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Técnicas de aumento peniano: fato ou ilusão?

- Atualizado no dia 19 de outubro de 2023 -

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           O tamanho do pênis é algo que atormenta expressiva parcela da população masculina. É cultural a exaltação de um pênis grande na nossa atual sociedade, algo simbolicamente associado à masculinidade e ao poder do homem. Muitos homens insistem em dizer, para si mesmos e para outros, que o tamanho importa, mesmo a maioria das mulheres dizendo que isso não é o determinante para as sensações de prazer durante o ato sexual, especialmente quando consideramos a anatomia, fisiologia e a psicologia associadas ao sexo feminino. E aproveitando da insegurança masculina, toneladas de produtos entram no mercado prometendo um aumento peniano dos sonhos. Mas será que algum deles realmente funciona?



         O pênis humano é um órgão reprodutor (liberação de esperma) e excretor (liberação de urina) formado por uma glande (coberta  por uma pele chamada prepúcio [1]), onde encontram-se as terminações nervosas relacionadas ao prazer sexual; uma uretra, por onde se passa a urina ou o esperma, mas nunca os dois juntos; um corpo esponjoso envolvendo a uretra, para protegê-la; e dois corpos cavernosos que se enchem de sangue para permitir a ereção. Ou seja, o órgão sexual masculino possui uma estrutura única no corpo (e isso é importante para considerações mais à frente). A largura do pênis começa a crescer a partir de ~11 anos de idade e o comprimento a partir da puberdade, devido a uma combinação principal entre o hormônio testosterona e o GH (hormônio do crescimento). O crescimento continua até os 18 anos, em média, e a ação dos hormônios citada anteriormente cessa depois dessa idade.

> Leitura recomendada: Existe ejaculação feminina?

          De acordo com a literatura acadêmica, o tamanho médio do pênis humano encontrado ao redor do mundo é algo em torno de 12,7-13,2 cm de comprimento e 11-12,3 cm de circunferência quando ereto. Existem médias relativas às dimensões do pênis flácido (8-9,2 cm de comprimento e em torno de 9 cm de circunferência), mas isso não diz muita coisa porque o que importa é ele ereto, não é mesmo? Muitos pênis podem atingir comprimentos e circunferências maiores quando eretos do que outros pênis maiores quando flácidos. Não existe uma regra clara nesse quesito. No geral, estudos clínicos diversos sugerem que o pênis ereto de um humano adulto possui, na média, cerca de 13 cm de comprimento e 11,5 cm de circunferência. De uma maneira geral, entende-se por tamanho normal, o pênis de 10 a 17 cm durante ereção.

           Esses valores entram em concordância com estudos visando populações específicas ao redor do mundo. Um estudo publicado em 2018 na Nature (Ref.21), analisando 689 homens Brasileiros, com idades de 35 a 70 anos, encontrou um tamanho médio do pênis esticado de 13,08 cm ± 2.32 cm. Um estudo de 2011 publicado na Asian Journal of Andrology (Ref.22), analisando 1132 homens Turcos com idades de 19 a 30 anos, encontrou uma média do pênis esticado de 13,7 ± 1,6 cm. Já um estudo de 2014 publicado na International Journal of Impotence Research (Ref.23), analisando 5196 homens Chineses com idades de 18 a 60 anos (banco de dados de uma clínica urológica) e um subgrupo de 311 homens (participantes diretamente avaliados, com idade média de 27 anos) encontrou tamanhos médios do pênis ereto de 12,9 ± 1,2 cm e 12,9 ± 1,3 cm, respectivamente. Outros países também mostram médias similares, como EUA (12,49 cm), Índia (13,01 cm), Israel (13,6 cm) e Irã (11,58 cm). Duas populações com extremos já reportados na literatura médica são os Coreanos (média de 9,6 ± 0,8) e os Britânicos (14,3 ± 1,7 cm) (Ref.23).

          Um estudo de revisão publicado no periódico Journal of Sex & Marital Therapy (Ref.24) analisando 31 dos mais robustos estudos publicados até o ano de 2020 sobre tamanho peniano (ereto ou esticado) encontrou que o comprimento médio do pênis ereto fica entre 12,95 e 13,97 cm, tendendo para o menor valor.

          O mais recente estudo clínico sobre o tema e o maior já realizado, publicado em janeiro de 2021 no periódico Andrology (Ref.32), analisou 14597 homens no Vietnã e reportou a maior média de comprimento [ereto] já registrada: 14,67 cm. Para o pênis flácido e a circunferência peniana, as médias foram de 9,03 cm e 8,39 cm, respectivamente. Mesmo com a população Vietnamita possuindo a maior média já registrada de comprimento para uma única área geográfica, o valor ainda fica dentro da faixa de tamanho médio [ereto] mais comum ao redor do mundo: 11-15 cm.

          Aliás, um notável estudo publicado em 2015 no periódico PLOS ONE (Ref.25), usando modelos 3D de plástico simulando um pênis, mostrou que a preferência das mulheres pelo tamanho peniano ideal não foge muito da média mundial. Em geral, as mulheres mostraram preferir um pênis de 16,3 cm de comprimento e 12,7 cm de circunferência em um relacionamento de curto prazo (1 noite no caso), e 16,0 cm de comprimento e 12,2 cm de circunferência para parceiros sexuais de longo prazo. Isso fica muito longe da noção popular de que as mulheres consideram um pênis muito grande (20-30 cm) como o ideal. O estudo corrobora vários outros concluindo que a satisfação sexual das mulheres (em relacionamentos heterossexuais) não é dependente do tamanho peniano do parceiro (Ref.36). 

         Bem, de qualquer forma, como a maioria dos homens possui problemas em lidar com o tamanho do seu órgão sexual - independentemente se estão acima da média populacional -, muitos procuram, desesperadamente, métodos para aumentá-lo. Por causa de estereótipos muito populares e fácil acesso a produções pornográficas (onde o pênis precisa ser grande para facilitar diversas posições sexuais e enquadramento da câmera, e a satisfação sexual encenada das atrizes é positivamente associada com pênis muito grandes), mesmo um pênis de tamanho normal pode parecer muito pequeno para o homem. É o mesmo que ocorre com muitas mulheres que optam por cirurgias para aumentar o tamanho das mamas, na busca de uma alegada maior identidade feminina e maior atração sexual (!).

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(!) Um estudo publicado no periódico Body Image (Ref.26), analisando 18541 mulheres (idade média de 34 anos) em 40 países, encontrou que 48% delas queriam mamas maiores, 23% queriam mamas menores e apenas 29% estavam realmente satisfeitas com o tamanho das mamas. Mulheres no Brasil, Japão, China, Egito e Reino Unido foram as que mais demonstraram frustração com o tamanho das mamas. Mulheres na Índia, Paquistão, Egito, Líbano e Reino Unido expressaram o maior tamanho das mamas como ideal. Mulheres nas Filipinas, Japão, Alemanha, Áustria e Malásia expressaram o menor tamanho das mamas como ideal. O avanço da idade, no geral, mostrou aumentar a aceitação do tamanho natural das mamas.

> Leitura recomendada: Ejaculação feminina existe?

Curiosidade: O canal vaginal nas mulheres é muito menor do que o comprimento médio do pênis humano. Para grande parte da população feminina, um pênis com comprimento inferior a 10 cm é ainda capaz de preencher todo a extensão [longitudinal] da vagina. Para mais informações: Qual é o tamanho do canal vaginal e do útero?
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   SÍNDROME DO PÊNIS PEQUENO

         A Síndrome do Pênis Pequeno pode ser definida como uma ansiedade sobre os genitais sendo observados, diretamente ou indiretamente (quando usando uma peça de roupa, ex.: sunga), por preocupação de que o comprimento e/ou espessura do pênis flácido (ou ereto) é menor do que o normal para um adulto do sexo masculino, mesmo que essa não seja a realidade (Ref.39). Em geral, homens com essa síndrome possuem um pênis de tamanho normal, mas subestimam o próprio tamanho peniano. Sintomas como disfunção erétil, perda do interesse sexual ou fuga de relacionamentos sexuais podem acompanhar o problema. Um caso de provável suicídio causado pela síndrome foi recentemente descrito na literatura médica (Ref.43).

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Exemplo de caso:

John (28 anos) procurou um urologista para realizar uma cirurgia de aumento peniano, devido ao fato de estar dessatisfeito com o comprimento do seu pênis flácido. Quando ele olha para baixo e vê seu próprio pênis, este parece realmente pequeno comparado com o pênis de outros homens. Ele é gay, e nunca teve um relacionamento ou qualquer experiência sexual com um parceiro. Ele está convencido que outros homens gays irão achar seu pênis muito pequeno, e que ele não será desejado como um parceiro sexual. Sua crença é "confirmada" quando ele assiste a pornografia gay e quando busca informações pela internet sobre o que é considerado um pênis de tamanho "normal". No entanto, ele nunca teve a coragem de medir o seu pênis.
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          Importante destacar que nem todos os homens com pênis pequeno sofrem com a síndrome, e esse não é um critério de diagnóstico. Por exemplo, homens que possuem micropênis não preenchem os critérios para a Síndrome do Pênis Pequeno, já que possuem um pênis objetivamente pequeno que, de fato, justifica a necessidade de um tratamento médico. Um micropênis é um pênis congenitalmente pequeno por causa frequentemente de anormalidades hormonais que ocorrem após a 12° semana de gestação, devido a fatores genéticos ou distúrbios no ambiente uterino. Um micropênis é caracterizado por 2,5 desvios padrões abaixo do tamanho peniano médio para a faixa etária. Tipicamente, para um adulto, um micropênis é considerado um pênis com menos de 9,3 cm de comprimento quando ereto ou esticado; porém, esse limite superior pode variar de população para população (ex.: esse valor é muito próximo da média de pênis ereto reportada para Coreanos).

          Outro relevante ponto a ser destacado é que, em alguns casos mais severos, a preocupação com o tamanho peniano pode ser parte de um transtorno corporal dismórfico (TCD) ou mesmo psicose, quadro que requer tratamento psiquiátrico. O TCD é caracterizado por uma preocupação excessiva com supostos defeitos no corpo que não são observados por outras pessoas ou são completamente insignificantes sob a perspectiva médica. Nariz, pele e cabelo são as áreas mais comumente afetadas, mas potencialmente qualquer área corporal pode ser alvo do transtorno, incluindo o pênis. É estimado que o problema afeta em torno de 2% da população (Ref.37).

          O TCD pode causar prejuízos sociais e ocupacionais e é frequentemente acompanhado por outros transtornos mentais, como depressão. A pessoa afetada fica pensando no "defeito" corporal a todo momento, esconde a imperfeição de outros, e regularmente checa essa imperfeição.   


    TÉCNICAS DE AUMENTO PENIANO

           Sem nos importarmos se o tamanho realmente influencia em algo, ou qualquer outra coisa do tipo, vamos logo ao que interessa: existem métodos eficientes para aumentar o pênis? É só acessarmos qualquer conteúdo erótico na internet para uma poluição visual inacreditável de anúncios de técnicas de aumento peniano nos martelar violentamente nos olhos, com boa parte deles geralmente afirmando desonestamente que o tamanho médio e normal de um pênis em adultos seria em torno de 16-17 cm. Se digitarmos 'aumento peniano' no Google, milhares de sites e blogs aparecerão como resultado de busca, com quase todos prometendo verdadeiros milagres. São pílulas, exercícios manuais, bombas de vácuo e tudo o que for possível imaginar. Bem, vamos analisar os principais métodos alegados:


1. Pílulas e Loções

          Misturas que nem o diabo tomaria são vendidas livremente pela internet e em alguns mercados obscuros. São receitas que incluem ervas, vitaminas, minerais, entre outras substâncias que prometem um significativo crescimento peniano. Não existe comprovação científica de eficácia para nenhum desses produtos e operações de fiscalização já encontraram pesticidas, traços de chumbo, bactérias nocivas e até fezes de animais na composição dos mesmos. O mesmo alerta vale para ervas e outras plantas medicinais da cultura popular. São apenas mitos e podem trazer potenciais perigos.


2. Extensor peniano

        Alguns poucos estudos e reportes meio suspeitos e de baixa qualidade alegam crescimentos em torno de 1 centímetro utilizando uma técnica similar a de algumas tribos indígenas, nas quais os índios prendem pesos nas orelhas, por exemplo, para forçá-la a esticar e ir crescendo aos poucos, até ficarem enormes. Bem, isso funciona na orelha, um tecido cartilaginoso. Como já mencionado, o pênis é um órgão único no corpo, com propriedades completamente diferentes de uma orelha. E outra: colocar pesos/tração no pênis pode prejudicá-lo e até causar sérios danos permanentes. Não existe base científica de qualidade atestando qualquer tipo de eficácia nessa técnica (e olha que os raríssimos estudos positivos alegam crescimentos ínfimos e alertam que a técnica não funciona em todos, além de alguns serem, em parte, financiados por empresas de produtos sexuais). Somando-se a isso, os aumentos (sempre reportados em menos de 2 cm) são observados apenas no pênis flácido, não no ereto;


3. Exercícios manuais (jelging)

          A técnica consiste em massagear o pênis puxando sangue da sua base para a glande, por um longo período de tempo e repetidas vezes. Além de não existir prova (ou lógica...) científica nenhuma de que isso funcione, você pode acabar promovendo machucados e cicatrizes permanentes na pele do pênis, além de danos em sua estrutura interna, dependendo da força de tração do movimento manual (!);

(!) Um exemplo de dano nesse sentido está associado com essa estranha síndrome: 


4. Bombas de vácuo

         Usadas para facilitar uma ereção em homens com problemas de impotência sexual, essas bombas estimulam o sangue a preencher o sangue do tecido cavernoso, facilitando o processo de ereção. Não existe base científica para usá-los em aumentos penianos. Por causa das pílulas 'azuis', muitos acabaram deixando esses produtos de lado, o que deve ter impulsionado os responsáveis pelos tais equipamentos a mudarem o público alvo, alegando funções mentirosas. E se usado em demasia, essas bombas podem danificar os tecidos elásticos do pênis, dificultando ereções mais firmes, além de poderem provocar danos em veias do tecido peniano.

          Um estudo publicado em 2006 (Ref.8) analisou 37 homens que usaram o dispositivo durante o período entre setembro de 2003 e novembro de 2004, durante 6 meses direto (3 vezes por semana e durante 20 minutos cada sessão),  e o máximo de aumento registrado em um indivíduo foi de 0,3 cm, ou seja, praticamente nada (não dá nem para afirmar que esse crescimento foi devido ao aparelho ou qualquer outra coisa no corpo da pessoa). Grande parte do restante do grupo não teve crescimento praticamente algum. Mesmo tomando todos os cuidados durante o uso do produto, evitando também longa duração de exposição, um dos voluntários teve uma perda de sensibilidade passageira e outro teve hematomas no pênis. Até hoje, nenhum outro estudo científico achou evidência alguma de efetividade das bombas de vácuo para o aumento peniano;


5. Hormônios (GH e testosterona)

          Depois de completo o crescimento peniano natural (ao redor dos 18 anos), a testosterona e o GH deixam de ter efeito no crescimento do pênis. No caso específico do GH, se houver um uso abusivo dele no corpo, pode existir um certo crescimento no órgão, assim como ocorre em várias outras estruturas do corpo (orelhas, nariz, maxilar, queixo, cotovelos, etc.), porém, não existem estudos científicos atestando essa possibilidade. Além disso, estamos falando de algo até mais perigoso do que os anabolizantes tradicionais de fisiculturistas (baseados na estrutura química da testosterona). Os danos do abuso do GH são devastadores quando se manifestam, isso sem contar as deformações corporais. Somando-se a isso, o GH pode induzir o crescimento de tumores no corpo antes benignos, disparando cânceres fatais; (2) Em crianças e adolescentes com evidências de possuírem micropênis, esses hormônios podem ser usados, sob supervisão médica, para se tentar amenizar o problema.


6. Cirurgias

            As tão faladas cirurgias de aumento peniano não seriam tão faladas assim se os homens soubessem dos riscos que envolvem o procedimento, além dos ganhos não serem lá essas coisas na maioria das vezes. A comunidade médica apenas indica esse tipo arriscado de procedimento quando os benefícios superam os riscos (assim como toda cirurgia deveria ser). Em situações médicas como micropênis (pênis realmente muito pequenos), graves deformações genéticas e lesões extensas, uma cirurgia de aumento/correção peniana pode ser indicada.

           Geralmente, no aumento, utiliza-se a gordura do próprio paciente, retirada de outras partes do corpo, para ser implantada dentro do pênis. Os resultados podem variar entre 2 e 4 cm de aumento, e uma maior espessura. Porém, a maioria se sente pouco satisfeita com a técnica porque o corpo acaba absorvendo parte da gordura para ser usada na metabolização, além dos ganhos não serem muito expressivos e deixarem muitas vezes o pênis com um aspecto deformado. E as complicações podem ser várias e com alta probabilidade de ocorrerem. Deformações, infecções graves, perda de sensibilidade e até mesmo perda do pênis são possíveis. Médicos sérios são fortemente contra esse método em indivíduos saudáveis, mesmo se os mesmos estiverem sofrendo de problemas emocionais por causa do tamanho peniano. De qualquer forma, esse é o único método efetivo de crescimento, apesar dos muito pesares. (3)             

           Existe também uma técnica mais comum de cirurgia que envolve o corte do ligamento que anexa o pênis ao osso pubiano e posterior enxerto de pele na base do órgão para permitir um aumento extra de comprimento quando o mesmo estiver flácido (cerca de 2 cm na média). Porém, não existem ganhos de comprimento durante a ereção. Além disso, o ângulo ereto do pênis passará a ficar bem mais curvo, o que pode não agradar o homem durante a relação sexual. Ou seja, não vale a pena, especialmente considerando os riscos de uma cirurgia.


7. Métodos Invasivos Não-Cirúrgicos 

          Existe também um grande interesse em métodos não cirúrgicos envolvendo preenchimento com substâncias líquidas, geralmente com o volume injetado variado de 20 a 40 mL. O ácido hialurônico (HA) e o ácido polilático (PLA) são os mais comuns para esse propósito, resultando em uma maior espessura do pênis (Ref.17). Porém, esse tipo de técnica também está associada a riscos de sérios efeitos adversos e complicações (ex.: inflamação), e possui efeito temporário (absorção e degradação dessas substâncias): HA até 18 meses, e PLA até 3 anos, com contínuo declínio do volume ganho ao longo do tempo em ambos os casos (o PLA é mais duradouro devido aos seus efeitos de estimulação da resposta imune e da proliferação de fibroblastos, formando um novo tecido conectivo com depósitos de colágeno na estrutura peniana). Além disso, estudos avaliando a eficácia e segurança desses procedimentos são ainda limitados e pouco controlados.

           É reportado que o uso de HA é o mais recorrente, seguro, eficiente e associado a um maior nível de satisfação (Ref.35). Além disso, o preenchimento pode ser prontamente revertido com a enzima hialuronidase.

          Vários outros líquidos ou géis de preenchimento têm sido reportados, mas escassamente estudados e associados com alto risco de sérios efeitos adversos. Injeção de silicone líquido, por exemplo, está associado com várias e frequentes reações adversas, incluindo hemorragia alveolar severa, síndrome da embolização letal de silicone, granuloma peniano e necrose da pele peniana (Ref.35).



             


   CONCLUSÃO

          Não existem técnicas práticas, não-invasivas e seguras de aumento peniano, algo reforçado por uma revisão publicada no periódico Sexual Medicine Reviews (Ref.29). Os únicos métodos com suporte científico para o aumento peniano (espessura e/ou comprimento) são a via cirúrgica e o preenchimento invasivo, ambos com efetividade limitada e associados a significativos riscos de sérias reações/eventos adversos. Por fim, e mais importante, não existe nenhuma técnica de aumento peniano que promova um crescimento colossal do pênis como anunciado nas várias e enganosas propagandas que recheiam sites adultos. 

           Nesse sentido, o caminho mais fácil, em grande parte dos casos, é que o indivíduo aprenda a conviver com o seu pênis. Importante, é preciso ter em mente que a maioria dos problemas penianos é apenas algo psicológico. Por exemplo, em um estudo publicado em 2010 no periódico  Journal of Sex & Marital Therapy (Ref.40), analisando uma série de 60 homens tratados por um dos autores do paper - todos reclamando do tamanho peniano -, encontrou que para 44 deles, aconselhamento psicológico foi suficiente para resolver o problema. Os outros 16 homens resolveram optar pela via cirúrgica, e, desses, 9 ficaram satisfeitos com o resultado. Segundo concluíram os autores, para os homens que possuem um pênis com 7,5 cm ou mais quando ereto, existe apenas benefício limitado da cirurgia, e deveriam ser desencorajados a serem submetidos à via cirúrgica.

          Além disso, diversas pesquisas mostram que a maior parte dos homens preocupados com o tamanho do seu pênis possuem dimensões penianas normais e que cerca de 85% das mulheres não consideram o tamanho do pênis do seu parceiro algo que influencie negativamente na relação sexual (4).


             Caso se sinta incomodado com alguma parte do seu corpo, converse com o seu parceiro sobre o problema. Pode ser difícil começar o assunto, mas no final você poderá sair agradecendo pela iniciativa. Mas caso o problema psicológico esteja prejudicando sua vida (depressão, falta de concentração, etc.) - como em casos de transtorno dismórfico corporal - procure a ajuda de um profissional (ex.: psicólogo). Aconselhamento psicológico é uma opção efetiva para ajudar na aceitação do tamanho peniano (Ref.29), especialmente nos casos de síndrome do pênis pequeno - onde o homem acredita que possui um pênis anormalmente pequeno mesmo sem possuir micropênis (Ref.30-31). Sempre peça ajuda nessas situações, porque ninguém é, nunca foi e nunca será uma ilha. E se sua parceira, ou parceiro, estiver reclamando do tamanho do seu pênis, não é hora de você ir correndo para uma mesa cirúrgica, mas, sim, ir correndo trocar de parceiro ou parceira.

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(1) Pode não existir um prepúcio por causa do procedimento de circuncisão, o qual consiste em remover toda essa pele que envolve a glande. A cirurgia de circuncisão é feita por causas religiosas, higiênicas e/ou devido à problemas na anatomia peniana. É um procedimento feito há séculos e, hoje, é uma cirurgia muito simples e segura de ser feita em hospitais, sendo obrigatória entre os Judeus. Existem evidências médicas de que a transmissão da Aids é diminuída depois da circuncisão, e o mesmo vale para várias outras doenças sexualmente transmissíveis. A remoção do prepúcio também facilita a limpeza da glande.

(2) Um mito bastante difundido, mas falso, é um que relaciona os praticantes de fisiculturismo com um pênis pequeno, devido ao uso de anabolizantes. Existe uma confusão nessa parte, porque o que pode atrofiar com o uso extra de testosterona, ou similares, são os testículos, e não o pênis. Os testículos podem encolher porque eles passam a ter suas funções menos requisitadas pelo corpo, já que eles são os responsáveis pela produção de testosterona no homem. Ora, se existe muita testosterona/similares entrando no corpo por outro caminho, significa que eles são meio inúteis e devem parar de produzi-la para não elevar ainda mais os níveis do hormônio no sangue. Para isso, o órgão acaba sendo atrofiado. De qualquer forma, o uso de anabolizantes traz sérios riscos à saúde, especialmente se utilizados sem supervisão médica.

(3) Muitos homens ao redor do mundo acabam indo também em clínicas suspeitas, coordenadas por profissionais nada 'profissionais', para fazerem injeções no pênis com substâncias diversas, como óleos e silicone. Os danos a curto e longo prazo costumam ser graves. variando de inflamação, inchaço, dor, endurecimento da pele peniana, até desastrosos efeitos, como úlceras, necrose da pele, dor na ereção, disfunções sexuais causadas por essa dor ou pelo ato sexual, e morte por embolismo (Ref.27). Os danos também podem migrar para áreas longe do local de injeção, incluindo o escroto e a região suprapúbica. No Vietnã, a situação é pior ainda. Lá, vários homens costumam injetar silicone no pênis por conta própria, pois acreditam que isso irá aumentar bastante o pênis e trazer uma vida sexual mais feliz. As hospitalização de emergência no país é enorme por causa dessa situação, com casos não raramente reportados de perda do pênis.
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Curiosidade: Existe uma crença popular de que o tamanho do pênis está relacionado com o tamanho de outras partes do corpo do homem, como os pés e as mãos. Como exemplo, pessoas com pés grandes teriam um pênis também grande. Estudos científicos já foram feitos para elucidar a questão, mas nenhuma relação de proporcionalidade do tipo foi encontrada. Por outro lado, um estudo recente realizado no Japão (Ref.34) encontrou evidência de que o tamanho do nariz está, sim, fortemente ligado ao tamanho peniano, porém o estudo não é conclusivo e precisa ser replicado.

Nesse mesmo sentido, existe uma alegação muito disseminada de que homens negros (pele escura ou outras Afro-características) possuem pênis muito maiores do que homens brancos (caucasianos). Investigando o potencial mito de que homens pretos (cor da pele escura) possuem um pênis muito maior do que homens brancos, um estudo publicado em 2017 no International Journal of Impotence Research (Ref.33) recrutou 627 homens com mais de 18 anos (média de idade de 53,6 anos). Os participantes foram separados de acordo com a cor autodeclarada, resultando em 160 homens pretos e 283 homens brancos; os 170 restantes com outras cores autodeclaradas foram excluídos das análises dimensionais. Medindo o tamanho médio do pênis esticado (ereto) dos participantes brancos e pretos, os pesquisadores encontraram um comprimento médio de 15,8 cm para os homens brancos e de 16,5 cm para os homens pretos, ou seja, uma diferença não muito significativa. Importante notar que as médias obtidas foram substancialmente maiores do que a faixa de médias geralmente reportadas por outros estudos devido provavelmente à seleção realizada dos participantes, resultando em valores tendenciosos e não uma boa representação a nível populacional.
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Leitura recomendada: O que é a Síndrome do Pênis Perdido?



           



REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0302283802002646
  2. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1046/j.1464-410x.1998.00672.x/full
  3. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/bju.13010
  4. http://www.nature.com/ijir/journal/v19/n6/abs/3901569a.html
  5. http://www.mayoclinic.org/healthy-lifestyle/sexual-health/in-depth/penis/art-20045363
  6. http://tuoitrenews.vn/society/10668/another-vn-man-suffers-complications-of-penile-augmentation
  7. http://en.baomoi.com/Info/Man-almost-lost-his-penis-because-of-silicone-injection/9/391955.epi
  8. Small Penis Syndrome
  9. Vacuum Pump study
  10. http://www.livescience.com/4387-penis-enlargement-products-short.html
  11. http://search.proquest.com/openview/97c9af78fc0351477239bdfffeb072c7/1
  12. https://dash.harvard.edu/handle/1/8889486
  13. http://journals.lww.com/co-urology/Abstract/2008/11000/Penile_enlargement.7.aspx
  14. Proporção do pênis relativa à outras partes do corpo
  15. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC548174/
  16. http://www.nhs.uk/Livewell/penis-health/Pages/penis-enlargement.aspx
  17. https://www.mdpi.com/2077-0383/9/4/1024/htm
  18. http://www.soc.ucsb.edu/sexinfo/article/penis-enlargement
  19. https://fisd.oxfordshire.gov.uk/kb5/oxfordshire/directory/advice.page?id=aLwiIIoRmPY
  20. https://doi.org/10.1111/j.1743-6109.2012.02725.x
  21. https://www.nature.com/articles/s41443-018-0039-1
  22. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3739181/
  23. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24784891
  24. https://www.nature.com/articles/s41443-019-0157-4
  25. https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0133079
  26. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1740144519303900
  27. https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3-030-21447-0_59
  28. https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/0092623X.2020.1787279
  29. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2050052119300125
  30. https://www.jomh.org/index.php/JMH/article/view/214/334
  31. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S174360952030182X
  32. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/andr.12978
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