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Ejaculação feminina existe?


- Atualizado no dia 2 de setembro de 2022 -


           Ejaculação feminina é definida como a expulsão de fluído através da uretra durante o orgasmo em resposta à estimulação sexual. Sua ocorrência já vem sendo descrita há mais de 2 mil anos, com a primeira descrição documentada conhecida datada do século IV d.C., em um antigo texto Chinês chamado "Instruções Secretas Relativas à Câmara de Jade" (Ref.3). Apesar dessa longa história, ainda hoje existe controvérsia e desinformações sobre a função e a composição da ejaculação feminina e mesmo sobre sua real existência. 


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          Após a mulher atingir o orgasmo, existe liberação de um fluído mucoide e incolor que aumenta com a estimulação. Esse fluído - sugerido ajudar na lubrificação da vagina - é liberado pelas glândulas vestibulares maiores (ou glândulas de Bartholin), estas as quais são estruturas exócrinas localizadas na abertura vaginal posterior aos lábios menores. Porém, essa não é a ejaculação feminina. Durante o orgasmo, existe também a liberação de pequenas quantidades de um fluído esbranquiçado e espesso, bioquimicamente comparável ao plasma prostático, incluindo antígeno específico da próstata (PSA), ácido prostático-específico fosfatase, frutose e glicose. Esse fluído é produzido pela próstata feminina (Glândulas de Skene) (1) e excretado pela uretra. Essa é a real ejaculação feminina e existe suficiente evidência científica da sua existência, apesar de ser incerto sua função. Especula-se que o fluído da próstata feminina possa dar suporte extra aos espermatozoides.

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(1) Para mais informações, acesse: 

           É importante mencionar que, antes ou durante o orgasmo, pode também existir a liberação de significativa quantidade de um líquido incolor (conhecido como squirt), um fenômeno muito famoso em produções pornográficas e comum de ocorrer em várias mulheres. Mas, diferente do que muitos pensam, isso não é uma ejaculação feminina, e, sim, incontinência urinária (incontinência de coito) (2). Aquele líquido que esguicha é bioquimicamente idêntico a urina diluída, possui origem da bexiga, e pode somar de >10 mL até 110 mL; em contraste, a ejaculação feminina soma apenas poucos milímetros de fluído. Alguns estudos sugerem que essa expulsão de líquidos da bexiga pode ter uma função antimicrobiana, ou seja, infecções que poderiam ser transmitidas por via sexual podem talvez ser prevenidas ou amenizadas com o esguicho, o que teria suportado uma vantagem evolucionária para as mulheres que possuem essa "ejaculação de urina", e culminando em seleção positiva. De fato, urinar após as relações sexuais é um importante fator de prevenção contra infecções urinárias (3).

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Para mais informações, acesse

          Uma curiosidade sobre a questão é que o governo Britânico, em 2014, chegou a proibir cenas em filmes pornográficos no Reino Unido exibindo "ejaculação feminina" (Ref.5). Isso porque, de acordo com a estranha lei - associada à BBFC (British Board of Film Classification) -, só poderiam ser aceitas cenas com ejaculação feminina caso fosse possível provar que era realmente ejaculação feminina (fluído prostático) e não apenas urina (squirt), devido ao fato do ato de ganhar prazer sexual via urina ser considerado ofensivo/obsceno pelo Ato de Publicações Obscenas do Reino Unido. 

          É ainda incerto o quão comum é o fenômeno de squirt entre as mulheres, mas estudos sugerem uma alta prevalência, afetando 10-54% das mulheres (Ref.6), algo que suporta o cenário de possível vantagem adaptativa positivamente selecionada ao longo do percurso evolutivo. Relevante também mencionar que o squirt e a ejaculação feminina podem ocorrer simultaneamente (Ref.7), potencialmente explicando a presença de PSA em muitas amostras de fluído urinário associado ao fenômeno (Ref.8).

> Leitura recomendada: O ponto G existe?

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. Janini & Rubio-Casillas (2011). New Insights from One Case of Female Ejaculation. The Journal of Sexual Medicine, Volume 8, Issue 12, Pages 3500-3504. https://doi.org/10.1111/j.1743-6109.2011.02472.x
  2. Salama et al. (2014). Nature and Origin of “Squirting” in Female Sexuality. The Journal of Sexual Medicine, Volume12, Issue3, Pages 661-666. https://doi.org/10.1111/jsm.12799
  3. Tubbs et al. (2020). Female ejaculation: An update on anatomy, history, and controversies. Clinical Anatomy, Volume 34, Issue 1. Pages 103-107. https://doi.org/10.1002/ca.23654
  4. Pastor, Zlatko (2013). Female Ejaculation Orgasm vs. Coital Incontinence: A Systematic Review. The Journal of Sexual Medicine, Volume 10, Issue 7, Pages 1682-1691. https://doi.org/10.1111/jsm.12166
  5. https://www.vice.com/en/article/nnqy3g/joel-golby-ejaculation-police-squirting-vaginas-jizzing-cocks-808
  6. Påfs J. (2021). A sexual superpower or a shame? Women’s diverging experiences of squirting/female ejaculation in Sweden. Sexualities. https://doi.org/10.1177/13634607211041095
  7. Pastor & Chmel (2022). Female ejaculation and squirting as similar but completely different phenomena: A narrative review of current research. Clinical Anatomy, Volume 35, Issue 5, Pages 616-625. https://doi.org/10.1002/ca.23879
  8. Inoue et al. (2022). Enhanced visualization of female squirting. International Journal of Urology, Volume 29, Issue 11, Pages 1368-1370. https://doi.org/10.1111/iju.15004