Cientistas identificam e nomeiam técnicas que aumentam o prazer da mulher durante a penetração
- Atualizado no dia 17 de julho de 2023 -
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Indiana, EUA, conduziram o primeiro estudo de grande escala e nacionalmente representativo focado em técnicas que as mulheres adotam para aumentar o próprio prazer sexual durante a penetração vaginal. Os achados foram publicados no periódico PLOS One (Ref.1), resultando na identificação e nome (em inglês) para quatro distintos métodos: Angling (angulação), Pairing (pareamento), Rocking (balanço) e Shallowing (rasinho). O estudo foi liderado pela Dra. Devon J. Hensel, Professora Associada de Pesquisa na Universidade de Indiana, e pela Dra. Christiana von Hippel, cientista responsável pelo projeto OMGYES, e mais uma vez reforça a importância do clitóris no prazer sexual da mulher (!).
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A visão do prazer sexual como um aspecto crítico do bem-estar da mulher e do homem é algo fundamental dentro dos Direitos Humanos. Várias organizações internacionais de saúde sexual e reprodutiva, incluindo a Associação Mundial para Saúde Sexual (WAS) e a Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF), explicitamente incluem "prazer" e "satisfação" associados com experiências sexuais dentro das suas declarações sobre Direitos Sexuais. No caso das mulheres, uma importante abordagem nesse sentido é a exploração do prazer sexual a nível de indivíduo, buscando entender a subjetividade de cada pessoa sobre suas experiências sexuais vividas. No entanto, apesar do crescente interesse nesse sentido, grande parte da literatura acadêmica ainda foca em partes corporais ou objetos que estimulam ou penetram a vagina (ex.: pênis, mão/dedo, brinquedo sexual, etc.), ao invés de documentar técnicas específicas de penetração e estimulação vaginal.
No novo estudo, os pesquisadores primeiro reuniram descobertas e novos conhecimentos de uma comunidade de 4270 mulheres ao redor do mundo, e analisaram os resultados para encontrar temas e padrões associados. A partir dos achados qualitativos dessa primeira parte, eles exploraram de forma quantitativa, transversal e nacionalmente representativa técnicas complementares ao ato de penetração visando aumentar o prazer sexual das mulheres nos EUA. Para isso, foram analisadas 3017 mulheres Norte-Americanas [sexo feminino], com idades de 18 a 93 anos.
Os resultados finais do estudo, descritos em maiores detalhes no paper, revelaram quatro distintos modos que as mulheres descobriram na prática para experienciar mais prazer durante a penetração vaginal:
- Angling (a): 87,5% das mulheres reportaram experienciar maior prazer durante a penetração ao mudar o 'ângulo' do objeto penetrador, envolvendo movimentos de rotação, elevação ou de descida da pélvis/quadris durante a penetração para ajustar onde dentro da vagina o brinquedo sexual ou pênis esfregam e as sensações resultantes.
- Rocking (b): 76,4% das mulheres reportaram tornar a penetração mais prazerosa ao 'balançar' a base de um pênis ou de um brinquedo sexual no sentido de esfregá-la contra o clitóris durante a penetração, ficando toda a extensão do objeto dentro da vagina ao invés do movimento de 'entrada e de saída'.
- Shallowing (c): 83,8% das mulheres reportaram que alcançam o orgasmo mais frequentemente ou aumentam o prazer sexual ao permitir um toque penetrador mais 'raso', limitado à entrada da vagina com a ponta do dedo, brinquedo sexual, ponta do pênis, língua ou lábios.
- Pairing (d): 69,7% das mulheres reportaram que a penetração é mais prazerosa quando 'pareiam' a penetração com a estimulação do clitóris com dedos ou brinquedos sexuais, seja com a ação do parceiro/a seja através de auto-estimulação. Por exemplo, enquanto o pênis está penetrando a vagina, a mulher alcança ao mesmo tempo o seu clitóris com os dedos para estimulá-lo.
"Quando algo não possui nem mesmo um nome, se torna literalmente inexprimível," disse a Dra. von Hippel em entrevista (Ref.2). "Até o momento, não haviam palavras para modos específicos que as mulheres adotam para melhorar a própria experiência de prazer sexual. Ao dar nome a essas técnicas mais prevalentes e mostrar como elas são efetivas, nós esperamos que as mulheres irão ser empoderadas para explorar o que elas gostam e advogar pelo o que elas querem, dentro e fora da cama."
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ATUALIZAÇÃO: Um estudo publicado em 2022 no periódico PLOS One (Ref.3), também conduzido pelo projeto OMGYES, investigou técnicas de prazer associadas ao sexo anal e apreciadas por mulheres. Foram incluídas 3017 Norte-Americanas (idades de 18 a 93 anos; sexo feminino). Os pesquisadores encontraram que 40% das mulheres achavam a técnica de Anal Surfacing prazerosa: toque sexual por um dedo, pênis ou brinquedo sobre e ao redor do ânus; aproximadamente 35% das mulheres experienciavam prazer usando Anal Shallowing: toque penetrante por um dedo, pênis ou brinquedo apenas um pouco dentro do ânus, não mais profundo do que uma ponta do dedo. Finalmente, 40% das mulheres reportaram outras formas de toque sexual mais prazerosas usando Anal Pairing: toque sobre ou dentro do ânus que acontece ao mesmo tempo de outros tipos de toques sexuais como penetração vaginal ou toque clitoriano.
> Sexo anal em relações heterossexuais é geralmente associado apenas ao prazer masculino e coercivo, indesejável ou não-prazeroso para mulheres cis, devido à falta de melhor conscientização e educação sexual sobre a tema. Mas pesquisas mostram que algumas mulheres cis gostam de sexo anal (prazer) ou preferem a prática ao sexo vaginal em certas situações (ex.: durante período menstrual ou para evitar gravidez). Por outro lado, existem muitos casos de coerção do parceiro masculino para a prática do sexo anal com a parceira feminina, incluindo "consentimentos" dados pela parceira em um contexto de insegurança ou pressão psicológica. Ref.4-5
> Reforçando que sexo anal pode incluir várias práticas além de penetração peniana, como envolvimento de sexo oral (ex.: uso da língua sobre o ânus) e penetração usando brinquedos sexuais e/ou dedos.
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REFERÊNCIAS
- Hensel et al. (2021) Women’s techniques for making vaginal penetration more pleasurable: Results from a nationally representative study of adult women in the United States. PLoS ONE 16(4): e0249242. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0249242
- https://www.omgyes.com/findings
- Hensel et al. (2022). Women’s techniques for pleasure from anal touch: Results from a U.S. probability sample of women ages 18–93. PLoS ONE 17(6): e0268785. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0268785
- Pickles et al. (2024). Perceptions of Young Women Who Engage in Anal Sex: A Sociological Inquiry. Journal of Positive Sexuality, Vol. 9, No. 1. https://doi.org/10.51681/1.91
- Faustino & Gavey (2024). The failed promise of consent in women’s experiences of coercive and unwanted anal sex with men. Feminism & Psychology, 0(0). https://doi.org/10.1177/09593535241234429