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Quais são as chances dos terrroristas usarem armas nucleares?


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           Após o massacre causado pelas bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki no final da Segunda Guerra Mundial, a humanidade passou a temer, e muito, as armas nucleares. Esse medo serviu como o grande fomentador da tensão mundial durante a Guerra Fria, onde os dois blocos de oposição ideológica, EUA e URSS, financiaram um pesado programa de desenvolvimento, aprimoramento e acúmulo de ogivas nucleares. Após esse tenso período de especulações nucleares, vários outros países no mundo correram, e ainda correm, para ter o seu próprio estoque nuclear ou alimentar um já existente. Porém, antes algo estritamente limitado aos conflitos entre nações, o mundo passou a considerar seriamente ataques nucleares acionados por terroristas, especialmente depois dos ataques do 11 de setembro, em 2001, onde foi possível constatar que esses grupos extremistas almejavam também largas escalas de morte. Fica, então, a pergunta: devemos temer seriamente um ataque nuclear vindo de terroristas nos dias de hoje?

´Warheads´ é a cabeça dos mísseis onde a carga nuclear/explosiva se encontra

         Quando vivo, o líder da rede terrorista Al-Kaeda, Bin Laden, sempre estava anunciando seu interesse na aquisição de armas nucleares e também parece já ter sondado o mercado negro a procura de urânio altamente enriquecido (um dos combustíveis dessas armas). Ele inclusive afirmava já estar em posse de uma, algo que não possui quaisquer evidências de veracidade. Porém, só isso é suficiente para deixar claro que os terroristas possuem intenção de adquirir armas nucleares, especialmente grupos de radicais religiosos que não temem as consequências dos seus atos.

Declaração do líder terrorista durante uma entrevista em 1998

           Existem três formas dos terroristas obterem uma arma nuclear, com cada uma delas impondo um leque de dificuldades. Vamos, então, analisar cada uma dessas possibilidades.

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    CONSTRUÇÃO DE UMA ARMA NUCLEAR

          Aqui, em primeiro lugar, temos que diferenciar uma ´arma nuclear´ propriamente dita de um ´dispositivo de explosão nuclear´. No caso das armas nucleares, as quais fazem parte do arsenal dos países apontados no infográfico acima, são armas que possuem um complicado design e resultam de anos da coleta de dados provindos de inúmeros testes práticos. As armas nucleares são otimizadas ao máximo para diminuir seu peso e poderem ser lançadas por meio de mísseis balísticos. Nelas, a massa nuclear é minimizada até o limite possível, a energia liberada na explosão é super controlada e vários mecanismos de segurança são garantidos para prevenir detonações antes da hora, ficando as mesmas resistentes ao calor e à radioatividade. O potencial de destruição e precisão das mesmas fica enorme.

            Já um simples dispositivo de explosão nuclear precisa apenas ser capaz de gerar uma explosão nuclear. Essas seriam como as primeiras e únicas armas nucleares usadas em guerra, ou seja, as peso pesados lançadas no Japão (Little Boy e Fatman). Esses artefatos possuem um design bem mais simples, mas requerem enormes quantidades de material radioativo e acabam tendo uma gigantesca massa. Só seriam capazes de serem transportados por navio, barco ou avião, além de terem um potencial de destruição limitado na prática. Somando-se a isso, eles seriam muito imprevisíveis quanto à efetividade e segurança.

Desfile militar, neste ano, na China (à esquerda) e na Índia (à direita) mostrando exemplares de armas nucleares do arsenal destes países

         Bem, hoje é relativamente fácil conseguir as bases teóricas por completo e até mesmo grande parte dos detalhes de engenharia para a construção de armas e dispositivos nucleares. Após alguns semestres, um estudante padrão de Física consegue obter facilmente os conhecimentos teóricos necessários para a construção de um artefato nuclear ou alguém muito esforçado pode conseguir isso através de uma minuciosa busca pelas estradas da internet. Mas, a partir desse ponto, começam os inúmeros problemas. Não basta apenas ter a teoria para uma bomba atômica sair do lugar

1. Combustível nuclear: Lidar, produzir e transportar o material radioativo necessário para a fabricação das armas é extremamente complicado, especialmente quando você está trabalhando com o urânio altamente enriquecido (HEU) - este o qual possui uma maior flexibilidade de uso. Não espanta serem poucos os países que dominem a técnica de enriquecimento de urânio, incluindo o Brasil (Qual a função das centrífugas no programas nucleares?), e produção de energia nuclear. Isso sem contar que é preciso ter acesso amplo à minas terrestres de urânio, necessário também para a produção do plutônio. Além disso, processar e lidar com urânio e plutônio metálicos é altamente perigoso, devido à natureza radioativa e altamente reativa dos mesmos, necessitando de grandes e sofisticadas instalações. Mesmo possuindo recursos particulares para tal e vontade em assumir os enormes riscos (isso eles têm), os terroristas não iriam ficar anônimos por muito tempo. Seria possível apenas se eles roubassem o material necessário ou receberem o mesmo de um país, as duas outras possibilidades que serão explorados mais adiante neste artigo.

           Para exemplificar essa questão, temos o caso do Iraque, na década de 1980, o qual teve que empregar milhares de pessoas capacitadas para conseguir processar uma pequena quantidade de HEU, mesmo sob a tutela e financiamento amplo do governo. E, mesmo assim, acabaram sendo descobertos pela IAEA após a Guerra do Golfo. Com os recursos tecnológicos de hoje, esse rastreio para quaisquer esforços de processamento de urânio e de plutônio fica muito fácil, especialmente devido à natureza radioativa dos mesmos e dimensão do empreendimento associado.

2. Dificuldades na engenharia: Existe mais de uma forma de se realizar uma grande explosão nuclear, sendo que cada um deles exige um domínio extremamente alto da área pelos envolvidos no projeto. Resumidamente, podemos usar dois métodos: implosão ou gun-type. Na implosão, uma esfera de plutônio ou HEU implode para criar algo chamado de ´massa supercrítica´. Para o uso prático de tal método, seria necessário vários anos de testes e um extremo domínio da engenharia envolvida, tanto prática quanto teórica, e isso não é algo que depende apenas de uma pesquisa na internet e algumas aulas na Universidade, especialmente porque vários detalhes são ainda secretos e possíveis informações vazadas podem facilmente estar incompletas, serem corrompidas ou interpretadas de maneira errônea. E ainda temos o fato de que os trabalhos e testes necessários para o empreendimento chamariam a atenção de todos. Já no método gun-type, apenas o HEU poderia ser usado, onde duas massas não-críticas desse material seriam atiradas uma contra a outra para criar uma massa supercrítica. Além de ser necessário um grande conhecimento técnico e acesso a dados experimentais, apesar de menos complicado do que no método de implosão, é preciso uma grande massa de HEU, em valores de dezenas de quilos. Mais uma vez, fica difícil passar despercebido.

           E isso porque nos dois métodos acima não estamos fazendo distinção entre um dispositivo de explosão nuclear e uma arma nuclear. Para todas as dificuldades mostradas acima, multiplique-as inúmeras vezes caso os terroristas queiram algo otimizado como uma arma nuclear, não um trambolho pesando várias toneladas. Fica claro porque nem todos os países conseguem ter um arsenal nuclear e a Coreia do Norte pena há décadas querendo uma arma nuclear que funcione em um míssil balístico minimamente competente, mesmo o governo focando todos os seus esforços na construção de um.

          No fim, é necessário que os terroristas consigam uma arma nuclear para criarem sua explosão nuclear com um mínimo de acuracidade e segurança, para que um ataque tenha alguma chance de ser efetivo e cause uma grande destruição em massa. Mas por conta própria é quase impossível eles serem bem sucedidos em obtê-la. Refinar ou produzir o combustível nuclear, então, é virtualmente impossível.

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   TRANSFERÊNCIA DE ARMAS NUCLEARES POR UM GOVERNO

          Aqui entramos em uma das possibilidades mais temidas globalmente, tanto na concepção popular quanto por várias autoridades governamentais. Para terem sucesso em obter uma arma nuclear, um país que patrocine grupos terroristas pode acobertar a produção de uma ou fornecê-la para o grupo. Na primeira situação, não é algo inteligente, já que isso consumiria anos e mais anos de empreendimento e, por melhor que fosse a cobertura, uma hora alguém ia notar o que está acontecendo, mesmo o grupo terrorista também recebendo transferência de conhecimento tecnológico do Estado. Já a segunda situação seria a mais provável, mas enfrenta um grande obstáculo: nenhuma nação é suicida ou estúpida, pelo menos em tese.

Isso é verdade, mas quais são as chances disso acontecer hoje?

          Para começar, são poucos os países que patrocinam o terrorismo. Entre eles podemos citar o Irã (HAMAS, Hizballah, Palestinian Islamic Jihad,the al-Aqsa Martyrs Brigades,  Popular Front for the Liberation of Palestine-General Command, etc.) e o Paquistão (Al-Qaeda, Lashkar-e-Omar, Lashkar-e-Taiba (LeT), Jaish-e-Mohammed (JeM), Sipah-e-Sahaba e possivelmente o Taliban). Só o Irã, por ano, entrega mais de 100 milhões de dólares para o  Hizballah, segundo estimativas de especialistas. Porém, os governo iraniano, no final do ano passado, já fez um acordo com os EUA de não usar suas instalações de enriquecimento de urânio para a construção de armas nucleares, deixando que os agentes de fiscalização internacional tenham acesso ao seu programa nuclear caso as sanções impostas à economia iraniana continuem suspensas. Ou seja, eles podem estar até carregando um programa secreto de produção de armas nucleares, mas agora estão sob forte vigia. Caso entregassem uma dessas armas à terroristas, seriam prontamente identificados mesmo antes do ataque. Já em relação aos governos que possuem um programa nuclear, têm o mesmo completamente fechado para os olhos internacionais e suportam o terrorismo, o risco aumenta bastante e nesse caso temos o Paquistão como grande representante, este o qual possui um arsenal nuclear significativo e produz grandes quantidades de HEU. Só que a pergunta volta: o Paquistão é suicida?


           A única justificativa para o Paquistão entregar armas nucleares à terroristas é se o seu governo não quiser levar a culpa pelo ataque. Caso contrário, o próprio Paquistão carregaria o ataque. Mas, caso eles fizessem isso e um ofensiva nuclear de grandes proporções ocorresse, todos os culpados, direta e indiretamente, seriam encontrados, ainda mais na fúria investigativa internacional que seria acionada em torno da tragédia. Para se ter uma ideia, 73% dos ataques terroristas no mundo foram traçados, com sucesso, na direção dos responsáveis pelos mesmos. Nos EUA e nos seus grandes aliados, 97% dos ataques terroristas de porte médio a elevado tiveram seus responsáveis descobertos. Agora imagine um ataque nuclear onde existem apenas alguns suspeitos, envolvendo de dezenas a centenas de milhares de vidas e com alta radioatividade sendo gerada como produto final. Demoraria um piscar de olhos para os culpados serem identificados. E a resposta militar das grandes potências mundiais seria devastadora.
  
Desfile militar no Paquistão, onde podemos ver uma arma nuclear em exibição pelas ruas do país

           Por causa do preconceito, muitos costumam achar que todo muçulmano é um radical religioso e que todo país baseado nas leis islâmicas também é radical. O Islã é uma religião como qualquer outra, e apenas uma parcela ínfima são compostas por radicais prontos para abraçar ideais terroristas. Os governos do Paquistão ou do Irã podem até ser islâmicos, mas não são radicais extremistas. Eles não são cegos pela religião como alguns grupos terroristas (apesar destes usarem a religião muitas vezes mais como pano de fundo para a expansão de poder do que um ideal, este último o qual é mais seguido pelos soldados ´peões´). Eles querem que o seu país prospere e no máximo usam esses terroristas para alcançar essa meta, independente se estão errados quanto ao meio.

            Nesse cenário, fica mais do que óbvio ressaltar a importância em se derrotar e impedir o domínio do grupo terrorista ISIS na Síria e no Iraque. Se esse grupo conseguisse obter o controle governamental desses dois países, seria bem mais fácil deles carregarem programas de desenvolvimento de armas no país, ainda mais considerando que o Iraque já possui uma razoável experiência na produção de HEU. Ou talvez não, onde se esses grupos chegassem ao poder estatal ficariam com medo de perdê-lo em meio às retaliações pesadas consequentes de um ataque nuclear. Como eu acabei de dizer, grande parte dos grupos terroristas usam a religião apenas como fachada para adquirirem poder e território, especialmente seus líderes.


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ROUBO DE ARMAMENTO OU COMBUSTÍVEL NUCLEAR

          Por décadas, diversos reportes de tráfico de material nuclear e roubo de armas nucleares inteiras vieram à tona na mídia. Nenhuma delas provou-se verdade, mas não é nada inteligente subestimar tais ameaças. Aqui, o medo reside na possibilidade de que terroristas consigam quebrar as brechas de segurança de um país e roubar amostras do arsenal nuclear do mesmo ou material radioativo para a construção de uma bomba atômica.

           Países como Rússia, Coreia do Norte e Paquistão não possuem fiscalização internacional sobre seus programas e instalações nucleares ou, no máximo, essas fiscalizações são insuficientes. Enquanto todos os países que seguram armamento e instalações nucleares são super cuidadosos com os mesmos, para evitar incidentes do tipo e ameaçar a segurança do Estado, podem existir falhas perigosas nessa segurança por motivos diversos, e os riscos só aumentam com a falta de uma cooperação internacional. A Rússia, por exemplo, possui um imenso arsenal nuclear e, neste ano, declarou que não mais irá seguir os acordos de desarmamento por causa da pressão que vem sofrendo dos líderes internacionais consequente dos conflitos com a Ucrânia ano passado, especialmente no que se refere à região de Aleppo (1), e da problemática Guerra na Síria. Voltando às armas nucleares, muitos acusam a Rússia de deixar várias das suas instalações em situação de descaso, algo que facilita possíveis roubos. Mesmo isso não podendo ser comprovado e sofrer negação dos russos, é evidente que a grande quantidade de armas nucleares no país faz com que o controle sobre as mesmas fique comprometido em alguma escala. O mesmo é válido para os EUA, apesar deste último possuir uma ramificação e efetividade de segurança muito maiores do que as dos russos.

           A verdade é que material nuclear ou material radioativo para a construção de ogivas pode já estar na mão de terroristas há anos, sem as agências internacionais desconfiarem. Várias tentativas de roubo já foram documentadas na história e apesar de todas elas terem sido barradas, fica a possibilidade de algum roubo ter sido bem sucedido e não ter sido reportado pelas autoridades do país roubado por "vergonha" ou medo de sanções internacionais. Em 1998, por exemplo, os russos admitiram que houve um plano para o roubo de 18,5 Kg de urânio metálico altamente enriquecido de uma das suas maiores plantas de armamento nuclear. A operação foi barrada antes que o material radioativo deixasse a planta. E mesmo nos EUA um relatório do governo de 1996 mostrou que havia uma diferença de 2,5 toneladas de plutônio nos registros que vinham sendo feitos desde a criação da primeira bomba atômica no país e o real número deles na data do reporte. Pode ser que os números estão apenas imprecisos e não necessariamente algo originado de furtos ou perdas, mas fica claro que o controle nuclear está longe de ser perfeito.       


         Existem hoje no mundo cerca de 250 toneladas de plutônio e 1700 toneladas de urânio altamente enriquecido (HEU) para uso militar no mundo. No nível civil, existem 1306 kg de HEU espalhados por 26 países, com algumas quantidades locais suficientes para a produção de uma arma nuclear. MAS, como já foi deixado claro, a construção de armas nucleares, mesmo com toda a matéria prima requerida é extremamente complexa e exige testes práticos. É muito mais fácil ver os terroristas roubando material militar radioativo para vender e financiar suas campanhas de terror do que o usando para encarar um programa mais do que complicado de desenvolvimento de uma arma nuclear. Muitos países que não dominam a técnica de enriquecimento de urânio ou que possuem reservas quase inexistentes desse elemento em seus territórios estariam dispostos a pagar grandes somas por HEU ou plutônio-239.

            Já em relação ao roubo de armas nucleares inteiras, as possibilidades são bem reduzidas, apesar de existirem, principalmente em países onde o esquema de segurança é relativamente fraco, como o Paquistão. Por outro lado, as partes que compõem essas armas nucleares normalmente ficam separadas em locais distintos e bem guardadas em instalações militares. Seria necessário um plano que mirasse em vários pontos de ação ao mesmo tempo, algo complicado até mesmo por grupos terroristas com grande poder financeiro. E as warheads visadas possuem grandes dimensões para serem transportadas com baixa visibilidades ou para não serem notadas de terem sido roubadas, principalmente porque hoje o arsenal nuclear de grande parte dos países que os tem possui um número reduzido dessas armas, algo que conta a favor de países com menor fonte de recursos. Nem mesmo países estariam dispostos a comprá-las dos terroristas, já que as chances de rastreio das mesmas seriam enormes. O comércio de combustível nuclear é mais plausível entre esses negociadores, já que o mesmo acontece de forma legal e fiscalizada pelo mundo em relativa grande escala.

           Pode existir também a possibilidade de se contrabandear com maior facilidade armas nucleares táticas. Existe uma grande variedade delas, em diferentes tamanhos, as quais possuem um poder de explosão bem baixo quando comparado às armas nucleares tradicionais, mas seriam mais práticas de serem lidadas. Elas podem variar de algumas dezenas de toneladas até 100 kilotons de TNT, em termos de poder de explosão.  Obviamente, as de 100 kilotons são bem grandes, mas aquelas variando até 1 kiloton podem facilmente ser transportadas sem problemas de visibilidade. Não iam alcançar a grande destruição em massa sonhada pelos terroristas, mas causariam um grande estrago.
  
À esquerda, oficiais norte-americanos observando uma cabeça de um míssil nuclear tático W54 com poder entre 10 e 20 toneladas de TNT) e, à direita, cientistas norte-americanos analisam uma artilharia nuclear W48 com poder de explosão em torno de 72 toneladas de TNT.

         Um curioso caso neste último exemplo envolve supostas armas nucleares táticas chamadas de ´Bombas Rucksack´. A existência delas nunca foi confirmada, e o conhecimento das mesmas veio a público em 1997, quando o General Alexander Lebed acusou a Rússia de perder 100 Rucksacks, cada uma possuindo o poder de explosão de 1 kiloton (15 vezes menos do que a Little Boy). Essas pequenas armas nucleares seriam parte de uma estratégia especial de guerra, embora o governo russo tenha sempre negado a existência das mesmas. Histórias existem de que o Bin Laden tenha procurado por elas, tendo chegado a oferecer 30 milhões de dólares e 2 toneladas de ópio por 20 exemplares.

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  TENHO AS ARMAS, FAÇO O QUÊ?

           No remoto caso de um grupo terrorista conseguir as armas nucleares, eles poderiam ou usá-las para desferir um ataque ou usá-las como moeda de chantagem. Em ambos os casos eles teriam que mostrar que são capazes de lançá-las no seu alvo, mas como? O uso de mísseis balísticos seria impossível caso o alvo estivesse separado por um oceano, como os EUA, onde sistemas muito sofisticados de guia e estrutura de engenharia teria que ser alcançada, algo extremamente difícil caso o ataque estivesse sendo carregado em alguma área remota e sem apoio. Mesmo ataques de relativas curtas distâncias seriam difíceis, e a Coreia do Norte sabe muito bem disso. Nesse caso, teríamos aviões, mas os mesmos seriam facilmente identificados. O jeito seria um transporte terrestre ou por navios, os quais poderiam prosseguir seu caminho com baixas chances de serem percebidos durante o transporte, mas as chances seriam enormes de serem descobertos durante a operação. Provavelmente a opção escolhida seria a chantagem ou, no máximo, eternas ameaças, assim como os norte-coreanos vivem fazendo.

Mísseis balísticos e/ou aviões seriam necessários para aproveitar todo o potencial de destruição das armas nucleares (detonação em pleno ar, em uma altura mínima em relação ao solo para minimizar a absorção da explosão) e dificultar exponencialmente medidas militares preventivas


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   ALTERNATIVAS?

           Bem, os terroristas podem não querer explodir uma arma ou dispositivo nuclear em si, mas usar material radioativo dentro de uma explosão convencional para espalhar o máximo de radioatividade em uma área bastante habitada (as famosas ´Bombas Sujas´). O problema é que eles não poderiam usar o material de armas nucleares, caso queiram o máximo de dano possível, porque o HEU e o plutônio delas não é tão radioativo assim (Plutônio-239 e Urânio-235). Para isso eles teriam que recorrer ao lixo de usinas nucleares, o qual é bastante radioativo. Mas entrar em uma planta nuclear, roubar e sair carregando tranquilamente material altamente radioativo por aí é muito improvável, mesmo nas usinas com níveis de segurança reduzidos. Primeiro, o material é muito denso, volumoso e altamente radioativo, necessitando de veículos especiais de transporte e extrema segurança daqueles operando. Mesmo com um escudo poderoso envolvendo esse material, traços radioativos seriam facilmente rastreados, isso sem contar as dificuldades em manipular tal material e levá-lo aos alvos desejados. Bem, por isso, talvez, não vimos nenhuma tentativa de roubo do tipo até hoje.

           Outra alternativa seria direcionar um avião, com o tanque de combustível cheio, a ir de encontro ao reator de uma usina nuclear para causar grandes estragos e um consequente acidente radioativo tão grave quanto aquele ocorrido em Chernobyl ( apesar da contagem de mortos desse não ter sido alta, mas possíveis efeitos a longo prazo e pânico da população já ser um prêmio mais do que desejado pelos terroristas). Nesse caso, o núcleo do reator seria improvável de ser atingido, mas os sistemas de resfriamento, sim. Isso causaria um super aquecimento e derretimento do núcleo, liberando gigantescas doses de radioatividade para as regiões em volta da usina. Mas, para isso, os terroristas teriam que atingir o reator de forma vertical com o avião, não apenas de lado. Não seria uma tarefa nada fácil, com as Torres Gêmeas sendo brincadeira de criança em comparação. Mas para mostrar que esse é um risco real de ataque, em novembro de 1972, houve o sequestro de um avião e a ameaça dos três sequestradores envolvidos em lançá-lo em uma usina nuclear situada em Oak Ridge, EUA . Bem, outra forma, seguindo esse mesmo raciocínio, seria sabotar a usina, com uma invasão massiva do local por terroristas e ameaçar fazê-la entrar em colapso. Tentativas do tipo já ocorreram na Argentina, Rússia, Lituânia, África do Sul, Coreia do Sul, na França e EUA, apesar de nem todos esses incidentes terem sido frutos do terrorismo. Porém, um ataque desse tipo seria pouco eficiente, especialmente por não ser resultado de uma ´ação surpresa´.

Reatores em usinas nucleares seriam um bom alvo para os terroristas

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    CONCLUSÃO?

          O risco de um grande ataque nuclear carregado por grupos terroristas existe, mas é muito improvável. Pequenos ataques com armas nucleares táticas ou utilização de usinas nucleares geram um maior risco, mas, mesmo assim, carregam dificuldades demais. De qualquer forma, como uma nação necessariamente estaria envolvida com a aquisição de armas nucleares pelos terroristas e um número cada vez maior das mesmas aumentam enormemente os riscos, esse é mais um motivo para que se torne imprescindível que a política de desarmamento nuclear continue efetiva no mundo e que exista uma maior cooperação internacional entre todos os países que possuem um programa nuclear. Nunca é sábio subestimar o seu adversário. Além disso, podemos estar seguros agora, mas e quanto ao futuro das próximas gerações?

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(1) O acordo nuclear com o Irã ganhou sinal verde dos Democratas para entrar em vigor em setembro do ano passado, mesmo com a desaprovação total dos Republicanos.  Basicamente, os EUA retiraram as barreiras comerciais impostas ao país, enquanto o Irã deixar claro suas intenções com as pesquisas nucleares, garantindo que só usará a tecnologia para a geração de energia. A população iraniana ficou extremamente feliz, já que a economia do país irá progredir bastante agora. Mas muitos desaprovaram a decisão ao afirmar que o Irã não irá cumprir o acordo e estará mais forte economicamente para acelerar o programa de armas nucleares. Israel, maior inimigo do Irã ( a causa judaica e islâmica), também desaprova, já que sempre sofreu ameaças nucleares do país. Com a eleição do Donald Trump no país, e completo controle do Congresso pelos Republicanos, fica muito difícil garantir a estabilidade do acordo.   

(2) Por causa das últimas brigas de acusações de crimes de guerra entre EUA e Rússia em relação às ações de ambos sobre os conflitos na Síria, especialmente depois das intensificações dos ataques em Aleppo, além de outros embates geopolíticos, os russos resolveram, nesta segunda, suspender os acordos relativos ao descarte de plutônio usado para fins militares.

De acordo com o Presidente Putin, os norte-americanos vêm tentando criar instabilidades desfavoráveis à Rússia no contexto internacional, algo que o levou a cortar ainda mais as relações amigáveis bilaterais entre os dois países. E para que as coisas comecem a voltar como eram, os russos exigem certos favores, como suspender as sanções impostas a eles por causa dos conflitos com a Ucrânia e anexação da Crimeia, e que os EUA diminuam suas estruturas e tropas militares nos países que se juntaram à OTAN após Setembro de 2000.

O acordo quebrado pelos russos foi feito em 2000 e reafirmado em 2010, e previa a destruição em ambos os lados (EUA e Rússia) de 34 toneladas de plutônio, algo que visa a diminuição do arsenal e potencial nuclear nos dois países. Essa quantidade de material radioativo é suficiente para a criação de 8500 armas nucleares. O plutônio é utilizado na cabeça de mísseis, como os Topols russos da imagem abaixo, objetivando uma grande liberação de energia por fissão nuclear. Também pode ser usado em armas sujas. 



Obs.:
Até a década de 1990, a África do Sul possuía 6 armas nucleares, mas o governo se livrou de todas elas, sendo o primeiro país do mundo a fazer isso, e de forma voluntária.

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 REFERÊNCIAS
  1. http://belfercenter.ksg.harvard.edu/publication/23385/states_will_not_give_nuclear_weapons_to_terrorists.html
  2. http://www.hsfk.de/fileadmin/HSFK/hsfk_downloads/prif64.pdf
  3. http://www.bbc.com/news/world-us-canada-34215922
  4. http://www.bbc.com/news/world-europe-37539616 
  5. http://www.mitpressjournals.org/doi/pdf/10.1162/ISEC_a_00127
  6. https://www.wilsoncenter.org/sites/default/files/deterring_nuclear_terrorism_robert_litwak.pdf
  7. http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1177/0096340215571909 
  8. https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2016/06/11-byman-iran-testimony.pdf