Qual é o parasita que cresce dentro do abdômen de abelhas e de vespas?
A fascinante ordem Strepsiptera engloba quase 600 espécies de endoparasitoides modificados, mais comumente de insetos das ordens Hemiptera (ex.: cigarras e percevejos) e Hymenoptera (abelhas, vespas e formigas), e seus representantes exibem extremo dimorfismo sexual. O macho adulto parece um típico inseto alado, com uma cabeça grande e olhos salientes, com asas frontais curtas e com ausência de veias, e asas traseiras amplas e com poucas veias radiantes. Já as fêmeas adultas (reprodutivamente competentes) não atravessam uma metamorfose completa, retendo uma forma ou "cocoide" ou larval, não possuem asas e nem pernas, exibem olhos, aparelho bucal e antenas rudimentares, e tipicamente passam a vida parasitando internamente o hospedeiro (!). Os machos também se desenvolvem dentro de um hospedeiro, na sua fase larval, mas passam pelo estágio de pupa e saem do inseto parasitado quando adultos, para viver uma vida livre. Eventualmente buscam por um inseto parasitado por uma fêmea adulta para fertilizá-la ali mesmo; ovos eclodem dentro da fêmea e diminutas larvas são expulsas (passam um período de vida livre) até parasitar outros insetos-hospedeiros.
Fêmeas da ordem Strepsitera possuem 2 a 30 mm de comprimento, enquanto os machos possuem de 1 a 7 mm. Insetos infestados por esses parasitas podem ser facilmente identificados por uma estrutura similar a um saco pertencente às fêmeas ou pela cabeça das pupas, ambas protuberando do abdômen (Fig.1). Machos adultos vivem por apenas algumas poucas horas.
Os hospedeiros parasitados passam por várias mudanças, incluindo perda de fecundidade e manifestação de comportamentos anômalos. Por exemplo, a espécie Halictoxenos borealis parasita a abelha da espécie Lasioglossum apristum; enquanto as abelhas sem parasitas coletam pólen normalmente das flores, aquelas parasitadas não coletam ou comem pólen e, ao invés disso, exibem um peculiar comportamento que parece ajudar a dispersar as larvas dos parasitas nas flores (a espera de transporte): a abelha fica contorcendo seu abdômen, pressionando-o contra as flores! (Ref.3)
É interessante também observar que tais mudanças também podem trazer benefícios para o hospedeiro em alguns casos. Por exemplo, a espécie Xenos vesparum parasita a vespa da espécie Polistes dominula, e a fêmea adulta de X. vesparum aumenta a longevidade do seu hospedeiro para aumentar o potencial de dispersão das suas larvas. (Ref.4)
Fig.4. Macho adulto da espécie Xenos vesparum, com cerca de 3 mm de comprimento. Foto: Roger Maillot/França |
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(!) Em uma família dessa ordem, Mengenillidae, as fêmeas, durante o último estágio larval, deixam o hospedeiro para passar pela forma de pupa externamente.
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REFERÊNCIAS
- https://www.sciencedirect.com/topics/agricultural-and-biological-sciences/strepsiptera
- https://www.royensoc.co.uk/understanding-insects/classification-of-insects/strepsiptera/
- Nakase & Kato (2021). Bee-Parasitic Strepsipterans (Strepsiptera: Stylopidae) Induce Their Hosts’ Flower-Visiting Behavior Change. Journal of Insect Science, 21(5):2. https://doi.org/10.1093%2Fjisesa%2Fieab066
- Beani et al. (2021). A Strepsipteran parasite extends the lifespan of workers in a social wasp. Scientific Reports 11, 7235. https://doi.org/10.1038/s41598-021-86182-6