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Circuncisão masculina deveria ser um procedimento de rotina?


- Atualizado no dia 14 de junho de 2024 -

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        A circuncisão é possivelmente a mais frequente cirurgia eletiva realizada nos homens ao redor do mundo. Basicamente, o procedimento pode ser descrito como a remoção do prepúcio (pele que recobre a glande do pênis), tanto para fins religiosos e culturais quanto para fins médicos. Geralmente, o procedimento é realizado já nos primeiros dias de vida do bebê após o consentimento dos pais. Nas últimas décadas, diversos estudos foram publicados sobre a questão, investigando o balanço de riscos e benefícios do procedimento para basear recomendações visando o interesse de saúde pública. Afinal, realizar a circuncisão do pênis nos bebês recém-nascidos deveria ser um procedimento de rotina mesmo sem fins terapêuticos?

          No artigo abaixo serão explorados:
  • PREPÚCIO (Uma breve descrição da pele recobrindo a cabeça do pênis) 
  • HISTÓRIA (A história resumida por trás da origem e adoção da circuncisão por diferentes civilizações)
  • RISCOS E BENEFÍCIOS (Balanço dos riscos e benefícios trazidos com o procedimento)
  • OPOSITORES (Principais críticas contra a prática da circuncisão nos homens)
  • CONCLUSÃO

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   PREPÚCIO

        A pele cobrindo o corpo do pênis é alongada durante a 8° semana de gestação e o prepúcio começa a se desenvolver a partir dessa extensão ectodérmica. Inicialmente, existe uma aderência entre o epitélio escamoso da glande e a superfície interna do prepúcio, a qual geralmente continua no período pós-parto (fimose). O prepúcio pode ser retratado em apenas 4% dos recém-nascidos, mas a porcentagem aumenta para 90% aos três anos de idade e para 97-99% em homens não-circuncidados aos 17 anos de idade.


        A retração inicial do prepúcio envolve a separação do epitélio interior do prepúcio a partir da glande. A separação geralmente ocorre via descamação de células epiteliais, processo que forma uma estrutura branca chamada de 'esmegma'. Ereções noturnas também participam como ajudantes nesse processo. Quando a criança ou o bebê finalmente se livra da fimose, o prepúcio pode ser retraído à vontade, com isso ocorrendo automaticamente a partir de uma ereção.

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   HISTÓRIA DA CIRCUNCISÃO

          A circuncisão é um procedimento cirúrgico muito antigo, com evidências em múmias antigas e registros arqueológicos datando-o há cerca de 15 mil anos a partir da cultura Heliolítica, 5 mil anos na região sul Africana, e 3 mil anos no Oriente Médio. Aliás, a circuncisão é o procedimento cirúrgico documentado mais antigo (!). Praticada para rituais religiosos e provavelmente para propósitos médicos, a circuncisão parece ter emergido no Egito - talvez inspirada pela mitologia de Osíris - e adotada pelas tribos Semíticas do Ocidente. No período bíblico, o procedimento se tornou uma doutrina religiosa descrita no Contrato entre Deus e Abraão no livro do Gênesis, passando a fazer parte da cultura religiosa Judia e Muçulmana.


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(!) É o mais antigo procedimento cirúrgico documentado (ex.: registro em arte e escrita). Mas existem evidências arqueológicas de outros procedimentos cirúrgicos muito mais antigos. Exemplo notável: Revelada a mais antiga cirurgia de amputação conhecida: Há 31 mil anos uma criança teve parte da sua perna esquerda deliberadamente amputada
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        Muito provavelmente, a prática da circuncisão se consolidou como parte de uma rotina normal no Egito a partir de uma modificação da amputação peniana. O pênis, considerado um símbolo de poder dos homens, era muitas vezes amputado dos inimigos para tirar-lhes a masculinidade e impedi-los de engravidar as mulheres dos conquistadores (ou que simplesmente se reproduzissem). De acordo com inscrições no templo Karnak, estima-se que o Faraó Merneptá (1212 a.C.) coletou mais de 13240 pênis como troféus de guerra. Faraós e sultões, então, ficavam assegurados que suas esposas e amantes estivessem 'prevenidas' de se envolverem sexualmente com soldados derrotados trabalhando como escravos nos haréns reais.

        Como essas mutilações extremas certamente provocavam graves complicações e mortes entre os inimigos capturados, é inferido que os governantes do Egito passaram a adotar a circuncisão como uma forma menos invasiva de "amputação" peniana. Ou seja, o procedimento começou como uma punição simbólica e descriminatória. Em algum ponto da história Egípcia, os sacerdotes começaram a adotar o procedimento como um rito religioso. Na história mitológica do Egito, Seth, seu irmão e inimigo, cortou o Deus em 14 partes e as jogou no rio Nilo. A esposa de Osíris, Ísis, então, coletou as partes, costurou-as juntas, e embalsamou o corpo reconstruído para um enterro apropriado. No entanto, Ísis não conseguiu encontrar uma parte: justamente o pênis, o qual teria sido comido por um peixe mítico do Nilo, Medjed. Ela, então, ordenou que uma réplica de ouro fosse feita para completar o marido.



        Nesse sentido, os sacerdotes, aproveitando o procedimento de amputação simbólica praticada nos inimigos, resolveram praticar em si mesmos a circuncisão e a promovê-la como uma forma de adoração e demonstração de fidelidade ao Deus Osíris. Além disso, em outro mito Egípcio, dois Deuses de menor importância, Shu e Tefnut, teriam emergido das gotas de sangue derramadas quando Rá, o Deus Sol, circuncidou a si mesmo. Assim, não demorou muito para a circuncisão ser altamente valorizado pela aristocracia, e pelo ano de 450 a.C. já era uma prática muito popular na cultura do Egito. Aliás, Pitágoras (571-490 a.C.), o famoso filósofo e matemático Grego, teve que se submeter a uma circuncisão antes de poder entrar na grande Biblioteca de Alexandria.




         Nessa época, os sacerdotes Egípcios começaram a impor que a circuncisão era obrigatória de ser realizada antes que um faraó pudesse ascender ao trono. No entanto, ao desafiar a autoridade e a supremacia das autoridades religiosas, Amenhotep IV se opôs a todos os rituais celebrados pelos sacerdotes, incluindo a circuncisão. O ato foi parte de uma revolução religiosa durante o reinado de Amenhotep IV, a qual provavelmente iniciou uma nova reversão no status social da circuncisão. Já pela época do Êxodos Bíblico, eram os escravos com exclusividade que estavam, novamente, sendo circuncidados no Egito.

         Finalmente, os Judeus adotaram a circuncisão dos Egípcios através, alegadamente, do Profeta Moisés, o qual deixou o Egito com os escravos Hebreus. Moisés, o qual pode ser considerado o 'pai' da tradição, lei, rituais e autoridade administrativa Judias, não era circuncidado, mas exigia que todos os seus seguidores o fossem. A prática acabou se tornando algo crucial nos ritos religiosos Judeus. A tradição da circuncisão entre os Judeus foi desafiada quando Alexandre o Grande conquistou as terras desse povo entre 334 a.C. e 331 a.C., e, como resultado, a cultura Grega acabou se proliferando pelas comunidades Judias. Como para os Gregos o corpo humano em sua natural forma não deveria ser violado - de fato, como já mencionado, eles repudiavam a circuncisão -, muitos jovens Judeus passaram a oferecer resistência à prática para não serem vistos com maus olhos pelos estrangeiros. Isso enfureceu bastante os rabinos Judeus, os quais passaram, então, a argumentar veemente que o prepúcio era uma imperfeição que precisava ser cortada em ordem de revelar a correta forma do homem. Nos séculos seguintes, passando pela Idade Média, os oficiais Judeus continuaram a ser frequentemente pressionados a justificar a tradição da circuncisão em diferentes contextos.


          De acordo com a Bíblia, Abraão, além de circuncidar a si mesmo em uma idade avançada de 99 anos, também circuncidou seus filhos e seus escravos, obedecendo ao comando de Deus. Jesus, sendo um Judeu, também foi circuncidado no 8° dia da sua vida. Aliás, o 1° dia de Janeiro (8° dia após o Natal) era celebrado como a Festa da Circuncisão até o segundo conselho do Vaticano o redefinir como a Solenidade de Maria, a Mãe de Deus. Porém, apesar da sua própria circuncisão, Jesus não insistia nesse procedimento: "Para Jesus Cristo, nem a circuncisão nem a não-circuncisão contam para nada (Gálatas 5:6)." Nesse sentido, no Cristianismo, o ritual da circuncisão foi substituído pelo batismo, e, enquanto a Igreja Católica é neutra quanto à questão, setores como a Igreja Ortodoxa Oriental fortemente condenam a prática.

           No Islã, a circuncisão foi adotada como um ritual religioso sob o Profeta Maomé (Mohammad, 570-632 d.C.), mas, diferente do que muitos pensam, ela não é uma prática obrigatória para todos os Muçulmanos. Entre as 6 principais escolas das leis Islâmicas (Sharia), apenas a Shafi‘i torna a circuncisão mandatória, enquanto as outras 5 apenas a recomendam. E apesar da sua universalidade entre os Muçulmanos, a circuncisão (Khitan) não é mencionada no Alcorão (Quran). As escolas Islâmicas defendem esse aparente paradoxo dizendo que a prática é tão comum que não precisa ser descrita, assim como beber água. Nesse sentido, a circuncisão é encarada pleos Muçulmanos como uma tradição profética (sunnah) sancionada no Hádice (registro de palavras, ações e aprovações silenciosas de Maomé).



         No século XVIII, a circuncisão se tornou amplamente praticada independentemente do fator religioso. Médicos da Era Vitoriana usavam o procedimento para o tratamento de doenças diversas como tuberculose, masturbação excessiva, dor na bacia, paralisias e neurastenia. A lista era grande de doenças que supostamente poderiam ser tratadas com a retirada do prepúcio. Após a derrubada desses mitos, a circuncisão passou a ser comumente indicada para casos de fimose, onde existe uma inabilidade de retração do prepúcio. Assim, um alto número de circuncisões começaram a ser realizadas ano após ano, até que, em 1949, o médico Douglas Gairdner encontrou que a não-retratibilidade do prepúcio é fisiológica no nascimento, sendo poucos os casos onde ela persiste em idades mais avançadas (adolescência e fase adulta). A partir desse momento, muitos na comunidade médica passaram a ver o procedimento como desnecessário nos recém-nascidos, e isso até mesmo fomentou movimentos "anticircuncisão", os quais caracterizam a prática como uma 'mutilação genital'.

        Nas últimas décadas, porém, investigações científicas revelaram que a circuncisão - além dos casos de necessidade médica (ex.: fimose) - trazia certos benefícios de longo prazo em termos de saúde pública, especialmente em relação à transmissão do vírus HIV. Isso levou a uma ampla campanha de circuncisão pelas agências de saúde internacionais na África Subsaariana, região no mundo mais afetada, de longe, pela Aids. 

          Porém, o debate ainda continua caloroso sobre a real necessidade da circuncisão (balanço de riscos e benefícios) em outras partes do mundo, principalmente nas nações desenvolvidas, apesar de muitas importantes agências de saúde serem relativamente favoráveis à circuncisão como um procedimento de rotina.

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   BENEFÍCIOS E RISCOS

         Estima-se que 37-39% dos homens no mundo são, atualmente, circuncidados, taxa a qual varia significativamente entre diferentes regiões devido, obviamente, ao aspecto religioso (aproximadamente 2/3 dos circundados são Muçulmanos). O procedimento é bem simples e geralmente realizado sob anestesia local (!). Quanto mais cedo feita a circuncisão, menores são os riscos de complicação. Nos recém-nascidos, taxas de complicação são bem baixas, entre 0,2% e 0,5%, e a maioria das complicações são de baixa gravidade e facilmente tratadas. Entre as complicações mais comuns podemos citar hemorragia (35%), infecções de ferida (10%), meatite (8-20%) e infecções do trato urinário (2%). Abertura da ferida, insuficiente remoção do prepúcio, sepse, amputação da glande, entre outras complicações mais graves são muito raramente vistas. Claro, se o procedimento não fosse muito seguro, não teria milhares de anos de história e vasta aceitabilidade entre diferentes povos e culturas.

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(!) Existem outras técnicas de circuncisão além do método cirúrgico tradicional, como a técnica PCT (plastic clamp technique) que utiliza um aparato consistindo de anéis e tubos de plástico ajustáveis à glande peniana que facilita o corte do prepúcio. Ref.56
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        Existem várias alegações infundadas de que a circuncisão gera prejuízos para as funções sexuais e de sensibilidade do pênis e para satisfação sexual de indivíduos do sexo masculino. Não existe evidência suportando uma associação direta entre circuncisão masculina e disfunção sexual (Ref.51). No geral, um pênis circuncidado mostra ter o mesmo potencial sexual e funcional daquele não-circuncidado. Aliás, homens com fimose que se submetem à cirurgia de circuncisão reportam melhorar substancialmente a vida sexual (Ref.38).

        São consideradas indicações absolutas para a circuncisão a balanite xerótica e as balanopostites recorrentes, que afetam aproximadamente 2% das crianças.

         Existe baixo risco de efeitos deletérios associados ao procedimento - risco de complicação por qualquer causa e em qualquer grau de gravidade inferior a 4% (Ref.40) -, especialmente entre os recém-nascidos, e nenhum prejuízo futuro cientificamente comprovado para a funcionalidade do pênis. Mas será que existem benefícios médicos que podem suportar a circuncisão como um procedimento universalmente recomendável do ponto de vista da saúde pública, excluindo-se as situações médicas obrigatórias? A resposta é sim, mas existem controvérsias. Segundo conclusão da Academia Americana de Pediatria (AAP), em agosto de 2012 (Ref.26):

- Os benefícios de uma circuncisão em bebês recém-nascidos do sexo masculino excedem os riscos, mas tais benefícios não são grandes o suficiente para suportar uma recomendação universal do procedimento.

- Pais deveriam receber informações corretas e não tendenciosas sobre a circuncisão antes da concepção ou no início da gravidez.

- Acesso à circuncisão deveria ser fornecido de forma rotineira para aquelas famílias que escolhem o procedimento.

- Treino e educação deveriam ser fornecidos para os médicos para otimizar suas competências no procedimento.

- A circuncisão deveria ser realizada por profissionais treinados e competentes, usando técnicas estéreis e de efetivo controle de dor.

- Os benefícios preventivos e para a saúde pública justificam o reembolso de terceira parte (financiamento público).

- A decisão final de circuncisão deve ainda ser deixada para os pais fazerem em um contexto das suas crenças religiosas, éticas e culturais.

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IMPORTANTE: Fora de um ambiente hospitalar adequado para a cirurgia, e na ausência de profissionais médicos qualificados, o risco de sérias complicações aumenta substancialmente. Por exemplo, circuncisão ritualística complicada por gangrena é uma das principais causas de perda peniana em homens jovens na África do Sul (Ref.45). Existe também a mais do que irresponsável e perigosa prática de auto-circuncisão, onde indivíduos compram produtos vendidos na internet - e não aprovados por agências médicas e regulatórias - com o propósito de removerem por conta própria a pele do prepúcio (Ref.46).
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         Segundo diversos estudos epidemiológicos, randomized clinical trials, e revisões sistemáticas e meta-análises da literatura acadêmica, podemos citar os seguintes benefícios oriundos da circuncisão do pênis:

1. Infecções do Trato Urinário (ITUs): Entre bebês do sexo masculino com menos de 1 ano de idade, as ITUs afetam 1-2% daqueles não-circuncidados comparado com 0,1-0,2% entre os circuncidados. Após essa idade, a proteção diminui, mas continua considerável, onde estudos recentes sugerem que 1 em cada 12 homens circuncidados experienciam uma ITU ao longo da vida, em comparação com 1 em cada 3 entre os não-circuncidados. Apesar dessas infecções não serem comuns nos homens (~1%) e serem tratáveis com antibióticos, a atual e crescente crise de resistência bacteriana que temos enfrentado torna as ITU potencialmente perigosas, além do uso excessivo de antibióticos ser o principal fator para o surgimento de superbactérias (1).


2. Fimose:
A fimose é uma condição onde o prepúcio não pode ser retraído parcialmente ou completamente, e pode ser dividida em dois tipos: fisiológica ('natural') ou patológica. No caso da fisiológica, a adesão do prepúcio à glande é normal, como já mencionado, sendo resolvida naturalmente ao longo da vida da criança. No caso patológico, a fimose é adquirida através de tecido cicatrizado oriundo de diversas fontes, como infecções por vírus e bactérias, problemas cutâneos ou mesmo acidentes mecânicos. Na pequena porcentagem de adolescentes e adultos (1-3%) que possuem uma fimose persistente, a circuncisão pode ser uma opção definitiva para se resolver o problema - e considerada o mais efetivo tratamento para a fimose -, apesar de existirem outros tratamentos também efetivos e talvez melhor indicados dependendo da causa e situação da fimose, como a utilização de cremes tópicos esteroides. 


          Sem tratamento, a fimose persistente na fase adulta pode, em alguns casos, gerar dor durante a ereção ou durante a relação sexual, além de dificultar a limpeza da cabeça do pênis (facilitando a infecção por bactérias ou fungos na região). Os pais nunca devem forçar o prepúcio a sair durante infância ou adolescência, porque isso pode levar a danos no pênis ou mesmo uma rara e perigosa condição onde o prepúcio retrai mas não volta mais à sua posição original (parafimose), o que pode levar à morte do tecido da glande.

3. Inflamação: Inflamação da glande (balanite) ou do prepúcio é também comum em homens não-circuncidados e pode contribuir para uma fimose secundária. A circuncisão parece diminuir drasticamente esse tipo de inflamação (obviamente, de forma definitiva nos casos onde o prepúcio é acometido).

4. Higiene: Em um pênis circuncidado, a limpeza da cabeça (glande) do pênis é facilitada, tanto ativamente na hora do banho quanto ao dificultar o acúmulo de sujeira, o que pode diminuir os casos de irritação e inflamação cutâneas, e de infecções diversas.

5. Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs): Diversos estudos clínicos e de revisão têm mostrado que certas DSTs são mais prevalentes em homens heterossexuais não-circuncidados, principalmente as infecções pelo papilomavírus humano (HPV) e pela Aids (ambos apenas no caso de infecção mulher-para-homem durante o sexo vaginal). Isso é corroborado pelo CDC (Centro de Controle e Doenças dos EUA) (Ref.13, 35). Outras DSTs também parecem ganhar uma inconclusiva proteção com a circuncisão, como a sífilis, cancroide, doença genital ulcerosa, e infecções causadas pelos Trichomonas vaginalis e Mycoplasma genitalium. Evidências clínicas mais recentes também sugerem que a circuncisão também protege homens homossexuais da infecção pelo HIV (23% menor risco) e possivelmente do HPV e do vírus da herpes (Ref.36, 57). Mulheres com parceiros circuncidados também parecem ganhar proteção contra infecção pelo HPV, e, no pênis circuncidado, a glande peniana parece ganhar a maior proteção contra esse vírus (Ref.50). Porém, é preciso lembrar sempre que a melhor forma de prevenção contra as DSTs, de longe, é o uso de camisinhas.



          Até o final de 2018, é estimado um total de 23 milhões de homens foram circuncidados na África como parte de programas (Circuncisão Médica Voluntária nos Homens) implementados em 15 países prioritários a partir de 2008. Durante esse período, é reportado um declínio de 36% nos casos de infecção por HIV no sul e no leste do continente (Ref.37). Estudos mais recentes apontam que a circuncisão médica voluntária masculina ainda será uma intervenção preventiva custo-efetiva na África Subsaariana até próximo de 2030 (Ref.49). A causa biológica para a circuncisão proteger contra a infecção por certos vírus é baseada em estudos imunohistológicos e histopatológicos que têm encontrado uma maior densidade de células suscetíveis ao ataque viral na mucosa interna da pele do prepúcio.         

6. Câncer de pênis: Os mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de um câncer no pênis é a presença do prepúcio (geralmente o tumor se desenvolve sobre essa pele ou na cabeça do pênis), de fimose (cerca de 90% dos pacientes com esse câncer possui um histórico de fimose), baixa higiene no pênis, e a infecção pelo HPV (30-80% dos casos possuem uma associação) (2), o que explica o porquê da circuncisão ser um fator de proteção contra essa doença junto com a vacina contra o HPV, especialmente se realizada em recém-nascidos. De fato, Israel é o país com a menor taxa de câncer de pênis no mundo (0,1 para cada 100 mil homens). Outros fatores de risco incluem estar com mais de 50 anos de idade e ser fumante e piores condições socioeconômicas. Esse último fator de risco provavelmente se relaciona a alguns fatores, como a demora em buscar atendimento médico, o estigma da doença, o medo do tratamento e a falta de conhecimento sobre o diagnóstico. Evidências acumuladas também apontam infecção com o HIV como um relevante fator de risco (Ref.48), também ajudando a explicar a circuncisão como fator de proteção contra esse tipo de câncer. 

Leitura recomendada:

           Em geral, o CP apresenta-se como uma lesão palpável, visível e indolor no pênis. Não obstante, os pacientes podem se queixar de dor, corrimento, sangramento ou mal odor, especialmente se houver demora em procurar tratamento médico. Aproximadamente 95% dos casos originam nas células epiteliais escamosas e podem ser classificados como carcinoma de células escamosas ou neoplasia intraepitelial peniana.          

          Um recente estudo clínico randomizado englobando quase 2,2 mil homens sexualmente ativos com idades de 18 a 24 anos na região de Kisumu, no Quênia, encontrou que o procedimento de circuncisão diminuiu significativamente o risco de infecção pelo HPV, de reinfecção e o tempo para eliminação de uma infecção ativa nas glandes (Ref.41). Enquanto que a prevalência de HPV era de 50% para ambos os grupos no início (circuncidados e não-circuncidados), após 24 meses de acompanhamento a prevalência diminuiu para 23,7% no grupo circuncidado e para 41% no grupo não circuncidado. 

        É importante realçar que o câncer de pênis é raro, afetando, por exemplo, menos de 620 homens no Reino Unido e 0,9-1 em cada 100 mil homens nos EUA, anualmente. Aqui no Brasil, afeta cerca de 2% dos pacientes com câncer, principalmente na região Norte e Nordeste, com 402 mortes em 2015 de acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer); a taxa de ~400 mortes/ano tem se mantido estável nos últimos anos. A taxa alcança 6,1/100 mil casos entre os habitantes do sexo masculino do estado do Maranhão, sugerindo que esse estado da Região Nordeste pode ter a mais elevada taxa de incidência de câncer de pênis no mundo (Ref.47).

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> Um estudo de revisão publicado recentemente no periódico Cureus (Ref.58) apontou que se ocorresse uma redução de 80% para 10% na circuncisão masculina neonatal nos EUA, isso iria aumentar substancialmente os casos de condições médicas adversas no país. Os autores da revisão concluíram que a circuncisão masculina neonatal é uma intervenção de saúde pública benéfica e ética no início da infância porque reduz sofrimento, mortes, casos e custos de tratamento para condições médicas adversas ao longo da vida dos indivíduos circuncidados.
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   OPOSITORES

        Apesar dos comprovados benefícios, o debate no meio médico sobre a necessidade da circuncisão, especialmente como procedimento de rotina, é ainda bastante controverso. Muitos especialistas apontam que os benefícios são bastante limitados, não dando suporte para se recomendar uma cirurgia visando a total remoção do prepúcio sem uma explícita urgência e ignorar os riscos associados. É apontado também que boa parte dos procedimentos ainda são realizados sob a justificativa da fimose, independentemente se na grande maioria dos casos a fimose naturalmente será resolvida. Sobre a questão de prevenção de cânceres de pênis e de ITU nos homens, é lembrado que essas são doenças raras.

          No caso da Aids, as críticas são voltadas para o fato de que estudos de grande porte e alta qualidade só foram conduzidos, em sua maioria, na África Subsaariana, e, nesse sentido, resultados podem não ser espelhados em países desenvolvidos, onde a incidência dessa doença é bem menor, onde a transmissão da doença possui importante contribuição da prática homossexual  e onde o investimento em campanhas de uso da camisinha e de promoção ao sexo seguro provavelmente dariam melhores resultados. 

          Existe também uma preocupação legal sobre o procedimento, onde uma parte saudável do corpo está sendo retirada sem o consentimento do indivíduo, o que pode caracterizar uma mutilação, assim como as mutilações genitais que são comumente realizadas na população feminina de vários países (!). Nesse sentido, é sugerido que a circuncisão só deveria ser feita após a idade legal de maioridade (apesar dos maiores riscos de complicações cirúrgicas nessa idade).

          Outra alegada preocupação seria a suposta "compensação do risco de HIV", onde a proteção contra a doença oferecida pela circuncisão poderia aumentar comportamentos de risco (ex.: sexo sem preservativo) entre os homens devido a uma falsa sensação de segurança, aumentando inclusive o risco para outras doenças infecciosas (Ref.43). Porém, uma robusta e recente revisão sistemática e meta-análise publicada no periódico The Lancet Global Health (Ref.44) concluiu que a promoção de circuncisão como uma medida de prevenção ao HIV não parece aumentar comportamentos sexuais de maior risco em homens heterossexuais, mas que programas de educação sexual precisam ser mantidos como componentes complementares vitais. 

          Um estudo de revisão de 2022 no periódico International Journal of Impotence Research (Ref.52) concluiu que circuncisão sem fins terapêuticos realizada em bebês ou crianças saudáveis possui pouca ou nenhuma evidência médica de alta qualidade suportando benefícios no geral. Os autores da revisão alertaram que o procedimento está associado com raros mas evitáveis danos e até mesmo ocasionais mortes. Também recomendaram que o procedimento seja feito após o indivíduo alcançar uma idade onde ele possa entender os riscos e os potenciais benefícios antes de escolher ou não realizar a circuncisão.

          Com base em dados demográficos limitados, é sugerido que, nos EUA, 10-15% dos indivíduos que foram submetidos a uma circuncisão involuntária desejariam não ter sido circuncidados (Ref.53). Existem raros casos de homens circuncidados que buscam reconstruir a pele do prepúcio via métodos diversos (científicos ou não), incluindo cirúrgicos, e por razões que vão desde incômodo estético até problemas com identidade cultural ou religiosa imposta (Ref.53-54). Alguns pesquisadores também apontam evidência, baseada em discussões em fóruns de internet, de que problemas psicológicos, físicos e sexuais de longo prazo causados pela circuncisão neonatal rotineira têm sido subestimados (Ref.55).

         Por fim, e seguindo no mesmo caminho, alguns especialistas apontam que não existem estudos suficientes sobre todo o espectro de funções do prepúcio para o pênis, sendo, portanto, imprudente sair retirando-o por causa de benefícios mínimos e/ou para satisfazer orientações culturais e religiosas.

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(!) Existem também procedimentos de 'circuncisão' feminina, mas que não possuem benefícios ou propósitos médicos, e que são considerados um crime grave em diversos países. A FGM/C (Mutilação ou Corte da Genitália Feminina, na tradução da sigla em inglês) engloba as práticas de furar, cortar, remover ou costurar junto toda ou parte da genitália externa feminina (vulva e clitóris) sem nenhuma razão médica. É estimado que, em 2022, pelo menos 200 milhões de meninas e mulheres foram submetidas a algum tipo de FGM/C, prática a qual é frequentemente parte da cultura de vários países. Organizações de saúde e de direitos humanos internacionais tentam banir de vez a prática, a qual, além de não possuir benefícios médicos, pode causar problemas de saúde e sexuais a longo prazo.
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   PREPÚCIO FEMININO

            As mulheres e outras pessoas do sexo feminino podem ter um problema similar à fimose masculina em termos de adesão do prepúcio. A glande clitoriana é coberta também por uma pele prepucial que normalmente se move sobre a superfície da glande e pode ser retraída além da corona. Adesões clitorianas, variando de leves a severas, ocorrem quando a pele do prepúcio adere ao tecido da glande. Nesse cenário de compartimento fechado, o espaço sob o prepúcio aderido e o clitóris pode se tornar irritado, eritematoso, ou infectado, devido ao acúmulo de células escamosas e esmegma, resultando em possível disfunção sexual. 

           Em um estudo de 2018, publicado no periódico Sexual Medicine (Ref.34), os pesquisadores encontraram uma prevalência de 23% de adesão prepucial entre as mulheres (grupo analisado de 1261 mulheres), com 22% desses casos classificados como severos. Portanto, o problema parece ser bem comum, colocando um grande número de mulheres sob alto risco de desenvolverem disfunções sexuais. Especialistas aconselham que mulheres apresentando sintomas de disfunção sexual (dor sexual, infecção do trato urinário, transtorno genital de excitamento, trauma genital, entre outros) se submetam a exames físicos clitorianos rotineiros para verificar o estado de adesão prepucial.
    
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   CONCLUSÃO

        A circuncisão é um dos procedimentos cirúrgicos mais relatados na história da cirurgia. Realiza-se esse procedimento entre os homens por três motivos principais: como uma prática religiosa ou cultural, como medida profilática, ou para tratar doenças (ex.: fimose). No Brasil, raramente se faz circuncisão profilática ou por motivo religioso, e nunca pelo sistema público de saúde.

         Devido à parcial e limitada proteção conferida pelo procedimento na prevenção da Aids, a OMS (Organização Mundial de Saúde) junto com a UNAIDS pesadamente vêm promovendo a circuncisão de homens na África Subsaariana, onde a prevalência da doença é muito alta. Entre 2007 e 2016, quase 15 milhões de circuncisões foram realizadas nessa região de forma voluntária, apesar de críticas (!). Fora do contexto Africano, a questão da circuncisão ainda continua muito debatida, com alguns médicos especialistas ainda vendo a prática como desnecessária na grande maioria dos casos, apesar de outros advogarem a favor.

Leitura recomendada: 

          No geral, a circuncisão é um procedimento cirúrgico bem seguro e que comprovadamente traz alguns benefícios. Por outro lado, ainda é um procedimento cirúrgico, e estará associado a riscos que não devem ser ignorados mesmo quando realizado por profissionais bem capacidades e em ambiente hospitalar. Os pais precisam conversar com o médico responsável antes de decidirem sobre a questão, e idealmente antes do parto ou da gravidez, já que o procedimento é preferencialmente realizado nos primeiros dias de vida do bebê e é mais seguro nesse período.


             


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16402509
  2. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11155508
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