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O que é o Relógio do Apocalipse?


- Atualizado em 24 de janeiro de 2024 -

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          O Relógio do Apocalipse (Doomsday Clock) é uma visualização artística que mede o quão próximo a humanidade está de presenciar uma catástrofe mundial. Surgindo em 1947 e publicado desde então no jornal acadêmico ´The Bulletin of Atomic Scientists´, o relógio simbólico é expresso em minutos para a meia-noite, onde esse horário em específico (meia-noite) marca, pelo menos na época da sua criação, o holocausto nuclear (hoje serve mais como um alerta geral de conscientização para os líderes globais). Nas últimas décadas, um grupo internacional de cientistas e especialistas é o responsável por ajustar o relógio em tempos em tempos, geralmente em intervalos separados por anos. Em 2018, o relógio alcançou o horário de 1953 (2 minutos para a meia-noite), quando os EUA e a União Soviética estavam testando suas primeiras Bombas de Hidrogênio. Desde então, o ponteiro têm continuado avançando. Com a atual Guerra na Ucrânia, agravamento da Pós-Verdade e ameaça cada vez maior das mudanças climáticas, estamos hoje a 90 segundos da meia-noite.

A primeira representação do relógio foi criada pela artista Martyl Langsdorf, esposa do físico Alexander Langsdorf Jr., este o qual trabalhou no Projeto Manhattan


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   HISTÓRIA

         O The Bulletin of Atomic Scientists foi criado em 1945 pela equipe de cientistas responsável pelo desenvolvimento das primeiras armas atômicas. Na época, a concepção do Relógio do Apocalipse visava apenas alertar o mundo sobre o perigo de uma catástrofe nuclear, no contexto da Guerra Fria. A artista Martyl Langsdorf tinha sido chamada para fazer a primeira capa do periódico, e estava quase escolhendo colocar o símbolo do urânio como base da sua arte, quando mudou de ideia ao ouvir os calorosos debates dos cientistas sobre a segurança das armas que eles estavam criando. Langsdorf, então, decidiu criar um relógio para a capa, em uma tentativa de chamar a atenção do público para o fato de que tínhamos muito pouco tempo restante para lidarmos com o poderio atômico. O relógio criado então passou a marcar 7 minutos para meia-noite em seu nascimento (o horário escolhido apenas foi uma visão artística, com o intuito de demonstrar uma proximidade com o apocalipse no fim do dia - 'mundo').

           Com o passar dos anos, o relógio foi ganhando uma interpretação calamitosa mais ampla, podendo ser definida como um alerta ao público do quão próximo nós estamos de destruir o nosso mundo com perigosas tecnologias criadas pela humanidade. Nessa aproximação mais ampla, os ponteiros também reagem às consequências da tecnologia humana no meio ambiente, como o aquecimento global causado pelo aumento de gases estufas sendo lançados na atmosfera. As mudanças climáticas além de ameaçarem diretamente todo o ecossistema do planeta, ainda levam à crises de falta de recursos essenciais para a população (água e alimentos), algo que pode fomentar guerras de proporções nucleares entre as nações.

Quem primeiro decidia quando o relógio devia se mover, ou não, era o Editor do Bulletin, Eugene Rabinowitch, este o qual estava sempre em contato com cientistas e especialistas do mundo inteiro. Após mover os ponteiros, ele explicava em uma matéria do periódico o porquê da decisão. Isso continuou assim até 1973, em sua data de morte, onde um grupo passou a ficar responsável por acertar as horas.

         Ao todo, antes dessa última adiantada no relógio, foram 20 acertadas no horário desde a sua criação. Em ordem cronológica, temos:

1. 1949: Aqui é a primeira vez que o relógio é movido, sendo uma consequência do primeiro teste nuclear de sucesso feito pela União Soviética, em uma remota região da Ásia Central. Os soviéticos negaram o teste, mas os norte-americanos o confirmaram e o Presidente Harry Truman compartilhou a notícia com a população. Deu-se, assim, o início da corrida armamentista e o relógio passou a marcar 3 minutos para meia-noite.   


 2. 1953: Os EUA começaram a perseguir a construção da Bomba de Hidrogênio (1), uma arma muito mais poderosa do que qualquer bomba atômica padrão. Em outubro de 1952, os EUA testaram o primeiro dispositivo termonuclear, obliterando uma ilhota no Oceano Pacífico. 9 meses depois, a União Soviética testou sua primeira Bomba de Hidrogênio. O relógio foi adiantado para 2 minutos para a meia-noite.
    
 

3. 1960: Para evitar massivas retaliações, acordos foram feitos entre os dois lados da Guerra Fria, com o objetivo de evitar confrontos diretos entre os EUA e a União Soviética, especialmente em confrontos menores derivados do conflito ideológico ou gerados pela influência das grandes potências, como a Guerra do Vietnã e os conflitos em torno do território de Israel. Além disso, foram criados o Ano Internacional da Geofísica, onde eventos eram realizados para alertar a população mundial sobre os perigos das armas nucleares, e as Conferências de Pugwash, onde cientistas norte-americanos e soviéticos se encontravam. Consequentemente, o relógio foi atrasado para 7 minutos para a meia-noite.
 
 
4. 1963: Após o susto gerado pela Crise dos Mísseis, os EUA e a União Soviética resolveram assinar um Tratado de Banimento Parcial de Testes Nucleares, o qual proibia os testes de bombas atômicas na atmosfera terrestre. Apesar dos testes subterrâneos continuarem sendo permitidos, o acordo desacelerou significativamente a corrida armamentista e mostrava que os dois países líderes da Guerra Fria estavam mais cientes dos riscos no uso das armas nucleares em uma guerra direta. Por causa disso, o relógio foi atrasado para 12 minutos para a meia-noite.


5. 1968: Apesar da tensão entre EUA e União soviética diminuir, guerras e tensões começam a explodir com grande intensidade na Ásia. Os norte-americanos começam a se envolver ainda mais na Guerra do Vietnã, a Índia e o Paquistão começam a digladiar entre si por causa de Kashmir a partir de 1965, e Israel começa a entrar em conflito novamente com seus vizinhos árabes. Somando-se a isso, a França e a China desenvolvem também armas nucleares para fortalecer suas defesas e autoridade. Todos esses eventos levaram o relógio a ser adiantado para 7 minutos para a meia noite.


 6. 1969: Aqui, quase todas as nações do mundo resolvem se reunir e assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Nesse acordo, os países com armas nucleares ajudariam os países signatários a desenvolver seus programas nucleares com a única condição que não fossem produzidas armas com o novo conhecimento e tecnologia entregues. Todos os países também teriam que se livrar do seu arsenal nuclear quando as condições políticas ficassem favoráveis. Mesmo com Israel, Índia e Paquistão se recusando a assinar o acordo, esse foi um grande passo para diminuir os riscos de um holocausto nuclear. Com isso, o relógio foi atrasado para 10 minutos para a meia-noite.
 
 
7. 1972: Depois de mais de 2 décadas buscando o maior número possível de armas nucleares, os EUA e a União Soviética assinam dois tratados que objetivavam frear essa corrida armamentista. O primeiro ficou conhecido como SALT (Tratado Estratégico de Limitação Armamentista), este o qual limitava o número de lançadores de mísseis balísticos que cada país podia ter. O segundo era o ABM (Anti-Míssil Balístico), o qual visava parar a busca de ambos os lados por armas projetadas para derrubar o míssil nuclear disparado por um adversário. Bem, apesar do SALT ainda deixar os dois países com milhares de mísseis atômicos apontados um para o outro, e dos EUA eventualmente abandonarem o ABM, os acordos foram uma significativa tentativa de deter o descontrole nuclear e uma busca de maior diálogo entre os soviéticos e norte-americanos. Com isso, o relógio foi atrasado para 12 minutos para a meia-noite.


 8. 1974: A Índia testa sua primeira arma nuclear, e os EUA e a União Soviética não parecem estar diminuindo seus arsenais e, sim, mordenizando eles. Aqui também é desenvolvido os MIRVs (Veículos de Reentrada com Múltiplos Alvos Independentes), os quais permitem que os soviéticos e os norte-americanos carregarem seus mísseis balísticos intercontinentais com mais cabeças nucleares do que antes. Nesse novo quadro de tensão, o relógio é adiantado para 9 minutos para a meia-noite.


  9. 1981: O Presidente Jimmy Carter, antes de ter o seu mandato finalizado, em janeiro de 1981, tira os EUA dos Jogos Olímpicos de 1980 em Moscou, após a tensão gerada com a invasão soviética do Afeganistão (1979) e propõe alternativas para os EUA ganharem a Guerra Fria com a ajuda da guerra nuclear, ao invés de ficar evitando esta. O Presidente eleito para assumir em 1981, Ronald Reagan, apoia as palavras de Carter, repudia qualquer nova conversa sobre controle armamentista e afirma que a melhor forma de se acabar com a Guerra Fria é os EUA saindo vitoriosos dela. O relógio é, então, adiantado para 4 minutos para a meia-noite. 


10. 1984: A comunicação entre os soviéticos e os norte-americanos praticamente congelaram, e os EUA ameaçaram recomeçar uma nova corrida armamentista com a busca por sistemas espaciais de mísseis anti-balísticos. O inventário de cargas nucleares para mísseis no mundo estava a caminho de alcançar 60 mil unidades. O relógio é adiantado para 3 minutos para a meia-noite.


11. 1988: No final de 1987, os EUA e a União Soviética assinam o histórico Tratado de Forças Nucleares de Alcance-Intermediário, onde uma classe inteira de armas nucleares foi banida. O bom senso dos líderes Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev nessa época ajudaram a firmar o acordo. Além disso, o governo norte-americano ganhou um empurrão de incentivo a mais com a crescente onda de protestos que se instalou na parte Ocidental da Europa, onde as pessoas estavam com medo de serem atingidas por esses tipos de mísseis durante um possível fogo cruzado. O relógio é atrasado para 6 minutos para a meia-noite.  
 

12. 1990:
A queda do Muro de Berlim, no final de 1989, marcava, simbolicamente, o fim da Guerra Fria. Nessa época, diversos países sob influência da União Soviética já estavam abrigando revoluções e tendo seus governos derrubados. O Secretário Geral Soviético, Mikhail Gorbachev, que repudiava a política dos seus predecessores, não fez nada para interferir com a queda comunista nos países dominados pelo regime soviético. Tudo isso levou à destruição da Cortina de Ferro. Com a vitória ideológica de um dos lados, a tensão de uma guerra nuclear é diminuída bastante. O relógio é atrasado para 10 minutos para a meia-noite.

  
13. 1991: Com a Guerra Fria oficialmente encerrada, os EUA e a Rússia passam a acionar profundos planos de cortes em seus arsenais nucleares a partir do START ( Tratado Estratégico de Redução Armamentista), assinado por Gorbachev e pelo presidente George H.W. Bush. Iniciativas unilaterais também fazem com que a maior parte dos mísseis e bombardeiros saíam do estado de ´alerta máximo´. O relógio é atrasado para 17 minutos para a meia-noite.


14. 1995: O negócio fica feio quando as Forças Militares da Rússia confundem um foguete científico norte-americano-norueguês com um míssil nuclear, e o Presidente russo, Boris Yeltsin, precisa decidir se lança, ou não, um ataque nuclear contra os EUA. O incidente serviu para aumentar a tensão entre os russos e os norte-americanos, mostrando que o fim da Guerra Fria não necessariamente significava um fim das ameaças de ataques nucleares, principalmente quando as pessoas se dão conta que existem ainda cerca de 40 mil armas atômicas espalhadas pelo mundo. Além disso, muitos passam a ficar com medo de que grupos terroristas possam se aproveitar da baixa segurança de várias instalações militares russas para roubarem armas nucleares (2). O relógio é adiantado para 14 minutos para a meia-noite.


15. 1998: A Índia pega todos de surpresa ao realizar uma série de testes com armas nucleares. 3 semanas depois do fim dos testes, o Paquistão também realiza uma série de testes nucleares. Para piorar a situação, os EUA e a Rússia ainda continuam com mais de 7 mil armas nucleares apontadas um para o outro, e prontas para serem acionadas dentro de 15 minutos. O relógio é adiantado para 9 minutos para a meia-noite.


 16. 2002: Após os ataques terroristas em 11 de Setembro de 2001, o governo norte-americano passa a ficar preocupado com armas nucleares caindo nas mãos de países e grupos não bem intencionados (2), especialmente com a proliferação dessas armas em diversos outras nações além dos EUA e da Rússia. Os EUA, então, passam a se mostrar interessados em desenvolver novas armas nucleares, principalmente aquelas que possam destruir alvos bem protegidos no subsolo. Além disso, os norte-americanos rejeitam uma série de acordos de controle armamentista e anunciam que vão se retirar do AMB (1972). O relógio é adiantado para 7 minutos para a meia-noite.


17. 2007: A Coreia do Norte conduz um teste nuclear, e muitos passam a suspeitar que o Irã está na busca da sua primeira arma atômica. Além disso, os EUA e a Rússia continuam em posição para lançarem uma guerra nuclear dentro de minutos. O relógio é adiantado para 5 minutos para a meia-noite.

 
  18. 2010: Aqui, as mudanças climáticas ganham papel decisório no movimento dos ponteiros do relógio. Um pouco antes do começo de 2010, um grande avanço ocorre nas Nações Unidas durante a conferência de mudanças climáticas em Copenhagen. Tanto os países industrializados quanto os em desenvolvimento concordam em cortar as emissões de carbono (gás carbônico e metano, principalmente) e impõem um limite máximo de aumento de temperatura global em 2°C. Somando-se a isso, os EUA e a Rússia iniciam conversas sobre continuarem a seguir a estrada do START e planejam medidas para diminuírem seus arsenais nucleares. O relógio é atrasado para 6 minutos para a meia-noite.


19. 2012: As provocações de ataque nuclear promovidas pelo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e a tensa situação das armas nucleares no Sul da Ásia e no Oriente Médio, aumentam a insegurança mundial. E vindo para não ajudar, as soluções para o combate do aquecimento global e dos acidentes nas usinas nucleares não encontram um ponto comum ou sólidas bases de concordância (prejudicando uma fonte de energia que não contribui para o aquecimento global). O relógio é adiantado para 5 minutos para a meia-noite.


 20. 2015: Com uma visível falta de empenho na política global para deter as mudanças climáticas, o aquecimento global ainda é um problema sério. Junta-se a isso o fato das usinas nucleares, uma promissora tecnologia para entrar no lugar dos combustíveis fósseis, ainda enfrentarem diversos empecilhos de segurança, custos e tratamento do lixo atômico gerado ( sem contar as nações que buscam essas usinas como forma de fabricar urânio enriquecido em seus programas nucleares para alimentar armas atômicas) (3). Somando-se a isso, os países possuidores de armas nucleares continuam buscando aperfeiçoar seu arsenal. O Reino Unido decide continuar suportando o desenvolvimento dos seus mísseis nucleares submarinos Trident, a França está construindo sua próxima-geração de veículos de entrega, e a China está desenvolvendo uma nova classe de mísseis balísticos submarinos. Paquistão, Coreia do Norte e Índia, os quais estão foram do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, continuam buscando aumentar seus arsenais e também modernizá-los. Os EUA e a Rússia fazem pouco para diminuírem suas inúmeras armas nucleares. E, para completar, novas tecnologias biológicas de destruição em massa continuam sendo uma grande ameaça mundial, especialmente por causa da falha dos países em desenvolverem tecnologias de proteção à população contra elas. A recente explosão epidêmica do Ebola na África mostrou como o mundo está despreparado para enfrentar tais ameaças biológicas. Com isso tudo, o relógio é adiantado para 3 minutos para a meia-noite.

  

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  TRUMP E O APOCALIPSE (2017)

           Hoje, o grupo responsável por acertar o relógio é composto por diversos cientistas, que incluem especialistas do campo da física e da área ambiental. Seus representantes vêm de várias partes do mundo, e recebem apoio também do grupo Board of Sponsors, este o qual inclui 15 premiados do Nobel. E, após o relógio ter se movimentado mais uma vez para perto da temida meia-noite em 2015, o Bulletin anunciou uma nova acertada no relógio em janeiro de 2017, adiantando os ponteiros em 30 segundos (Ref.1). Com isso, é a segunda parada mais próxima do Apocalipse que os ponteiros já ficaram depois do ano de 1953.

         O motivo para a decisão de mover os ponteiros neste começo de ano recaiu, principalmente, nos comentários do presidente eleito Donald Trump e do Presidente Vladmir Putin ao se referirem à questões ligadas às mudanças climáticas, armas nucleares e noção dos fatos. Suas palavras e atitudes estão ameaçando a percepção da população para as bem estabelecidas ameaças enfrentadas pelo mundo. Promessas do Trump de tirar os EUA do acordo climático de Paris e fomentar ainda mais o uso de carvão mineral pelo país, são potenciais agentes intensificação do aquecimento global. E isso sem contar que ele ainda hoje desacredita das verdades científicas por trás das mudanças climáticas. Além disso, as tensões que surgiram após a anexação da Crimeia pela Rússia e o fim do controle da proliferação nuclear decretada pelo Putin como resposta às sanções norte-americanas ao país, aumentam os riscos de conflitos nucleares. O Trump também fez declarações durante sua campanha sobre fomentar o arsenal nuclear do país, e considerando que ele vem cumprindo diversas promessas esdrúxulas, a situação é grave.

O ponteiro agora está marcando 2 minutos e 30 segundos para a meia-noite, depois de ter sido ajustado no dia 26 de janeiro de 2017
       Segundo um dos membros do Bulletin, Lawrence Krauss, um cosmologista da Universidade do Estado do Arizona, se o Trump e o Putin escolhessem agir juntos em prol da humanidade, ao invés de agirem como "crianças petulantes", as ameaças que o mundo enfrenta poderiam ser neutralizadas. Mas ao invés disso, temos uma campanha política norte-americana recheada de falsas notícias e afirmações, ataques cibernéticos promovidos pelos russos, e um Trump desacreditando completamente, e erroneamente, o trabalho de inteligência do seu próprio país antes mesmo de analisar as evidências. E isso para não falar do desejo de Trump de destruir o acordo feito pelos EUA (sob a administração do Obama) com o Irã, este o qual buscava impedir a construção de armas nucleares pelos iranianos.  

         Saindo dos territórios norte-americano e russo, a Coreia do Norte realizou o seu quinto teste nuclear e mostrou sinais de que não vai parar sua corrida armamentista e de ameaças aos EUA, Coreia do Sul e Japão. Já o Paquistão e a Índia continuam em relações tensas e otimizando seus arsenais nucleares. O ataque de militantes paquistaneses à duas bases militares indianas por causa das disputas sobre Kashmir aumentaram ainda mais as animosidades. O perigo das novas tecnologias usadas de forma criminosa/terrorista, especialmente o CRISPR (4) - ataques com novas armas biológicas - , e aperfeiçoamento dos ataques cibernéticos, também continuam bastante preocupantes no mundo inteiro. A falta de boas soluções para aumentar a segurança  das usinas nucleares ao redor do globo também é um grande problema, já que limita o incentivo de uso desses poderosos ajudantes no combate às mudanças climáticas.

          O motivo para o relógio ter tido o seu ponteiro movimentado apenas 30 segundos, e não minutos inteiros como sempre foi feito, é porque as ameaças maiores estão ainda nas palavras, e não em reais ações. Aqui, o peso maior recai sobre o Trump, já que ele apenas entrou no comando dos EUA esta semana, e só possui promessas e assinaturas de possíveis medidas governamentais que precisam passar pelo Congresso. Por isso o relógio foi adiantado de forma mais tímida. Porém, isso já esboça um quadro bastante assustador para os próximos anos se nada for mudado.
 
Por enquanto, são perigosas promessas e ordens que podem, ou não, entrar em ação


  Artigos Complementares:
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CURIOSIDADE: Você deve estar se perguntando do porquê o relógio não ter sido movido durante a Crise dos Mísseis em Cuba, no ano de 1962. Bem, os ponteiros quase foram adiantados, mas como existia muita pouca informação científica sobre a situação e tudo foi resolvido com conversas dentro de 10 dias, o relógio continuou marcando seus 7 minutos para a meia-noite. Além disso, esse evento gerou uma linha direta de comunicação entre Washington e Moscou, ajudando a amenizar a tensão da Guerra Fria. Em outras palavras, foi um evento assustador, onde mísseis balísticos foram movidos para Cuba pela União Soviética, bem ao lado dos EUA, mas o susto passou rápido e gerou resultados positivos no final.
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ATUALIZAÇÃO (11/04/17)Segundo uma análise feita pelos especialistas Hans M. Kristensen (1), Matthew McKinzie e Theodore A. Postol e publicada no The Bulletin no começo de março (Ref.6), os EUA, quietamente, aumentaram o poder destrutivo das suas ogivas W76-1/MK4A, utilizadas nos submarinos de mísseis balísticos, e já estão em processo de estender a melhoria para outras ogivas. Essa otimização significa que os mísseis balísticos equipados com tais ogivas, chamadas de ´super-fuze (W76/MK4A)´ possuem a capacidade de destruir alvos altamente fortificados, como os silos de mísseis russos (instalações subterrânea, geralmente no formato de um cilindro na posição vertical, que serve para o armazenamento e lançamento de mísseis balísticos intercontinentais - ICBM), sendo tal feito antes alcançado apenas com o arsenal de alto poderio nuclear norte-americano.

           A probabilidade de destruição efetiva (´kill´) usando uma ogiva lançada por um submarino que possuem o super-fuze é em torno de 86%. Esse valor é muito próximo daquele que pode ser alcançado usando três ogivas com o sistema tradicional (antigo) para atacar o mesmo alvo: no caso da Tridente II de 100 quilotons, o super-fuze triplica o poder destrutivo da força nuclear sendo aplicada. A análise publicada estima que todos os W76-1/MK4A empregados em submarinos já estejam com a nova otimização.

Os primeiros novos MC4700 AF&F super-fuzes para o W76-1 tiveram seu desenvolvimento concluído na Planta da Cidade de Kansas, em 2007. A entrega dos novos W76-1/Mk4A otimizados para a Marinha foi iniciada em 2009.
            A novas ogivas otimizadas utilizam um sofisticado sistema de orientação, fazendo com que a região com máximo dano (acima do alvo) seja alcançada pelo míssil no momento da explosão nuclear com alta acuracidade. Como o número de armas nucleares da Rússia e dos EUA diminuiu devido às políticas dos últimos anos que visaram o desarmamento, isso significa que os EUA agora conseguem destruir todos os silos ICBM russos com apenas 20% do seu atual arsenal de ogivas (terrestres e marítimas). E com o uso de submarinos, a capacidade de conduzir ataques surpresas letais contra os silos aumenta muito. Basicamente, o novo sistema visa a vitória certa em eventuais guerras nucleares.

          Em outras palavras, por trás do programa de redução do arsenal nuclear dos EUA, mora uma grande modernização das armas restantes para compensar as perdas. Com a Rússia já se recusando em seguir a política de desarmamento, os novos super-fuzes podem fomentar uma drástica expansão do arsenal russo, assim como em outros países - especialmente a China. Isso, aliado com as recentes tensões no Oriente Médio e com as polêmicas cercando os ataques e defesas cibernéticos podem impor sérios riscos para a segurança internacional.

         Apesar dos oficiais do exército russo já esperarem uma completa destruição dos seus silos pelos ICBM terrestres dos EUA, em caso de um eventual conflito nuclear, a extensão de tal poder destrutivo para outros mísseis pode mandar uma mensagem de desafio e potencial agressão militar.

        Durante um encontro no Fórum de Economia Internacional em St. Petersburg, em Junho de 2016, o presidente russo Vladmir Putin, a respeito do desenvolvimento das super-fuzes e da polêmica questão Iraniana, declarou para um grupo de jornalistas:

"Não importa o que nós digamos para os nossos parceiros norte-americanos [em relação ao freio na produção e otimização de armas nucleares], eles se recusam a cooperar conosco, rejeitam nossas ofertas e continuam seguindo os seus próprios planos.

Eles rejeitam tudo o que temos a oferecer.


A ameaça Iraniana não existe, mas sistemas de mísseis de defesa continuam sendo posicionados.


Isso tudo significa que estamos certos quando afirmamos que eles estão mentindo para nós.


Seu povo [fazendo referência às populações da aliança Ocidental] não sente a sensação de perigo iminente - e isso é o que me preocupa.


Um sistema de defesa com mísseis é apenas um elemento de todo o sistema de potencial ofensiva militar, trabalhando como a parte de um todo que inclui lançadores ofensivos de mísseis.


Um complexo bloqueia, o outro lança armas de alta precisão, o terceiro bloqueia um potencial ataque nuclear, e o quarto lança suas próprias armas nucleares como resposta.


Tudo isto é construído para fazer parte de um único sistema.


Eu não sei como isso vai acabar.


Tudo o que eu sei é que nós precisamos nos defender."


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(1) Kristensen, autor principal da análise, é o diretor do Projeto de Informações Nucleares com a Federação Americana de Cientistas (FAS), em Washington, DC.
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   NOVA CORRIDA NUCLEAR (2018)

          O Relógio do Apocalipse se movimentou novamente, chegando a 2 minutos para a meia-noite (Ref.8), horário o qual só foi alcançado em 1953, quando os EUA e a União Soviética estavam testando suas primeiras Bombas de Hidrogênio (1), a mais poderosa arma já feita pelo homem. Segundo os cientistas do Bulletins Science and Security Board, o principal motivo para mais alerta, além dos bate-bocas entre Donald Trump e o ditador norte-coreano Kim Jong-un, é fato de que todos os países do mundo com poder nuclear acionaram medidas para otimizar seus arsenais, ao invés de reduzi-los, especialmente na Índia e no Paquistão. E nessa mesma linha, o programa nuclear na Coreia do Norte avançou muito, especialmente em direção à uma Bomba de Hidrogênio e mísseis balísticos de longo alcance (1).

           Somando a isso, a tensa relação entre a Rússia e os EUA - com a questão da interferência nas eleições norte-americanas -, a questão mal resolvida com a anexação ilegal da Crimeia pelos russos, a tensão crescente nas disputas territoriais no Pacífico (China X EUA/Japão/Coreia do Sul), a crise das Fake News (sendo fortemente usadas como armas de manipulação) e a problemática questão do programa nuclear do Irã sendo negativamente afetada pelo Trump também se somaram na movimentação dos ponteiros. Fora do campo nuclear, os riscos de aniquilação global aumentaram com a contínua aceleração do Aquecimento Global - sendo tratado com descaso pelo governo Trump -, e já estamos vivenciando os efeitos colaterais, como os fortes furações no Caribe, fortes ondas de calor ao redor do mundo e o declínio da cobertura de gelo no Ártico.


         Segundo o novo reporte do Bulletin, os cientistas sugerem que o Trump comece a ignorar as retóricas provocativas do Kim Jong-un, e que os líderes ao redor do mundo passem a respeitar os cientistas, se atenham aos fatos e façam escolhas racionais para o bem comum, não agindo somente na emoção e interesses próprios, como está ocorrendo comumente nesse período da Pós-Verdade.

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   NOVO ANORMAL (2019)

          O Relógio do Apocalipse continua marcando 2 minutos para a meia-noite (Ref.9). A corrida armamentista nuclear avança e a questão climática continua se agravando. Os cientistas afirmaram que estamos vivendo em um 'novo anormal', onde os fatos estão se tornando cada vez mais indistinguíveis da ficção e críticas questões continuam sendo ignoradas. A Pós-Verdade e a guerra de desinformações estão afogando a razão.




          Na área nuclear, os EUA abandonaram o tratado nuclear com o Irã e anunciaram que irão se retirar do Tratado de Forças Nucleares de alcance-Intermediário (INF), graves passos em direção a um completo colapso dos processos globais de controle nuclear. Apesar da situação tensa entre EUA e Coreia do Norte ter se resolvido - incluindo conversas de paz entre as duas Coreias - o dilema nuclear da Coreia do Norte continua sem solução, e o país continua promovendo seu programa de armas nucleares. Enquanto isso, as nações com capacidade de armamento nuclear continuam promovendo programas de modernização desse tipo de arsenal. A tensão entre Rússia-China e EUA estão fomentando essa corrida armamentista.

          No campo do Aquecimento Global e Mudanças Climáticas, as emissões de dióxido de carbono voltaram a crescer e a comunidade internacional falhou em cumprir as metas do Acordo de Paris. Os EUA, sob a liderança da administração Trump, continuam não-comprometidos e várias nações, especialmente aquelas em desenvolvimento, não deram mínima importância ao problema. Em dezembro de 2018, os EUA se juntaram à Rússia, à Arábia Saudita e ao Kuwait (todos grandes produtores de petróleo) para desacreditarem um reporte internacional realizado por especialistas alertando sobre os graves impactos das mudanças climáticas. Agora, mesmo se profundas ações contra o Aquecimento Global forem tomadas, a superfície do planeta não conseguirá frear o aquecimento para menos de 2°C nas próximas décadas (a meta inicial estabelecida em Paris era 1,5°C no máximo).

          Falando em desinformações, a crise da Pós-Verdade se aprofunda cada vez mais, e uma explosão epidêmica de mentiras sobre temas diversos vêm ferindo seriamente as redes sociais e comprometendo as decisões racionais da população. Essas mentiras e crenças pessoais infundadas estão se espalhando ferozmente e com cada vez mais facilidade, aproveitando-se das robustas novas tecnologias de informação e auxiliadas em muitos casos por programas de inteligência artificial. Seus promotores, desde pessoas comuns até políticos em cargos de alto nível, atacam os fatos científicos taxando-os de 'propagandas ideológicas' e classificam todas as notícias opostas aos seus interesses como 'Fake News'. Processos democráticos e a Ciência são os maiores prejudicados, com consequentes prejuízos para o meio ambiente, a saúde pública e para o progresso da nossa civilização.

          A manutenção do ponteiro marcando dois minutos para a meia-noite não significa estabilidade, e sim um alerta de que o grande potencial de catástrofe visto em 2017 continua prevalente e evoluindo para pior. Medidas urgentes precisam ser colocadas em prática para reverter a situação.

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   CLIMA E DESINFORMAÇÕES (2020)

          Os ponteiros mais uma vez andaram, e agora estão mais próximos do que nunca da meia-noite: 100 segundos. Segundo o novo reporte do The Bulletin (Ref.10), a humanidade continua encarando dois perigos existenciais simultâneos - guerra nuclear e mudanças climáticas - que são exacerbados por uma ameça multiplicadora - guerra cibernética de informações -, a qual limita as capacidades de resposta da sociedade. Para piorar, os líderes mundiais deixaram a infraestrutura política internacional responsável por lidar com essas ameaças erodir.




          No campo nuclear, os líderes nacionais terminaram ou enfraqueceram vários importantes tratados e negociações de controle de armas em 2019, criando um ambiente de renovada corrida armamentista, proliferação de ogivas nucleares e menores barreiras de prevenção para uma possível guerra nuclear.

          O Irã, em resposta à retirada dos EUA do acordo nuclear firmado durante o governo Obama (Joint Comprehensive Plan of Action, ou JCPOA), tinha voltado a enriquecer urânio em níveis preocupantes, algo que piorou com a morte do principal general Iraniano Qasem Soleimani por um drone Norte-Americano no início deste ano. O Oriente Médio ficou ainda mais instável e uma guerra convencional quase foi deflagrada. Além disso, a finalização do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) se tornou oficial ano passado, e, como previsto, a Rússia e os EUA voltaram a perseguir uma nova competição para o desenvolvimento e o emprego de armas antes banidas. Outros acordos limitando a proliferação de armas nucleares também estão ameaçados pela tensão entre os dois países. Pouco esforço também foi feito adereçando a problemática Coreia do Norte.

          No campo do clima, apesar da questão do aquecimento global antropogênico e das consequentes mudanças climáticas terem ficado mais expostas via campanhas massivas protagonizadas por jovens lideranças - como a ativista Sueca Greta Thunberg, de 16 anos - os governos ao redor do mundo continuam não tomando as ações necessárias para frear as emissões de gases do efeito estufa atmosférico. Os EUA continuam rejeitando o Acordo de Paris e o Brasil regrediu nesse aspecto ao adotar políticas de desmonte ambiental, resultando em grande avanço do desmatamento e de queimadas na Amazônia e de danos diversos em outros biomas. Mesmo com o consenso sobre o aquecimento global antropogênico já atingindo 100% da comunidade científica ativa (I)  e com o estabelecimento oficial de uma 'emergência climática' (II), os aumentos de temperatura média dos oceanos e da superfície terrestre, e da emissão de gases estufas, continuam batendo recordes. O derretimento massivo das camadas de gelo na Terra continuam, os níveis dos mares continuam aumentando e eventos climáticos-temporais extremos anormalmente exacerbados estão cada vez mais comuns. As previsões mais pessimistas para as próximas décadas ganham cada vez mais suporte das evidências.

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(I) Cientistas do mundo inteiro declaram estado de emergência climática

(II) Cientistas ativos alcançam 100% de consenso sobre o Aquecimento Global Antropogênico
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          No campo cibernético, o maior acesso a tecnologias de informação e à internet está testemunhando também um aumento absurdo na disseminação de desinformações, fomentadas inclusive por líderes mundiais, alguns dos quais frequentemente acusam os jornais e a mídia de serem 'Fake News' quando esses últimos emitem informações que não os agradam. Opiniões se tornam fatos através de manipulações da informação nas redes sociais, aprofundando a Pós-Verdade. Áudios e vídeos desinformativos feitos de forma bastante convincente ('deefakes') tornam o público muitas vezes incapaz de separar fato de ficção. A Ciência está sendo cada vez mais subjugada por ideologias, denegrindo o cerne da democracia.

          Novos avanços biotecnológicos, computacionais e de inteligência artificial, e a robusta maior disseminação dessas tecnologias, podem trazer tanto benefícios quanto prejuízos dependendo das mãos de uso. Diversas novas armas baseadas nesses avanços estão sendo desenvolvidas, incluindo armas hipersônicas, armas biológicas e armas espaciais, e a incorporação de IA nessas tecnologias - uma realidade já em países como os EUA e a Rússia - podem torná-las vulneráveis a hackers e a manipulações digitais. No Espaço, a corrida armamentista também progride, com vários países testando e empregando armas cinéticas, a laser e de radiofrequência visando destruir/interceptar satélites espiões ou inimigos. Os EUA inclusive lançaram oficialmente em 2019 um novo serviço militar na área espacial, chamado de Space Force. A complexa interação dessas tecnologias com as potências armamentistas pode resultar eventualmente em uma catástrofe global.

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   NOVO ANORMAL PERSISTE (2021-2022)

          O relógio continua marcando 100 segundos para a meia-noite desde o último ajuste (Ref.11).


          A mudança de liderança Norte-Americana com as eleições de 2020 - derrubando o governo Trump e trazendo razoabilidade de volta à Casa Branca - deu sinais de nova esperança para o mundo, especialmente com a questão climática (retorno dos EUA ao Acordo de Paris) e a volta de políticas baseadas em ciência (particularmente no combate à pandemia da COVID-19). Porém, essa mudança política não foi suficiente para reverter negativas tendências internacionais de segurança nos últimos 2 anos.

          As relações dos EUA com a Rússia e a China continuam tensas, com os três países engajados em um amplo espectro de modernização nuclear e expansão de esforços militares, incluindo o desenvolvimento de mísseis hipersônicos, mísseis nucleares de longo alcance silo-baseados, além de insistentes testes de armas anti-satélites (seguidos por vários outros países). De fato, a China parece estar reconsiderando sua doutrina nuclear, com a produção em larga escala de novos mísseis ICBM. Se nada for feito para controlar esses esforços, uma nova e perigosa corrida de armas nucleares pode ter início. Os impasses na Coreia do Norte e no Irã pioram a situação.

         O Irã continua enriquecendo urânio e aumentando sua reserva de urânio enriquecido (buscando o desenvolvimento de armas nucleares), com o governo Iraniano insistindo que todas as sanções econômicas devem ser removidas do país antes de qualquer negociação de paz; e a janela de oportunidade parece estar se fechando. Isso pode levar a uma corrida nuclear no Oriente Médio, envolvendo particularmente a Arábia Saudita. A Coreia do Norte continua testando suas capacidades nucleares, com mísseis de médio e de longo alcance, e existe evidência que os Norte-Coreanos reiniciaram produção de plutônio.

         Somando-se a isso, a Rússia continua forçando um conflito armado contra a Ucrânia, e já são pelo menos 100 mil soldados e vários veículos de guerra Russos nas fronteiras Ucranianas. Mais recentemente, os EUA enviaram 90 toneladas de armamento, incluindo munição, para tropas de linha de frente Ucranianas. Serviços de inteligência sugerem que uma massiva invasão Russa pode ocorrer a qualquer momento.

         Conflitos cibernéticos também continuam se escalando, com poderosos ataques hackers sendo patrocinados e promovidos por governos de vários países. Na China, o uso de tecnologias de reconhecimento facial e de inteligência artificial está cada vez mais avançado no sentido de reforçar o sistema ditatorial do país e de perseguir minorias; a potencial disseminação dessas tecnologias para outros países representa uma distinta ameaça aos direitos humanos ao redor do mundo.

         Na pandemia, esforços internacionais para garantir vacinação em países mais pobres falharam, e medidas não-farmacológicas efetivas de controle epidêmico foram amplamente ignoradas por grande parte do mundo, deixando terreno livre para novas variantes do SARS-CoV-2 (vírus causador da COVID-19) emergirem e se disseminarem a vontade, e causando vários colapsos nos sistemas de saúde. Estima-se que mortos pela COVID-19 podem já somar até 22 milhões. Esse fracasso preocupa no contexto de potenciais armas biológicas em desenvolvimento ao redor do mundo - especialmente considerando a popularização cada vez maior de poderosas ferramentas de edição genética (ex.: CRIPR-Cas9) - ou a emergência natural de agentes patogênicos muito mais perigosos do que o novo coronavírus.

          Voltando às mudanças climáticas, países continuam sem real compromisso na prática de reduzir as emissões de gases estufas, mesmo com as notáveis e cada vez mais deletérias consequências do aquecimento global antropogênico sendo testemunhadas e o alerta do novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) (!).


          Por fim, a crise de Pós-Verdade continua avançando e parece piorar: desinformações e Fake News continuam trafegando em escalas massivas pelas redes sociais e também em vários veículos de imprensa marcados por viés político. Unida com a pandemia, a Pós-Verdade inclusive reacendeu movimentos anti-vacinas, levando-o para lugares sem histórico do problema, como o Brasil. E a narrativa de "fraude nas eleições" continua firme e forte nos EUA, apoiada pela maior parte dos Republicanos e rejeitando a legítima vitória do atual presidente Democrata Joe Biden. A democracia e a autoridade científica estão por um fio a nível global.

          A decisão de manter o ponteiro em 100 segundos para a meia-noite desde 2020 não sugere que a situação da segurança internacional está estabilizada, pelo contrário: o relógio permanece o mais próximo do apocalipse do que jamais esteve.


   GUERRA NA UCRÂNIA (2023)

            O ponteiro voltou a se movimentar, dessa vez 10 segundos, e agora estamos a 90 segundos para a meia-noite (Ref.12). A Guerra na Ucrânia entrou no segundo ano, e não parece ter prazo determinado para um cessar fogo. Ameaças de uso de armas nucleares continuam sendo disparadas pelo governo Russo, e a guerra sobre o território Ucraniano têm levantado profundas questões sobre como estados interagem, erodindo normas de condutas internacionais que dificultam respostas conjuntas para uma variedade de riscos globais - incluindo em especial as mudanças climáticas. Além disso, a guerra em plena Europa torna cada vez mais claro que o desenvolvimento de armas nucleares pelas nações pode ser vantajoso em termos de garantir na força a soberania do território nacional - fortemente fomentando a corrida armamentista nuclear ao redor do mundo. Escalação do conflito entre Ucrânia e Rússia - por acidente, intencional ou erro de cálculo - é um risco extremamente perigoso a nível global.

Atualização 2023 do Relógio.

           O Secretário-Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, alertou em agosto de 2022 que o mundo entraria em "um período de perigo nuclear não visto desde o pico de tensão na Guerra Fria." Isso espelha também a crescente tensão armamentista entre EUA/OTAN e Rússia. 

           O cenário é complicado pelo crescente avanço da Pós-Verdade - potencializado em especial pelas novas tecnologias de Inteligência Artificial (IA) - e de ameaças biológicas (ex.: vírus da gripe aviária, H5N1).


   AQUECIMENTO GLOBAL AVANÇA (2024)

          Na mais recente atualização do relógio, o ponteiro foi mantido em 90 segundos para meia-noite, mas isso não significa que as coisas melhoraram. O ponteiro continua o mais próximo da meia-noite que já chegou na história.



          O ano de 2023 foi o mais quente desde o início dos registros no pré-industrial (1), além de recordes nas temperaturas superficiais dos oceanos e de emissão de gases estufas, apontando que o aquecimento global antropogênico continua avançando e que um desastroso cenário de mudanças climáticas continua nos esperado nas próximas décadas. Massivas inundações, ondas de calor, incêndios e outros desastres relacionados ao clima afetaram milhões de pessoas ao redor do mundo em 2023. E estamos muito próximos do limite de +1,5°C acima dos níveis pré-industriais (aumento da temperatura média superficial da Terra) estabelecido no Acordo de Paris. Comprometimento para essa meta a nível internacional continua baixo.

          A guerra na Ucrânia persiste, com sérias ameaças e ações sugestivas de potencial escalação com armas nucleares. Em junho, Sergei Karaganov, um conselheiro de Putin, fortemente recomendou que Moscou considerasse lançar ataques nucleares limitados em territórios no Leste Europeu como um meio para trazer um fim à guerra e de forma favorável aos Russos. O governo de Putin também está saindo de uma série de tratados nucleares internacionais. 

          China, Rússia e os EUA estão gastando enormes somas de recursos financeiros para expandir ou modernizar seus arsenais nucleares, aumentando ainda mais o perigo de uma potencial guerra nuclear. O Irã continua enriquecendo urânio com fins armamentistas, e ações internacionais estão falhando em conter esses esforços. A Coreia do Norte continua construindo armas nucleares e mísseis de longo alcance. Expansão nuclear no Paquistão e na Índia continua avançando sem pausas ou limites (2).

          A sangrenta Guerra de Gaza entre Israel e Hamas, iniciada no final de 2023, possui o potencial de escalar para um conflito mais amplo no Oriente Médio que pode impor ameaças imprevisíveis, regionalmente ou globalmente.

           E o avanço sem controle de tecnologias envolvendo inteligência artificial (IA) e engenharia genética continua representando outra séria e crescente ameaça para a humanidade. Chatbots cada vez mais sofisticados e baseados em grandes modelos linguísticos, como o ChatGPT, têm levantado discussões muito acaloradas entre especialistas sobre o real perigo imposto por essas IAs em campos diversos, desde disrupção em processos políticos até usos militares. 

Para mais informações:

                                                                            #####

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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://thebulletin.org/sites/default/files/Final%202017%20Clock%20Statement.pdf
  2. http://thebulletin.org/multimedia/timeline-conflict-culture-and-change
  3. http://thebulletin.org/three-minutes-and-counting7938
  4. http://thebulletin.org/doomsday-clockwork8052
  5. http://mag.uchicago.edu/law-policy-society/setting-doomsday-clock
  6. http://www.nature.com/news/doomsday-clock-ticks-closer-to-apocalypse-1.21375
  7. http://thebulletin.org/how-us-nuclear-force-modernization-undermining-strategic-stability-burst-height-compensating-super10578
  8. https://thebulletin.org/2018-doomsday-clock-statement
  9. https://thebulletin.org/doomsday-clock/current-time/
  10. https://thebulletin.org/wp-content/uploads/2020/01/2020-Doomsday-Clock-statement.pdf
  11. https://thebulletin.org/doomsday-clock/current-time/
  12. https://thebulletin.org/doomsday-clock/current-time/