenciadas em cinco regiões Africanas: Guinea Superior, Golfo da Guinea, África Central, parte ocidental da África Equatorial e na parte oriental da África Equatorial. Com a análise do AMOVA, encontramos uma variabilidade genética superior a 25% entre as populações do Golfo da Guinea e da Guinea Superior e delas em relação às outras populações de chimpanzés. Porém, nas outras três regiões, as diferenças genéticas não ultrapassam 25%. Análises de linhagens evolucionárias também corroboram essa proposta inicial. Nesse sentido, sob o critério do AMOVA e de linhagens evolutivas, temos três subespécies/raças de chimpanzés, sendo uma delas englobando três variações com diferentes traços morfológicos e genéticos não suficientes para separá-las em diferentes linhagens evolutivas.

          Hoje são reconhecidas quatro subespécies do chimpanzé comum, todas em preocupante estado de conservação: P. t. verus, P. t. troglodytes, P.t. ellioti, e P. t. schweinfurthii. Enquanto a  P. t. verus e a P. t. ellioti mostram-se substancialmente diferentes entre si e em comparação com as outras populações, o P. t. troglodytes e o P. t. schweinfurthii são bem próximos relacionados em termos genéticos, e escapam por pouco de serem lançados na mesma linhagem evolutiva.

          É importante também lembrar que apenas as diferenciações genéticas não são suficientes para definir uma subespécie/raça a partir da definição e ferramentas de análise aqui apresentadas. Essas diferenças genéticas são necessárias, mas precisam definir claramente fronteiras entre as espécies, e não pontos em um espectro gradual de mudanças genéticas. Até mesmo traços não-genéticos, como fatores epigenéticos ou comportamentais (ligados ao aprendizado) podem definir barreiras. Porém, passar pelas análises do AMOVA, de linhagens evolucionárias e de outras ferramentas analíticas do tipo é algo fundamental para a classificação de subespécies.

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OBS.: Enquanto o conceito de raça engloba características fenotípicas, como a cor da pele, etnia engloba tanto características fenotípicas quanto fatores culturais, como a nacionalidade, afiliação tribal, religião, língua e as tradições de um determinado grupo. Frequentemente e erroneamente esses termos são usados como sinônimos em discussões diversas. Por exemplo, no Brasil, considera-se que os povos indígenas constituem uma identidade racial. Entretanto, em razão das diferentes características socioculturais, os indígenas são divididos em diversos grupos étnicos. No Amazonas, onde vivem mais de 80000 índios, existem 65 etnias indígenas.
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   EXISTEM RAÇAS HUMANAS?

          Um repercutido estudo publicado em 2002 na Science (Ref.61) analisou genomicamente 52 populações humanas ao longo do planeta e encontrou 5 principais grupos que compartilhavam características genéticas similares: Africanos sub-Saarianos; Europeus, Orientais Médios e Próximos, e Centro Asiáticos; Asiáticos Orientais; populações do Pacífico; e Ameríndios. Isso levou muitos a entenderem que, de fato, existiam subespécies humanas, algo não sugerido pelos autores do estudo. Aliás, como outros estudos posteriores mostraram, caso critérios variados fossem utilizados para subdividir os humanos em populações, especialmente a nível regional, inúmeros subgrupos poderiam ser encontrados. Além disso, nos últimos anos, análises genômicas vêm descrevendo o quão robusto e complexo foram as misturas e miscigenações entre os povos ao longo da história e da pré-história desde que os primeiros Homo sapiens saíram da África há 120-200 mil anos.

          Os Europeus, apesar de serem considerados 'brancos', são frutos de uma mistura ao longo dos últimos 15 mil anos envolvendo três principais migrações, duas do Oriente Médio e uma da África.
Poucas são as pessoas hoje que realmente são ascendentes diretos dos indivíduos que primeiro colonizaram as terras onde vivem, como os aborígenes Australianos. A maioria esmagadora dos humanos são produtos de contínuas misturas com imigrantes provenientes de várias partes do mundo. Quase todos os humanos possuem uma profunda e complexa história de miscigenações e migrações. E isso vale também para grupos indígenas na América, os quais acabaram em contato massivo com os Europeus e posteriormente Africanos a partir do século XV. E mesmo ficando isolados por 15 mil anos nas Américas, os indígenas descendem de humanos do Nordeste Asiático, os quais passaram por várias misturas prévias.

          Somando-se a ao colossal fluxo genético entre populações, o Homo Sapiens também possui um tempo muito curto de existência na Terra para ter ocorrido um profundo processo evolucionário diferenciado entre os diferentes grupos populacionais no início de ocupação dos territórios. Nesse sentido, não houve real isolamento ou mesmo tempo para grandes diferenciações. Todos os humanos partilham mais de 99,9% dos cerca de 20000-25000 genes constituintes do DNA da nossa espécie, algo que deixa pouco espaço para a existência de subespécies. As diferenças entre um negro Africano e um branco Nórdico compreendem apenas 0,005% do genoma humano. E as diferenças fenotípicas mais aparentes (cor da pele, textura dos cabelos, formato do nariz, etc.) são determinadas por um grupo ínfimo de genes. Nesse sentido, as diferenças entre as populações são muito pequenas, contando, no máximo, com 10% de diversidade molecular dentro do material genético intrínseco da nossa espécie - variantes de genes, alelos - quando comparamos grupos humanos em diferentes posições geográficas e dentro de uma mesma população, ou seja, nenhuma barreira genética nos separa uns dos outros (Ref.1-13). Não existe uma real descontinuidade genética entre as populações humanas no mundo para basear classificações como subespécies/raças. De fato, existem mais variações genéticas dentro de uma mesma população - entre indivíduos sem parentesco - do que entre populações.
       
          Quando usamos o AMOVA e análises de linhagens evolucionárias nos humanos, e comparamos os resultados obtidos com aqueles do chimpanzé comum, fica claro a falta de consistência no uso de subespécies para separar os humanos modernos. Mesmo populações distantes e isoladas, como aquelas encontradas na Oceania, mostram pouca variabilidade genética diferencial quando comparadas com outras populações humanas. As diferenças genéticas individuais (intra-população) são muito maiores do que inter-populações, e o máximo que obtemos para os humanos são ecotipos, ou seja, adaptações geográficas associadas a variantes genéticas, as quais estão presentes em praticamente todas as espécies que apresentam populações espalhadas em diferentes regiões do planeta, independentemente da existência de subespécies.


         Por exemplo: grupos humanos que vivem em regiões de alta altitude, como no Himalaia e nos Andes (6), possuem diversas adaptações fisiológicas que outros grupos não possuem - e diferenciadas entre si -, mas, mesmo assim, não são classificados em uma 'raça'. Já os Hispânicos, mesmo sendo em grande parte 'Brancos', possuem certos aspectos de saúde bem diferentes dos Norte-Americanos brancos, seja por fatores genéticos seja por fatores epigenéticos/ambientais. Os Inuits, ou Esquimós, são um povo com características bem distintas, mas não classificados como uma raça separada. Recentemente, foi descoberto que uma certa população nas Filipinas possuem um baço maior como uma provável adaptação evolutiva para a atividade de mergulho (7). E poderíamos continuar citando vários outros exemplos. Se fôssemos adotar diferentes critérios para a divisão de raças humans, centenas ou milhares delas seriam criadas, apenas revelando um espectro contínuo e gradual de variações genéticas adaptativas, sem agudas barreiras.





          De fato, existem inúmeros traços biológicos que poderiam ser usados para agrupar diferente populações humanas em 'raças'. Uma classificação racial de humanos não é simplesmente arbitrária, é multi-arbitrária (Ref.70). Em lugar do errôneo conceito biológico de raças/subespécies humanas, geneticistas populacionais tendem agora a usar termos como "grupo biogeográfico ancestral" para se referirem à estrutura genética de alto-nível populacional que emerge de análises de agrupamentos contendo diferentes frequências de genes/alelos dentro da espécie humana (Ref.71).

          Para ficar ainda mais claro, podemos citar a questão da cor da pele, um critério historicamente muito utilizado para separar as supostas raças humanas. Diferentes populações ao redor do mundo possuem variadas cores de pele em resposta basicamente à exposição solar (8). Tanto certas populações Africanas quanto os Polinésios possuem uma cor de pele bastante similar e escura, porém, possuem relativamente muito mais diferenças genéticas entre si do que em relação aos Europeus brancos. Aqui no Brasil, estudos genéticos em uma pequena capital mineira mostrou que 27% dos pretos que nela residiam possuíam uma ancestralidade genética predominantemente não Africana. E em termos nacionais, 87% dos brancos Brasileiros possuem 10% de ancestralidade Africana (Ref.11). Aliás, muitas pessoas que se dizem negras/pretas aqui são consideradas brancas nos EUA, enquanto muitos brancos aqui possuem ancestralidade Africana que chega a ser maior do que muitos negros/pretos nos EUA (Ref.56). 


(8) A maior ou menor pigmentação na pele com melanina atua como fator de proteção contra o UV e de otimização para a síntese de Vitamina D. Para saber mais, acesse:

          E ainda falando da cor de pele, um recente e massivo estudo (9) mostrou que genes e alelos particulares para a expressão fenotípica de diferentes cores de pele são comumente compartilhadas por diferentes populações humanas ao redor do planeta. O gene SLC24A5, por exemplo,- um gene de despigmentação ligado à cor mais clara entre a população Europeia e que parece ter atuado nos últimos 6 mil anos na Europa - é também comum no Leste da África e encontrado, no mínimo, na metade dos membros de alguns grupos Etíopes. Aliás, os Africanos possuem no genoma um espectro enorme dessas variantes genéticas, seja determinantes para o branco seja determinante para o preto. É comum pensarmos que na África as populações nativas possuem todas peles bem escuras, um ledo engano. A diversidade de cores é enorme. É válido mencionarmos novamente o impactante estudo de 2018 o qual mostrou que os primeiros humanos a colonizaram a Grã-Bretanha possuíam uma pele escura e olhos claros (3).

(9) Para mais detalhes, acesse: Novas variações de genes revelam a evolução da cor da pele entre humanos e desafiam a noção de raças biológicas).


 O espectro de cores de pele ao longo da África é muito grande.

          Na literatura médica e em divulgações de agências de saúde, é comum o uso do termo 'raça' para determinar diferentes grupos humanos que compartilham certas predisposições genéticas (tradicionalmente afrodescendentes, hispânicos, caucasianos, ameríndios e oceanianos). Porém, existe um controverso debate para a continuidade dessas classificações generalistas, as quais muitas vezes ignoram os ecotipos e variações intra-populacionais em geral. Fatores genéticos de risco entre populações podem variar muito de local para local, atropelando tendências médias globais e qualquer tipo de agrupamento geográficos. Por exemplo, alelos de persistência a lactase (LP) - alelos (variantes de genes específicos) oriundos de mutações na região MCM6 do cromossomo 2 em múltiplas populações pecuaristas há milhares de anos que permitem às pessoas digerirem lactose após a fase de amamentação, e estão consequentemente associados com a tolerância à lactose - possuem uma frequência média de 26% entre populações Caucasianas, 16% entre populações Africanas, 2% entre populações do Leste Asiático, 0% entre populações na Oceania e menos do que 5% entre os Nativos Americanos. Porém, dentro da África, temos 61% dos Kenianos Maasai que possuem um alelo LP e 0% dos Senegaleses Wolof possuindo um alelo LP. Na Europa, lar dos Caucasianos, temos que 82% dos Escoceses carregam um alelo LP em oposição a apenas 5% da população no Sul da Itália.

> Sugestão de leitura: Forte seleção natural  nos humanos para o consumo de leite na fase adulta

          E outro ponto: o que seria afrodescendente ou caucasiano nos EUA - via uma inspeção simplesmente visual, sem o uso de análises genômicas individuais - acaba não se aplicando ao Brasil, por exemplo. Melanesianos, os quais compõem mais de 75% das populações habitando as ilhas do Pacífico, são visualmente similares aos Africanos Sub-saarianos, possuindo pele escura, nariz largo, cabelo crespo, etc. Porém, como já mencionado, as populações do Pacífico possuem mais semelhanças genéticas com os Asiáticos - descenderam dos nativos do Oriente Médio - e Europeus do que com os Africanos. Classificar tão genericamente uma enorme quantidade de populações Europeias e Africanas em basicamente dois subgrupos 'raciais' para exploração médica (Brancos e Pretos) é realmente eficiente? Ou apenas reforça esteriótipos racistas?

          Além disso, fatores genéticos podem expressar riscos diferenciados dependendo de fatores ambientais (epigenética). Um nativo da África-do-Sul apresentaria os mesmos riscos a condições diversas em outro continente? Aliás, até hoje não se sabe ao certo qual é o papel de muitos genes no desenvolvimento de determinadas doenças, ou quais são exatamente esses genes, apesar de enormes avanços nessa área nas últimas duas décadas.

          De fato, muitos trabalhos científicos (Ref.1415, 17, 18, 19, 20, 21, 79) pedem cuidado aos profissionais de saúde ao confiarem diagnósticos baseados na premissa de grupos humanos pré-determinados e generalizados mais ou menos suscetíveis a uma determinada doença. Fatores sociais, econômicos e geográficos podem ser muito mais importantes do que diferenças genéticas para muitas doenças, e certos aspectos físicos podem camuflar um background genético (ancestralidade) não esperado. Por outro lado, existem, sim, variações genéticas entre diferentes populações humanas que tornam as pessoas mais ou menos suscetíveis a determinadas condições patológicas, e essas devem ser rastreadas para melhorar os diagnósticos médicos. 

           Especialistas têm defendido que ancestralidade genética individual (via determinação de marcadores genéticos) seja utilizada para diagnósticos e avaliação de riscos para doenças diversas do que simples classificação genérica baseada em aspectos físicos do indivíduo (as quais podem não corresponder a um background genético esperado) (Ref.74-75). Por outro lado, especialistas também defendem a manutenção concomitante de raça/etnia como um razoável referencial para exposições sócio-ambientais já estabelecidas como fatores de risco não-genéticos em patologias diversas.
          
          Um notável exemplo alvo de bastante crítica é a controversa equação usada para estimar a taxa de filtração glomerular - importante para avaliar doença crônica renal -, a qual tradicionalmente usa como variáveis o sexo, a idade e a "raça" (Preto e Não-Preto). Indivíduos pretos nos EUA costumam ter maiores níveis de creatinina no sangue, o que impacta o cálculo. Porém, obviamente, esse agrupamento genérico de 'pretos' e 'não-pretos' pode levar a preocupantes superestimativas e subestimativas dependendo do background genético do indivíduo examinado, e inclusive contribuir para o racismo sistêmico na medicina. Nesse sentido, estudos têm promovido avanços para eliminar a variável 'raça' da equação, substituindo-a por outros parâmetros mais acurados ou menos prejudiciais, como níveis de cistatina C (Ref.76). 

          Especialistas também pedem para que fórmulas raça-baseadas para avaliar a severidade de DOPC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e diagnosticar outras doenças pulmonares sejam abandonadas por serem inúteis e fomentarem potenciais e sérios erros (Ref.78).

            Um estudo publicado em 2021 no The American Journal of Human Genetics (Ref.77), um dos mais relevantes periódicos no campo da genética, investigou 11635 publicações no periódico de 1949 (início de atividade) até 2018. Os pesquisadores encontraram que a palavra 'raça' aparecia em 22% dos papers na primeira década de atividade, mas com seu emprego declinando para 5% na última década - junto com o quase abandono de classificações como "Negroide" ou "Caucasiano". Esse dramático declínio reflete como os geneticistas começaram a gradualmente entender raça mais como uma categoria social com consequências biológicas do que uma inexistente subdivisão biológica discreta na nossa espécie. Nesse mesmo sentido, houve um aumento no uso dos termos ancestralidade e etnicidade, aparecendo em 33% e em 26%, respectivamente, dos papers em 2019-2018 - junto com caracterizações continentais ("Africanos", "Europeus" e "Asiáticos"). 

           Recentemente, um relatório liberado pela Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicine (NASEM) reforçou o alerta: "raça", ou a noção de que populações podem ser divididas em poucos grupos biológicos distintos e estáveis, é uma classificação social e não um modo cientificamente válido para medir variação genética (Ref.80). A NASEM pediu para que o termo raça fosse descontinuado em estudos genéticos.

Relatório da NASEM (2023) defendendo que o termo 'raça' seja descontinuado nos estudos genômicos.

            Apesar desses avanços na literatura acadêmica, os geneticistas e cientistas em geral ainda encontram dificuldade em como melhor descrever populações humanas - uma definição única - em termos de rastreamento e marcadores genéticos, especialmente em populações marcadas por elevado fluxo genético (ex.: população Brasileira). 

            A NASEM em seu mais recente relatório sugeriu que, ao invés de 'raça', a ancestralidade de um grupo deveria ser determinada usando "similaridade genética", ou calculando o quão perto seus membros estão relacionados a coleções genômicas de populações distintas (genomas de referência). Vários geneticistas populacionais já abandonaram o termo raça.

           É válido ressaltar também que, no contexto biomédico, muitos especialistas de saúde reforçam que o uso do termo 'raça' não é equivalente ao status de subespécie, mas uma subdivisão mais 'fraca' e específica dos humanos no planeta. E, além disso, fatores geográficos e mesmo análise de grupos étnicos vêm para complementar muitos estudos que rastreiam a prevalência de doenças entre as populações humanas. Porém, nesse sentido, outro questionamento emerge: se raça torna-se desvinculado de subespécie, ganhando um novo significado no meio médico, porque então não usar outro termo? Por que usar um carregado de preconceito histórico e amarras sociais, e que está associado à ideia de 'pureza'? Na Antropologia, usa-se o próprio termo 'populações', e ainda de forma mais adequada para se referir a diferentes variações étnicas e geográficas.

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   RAÇA: CONSTRUTO CULTURAL

          Se em termos biológicos é injustificado o uso de raça para classificar diferentes populações humanas, questões sociais, políticas e, principalmente, históricas acabam sendo os fatores que realmente dão corpo ao conceito de raça. Na esfera cultural, o termo raça acabou sendo apropriado da Biologia para incessantes tentativas de classificação dos seres humanos, infelizmente muitas vezes de forma a subjugar uma ou outra população, ou justificar extermínios em massa, como ocorreu no Nazismo, através de pré-julgamentos ou do 'racismo científico'. É parte da natureza humana a tendência de tentar categorizar seus semelhantes, principalmente considerando que somos uma espécie altamente visual. Categorização é uma operação mental que simplifica o mundo. Pessoas classificam os indivíduos baseadas nas suas aparências, suas religiões, suas origens geográficas, etc.

          Aqui no Brasil, com o fim de compensar injustiças históricas, existem cotas raciais que beneficiam determinados grupos de indivíduos que compartilham traços morfológicos visuais em comum, especialmente cor da pele escura. Portanto, a criação cultural de raças possui reais efeitos políticos, sociais e econômicos, mas não possui um sentido biológico, e podem até mesmo gerar confusões devido ao fator 'autopercepção'. Aliás, no Brasil usar raças no sentido biológico não possui nenhuma base lógica, com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) inclusive adotando a a autoclassificação para separar a população em branco, preto, pardo, indígena ou amarelo, seguindo um conceito de raça socialmente construído. A altamente miscigenada população Brasileira está longe de qualquer tentativa de separação em raças biológicas, especialmente ao se considerar apenas a cor de pele, a qual não determina nem mesmo ancestralidade. 

          É importante sempre reforçar que as cotas raciais, por exemplo, existem para compensar erros oriundos do preconceito histórico contra certos traços fenotípicos - especialmente pele escura -, e não desvantagens biológicas cognitivas inexistentes. Mas o ideal - ainda não possível - seria que todas as pessoas em desvantagem sócio-econômica, independentemente do fenótipo, fossem assistidas com igual esforço, e que políticas contra o preconceito de qualquer natureza fossem mais fomentadas.

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> A tentativa de classificar as pessoas em grupos discretos e limitados causou inclusive um certo incômodo no Mano Brown, vocalista do grupo de rap Racionais, recentemente em seu podcast (Podpah) ao ser chamado de um "negro branco" por causa da sua cor mais clara (um fenótipo específico). O Mano Brown é considerado negro (ou preto) por causa uma mistura de características fenotípicas e background sócio-cultural, e não por causa da sua genética ou por causa exclusiva de fenótipos.
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   CONCLUSÃO

          Branco, Africano, Asiático, não importa, nossas variações como espécie (Homo sapiens) são baseadas apenas em pequenas diferenciações genéticas, maiores intra-população do que inter-populações. Aliás, essas classificações simplistas tendem a gerar muitas desinformações. Apesar de existir um conflito na literatura acadêmica relativo ao emprego do termo 'raça', especialmente no campo da biomedicina, o conceito biológico  de raça não é o mais adequado no sentido de classificar diferentes grupos de humanos modernos por não existir variações e padrões genéticos suficientes no sentido de subespeciação. Misturas entre os humanos modernos são elevadas e constantes desde que nós saímos da África, dificultando a emergência de subespécies e permitindo apenas processos evolutivos essencialmente adaptativos para cada região biogeográfica.       
                                                         


 CURIOSIDADES:
  •  O cabelo crespo pode ter surgido como uma vantagem evolucionária. Devido às altas temperaturas, o cabelo dos Africanos e de populações do Pacífico teriam ficado menos densos, para permitir uma melhor circulação de ar dentro do volume capilar (sistema de resfriamento), e o enrolamento deles formariam um 'telhado' que impediria os perigosos raios UV de atingir a pele da cabeça com facilidade. E crescendo para cima em vez de cair, como os cabelos lisos ou parcialmente enrolados, eles formariam uma proteção ainda mais eficiente.
  • O nariz diferenciado entre os diferentes grupos humanos no planeta parecem ter forte relação com o clima local, de acordo com pesquisas nos últimos anos. A temperatura e umidade do ar, além da própria umidificação feita pelas vias aéreas, seriam fatores determinantes no formato do nariz.
  • Já os lábios mais grossos e quadris avantajados femininos de grande parte dos grupos negros Africanos provavelmente são frutos de seleção sexual. Ou seja, os parceiros masculinos ou femininos se sentiriam mais atraídos por essas características físicas. Isso também é verdade para certos fenótipos de outras populações humanas. 


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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://abs.sagepub.com/content/59/11/1474.short
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