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É possível menstruação durante a gravidez?

 

           NÃO. Menstruação é um sangramento resultante da descamação periódica da camada funcional superficial do endométrio na AUSÊNCIA de implantação embriônica (gravidez) (1). Em outras palavras, sangue menstrual é incompatível com gravidez. Porém, pode ocorrer sangramento vaginal durante a gravidez e, nesse cenário, a grávida precisa procurar atendimento e orientação médica - e com extrema urgência caso o sangramento seja abundante e similar a um típico fluxo menstrual.

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(1) Leitura complementar: Por que os humanos menstruam?

          Sangramento vaginal ocorre em cerca de 20-25% das gravidezes reconhecíveis antes da 20° semana de gestação, e pode ou não ser um sintoma de risco para aborto espontâneo (ameaça de abortamento). Co-ocorrência de sangramento e ausência de náusea (2) entre 6 e 8 semanas de gestação parece aumentar de forma importante o risco de aborto espontâneo (Ref.1). Evidência emergente tem sugerido que episódios de sangramento vaginal no início da gravidez estão associados com um risco aumentado para complicações adversas pré-natais, como parto prematuro, tamanho reduzido para a idade gestacional e baixa massa corporal no nascimento (Ref.2). Sangramento vaginal no início da gestação pode também ser sintoma de uma gravidez ectópica (implantação do embrião fora do local adequado no útero) (3), ocorrência de aborto espontâneo (4) e hemorragia subcoriônica (sangramento sob as membranas do cório que envolvem o embrião no útero) (Ref.3-4). 

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> Até provado o contrário em exames médicos, grávidas apresentando sangramento vaginal devem ser assumidas de ter uma gravidez ectópica (Ref.5). Gravidez ectópica é uma causa importante também para a litopedia. Entenda: Mulher de 80 anos com um Bebê de Pedra (Litopédio) - O que é Litopedia?

(2) Ausência de náuseas e enjoos durante a gravidez está ligada a um aumento no risco de efeitos adversos ao feto. Fica também a sugestão de leitura: O termo 'enjoo matinal' é correto para as náuseas e vômitos na gravidez?

(3) Relevante mencionar que interrupção natural da gestação (aborto espontâneo ou perda de gravidez) é uma ocorrência comum. Entre gravidezes hCG-detectadas, é estimado que 1/3 delas são naturalmente perdidas, incluindo 10% das gravidezes confirmadas por ultrassom (Ref.1).

> Sangramento vaginal durante a gestação pode ser a consequência de uma gravidez inviável, na qual o corpo lúteo ou placenta não mais produz progesterona de forma adequada. Sangramento comumente ocorre durante mudança na produção de testosterona do corpo lúteo para a placenta (5-8 semanas de gestação), causando uma ausência temporária de suficiente produção de progesterona para manter a quiescência uterina (Ref.1). É reportado que a maior parte dos sangramentos no 1° trimestre de gestação duram menos de 3 dias, e aqueles mais pesados - similares a uma menstruação - são raros e mais prováveis de estarem associados com sintoma de dor, múltiplos episódios e duração mais prolongada (Ref.5).

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          Em períodos mais avançados da gravidez, sangramento pode marcar o início de um parto prematuro, e pode resultar em uma hemorragia de séria ameaça à saúde da mãe e do feto (ou fetos). No segundo e no terceiro trimestres, condições severas ou de risco de morte associadas com sangramento vaginal incluem (antes do ou durante o parto) : 

- abrupção placentária (separação inopinada, intempestiva e prematura da placenta);

- placenta acreta (condição onde a placenta é embebida muito profundamente no útero); 

- vasa prévia (presença de vasos sanguíneos fetais aberrantes entrando dentro das membranas amnióticas próximo da estrutura do cérvix como resultado de uma placentação anormal);

- ruptura uterina (rasgo espontâneo abrindo o útero que pode resultar em evasão do feto para fora da cavidade uterina);

- placenta prévia (quando a placenta está implantada sobre a abertura do colo do útero, na parte inferior do útero, em vez de na parte superior).

          Em um contexto geral, é importante procurar atendimento médico imediato durante a gravidez em caso de (Ref.7): 

- qualquer sangramento saindo da vagina em significativa quantidade - como se fosse uma menstruação;

- vazamento de fluido a partir da vagina;

- liberação de secreções com cheiro ruim.

          Notar algumas poucas gotas ocasionais de sangue (ex.: na calcinha) é normal no início da gravidez. Porém, é ainda recomendado à grávida informar ao médico/a sobre a ocorrência (Ref.1).

          Importante realçar que o sangramento vaginal é um alarmante sintoma de gravidez que pode ocorrer em qualquer período da gestação, afetando cerca de 1 em cada 3 grávidas (Ref.4). Durante o 1° semestre, o sangramento vaginal é relativamente comum e nem sempre é um real problema, podendo ser causado por múltiplos fatores: relação sexual (!), processo de implantação do óvulo fertilizado no útero e mudanças hormonais (Ref.8). Embora sangramento pesado esteja significativamente associado com um aumento no risco de perda de gravidez - especialmente se acompanhado de dor -, sangramento leve não parece aumentar o risco de aborto espontâneo (Ref.9). Mesmo assim, é importante sempre procurar atendimento médico para quaisquer significativos sangramentos.

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ALERTA: Progesterona é uma molécula imunomodulatória produzida pelo corpo lúteo no início da gestação, e atua de forma importante na manutenção da gravidez ao ajudar o óvulo fertilizado a ser implantado no útero com sucesso. Nesse sentido, esse hormônio também é amplamente usada para melhorar resultados adversos na gravidez relacionados a eventos de sangramento vaginal durante o estágio inicial de gestação. Porém, um estudo prospectivo publicado em 2022 no periódico BMC Pregnancy and Childbirth (Ref.2), envolvendo mais de 6,6 mil pares de mães-bebês, não encontrou benefícios associados à terapia de progesterona na prevenção ou redução desses resultados adversos.

> Sintomas alarmantes durante a gravidez incluem sangramento vaginal, dor abdominal, inchaço, dores de cabeça, febre ou notáveis mudanças nos movimentos fetais (4). 

(4) Leitura recomendada: Por que os bebês dão 'chutes' durante a gravidez?

> Válido mencionar que mudanças diversas na pele da grávida nem sempre são patológicas. Fica a sugestão de leitura: Quais são as manifestações cutâneas mais comuns na gravidez?

(!) Citando relação sexual como potencial fator causal de sangramento vaginal na gravidez, fica também a sugestão de leitura: Toda mulher sangra quando "perde a virgindade"?  

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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. DeVilbiss et al. (2020). Vaginal bleeding and nausea in early pregnancy as predictors of clinical pregnancy loss. American Journal of Obstetrics and Gynecology, Volume 223, Issue 4, Pages 570.e1-570.e14. https://doi.org/10.1016/j.ajog.2020.04.002 
  2. Zhong et al. (2022). The association of maternal vaginal bleeding and progesterone supplementation in early pregnancy with offspring outcomes: a prospective cohort study. BMC Pregnancy Childbirth 22, 390. https://doi.org/10.1186/s12884-022-04711-1 
  3. Rzońca et al. (2022). Bleeding during pregnancy as a reason for interventions by emergency medical services teams in Poland. Annals of Agricultural and Environmental Medicine, Vol.9.  https://doi.org/10.26444/aaem/138158 
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470230/ 
  5. Hasan et al. (2010). Patterns and predictors of vaginal bleeding in the first trimester of pregnancy. Annals of Epidemiology, Volume 20, Issue 7, Pages 524-531. https://doi.org/10.1016/j.annepidem.2010.02.006 
  6. Young & White (2019). Vaginal Bleeding in Late Pregnancy. Emergency Medicine Clinics of North America, Volume 37, Issue 2, P251-264. 
  7. https://www.cdc.gov/hearher/maternal-warning-signs/index.html
  8. https://medlineplus.gov/ency/patientinstructions/000614.htm
  9. Pontius & Vieth (2019). Complications in Early Pregnancy. Emergency Medicine Clinics of North America, 37(2), 219–237. https://doi.org/10.1016/j.emc.2019.01.004