Homossexualidade é biológica ou social?
- Atualizado no dia 24 de junho de 2024 -
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Apesar de grande parte das pessoas acreditar que a orientação sexual é algo determinado exclusivamente pela educação e por fatores sócio-culturais, evidências e hipóteses científicas acumuladas nas últimas décadas vêm deixando cada vez mais claro que os fatores biológicos são os reais determinantes. Mas qual a origem da homossexualidade? O construtivismo social é relevante em alguma extensão? Quais os mecanismos evolucionários envolvidos?
É seguro talvez afirmar que acima de 90% da população mundial é heterossexual (e uma pequena parte bissexual), ou seja, onde os indivíduos do mesmo sexo se sentem atraídos sexualmente por indivíduos do sexo oposto. Estimativas mais recentes sugerem que entre 3% e 10% da população são homossexuais, ou seja, indivíduos do mesmo sexo que sentem atração sexual exclusiva por indivíduos do mesmo sexo. Uma pequena quantidade populacional (provavelmente inferior a 1%) de pessoas que não possuem atração sexual alguma (assexuados). (1) Além disso, existem registros históricos bem estabelecidos de homossexualidade presente na civilização humana há pelo menos 4400 anos no Egito, e diversos outros nos milênios subsequentes, incluindo Grécia, Roma e China (Ref.73). Artefatos e pinturas em cavernas sugerem ainda que a homossexualidade possa ter acompanhado grande parte ou todo o percurso do Homo sapiens (traço ancestral e evolucionário). Por mais que muitos acreditem - ou queiram acreditar - que não, a homossexualidade é um traço natural e bastante antigo dentro da espécie humana.
- (1) Note que não está sendo explorado 'identidade de gênero' e, sim, 'orientações sexuais'. Gênero (identidade/expressão) não é sexo (masculino ou feminino) e nem orientação sexual. Para mais informações, acesse: O que é a tal da Ideologia de Gênero?
Dentro desse contexto, é inegável que uma parte significativa da população possui uma orientação homossexual e explicações para tal fato precisam ser encontradas, não somente por uma questão de curiosidade acadêmica, mas também como uma ferramenta de melhor entendimento da nossa sociedade, a qual poderá ajudar a enfrentar os preconceitos nela enraizados. E é interessante percebemos que entender a homossexualidade também é uma forma de entender os preceitos de toda a sexualidade humana. Entender a orientação homossexual é entender a orientação heterossexual. O que nos leva a gostar de uma pessoa do sexo oposto? O que nos leva a gostar de uma pessoa do mesmo sexo?
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EVIDÊNCIAS BIOLÓGICAS
Um traço precursor crítico para a evolução da homossexualidade humana: comportamento homossexual em animais não-humanos. É bem estabelecido que várias espécies de animais exibem atividade sexual envolvendo indivíduos do mesmo sexo, principalmente entre machos e, mais raramente, entre fêmeas. Essas interações homossexuais não são incomuns em populações selvagens e existe evidência recente de que comportamento homossexual pode ser muito mais comum do que publicações acadêmicas sobre esse tema específico têm historicamente sugerido (Ref.75). Só que, no geral, orientação homossexual - atração sexual exclusiva por indivíduos do mesmo sexo - é um traço anômalo. Aliás, até pouco tempo atrás, os únicos seres no planeta conhecidos de terem significativa quantidade de machos com desejo sexual exclusivo por outros machos - e o mesmo válido para fêmeas - eram os humanos modernos. Entre os outros animais, como regra geral, esse comportamento só ocorre, até onde sabemos, em situações específicas. Entre essas situações, podemos citar:
- Menor disponibilidade de fêmeas para o acasalamento;
- Competição intra-sexual, onde machos dominantes impedem o acesso das fêmeas por outros machos ou podem simplesmente usar as relações homossexuais para estabelecer ou reforçar hierarquias de dominância;
- Vínculo social, onde interações homossexuais podem aumentar os laços de união dentro do grupo, diminuir a agressividade e promover uma coexistência de baixo risco;
- Gratificação, onde a interação homossexual trará benefícios para um dos indivíduos, como satisfação sexual momentânea;
- Vantagens reprodutivas, incluindo construção de estratégias de acasalamento, ganho de experiência sexual e mesmo descarte de espermatozoides mais velhos (durante a relação homossexual) para renovar as células reprodutivas para as relações heterossexuais (aumentando a chances de reprodução).
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FELAÇÃO HOMOSSEXUAL
Em outras palavras, apesar de existir, especialmente entre mamíferos, o comportamento "gay", este não representa orientação sexual, mas uma atividade sexual transiente. Porém, existe uma exceção bem conhecida reportada em estudos publicados a partir de 2002 (Ref.5-6). Nesses estudos, foi mostrado que populações de ovelhas (Ovis aries) no Oeste dos EUA possuíam cerca de 8% dos indivíduos fêmeas com orientação homossexual! É reportado também que um percentual similar de carneiros em geral (8% na média) também exibem homossexualidade (Ref.74). Diversas explicações tradicionais para esse comportamento foram descartadas, confirmando-se reais casos de homossexualidade entre esses animais, e em uma frequência que pode ser até maior do que na nossa espécie. Para tentar entender os mecanismos por trás disso, os pesquisadores focaram a atenção em um dos principais suspeitos por trás das diferentes orientações sexuais em humanos: exposição variável a hormônios sexuais andrógenos e estrógenos durante a gestação.
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Observação: Estudos também mostram que uma significativa parcela de macacos-Japoneses (Macaca fuscata) fêmeas expressam forte preferência homossexual mesmo na presença de machos (Ref.3, 58). E a interação homossexual entre as fêmeas desses primatas já foi mostrada de ser sexual em natureza e similar àquela observada nas relações heterossexuais, com o ato sendo realizado apenas em temporadas de acasalamento e associado a comportamentos de crescente receptividade sexual e prazer durante a relação íntima. É sugerido que essas fêmeas buscam satisfação sexual devido às limitações anatômicas nos genitais dos machos somadas ao grande libido presente nessa espécie. De fato, durante o ato sexual, as fêmeas em relação homossexual buscam ativamente estimular as zonas erógenas via diferentes movimentos e usando até mesmo o rabo. Nesse sentido, a orientação homossexual expressa é um produto colateral - ou fruto de seleção neutra - do processo evolutivo, já que tanto o desenvolvimento distinto da genitália masculina quanto o grande apetite sexual são fenótipos positivamente selecionados.
> Independentemente da existência dessas ovelhas e dos macacos-Japoneses, reparem que o comportamento homossexual é bem comum entre os animais não-humanos, especialmente entre mamíferos. Isso reforça que a base biológica (traço precursor) para a homossexualidade está amplamente disseminada no Reino Animal. Bonobos (Pan paniscus), nossos parentes evolutivos mais próximos ainda vivos junto com os chimpanzés (Pan troglodytes), estão frequentemente engajados em comportamentos homossexuais para fins diversos, envolvendo fêmeas e machos.
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HORMÔNIOS
Já de início, é importante deixar claro que a interferência dos hormônios na orientação sexual não funciona do jeito que boa parte das pessoas tendem a inferir. Dentro da população humana, já foi provado que os níveis médios de testosterona ou estradiol entre as lésbicas e os gays não diferem significativamente em relação aos níveis associados aos indivíduos heterossexuais. Em outras palavras, um gay não possui menos testosterona total circulando no sangue do que um homem cis heterossexual. Não adianta, portanto, fazer terapias hormonais para tentar reverter a orientação sexual de um indivíduo, como, infelizmente, já foi tentado no passado (2). Esses hormônios teriam, ao invés disso, apenas significância na orientação sexual durante o desenvolvimento fetal (gestação).
Os andrógenos e estrógenos não somente possuem função de estabelecer as características sexuais secundárias de cada sexo durante o desenvolvimento do feto. Esses hormônios participam no desenvolvimento de vários outros órgãos e sistemas no nosso corpo, como o cérebro. Estruturas cerebrais dimórficas (ex.: volumes de certas áreas cerebrais) entre os sexos masculino e feminino se devem à ação desses hormônios, e podemos citar a maior agressividade masculina como sendo fruto direto da ação da testosterona no cérebro durante a fase gestacional. Algumas diferenças psicológicas e comportamentais entre homens e mulheres inerentes desde o nascimento, inclusive certos transtornos mentais - como a anorexia nervosa (a qual afeta cerca de 13 vezes mais o sexo feminino) e autismo (muito mais comum no sexo masculino) -, podem também ser citadas. Grande parte dessas diferenças - incluindo relativas à orientação sexual - podem ser explicadas pela ação dos hormônios sexuais durante a fase embrionária. E isso aparentemente prova-se correto entre as ovelhas.
No cérebro desses animais, existe uma parte chamada de oSDN que está relacionada com a orientação sexual. Nos machos (carneiros), essa estrutura costuma ser três vezes maior e conter 4 vezes mais neurônios do que nas fêmeas. Já nas ovelhas homossexuais, essa mesma parte costuma ser bem menor do que o padrão! Estudos laboratoriais têm mostrado que a testosterona, entre os dias 30 e 90 da gestação, é a responsável pelo desenvolvimento dessa parte no cérebro. Quando pesquisadores administram testosterona em fetos se desenvolvendo durante esse período, ocorre uma masculinização do oSDN nas fêmeas! Terapias hormonais, como a castração ou administração de testosterona não mais fazem efeito algum nessa parte do cérebro em ovelhas adultas, provando que apenas durante o período fetal isso é possível. Apesar do oSDN provavelmente não representar a única causa de determinação da orientação sexual, fica mais do que óbvio que os hormônios durante a gestação influenciam a orientação sexual. Além disso, é evidente que não podemos aplicar as teorias de construtivismo social para explicar a homossexualidade entre ovelhas. Mas será que isso pode ser extrapolado para os humanos?
É realmente muito difícil para os cientistas explorarem essa hipótese no desenvolvimento embrionário humano. Hoje, já é uma luta a aprovação de quaisquer pesquisas em embriões humanos, imagina acompanhar todo o período de desenvolvimento fetal de forma invasiva. Para se ter certeza do papel dos hormônios sexuais em todas as etapas de crescimento do feto, seria necessário a coleta constante de líquido amniótico ou, melhor ainda, do sangue do feto. Só que isso, eticamente, é impraticável, pois é um risco imposto à saúde dos fetos/embriões. O líquido amniótico é o melhor instrumento - porém muito limitado - que os pesquisadores atualmente possuem, o qual irá espelhar hormônios do sangue fetal liberados pela urina do feto. A principal limitação nessa estratégia analítica é que o líquido só pode ser coletado periodicamente e apenas de mulheres que carregam uma gravidez de alto risco (identificação de problemas genéticos, por exemplo) e, nesse caso, a população estudada fica bem restrita e suscetível a bias (viés). Portanto, manipular os níveis hormonais durante a gestação humana é algo muito difícil. Assim, ficamos dependentes de observações indiretas dos níveis hormonais presentes no feto humano. De qualquer forma, considerando as evidências científicas até o momento acumuladas, temos sólida base para sugerir que, entre os mamíferos:
Você deve estar pensando "Mas é lógico que os sexo masculino é exposto a mais testosterona do que o sexo feminino". Sim, os cromossomos sexuais XY (homens) e XX (mulher) comandam a maior ou menor exposição MÉDIA da testosterona no feto. Mas como realçado, essa é uma diferença média, existindo flutuações em certos estágios de desenvolvimento fetal. Ou seja, em determinados períodos, uma maior ou menor concentração de testosterona pode modificar traços importantes no corpo dos fetos. E é aí onde as menores ou maiores taxas relativas desse andrógeno serão decisivas. Para demonstrar conclusivamente que esse processo atua pelo menos em parte para determinar a orientação sexual em humanos, seriam necessários experimentos proibidos por questões ética. Porém, considerando relações evolutivas de grande proximidade entre os mamíferos, e que esse processo já foi demonstrado em outros animais mamíferos, a sugestão é plausível em termos teóricos.
Além disso, pode ser que altas ou baixas concentrações de estrógenos contribuam de forma importante nesse processo de determinação da orientação sexual, já que a testosterona também é aromatizada em estradiol e os estrógenos também atuam no desenvolvimento fetal. Bem, desviando dos detalhes bioquímicos, temos um número de evidências de que os hormônios podem ter papel importante na orientação sexual entre os humanos modernos:
1. Grávidas com hiperplasia andrógena congenital, onde o feto é exposto a altos níveis de testosterona, dão à luz a meninas que possuem os genitais mais masculinizados (grande clitóris, por exemplo) e que também, interessantemente, expressam uma tendência bem grande (chance entre 30 e 40%) de exibirem orientação homossexual. Porém, essa última observação deve ser tratada com cuidado, porque outros fatores podem estar atuando em conjunto. Como exemplo, podemos citar que como a região genital feminina não é tão bem desenvolvida nessas garotas, elas podem ter, futuramente, dificuldade com o sexo envolvendo a penetração. Isso pode afastá-las de procurarem relacionamentos heterossexuais, superestimando os reais casos de homossexualidade. (Ref.5, 11, 48)
2. A ecstrofia cloacal é uma má-formação no trato genital-urinário que faz com que, entre outros efeitos colaterais, os indivíduos machos nasçam sem o pênis. Mas como eles nascem com os testículos normais, é assumido que os hormônios andrógenos atuem de forma normal durante a gestação entre os indivíduos afetados. Antigamente, os indivíduos com essa má formação eram criados como garotas e submetidos a cirurgias de vaginoplastia (para criar uma espécie de 'vagina artificial'). Estudos posteriores mostraram que apesar da forte pressão social contrária, cerca de metade dessas "garotas XY" continuavam com sua orientação sexual heterossexual, ou seja, continuavam atraídas por outras garotas, possivelmente por causa da ação normal dos andrógenos durante a fase gestacional. (Ref.5)
3. As Emissões Otoacústicas (OAE, na sigla em inglês) são ruídos produzidos pela cóclea, dentro do ouvido, propagadas pelo ouvido médio e que alcançam o ouvido externo. Elas são mais frequentes no sexo feminino, tanto em animais quanto em humanos. Mas quando fêmeas entre animais não-humanos são tratadas com hormônios andrógenos durante o desenvolvimento embrionário, elas tendem a ter menos OAE. Nesse sentido, já foi mostrado que as lésbicas possuem significativamente menos desses ruídos do que as mulheres heterossexuais. Caso os resultados dos testes clínicos em animais possam ser extrapolados para os humanos, isso pode reforçar um papel importante dos hormônios sexuais na orientação sexual. (Ref.5, 14, 57)
4. A razão de medida entre os dedos das mãos, especialmente entre o segundo e o quarto dedo, é algo considerado como sendo influenciado pela ação da testosterona durante o desenvolvimento do feto. Essa hipótese é praticamente teórica e foi estabelecida através da observação anatômica de mulheres masculinizadas e em manipulações hormonais de animais. Essa razão diminui à medida que mais testosterona e menos estrógenos são expostos ao feto e já foi mostrado que as lésbicas tendem a ter uma razão entre os dedos '2' e '4' menor (Ref.21, 17, 18, 48, 57). Além disso, um estudo de 2016, feito na China, mostrou que os homens homossexuais da etnia Han, em Yunnan, tinham uma razão maior entre o 2/4 do que os heterossexuais, e que essa razão entre os homossexuais e bissexuais era praticamente a mesma (Ref.46). Estudos mais recentes também têm corroborado indiretamente essa linha de evidência através de parâmetros sócio-econômicos (Ref.72).
5. Algumas estruturas no cérebro que possivelmente são orientadas em sua formação pela ação dos hormônios durante a fase embrionária já mostraram ser diferenciadas em tamanho e/ou densidade de neurônios entre heterossexuais e homossexuais, como o Núcleo Suprachiasmático, INAH3 e a Comissura Anterior.
6. A Dismorfia de Gênero, a qual caracteriza um desconforto do homem ou da mulher em ter imagens/comportamentos sociais típicos do seu sexo (vestimentas, brincadeiras, aparência, etc.), possui como principal suspeito de causa a ação desregulada de hormônios sexuais durante o desenvolvimento embrionário. Os transexuais são um exemplo bem conhecido dessa dismorfia. Caracterização à parte, estudos já mostraram uma forte relação entre esse desconforto gênero-baseado e a orientação sexual. Em particular, um trabalho científico publicado em março de 2012 mostrou que a orientação homossexual era entre 8 a 15 vezes maior em idade adulta nesse grupo. (Ref.5)
7. Muitos homens homossexuais possuem certos comportamentos inerentes e outras características feminizadas (como a voz), podendo indicar influências hormonais durante a gestação. O mesmo é observado em mulheres homossexuais, onde algumas apresentam um comportamento mais masculinizado. Neste último caso, existem estudos recentes que mostram uma maior orientação homossexual entre essas mulheres, seja devido à hiperplasia andrógena ou não. (Ref.5)
8. Homens e mulheres homossexuais tendem a ser mais destros ou ambidestros (boa habilidade com as duas mãos) do que os heterossexuais. Além disso, homens homossexuais parecem ter uma tendência maior em ter uma grau forte de preferência pela sua mão dominante, tanto entre destros quanto em canhotos. Como existem várias evidências de um forte papel genético envolvendo vários genes e também possíveis fatores hormonais durante o desenvolvimento fetal para definir a preferência de uso das mãos (Por que existem tantos destros e tão poucos canhotos?), isso pode mostrar mais uma forte ligação entre fatores biológicos e orientação sexual. (Ref.5, 27, 47)
GENÉTICA
Mas não paramos apenas no fator 'hormonal'. Para complementar a teoria biológica por trás da orientação sexual, temos que ir para outra área bastante promissora e também cheia de evidências: a genética. Sim, a presença de genes específicos pode ser crucial para despertar as preferências sexuais de cada um. No meio científico, as descobertas nesse campo foram positivas, especialmente para explicar o padrão homossexual nos homens, sendo daí que o termo 'gene gay' foi criado. Como ainda estamos caminhando na exploração do código genético associado aos nossos cromossomos, não é possível ainda dizer com certeza os genes que poderiam estar envolvidos na orientação sexual, mas já temos várias evidências e candidatos. Estudos em ratos já deram pistas de quais podem ser, mas nada ainda de concreto. Porém, diversos estudos epidemiológicos já identificaram padrões dentro da população, os quais são indícios da ação genética nessa questão. Entre eles, podemos citar:
1. Já foi mostrado que se um indivíduo é gay, as chances dos seus irmãos serem também gays é entre 20 e 25%, comparado com 4-6% no de probabilidade dentro da população em geral. (Ref.5, 48)
2. Outros estudos indicam que entre gêmeos dizigóticos, ou seja, que nasceram no mesmo útero mas de células embrionárias diferentes, as chances de ambos serem homossexuais é em torno 15%. Já quando os gêmeos são monozigóticos, ou seja, criados dentro do mesmo útero e de uma única célula (partilham o mesmo material genético) as chances deles serem homossexuais aumenta para cerca de 65%! Esses resultados, combinados, sugerem que em um padrão de vida típico da parte ocidental do mundo, a orientação sexual possui, no mínimo, cerca de 50-60% de contribuição do fator genético. (Ref.5) Porém, outros estudos criticaram as escolhas dos gêmeos, os quais podem representar números que não correspondem à realidade populacional número pequeno de voluntários analisados). Para clarificar isso, um estudo na Suécia, envolvendo toda a população de gêmeos do país (7600), monozigóticos e dizigóticos, mostrou que para os homens, os fatores genéticos contribuíam entre 34 e 39% da orientação sexual dos homens, o ambiente familiar compartilhado não parecia influenciar em nada e os fatores ambientais específicos para cada gêmeo (sociais e biológicos, como os hormonais) contribuíam entre 61 e 66%. Já para as mulheres, os fatores genéticos contribuíam com entre 18 e 19, o ambiente familiar compartilhado com entre 16 e 17, e os fatores ambientais específicos com entre 64 e 66% (Ref.32). Fica claro, nesses estudos, que os fatores biológicos, inclusive genéticos, possuem uma real importância.
3. Estudos iniciados em 1993 mostram claras evidências da presença constante de alelos na região distal Xq28 no cromossomo X de homens homossexuais. Depois de vários trabalhos posteriores também encontrarem resultados similares, um estudo de 2012, envolvendo 409 pares de irmãos gays deixou ainda mais claro a existência do Xq28 (responsável pelo termo ´gene gay´ já usado desde a década de 90). Apesar de parecer quase certo que os genes relacionados ao Xq28 possuem forte conexão com a orientação sexual dos homens, nada parecido ainda foi encontrado que ligasse a homossexualidade nas mulheres (Ref.36).
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ATUALIZAÇÃO (01/02/19): Pesquisadores descobriram que um pequeno grupo de neurônios no cérebro de ratos interfere drasticamente com o comportamento sexual nesses animais. Variações genéticas podem portanto alterar essa região e promover orientações sexuais atípicas, como assexualidade, bissexualidade ou homossexualidade. Para saber mais, acesse: Comportamentos e preferências sexuais em ratos variam ao se ativar ou desativar uma região específica do cérebro
(!) ATUALIZAÇÃO (30/08/19): Estudo de grande escala traz mais evidências corroborando o substancial papel da genética na determinação da orientação homossexual, e descarta a existência de um único "gene gay" (expressão poligênica, como já esperado). Para saber mais, acesse: Genética pode explicar até 25% do comportamento homossexual, mas não existe um "gene gay"
Felação (ato de excitar o pênis ereto com a boca) é amplamente usado na atividade sexual humana (homossexual e heterossexual). Porém, esse comportamento também é observado em outros mamíferos, tanto entre fêmeas e machos, quanto entre indivíduos do mesmo sexo. Felação entre indivíduos do mesmo sexo é considerado um comportamento sexual não-reprodutivo (Ref.68). Esse comportamento pode ser observado entre grupos de machos de macacos-Tibetanos (Macaca thibetana), visando reduzir a tensão, e em jovens machos de bonobos (Pan panicu), frequentemente no contexto de brincadeira. Um evento do tipo já foi observado entre dois machos de chimpanzé (Pan troglodytes), após um conflito entre os dois (Ref.69).
Interessantemente, sexo oral também é frequentemente observado entre morcegos, incluindo comportamento homossexual em 22 espécies. Fêmeas de morcego Cynopterus sphinx lambem o pênis ereto do parceiro durante a copulação e a duração é positivamente relacionada à duração da cópula. Machos de raposa-voadora (Pteropus giganteus) lambem a vulva da fêmea (cunilíngua) pré- e pós-copulação, e a pré-cunilíngua é positivamente correlacionada com a duração da cópula. Ou seja, o comportamento parece ter papel importante no sucesso reprodutivo dessas espécies.
Morcegos da espécie Pteropus pselaphon exibem felação homossexual e também cunilíngua pré-copulação. A felação homossexual nessa espécie parece ter a função de promover cooperação entre machos rivais (Ref.68). Machos na colônia tendem a repulsarem uns aos outros para monopolizar acasalamento com as fêmeas, mas os machos também são forçados a cooperar entre si para formar grandes agrupamentos na forma de "bola" com o intuito de aquecimento (termorregulação). A atividade sexual entre machos pode ter papel social favorecendo a união dos machos (gratificação sexual como recompensa).
É sugerido que o ato comum de lamber genitais na atividade de copulação entre morcegos pode ter sido um traço filogenético que facilitou a emergência de atividade homossexual nesses animais, inclusive para fins adaptativos.
> Mais recentemente, uma interação homossexual de felação foi reportada para o morcego P. medius, na região de Rajasthan, Índia (Ref.70).
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Em outras palavras, apesar de existir, especialmente entre mamíferos, o comportamento "gay", este não representa orientação sexual, mas uma atividade sexual transiente. Porém, existe uma exceção bem conhecida reportada em estudos publicados a partir de 2002 (Ref.5-6). Nesses estudos, foi mostrado que populações de ovelhas (Ovis aries) no Oeste dos EUA possuíam cerca de 8% dos indivíduos fêmeas com orientação homossexual! É reportado também que um percentual similar de carneiros em geral (8% na média) também exibem homossexualidade (Ref.74). Diversas explicações tradicionais para esse comportamento foram descartadas, confirmando-se reais casos de homossexualidade entre esses animais, e em uma frequência que pode ser até maior do que na nossa espécie. Para tentar entender os mecanismos por trás disso, os pesquisadores focaram a atenção em um dos principais suspeitos por trás das diferentes orientações sexuais em humanos: exposição variável a hormônios sexuais andrógenos e estrógenos durante a gestação.
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Observação: Estudos também mostram que uma significativa parcela de macacos-Japoneses (Macaca fuscata) fêmeas expressam forte preferência homossexual mesmo na presença de machos (Ref.3, 58). E a interação homossexual entre as fêmeas desses primatas já foi mostrada de ser sexual em natureza e similar àquela observada nas relações heterossexuais, com o ato sendo realizado apenas em temporadas de acasalamento e associado a comportamentos de crescente receptividade sexual e prazer durante a relação íntima. É sugerido que essas fêmeas buscam satisfação sexual devido às limitações anatômicas nos genitais dos machos somadas ao grande libido presente nessa espécie. De fato, durante o ato sexual, as fêmeas em relação homossexual buscam ativamente estimular as zonas erógenas via diferentes movimentos e usando até mesmo o rabo. Nesse sentido, a orientação homossexual expressa é um produto colateral - ou fruto de seleção neutra - do processo evolutivo, já que tanto o desenvolvimento distinto da genitália masculina quanto o grande apetite sexual são fenótipos positivamente selecionados.
> Independentemente da existência dessas ovelhas e dos macacos-Japoneses, reparem que o comportamento homossexual é bem comum entre os animais não-humanos, especialmente entre mamíferos. Isso reforça que a base biológica (traço precursor) para a homossexualidade está amplamente disseminada no Reino Animal. Bonobos (Pan paniscus), nossos parentes evolutivos mais próximos ainda vivos junto com os chimpanzés (Pan troglodytes), estão frequentemente engajados em comportamentos homossexuais para fins diversos, envolvendo fêmeas e machos.
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HORMÔNIOS
Já de início, é importante deixar claro que a interferência dos hormônios na orientação sexual não funciona do jeito que boa parte das pessoas tendem a inferir. Dentro da população humana, já foi provado que os níveis médios de testosterona ou estradiol entre as lésbicas e os gays não diferem significativamente em relação aos níveis associados aos indivíduos heterossexuais. Em outras palavras, um gay não possui menos testosterona total circulando no sangue do que um homem cis heterossexual. Não adianta, portanto, fazer terapias hormonais para tentar reverter a orientação sexual de um indivíduo, como, infelizmente, já foi tentado no passado (2). Esses hormônios teriam, ao invés disso, apenas significância na orientação sexual durante o desenvolvimento fetal (gestação).
- (2) Leitura recomendada: A castração química é aceitável contra os agressores sexuais?
Os andrógenos e estrógenos não somente possuem função de estabelecer as características sexuais secundárias de cada sexo durante o desenvolvimento do feto. Esses hormônios participam no desenvolvimento de vários outros órgãos e sistemas no nosso corpo, como o cérebro. Estruturas cerebrais dimórficas (ex.: volumes de certas áreas cerebrais) entre os sexos masculino e feminino se devem à ação desses hormônios, e podemos citar a maior agressividade masculina como sendo fruto direto da ação da testosterona no cérebro durante a fase gestacional. Algumas diferenças psicológicas e comportamentais entre homens e mulheres inerentes desde o nascimento, inclusive certos transtornos mentais - como a anorexia nervosa (a qual afeta cerca de 13 vezes mais o sexo feminino) e autismo (muito mais comum no sexo masculino) -, podem também ser citadas. Grande parte dessas diferenças - incluindo relativas à orientação sexual - podem ser explicadas pela ação dos hormônios sexuais durante a fase embrionária. E isso aparentemente prova-se correto entre as ovelhas.
No cérebro desses animais, existe uma parte chamada de oSDN que está relacionada com a orientação sexual. Nos machos (carneiros), essa estrutura costuma ser três vezes maior e conter 4 vezes mais neurônios do que nas fêmeas. Já nas ovelhas homossexuais, essa mesma parte costuma ser bem menor do que o padrão! Estudos laboratoriais têm mostrado que a testosterona, entre os dias 30 e 90 da gestação, é a responsável pelo desenvolvimento dessa parte no cérebro. Quando pesquisadores administram testosterona em fetos se desenvolvendo durante esse período, ocorre uma masculinização do oSDN nas fêmeas! Terapias hormonais, como a castração ou administração de testosterona não mais fazem efeito algum nessa parte do cérebro em ovelhas adultas, provando que apenas durante o período fetal isso é possível. Apesar do oSDN provavelmente não representar a única causa de determinação da orientação sexual, fica mais do que óbvio que os hormônios durante a gestação influenciam a orientação sexual. Além disso, é evidente que não podemos aplicar as teorias de construtivismo social para explicar a homossexualidade entre ovelhas. Mas será que isso pode ser extrapolado para os humanos?
É realmente muito difícil para os cientistas explorarem essa hipótese no desenvolvimento embrionário humano. Hoje, já é uma luta a aprovação de quaisquer pesquisas em embriões humanos, imagina acompanhar todo o período de desenvolvimento fetal de forma invasiva. Para se ter certeza do papel dos hormônios sexuais em todas as etapas de crescimento do feto, seria necessário a coleta constante de líquido amniótico ou, melhor ainda, do sangue do feto. Só que isso, eticamente, é impraticável, pois é um risco imposto à saúde dos fetos/embriões. O líquido amniótico é o melhor instrumento - porém muito limitado - que os pesquisadores atualmente possuem, o qual irá espelhar hormônios do sangue fetal liberados pela urina do feto. A principal limitação nessa estratégia analítica é que o líquido só pode ser coletado periodicamente e apenas de mulheres que carregam uma gravidez de alto risco (identificação de problemas genéticos, por exemplo) e, nesse caso, a população estudada fica bem restrita e suscetível a bias (viés). Portanto, manipular os níveis hormonais durante a gestação humana é algo muito difícil. Assim, ficamos dependentes de observações indiretas dos níveis hormonais presentes no feto humano. De qualquer forma, considerando as evidências científicas até o momento acumuladas, temos sólida base para sugerir que, entre os mamíferos:
Você deve estar pensando "Mas é lógico que os sexo masculino é exposto a mais testosterona do que o sexo feminino". Sim, os cromossomos sexuais XY (homens) e XX (mulher) comandam a maior ou menor exposição MÉDIA da testosterona no feto. Mas como realçado, essa é uma diferença média, existindo flutuações em certos estágios de desenvolvimento fetal. Ou seja, em determinados períodos, uma maior ou menor concentração de testosterona pode modificar traços importantes no corpo dos fetos. E é aí onde as menores ou maiores taxas relativas desse andrógeno serão decisivas. Para demonstrar conclusivamente que esse processo atua pelo menos em parte para determinar a orientação sexual em humanos, seriam necessários experimentos proibidos por questões ética. Porém, considerando relações evolutivas de grande proximidade entre os mamíferos, e que esse processo já foi demonstrado em outros animais mamíferos, a sugestão é plausível em termos teóricos.
Além disso, pode ser que altas ou baixas concentrações de estrógenos contribuam de forma importante nesse processo de determinação da orientação sexual, já que a testosterona também é aromatizada em estradiol e os estrógenos também atuam no desenvolvimento fetal. Bem, desviando dos detalhes bioquímicos, temos um número de evidências de que os hormônios podem ter papel importante na orientação sexual entre os humanos modernos:
1. Grávidas com hiperplasia andrógena congenital, onde o feto é exposto a altos níveis de testosterona, dão à luz a meninas que possuem os genitais mais masculinizados (grande clitóris, por exemplo) e que também, interessantemente, expressam uma tendência bem grande (chance entre 30 e 40%) de exibirem orientação homossexual. Porém, essa última observação deve ser tratada com cuidado, porque outros fatores podem estar atuando em conjunto. Como exemplo, podemos citar que como a região genital feminina não é tão bem desenvolvida nessas garotas, elas podem ter, futuramente, dificuldade com o sexo envolvendo a penetração. Isso pode afastá-las de procurarem relacionamentos heterossexuais, superestimando os reais casos de homossexualidade. (Ref.5, 11, 48)
2. A ecstrofia cloacal é uma má-formação no trato genital-urinário que faz com que, entre outros efeitos colaterais, os indivíduos machos nasçam sem o pênis. Mas como eles nascem com os testículos normais, é assumido que os hormônios andrógenos atuem de forma normal durante a gestação entre os indivíduos afetados. Antigamente, os indivíduos com essa má formação eram criados como garotas e submetidos a cirurgias de vaginoplastia (para criar uma espécie de 'vagina artificial'). Estudos posteriores mostraram que apesar da forte pressão social contrária, cerca de metade dessas "garotas XY" continuavam com sua orientação sexual heterossexual, ou seja, continuavam atraídas por outras garotas, possivelmente por causa da ação normal dos andrógenos durante a fase gestacional. (Ref.5)
3. As Emissões Otoacústicas (OAE, na sigla em inglês) são ruídos produzidos pela cóclea, dentro do ouvido, propagadas pelo ouvido médio e que alcançam o ouvido externo. Elas são mais frequentes no sexo feminino, tanto em animais quanto em humanos. Mas quando fêmeas entre animais não-humanos são tratadas com hormônios andrógenos durante o desenvolvimento embrionário, elas tendem a ter menos OAE. Nesse sentido, já foi mostrado que as lésbicas possuem significativamente menos desses ruídos do que as mulheres heterossexuais. Caso os resultados dos testes clínicos em animais possam ser extrapolados para os humanos, isso pode reforçar um papel importante dos hormônios sexuais na orientação sexual. (Ref.5, 14, 57)
4. A razão de medida entre os dedos das mãos, especialmente entre o segundo e o quarto dedo, é algo considerado como sendo influenciado pela ação da testosterona durante o desenvolvimento do feto. Essa hipótese é praticamente teórica e foi estabelecida através da observação anatômica de mulheres masculinizadas e em manipulações hormonais de animais. Essa razão diminui à medida que mais testosterona e menos estrógenos são expostos ao feto e já foi mostrado que as lésbicas tendem a ter uma razão entre os dedos '2' e '4' menor (Ref.21, 17, 18, 48, 57). Além disso, um estudo de 2016, feito na China, mostrou que os homens homossexuais da etnia Han, em Yunnan, tinham uma razão maior entre o 2/4 do que os heterossexuais, e que essa razão entre os homossexuais e bissexuais era praticamente a mesma (Ref.46). Estudos mais recentes também têm corroborado indiretamente essa linha de evidência através de parâmetros sócio-econômicos (Ref.72).
A razão entre o segundo e quarto dedos é uma das relações mais bem documentadas sobre a ação hormonal na fase embrionária e a orientação sexual |
5. Algumas estruturas no cérebro que possivelmente são orientadas em sua formação pela ação dos hormônios durante a fase embrionária já mostraram ser diferenciadas em tamanho e/ou densidade de neurônios entre heterossexuais e homossexuais, como o Núcleo Suprachiasmático, INAH3 e a Comissura Anterior.
6. A Dismorfia de Gênero, a qual caracteriza um desconforto do homem ou da mulher em ter imagens/comportamentos sociais típicos do seu sexo (vestimentas, brincadeiras, aparência, etc.), possui como principal suspeito de causa a ação desregulada de hormônios sexuais durante o desenvolvimento embrionário. Os transexuais são um exemplo bem conhecido dessa dismorfia. Caracterização à parte, estudos já mostraram uma forte relação entre esse desconforto gênero-baseado e a orientação sexual. Em particular, um trabalho científico publicado em março de 2012 mostrou que a orientação homossexual era entre 8 a 15 vezes maior em idade adulta nesse grupo. (Ref.5)
7. Muitos homens homossexuais possuem certos comportamentos inerentes e outras características feminizadas (como a voz), podendo indicar influências hormonais durante a gestação. O mesmo é observado em mulheres homossexuais, onde algumas apresentam um comportamento mais masculinizado. Neste último caso, existem estudos recentes que mostram uma maior orientação homossexual entre essas mulheres, seja devido à hiperplasia andrógena ou não. (Ref.5)
8. Homens e mulheres homossexuais tendem a ser mais destros ou ambidestros (boa habilidade com as duas mãos) do que os heterossexuais. Além disso, homens homossexuais parecem ter uma tendência maior em ter uma grau forte de preferência pela sua mão dominante, tanto entre destros quanto em canhotos. Como existem várias evidências de um forte papel genético envolvendo vários genes e também possíveis fatores hormonais durante o desenvolvimento fetal para definir a preferência de uso das mãos (Por que existem tantos destros e tão poucos canhotos?), isso pode mostrar mais uma forte ligação entre fatores biológicos e orientação sexual. (Ref.5, 27, 47)
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GENÉTICA
Mas não paramos apenas no fator 'hormonal'. Para complementar a teoria biológica por trás da orientação sexual, temos que ir para outra área bastante promissora e também cheia de evidências: a genética. Sim, a presença de genes específicos pode ser crucial para despertar as preferências sexuais de cada um. No meio científico, as descobertas nesse campo foram positivas, especialmente para explicar o padrão homossexual nos homens, sendo daí que o termo 'gene gay' foi criado. Como ainda estamos caminhando na exploração do código genético associado aos nossos cromossomos, não é possível ainda dizer com certeza os genes que poderiam estar envolvidos na orientação sexual, mas já temos várias evidências e candidatos. Estudos em ratos já deram pistas de quais podem ser, mas nada ainda de concreto. Porém, diversos estudos epidemiológicos já identificaram padrões dentro da população, os quais são indícios da ação genética nessa questão. Entre eles, podemos citar:
1. Já foi mostrado que se um indivíduo é gay, as chances dos seus irmãos serem também gays é entre 20 e 25%, comparado com 4-6% no de probabilidade dentro da população em geral. (Ref.5, 48)
2. Outros estudos indicam que entre gêmeos dizigóticos, ou seja, que nasceram no mesmo útero mas de células embrionárias diferentes, as chances de ambos serem homossexuais é em torno 15%. Já quando os gêmeos são monozigóticos, ou seja, criados dentro do mesmo útero e de uma única célula (partilham o mesmo material genético) as chances deles serem homossexuais aumenta para cerca de 65%! Esses resultados, combinados, sugerem que em um padrão de vida típico da parte ocidental do mundo, a orientação sexual possui, no mínimo, cerca de 50-60% de contribuição do fator genético. (Ref.5) Porém, outros estudos criticaram as escolhas dos gêmeos, os quais podem representar números que não correspondem à realidade populacional número pequeno de voluntários analisados). Para clarificar isso, um estudo na Suécia, envolvendo toda a população de gêmeos do país (7600), monozigóticos e dizigóticos, mostrou que para os homens, os fatores genéticos contribuíam entre 34 e 39% da orientação sexual dos homens, o ambiente familiar compartilhado não parecia influenciar em nada e os fatores ambientais específicos para cada gêmeo (sociais e biológicos, como os hormonais) contribuíam entre 61 e 66%. Já para as mulheres, os fatores genéticos contribuíam com entre 18 e 19, o ambiente familiar compartilhado com entre 16 e 17, e os fatores ambientais específicos com entre 64 e 66% (Ref.32). Fica claro, nesses estudos, que os fatores biológicos, inclusive genéticos, possuem uma real importância.
Estudos em gêmeos sobre a orientação sexual controlada pela genética são os que mais rendem pistas promissoras |
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ATUALIZAÇÃO (01/02/19): Pesquisadores descobriram que um pequeno grupo de neurônios no cérebro de ratos interfere drasticamente com o comportamento sexual nesses animais. Variações genéticas podem portanto alterar essa região e promover orientações sexuais atípicas, como assexualidade, bissexualidade ou homossexualidade. Para saber mais, acesse: Comportamentos e preferências sexuais em ratos variam ao se ativar ou desativar uma região específica do cérebro
(!) ATUALIZAÇÃO (30/08/19): Estudo de grande escala traz mais evidências corroborando o substancial papel da genética na determinação da orientação homossexual, e descarta a existência de um único "gene gay" (expressão poligênica, como já esperado). Para saber mais, acesse: Genética pode explicar até 25% do comportamento homossexual, mas não existe um "gene gay"
ATUALIZAÇÃO (07/07/20): Dois estudos trazem mais suporte neurobiológico e genético na determinação da orientação sexual
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Baseando-se em múltiplos estudos nessa área, alguns cientistas estimam que 50% das variações nas orientações sexuais humanas na sociedade Ocidental são explicadas por fatores genéticos (Ref.48). Um estudo mais recente sugere 8-25% de contribuição para a determinação do comportamento homossexual (!). No caminho dessa última evidência, outros cientistas acham que os fatores genéticos cumprem apenas um pequeno papel, e que os fatores epigenéticos seriam os mais importantes.
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MONOGAMIA: Aliás, podemos dar outro exemplo associado à sexualidade - mas fora do campo de orientações sexuais - que à primeira vista pode parecer algo determinado pelo construtivismo social mas que também é um comportamento visto em várias outras espécies de animais e geneticamente baseado. A monogamia social, tipicamente caracterizada pela formação de longo prazo de um par (casal) exclusivo (macho e fêmea), aumenta a defesa territorial, e frequentemente o cuidado biparental, e evoluiu numerosas vezes dentro do Reino Animal. Analisando os mecanismos neuromoleculares baseando a monogamia, pesquisadores em um estudo publicado em janeiro de 2019 na PNAS (Ref.59) mostraram que várias espécies, desde peixes até mamíferos e aves, compartilham similares perfis trasncriptômicos conservados durante a evolução dos vertebrados - e reativados de forma convergente - que determinam o comportamento monogâmico.
> Transcriptoma ou Transcritoma refere-se ao conjunto completo de transcritos (RNAs mensageiros, RNAs ribossômicos, RNAs transportadores e os microRNAs) de um dado organismo, órgão, tecido ou linhagem celular, ou seja, o reflexo direto da expressão de genes.
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EPIGENÉTICA
Sim, neste ponto, fica a dúvida: se os achados biológicos estão longe de serem uniformes em todos os casos de homossexualidade dentro da população humana, não pode ser apenas uma grande coincidência todos esses fatores hormonais e genéticos encontrados? E é aqui que entramos com a terceira teoria cada vez mais forte na comunidade científica: os fatores epigenéticos! Para entender os que são os fatores epigenéticos, vamos pegar um exemplo que todos devem estar cansados de ouvir durante a leitura deste artigo: as células embrionárias. Ora, você já parou para pensar como uma única célula ('célula-ovo' ou 'zigoto') formada pela junção do espermatozoide com o óvulo consegue dar origem a diversos tipos de células no nosso corpo, formando tecidos e órgãos? Como isso pode acontecer se todas partilham o mesmo material genético? Ah, aqui é que entra o famoso conceito de 'ativação de genes'.
Por exemplo, quando a zigoto começa a se dividir em novas células, sinalizadores começam a ser disparados com o objetivo de diferenciá-las em um coração ou um pulmão. Esses sinalizadores desligam ou ligam certos genes no material genético de uma porção ou outra de células embrionárias, fazendo cada célula alvo trabalhar tanto para produzir o pulmão quanto para produzir o coração. Assim, dois irmãos gêmeos podem ter o mesmo material genético, mas sinalizadores diversos desligariam ou ativaram certos genes relacionados à homossexualidade, caso esses indivíduos os carreguem, a partir de gatilhos provenientes de fatores ambientais diversos. Portanto, a homossexualidade continuaria tendo causas biológicas, mas não obrigatórias, podendo ser ativadas antes ou depois do nascimento, a qualquer momento, sem que a pessoa tenha controle sobre isso.
Os fatores epigenéticos viriam para tapar os buracos na estrada hormonal e/ou genética da orientação sexual. Por exemplo, isso explicaria o porquê de existirem irmão gêmeos com o mesmo material genético e partilhando do mesmo ambiente gestacional (e portanto estarem sofrendo, supostamente, as mesmas influências hormonais no estágio embrionário) onde um deles é homossexual e o outro heterossexual. A epigenética pode inclusive agir em conjunto com os hormônios andrógenos no ambiente uterino, tornando os cromossomos sexuais (genética) nas células embrionárias ou fetais em desenvolvimento mais ou menos sensíveis a esses hormônios e deflagrando alterações estruturais no cérebro, como proposto mais recentemente por especialistas na área (Ref.60). Além disso, diversos outras observações clínicas de padrões biológicos aparentemente desconexos poderiam ser ligados, ou não, pela epigenética. Entre eles, podemos citar:
1. Um dos fatores, atualmente, mais confiáveis relacionados com a homossexualidade em homens é a intrigante relação entre gays e irmãos mais velhos, algo comprovado, estatisticamente, por vários estudos. Na média, para cada irmão nascido de uma mesma mãe, as chances do próximo ser homossexual aumentam em 33%! Estudos mais recentes encontram um aumento de chance de até 38%, e também encontram relação de menor importância relacionando irmãs mais velhas sobre as chances de homossexualidade nos irmãos mais novos. Baseando-se em uma hipótese de autoimunidade, para cada gravidez, o corpo da mulher vai acumulando anticorpos que poderiam estar atacando uma ou mais proteínas expressas no cérebro masculino durante o desenvolvimento do embrião no ambiente uterino, induzindo modificações na determinação da orientação sexual. O mais curioso é que esse padrão não é visto entre as mulheres homossexuais. (Ref. 5, 43, 50, 51, 55, 61-62).
2. Fracas evidências relacionam aumento do estresse, em certas situações, com a maior incidência de homossexuais entre homens. (Ref.5)
3. Homens homossexuais e mulheres heterossexuais possuem, na média, um igual tamanho proporcional entre os dois lados do hemisfério direito do cérebro. Lésbicas e homens heterossexuais possuem, em média, um hemisfério direito um pouco maior do que o esquerdo (Ref.42).
4. Homens homossexuais parecem ter, na média, pênis um pouco mais longos e mais grossos do que os bissexuais e heterossexuais (Ref.41), e também tendem a ter uma menor massa corporal no nascimento (Ref.55).
5. O cérebro de homens homossexuais respondem diferentemente à fluoxetina, uma tipo de serotonina no corpo. (Ref.39)
6. A resposta de piscar os olhos após um barulho alto em lésbicas e mulheres bissexuais é semelhante à encontrada em homens. (Ref.44)
7. O cérebro de gays e homens heterossexuais respondem diferentemente a dois hormônios sexuais putativos: o AND, encontrado nas secreções sudoríparas das axilas de homens, e o EST, encontrado na urina das mulheres. (Ref.8 e 9)
8. Uma região no cérebro chamada amígdala é mais ativa em homens homossexuais do que em heterossexuais quando ambos os grupos são expostos a um material sexual de excitação. (Ref.45)
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ATUALIZAÇÃO (23/03/19): Estudo mostrou que a orientação sexual de ratos é também dependente de fatores epigenéticos durante o desenvolvimento embrionário (entenda: Alergia pré-natal faz ratos machos se comportarem como fêmeas). Aliás, alergênicos são apenas um dos fatores ambientais atuantes no período fetal que comprovadamente afetam a orientação sexual de ratos na fase adulta. Essas evidências, por si só, já colocam praticamente como certo os fatores biológicos como determinantes principais da homossexualidade nos mamíferos.
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MÚLTPLOS FATORES
Um estudo publicado em 2019 na PNAS (Ref.53) resolveu analisar em conjunto fatores biológicos que mostram contribuir para a determinação da orientação sexual, e encontrou que os homens não-heterossexuais podiam ser categorizados em, no mínimo, quatro subgrupos baseados em biomarcadores estabelecidos, e que esses caminhos de biodesenvolvimento estão diferentemente relacionados à expressão do gênero e aos traços de personalidade. Os biomarcadores analisados, em específico a preferência pelas mãos (destro ou canhoto), ordem fraternal de nascimento e presença familiar de orientação homossexual, representaram mecanismos endócrinos, imunológicos e genéticos, respectivamente. Os quatro subgrupos (I-IV) - reunindo um total de 827 participantes do sexo masculino - foram formados pelos seguintes critérios:
I. Ausência desses biomarcadores;
II. Ordem fraternal de nascimento;
III. Familiaridade;
IV. Preferência pelas mãos;
Enquanto que os resultados mostraram que a maioria dos homens - heterossexuais e não-heterossexuais - foram agrupados no grupo I, os três outros subgrupos foram compostos primariamente de homens não-heterossexuais, deixando explícito a presença de determinantes biológicos específicos para uma orientação homossexual ou bissexual. Nesse sentido, fica sugerido que existem múltiplos caminhos de biodesenvolvimento distintos influenciando a orientação homossexual em homens. Além disso, o estudo também reforçou a influência desses marcadores biológicos na construção do gênero. Enquanto que no grupo I houve uma maior quantidade de conformidade de gênero, no grupo II é onde foi visto um excesso de não-conformidade (exibição de traços mais tipicamente femininos e de agradabilidade).
> Para saber mais sobre a construção de gêneros, acesse: O que é a tal da Ideologia de Gênero?
HIPÓTESES PARA A EVOLUÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE
Como ficou claro neste ponto, existem múltiplas e convincentes linhas de evidências científicas dando suporte para fatores biológicos determinando orientação sexual que desvia da heterossexualidade. A maior parte dos cientistas defende determinismo biológico para a expressão da homossexualidade humana. Aliás, não existem evidências científicas de que a homossexualidade possa ser 'ensinada' ou ascenda por simples influência do ambiente social. De fato, as causas biológicas são as únicas plausíveis, principalmente quando consideramos sua persistência geográfica e temporal/histórica (3).
Outro ponto importante: não existem evidências científicas de que as controversas e repudiadas terapias de conversão (métodos que tentam transformar uma orientação homossexual em heterossexual) são efetivas, pelo contrário: podem ser extremamente prejudiciais para a saúde mental do indivíduo (Ref.54). Essa observação, mais uma vez, reforça o determinismo biológico.
Mas se os fatores biológicos são majoritários e, provavelmente, exclusivos para a determinação da homossexualidade, como explicar a prevalência dessa orientação sexual dentro da nossa espécie? Sim, porque uma preferência pelo mesmo sexo diminui bastante o índice de reprodução dentro de uma população, algo aparentemente contrário a qualquer lógica evolutiva, um paradoxo para ser mais exato (!). Para explicar a persistência da homossexualidade entre humanos modernos (H. sapiens), hipóteses interessantes têm sido formuladas. Entre elas vale a pena citar quatro.
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(!) ATUALIZAÇÃO:
FERTILIDADE
Ao estudar as parentes femininas de um grupo de irmãos homossexuais, um notável estudo de 2009 (Ref.35) encontrou que elas eram muito mais férteis do que a média da população mundial. Nesse sentido, e se os supostos 'genes gays' forem consequência da herança genética de mulheres muito férteis? Ou seja, essas mulheres seriam mantidas através da seleção natural, por fornecerem mais descendentes, mas um 'efeito colateral' seria uma maior chance de gerarem filhos homossexuais. Desse modo, vale a pena gerar homens homossexuais, porque a grande quantidade de filhos e filhas compensaria. Outros estudos similares também têm encontrado uma relação similar e fornecem evidência de suporte à hipótese (Ref.3-4). .
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
Um estudo de 2015 meio que mudou os paradigmas sobre a questão (Ref.37). Apesar de ser um senso comum tanto no meio popular quanto no meio científico de que a homossexualidade sempre fez parte da sociedade humana, inclusive em tempos pré-históricos, não existem evidências suficientes para atestar essa crença, apenas extrapolações em cima de pinturas em cavernas e coisas do tipo. Além disso, certos grupos humanos na atualidade, especialmente tribos mais primitivas, parecem não possuir casos de homossexualidade entre seus indivíduos, pelo menos segundo alguns trabalhos na área. Considerando isso, os pesquisadores envolvidos nesse estudo formularam uma hipótese que relaciona a prevalência da homossexualidade como algo mais moderno (pós-Neolítico) e ligado à estratificação social.
Assim que sociedades mais complexas começaram a emergir, diversas classes econômicas e de poder começaram a surgir. Especialmente no passado, mulheres que mantinham relações sexuais com homens de classes mais altas tinham maior longevidade por causa da maior segurança e recursos, além de terem mais filhos que cresciam saudáveis. Como as classes mais pobres eram as mais populosas, poderia ser vantajoso ter homens homossexuais no meio delas que forçassem as mulheres nessas classes menos avantajadas a terem relações sexuais com homens de classes superiores, aumentando as chances de um maior número de filhos sobreviverem até a idade adulta/adolescente (sexualmente ativos). Por isso, até hoje, uma parte significativa dos homens é homossexual, como herança biológica desse processo evolutivo. De qualquer forma, isso é apenas uma especulação, sem provas convincentes, e, somando-se a isso, novamente não explica a presença também significativa de mulheres homossexuais.
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Baseando-se em múltiplos estudos nessa área, alguns cientistas estimam que 50% das variações nas orientações sexuais humanas na sociedade Ocidental são explicadas por fatores genéticos (Ref.48). Um estudo mais recente sugere 8-25% de contribuição para a determinação do comportamento homossexual (!). No caminho dessa última evidência, outros cientistas acham que os fatores genéticos cumprem apenas um pequeno papel, e que os fatores epigenéticos seriam os mais importantes.
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MONOGAMIA: Aliás, podemos dar outro exemplo associado à sexualidade - mas fora do campo de orientações sexuais - que à primeira vista pode parecer algo determinado pelo construtivismo social mas que também é um comportamento visto em várias outras espécies de animais e geneticamente baseado. A monogamia social, tipicamente caracterizada pela formação de longo prazo de um par (casal) exclusivo (macho e fêmea), aumenta a defesa territorial, e frequentemente o cuidado biparental, e evoluiu numerosas vezes dentro do Reino Animal. Analisando os mecanismos neuromoleculares baseando a monogamia, pesquisadores em um estudo publicado em janeiro de 2019 na PNAS (Ref.59) mostraram que várias espécies, desde peixes até mamíferos e aves, compartilham similares perfis trasncriptômicos conservados durante a evolução dos vertebrados - e reativados de forma convergente - que determinam o comportamento monogâmico.
> Transcriptoma ou Transcritoma refere-se ao conjunto completo de transcritos (RNAs mensageiros, RNAs ribossômicos, RNAs transportadores e os microRNAs) de um dado organismo, órgão, tecido ou linhagem celular, ou seja, o reflexo direto da expressão de genes.
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EPIGENÉTICA
Sim, neste ponto, fica a dúvida: se os achados biológicos estão longe de serem uniformes em todos os casos de homossexualidade dentro da população humana, não pode ser apenas uma grande coincidência todos esses fatores hormonais e genéticos encontrados? E é aqui que entramos com a terceira teoria cada vez mais forte na comunidade científica: os fatores epigenéticos! Para entender os que são os fatores epigenéticos, vamos pegar um exemplo que todos devem estar cansados de ouvir durante a leitura deste artigo: as células embrionárias. Ora, você já parou para pensar como uma única célula ('célula-ovo' ou 'zigoto') formada pela junção do espermatozoide com o óvulo consegue dar origem a diversos tipos de células no nosso corpo, formando tecidos e órgãos? Como isso pode acontecer se todas partilham o mesmo material genético? Ah, aqui é que entra o famoso conceito de 'ativação de genes'.
Por exemplo, quando a zigoto começa a se dividir em novas células, sinalizadores começam a ser disparados com o objetivo de diferenciá-las em um coração ou um pulmão. Esses sinalizadores desligam ou ligam certos genes no material genético de uma porção ou outra de células embrionárias, fazendo cada célula alvo trabalhar tanto para produzir o pulmão quanto para produzir o coração. Assim, dois irmãos gêmeos podem ter o mesmo material genético, mas sinalizadores diversos desligariam ou ativaram certos genes relacionados à homossexualidade, caso esses indivíduos os carreguem, a partir de gatilhos provenientes de fatores ambientais diversos. Portanto, a homossexualidade continuaria tendo causas biológicas, mas não obrigatórias, podendo ser ativadas antes ou depois do nascimento, a qualquer momento, sem que a pessoa tenha controle sobre isso.
Um zigoto, depois de 3 dias, com 8 células formadas após sucessivas divisões; para construir os diferentes tecidos do corpo com o mesmo material genético, fatores epigenéticos entram em ação |
- Para quem estiver interessado em aprofundar mais no tema da epigenética, acesse o artigo: Epigenética, Plasticidade Fenotípica e Evolução Biológica
1. Um dos fatores, atualmente, mais confiáveis relacionados com a homossexualidade em homens é a intrigante relação entre gays e irmãos mais velhos, algo comprovado, estatisticamente, por vários estudos. Na média, para cada irmão nascido de uma mesma mãe, as chances do próximo ser homossexual aumentam em 33%! Estudos mais recentes encontram um aumento de chance de até 38%, e também encontram relação de menor importância relacionando irmãs mais velhas sobre as chances de homossexualidade nos irmãos mais novos. Baseando-se em uma hipótese de autoimunidade, para cada gravidez, o corpo da mulher vai acumulando anticorpos que poderiam estar atacando uma ou mais proteínas expressas no cérebro masculino durante o desenvolvimento do embrião no ambiente uterino, induzindo modificações na determinação da orientação sexual. O mais curioso é que esse padrão não é visto entre as mulheres homossexuais. (Ref. 5, 43, 50, 51, 55, 61-62).
2. Fracas evidências relacionam aumento do estresse, em certas situações, com a maior incidência de homossexuais entre homens. (Ref.5)
3. Homens homossexuais e mulheres heterossexuais possuem, na média, um igual tamanho proporcional entre os dois lados do hemisfério direito do cérebro. Lésbicas e homens heterossexuais possuem, em média, um hemisfério direito um pouco maior do que o esquerdo (Ref.42).
4. Homens homossexuais parecem ter, na média, pênis um pouco mais longos e mais grossos do que os bissexuais e heterossexuais (Ref.41), e também tendem a ter uma menor massa corporal no nascimento (Ref.55).
5. O cérebro de homens homossexuais respondem diferentemente à fluoxetina, uma tipo de serotonina no corpo. (Ref.39)
6. A resposta de piscar os olhos após um barulho alto em lésbicas e mulheres bissexuais é semelhante à encontrada em homens. (Ref.44)
7. O cérebro de gays e homens heterossexuais respondem diferentemente a dois hormônios sexuais putativos: o AND, encontrado nas secreções sudoríparas das axilas de homens, e o EST, encontrado na urina das mulheres. (Ref.8 e 9)
8. Uma região no cérebro chamada amígdala é mais ativa em homens homossexuais do que em heterossexuais quando ambos os grupos são expostos a um material sexual de excitação. (Ref.45)
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ATUALIZAÇÃO (23/03/19): Estudo mostrou que a orientação sexual de ratos é também dependente de fatores epigenéticos durante o desenvolvimento embrionário (entenda: Alergia pré-natal faz ratos machos se comportarem como fêmeas). Aliás, alergênicos são apenas um dos fatores ambientais atuantes no período fetal que comprovadamente afetam a orientação sexual de ratos na fase adulta. Essas evidências, por si só, já colocam praticamente como certo os fatores biológicos como determinantes principais da homossexualidade nos mamíferos.
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MÚLTPLOS FATORES
Um estudo publicado em 2019 na PNAS (Ref.53) resolveu analisar em conjunto fatores biológicos que mostram contribuir para a determinação da orientação sexual, e encontrou que os homens não-heterossexuais podiam ser categorizados em, no mínimo, quatro subgrupos baseados em biomarcadores estabelecidos, e que esses caminhos de biodesenvolvimento estão diferentemente relacionados à expressão do gênero e aos traços de personalidade. Os biomarcadores analisados, em específico a preferência pelas mãos (destro ou canhoto), ordem fraternal de nascimento e presença familiar de orientação homossexual, representaram mecanismos endócrinos, imunológicos e genéticos, respectivamente. Os quatro subgrupos (I-IV) - reunindo um total de 827 participantes do sexo masculino - foram formados pelos seguintes critérios:
I. Ausência desses biomarcadores;
II. Ordem fraternal de nascimento;
III. Familiaridade;
IV. Preferência pelas mãos;
Enquanto que os resultados mostraram que a maioria dos homens - heterossexuais e não-heterossexuais - foram agrupados no grupo I, os três outros subgrupos foram compostos primariamente de homens não-heterossexuais, deixando explícito a presença de determinantes biológicos específicos para uma orientação homossexual ou bissexual. Nesse sentido, fica sugerido que existem múltiplos caminhos de biodesenvolvimento distintos influenciando a orientação homossexual em homens. Além disso, o estudo também reforçou a influência desses marcadores biológicos na construção do gênero. Enquanto que no grupo I houve uma maior quantidade de conformidade de gênero, no grupo II é onde foi visto um excesso de não-conformidade (exibição de traços mais tipicamente femininos e de agradabilidade).
> Para saber mais sobre a construção de gêneros, acesse: O que é a tal da Ideologia de Gênero?
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HIPÓTESES PARA A EVOLUÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE
Como ficou claro neste ponto, existem múltiplas e convincentes linhas de evidências científicas dando suporte para fatores biológicos determinando orientação sexual que desvia da heterossexualidade. A maior parte dos cientistas defende determinismo biológico para a expressão da homossexualidade humana. Aliás, não existem evidências científicas de que a homossexualidade possa ser 'ensinada' ou ascenda por simples influência do ambiente social. De fato, as causas biológicas são as únicas plausíveis, principalmente quando consideramos sua persistência geográfica e temporal/histórica (3).
- (3) Para mais informações, acesse: Homossexualidade: Criminalização, casamento e filhos
Outro ponto importante: não existem evidências científicas de que as controversas e repudiadas terapias de conversão (métodos que tentam transformar uma orientação homossexual em heterossexual) são efetivas, pelo contrário: podem ser extremamente prejudiciais para a saúde mental do indivíduo (Ref.54). Essa observação, mais uma vez, reforça o determinismo biológico.
Mas se os fatores biológicos são majoritários e, provavelmente, exclusivos para a determinação da homossexualidade, como explicar a prevalência dessa orientação sexual dentro da nossa espécie? Sim, porque uma preferência pelo mesmo sexo diminui bastante o índice de reprodução dentro de uma população, algo aparentemente contrário a qualquer lógica evolutiva, um paradoxo para ser mais exato (!). Para explicar a persistência da homossexualidade entre humanos modernos (H. sapiens), hipóteses interessantes têm sido formuladas. Entre elas vale a pena citar quatro.
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(!) ATUALIZAÇÃO:
- Um estudo publicado em 2019 na Nature Ecology & Evolution trouxe uma hipótese alternativa para explicar a persistência do comportamento homossexual entre diversos clados de animais, combinando seleção neutra com seleção positiva. Para mais informações: Nova hipótese evolucionária para o comportamento homossexual
- Um estudo publicado em 2022 mostrou que cupins da espécie Reticulitermes speratus em pares homossexuais mudam os comportamentos para simular o sexo oposto, e que essa habilidade pode ser rastreada até antigos ancestrais desses insetos. Essa 'flexibilidade sexual' parece ser crucial para a evolução e manutenção de pares do mesmo sexo, e parece aumentar a taxa de sobrevivência, pelo menos nesses insetos. Para mais informações: Casais homossexuais de cupins dão pistas sobre a evolução do comportamento homossexual
FERTILIDADE
Ao estudar as parentes femininas de um grupo de irmãos homossexuais, um notável estudo de 2009 (Ref.35) encontrou que elas eram muito mais férteis do que a média da população mundial. Nesse sentido, e se os supostos 'genes gays' forem consequência da herança genética de mulheres muito férteis? Ou seja, essas mulheres seriam mantidas através da seleção natural, por fornecerem mais descendentes, mas um 'efeito colateral' seria uma maior chance de gerarem filhos homossexuais. Desse modo, vale a pena gerar homens homossexuais, porque a grande quantidade de filhos e filhas compensaria. Outros estudos similares também têm encontrado uma relação similar e fornecem evidência de suporte à hipótese (Ref.3-4). .
Essa hipótese é baseada no modelo de seleção sexualmente antagonística, onde um número de fatores genéticos (alvos de seleção positiva) produz um fenótipo específico que quando expresso em fêmeas promovem fecundidade, enquanto expressos em machos promove homossexualidade. Esse modelo assume a existência de um equilíbrio entre o aumento observado de fecundidade em fêmeas da linhagem materna de homossexuais e a reduzida fecundidade de machos homossexuais. Ou seja, a adaptabilidade reduzida de homossexuais é balanceada pelo aumento de fecundidade dos seus parentes do sexo feminino na linhagem materna (aumento na taxa de fecundidade observada em análises empíricas entre 1,3 e 1,5). Em particular, esse modelo prevê um equilíbrio de prevalência de atração sexual pelo mesmo sexo em indivíduos do sexo masculino em torno de 15% (!).
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(!) Considerando homossexualidade e heterossexualidade como dois polos de um contínuo que inclui diferentes graus de bissexualidade, homossexualidade e heterossexualidade, essa prevalência refletiria componentes genéticos determinando não-heterossexualidade.
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Um estudo publicado em 2021 no periódico The Journal of Sexual Medicine (Ref.71), investigando uma amostra de 1050 participantes do sexo masculino de várias partes do mundo e usando questionários online, encontrou que enquanto a prevalência explícita de androfilia (atração sexual e excitação por adultos do sexo masculino) variava de 6,3% a 11,4%, a prevalência implícita de androfilia variou de 14,4% a 17,6%. A prevalência de androfilia (não-heterossexualidade) entre 14 e 18% também corroborou a análise de um subgrupo no estudo constituído apenas de Italianos (139 participantes), e suporta a estimativa prevista pelo modelo genético associado à 'hipótese da fecundidade' (~15%).
HIPÓTESE DO PAI DESEJÁVEL
Pelo menos para machos da nossa espécie, existe uma recente proposta baseada em pleiotropia antagonística que sugere vantagens adaptativas conferidas por "genes de homossexualidade" para homens heterossexuais, no sentido de aumentar as qualidades paternas dos indivíduos e torná-los mais atraentes para mulheres [potenciais parceiras sexuais fêmeas]. A proposta - chamada de Hipótese do Pai Desejável - foi descrita em um estudo observacional e experimental recentemente publicado no periódico Archives of Sexual Behavior (Ref.76). Na primeira etapa do estudo, os pesquisadores analisaram 1632 participantes e encontraram que homens heterossexuais com parentes homossexuais eram mais femininos - com base em medidas auto-reportadas de feminidade e capacidades de carinho e de educar -, do que outros homens. Além disso, outras etapas do estudo revelaram que mulheres percebiam homens mais feminizados como romanticamente mais atraentes e com melhor potencial paterno do que homens mais masculinizados.
Os achados do estudo são consistentes com a idade que seleção sexual para cuidado parental nos machos pode ter envolvido evolução de homossexualidade nos humanos.
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
Um estudo de 2015 meio que mudou os paradigmas sobre a questão (Ref.37). Apesar de ser um senso comum tanto no meio popular quanto no meio científico de que a homossexualidade sempre fez parte da sociedade humana, inclusive em tempos pré-históricos, não existem evidências suficientes para atestar essa crença, apenas extrapolações em cima de pinturas em cavernas e coisas do tipo. Além disso, certos grupos humanos na atualidade, especialmente tribos mais primitivas, parecem não possuir casos de homossexualidade entre seus indivíduos, pelo menos segundo alguns trabalhos na área. Considerando isso, os pesquisadores envolvidos nesse estudo formularam uma hipótese que relaciona a prevalência da homossexualidade como algo mais moderno (pós-Neolítico) e ligado à estratificação social.
Assim que sociedades mais complexas começaram a emergir, diversas classes econômicas e de poder começaram a surgir. Especialmente no passado, mulheres que mantinham relações sexuais com homens de classes mais altas tinham maior longevidade por causa da maior segurança e recursos, além de terem mais filhos que cresciam saudáveis. Como as classes mais pobres eram as mais populosas, poderia ser vantajoso ter homens homossexuais no meio delas que forçassem as mulheres nessas classes menos avantajadas a terem relações sexuais com homens de classes superiores, aumentando as chances de um maior número de filhos sobreviverem até a idade adulta/adolescente (sexualmente ativos). Por isso, até hoje, uma parte significativa dos homens é homossexual, como herança biológica desse processo evolutivo. De qualquer forma, isso é apenas uma especulação, sem provas convincentes, e, somando-se a isso, novamente não explica a presença também significativa de mulheres homossexuais.
Será possível as classes sociais terem participação evolutiva na orientação sexual? |
PROTEÇÃO COMUNITÁRIA
Uma hipótese interessante foi levantada há alguns anos atrás. Nela, indivíduos homossexuais, apesar de trazerem um aparente paradoxo evolutivo por dificultarem a procriação da espécie, teriam outra função dentro da população: defender seus semelhantes, garantindo uma maior prosperidade ao grupo! Por exemplo, um homem ou uma mulher homossexual teria maiores tendências de altruísmo e instinto protetor. Assim, ao invés de formarem uma família com filhos e protegê-la, eles protegeriam outras famílias e seus filhos. Isso aumentaria a segurança dentro da população e aumentaria as chances de sobrevivência dos indivíduos, com consequente aumento da fecundidade, a qual compensaria a perda de fecundidade entre os homossexuais.
Apesar de ser uma lógica que faz sentido, estudos não conseguem mostrar diferenças entre atuais homossexuais e heterossexuais quanto às tendências de maior altruísmo e proteção ao mais próximo, seja criança ou adulto. Pode ser também que em um passado mais distante não ter filhos gerasse maior empatia pelo filho dos outros casais mais do que hoje em dia, por causa das fortes diferenças culturais e sistema de sociedade. Se essa hipótese mostrasse válida, isso explicaria perfeitamente a homossexualidade em homens e mulheres. (Ref.19)
Uma hipótese interessante foi levantada há alguns anos atrás. Nela, indivíduos homossexuais, apesar de trazerem um aparente paradoxo evolutivo por dificultarem a procriação da espécie, teriam outra função dentro da população: defender seus semelhantes, garantindo uma maior prosperidade ao grupo! Por exemplo, um homem ou uma mulher homossexual teria maiores tendências de altruísmo e instinto protetor. Assim, ao invés de formarem uma família com filhos e protegê-la, eles protegeriam outras famílias e seus filhos. Isso aumentaria a segurança dentro da população e aumentaria as chances de sobrevivência dos indivíduos, com consequente aumento da fecundidade, a qual compensaria a perda de fecundidade entre os homossexuais.
Apesar de ser uma lógica que faz sentido, estudos não conseguem mostrar diferenças entre atuais homossexuais e heterossexuais quanto às tendências de maior altruísmo e proteção ao mais próximo, seja criança ou adulto. Pode ser também que em um passado mais distante não ter filhos gerasse maior empatia pelo filho dos outros casais mais do que hoje em dia, por causa das fortes diferenças culturais e sistema de sociedade. Se essa hipótese mostrasse válida, isso explicaria perfeitamente a homossexualidade em homens e mulheres. (Ref.19)
Homossexualidade como fator de proteção extra dentro do grupo? |
SELEÇÃO PRÓ-SOCIAL
Existe uma hipótese mais recente argumentando que a evolução (estabelecimento) da homossexualidade faz parte de um conjunto de traços pró-sociais que sofreram forte seleção positiva para facilitar a integração ou comportamento pró-social na população como um todo (todo o espectro de orientações sexuais) (Ref.66). De fato, um forte fomento para traços comportamentais associados a uma reduzida agressão, aumento de afiliação social, comunicação social e facilitadores de integração social marcaram a evolução dos humanos modernos (H. sapiens), sendo inclusive proposto que a nossa espécie sofreu um processo evolutivo de auto-domesticação. Em vários mamíferos pró-sociais o sexo tem adotado novas funções sociais em contextos de ligação social, reforço social, apaziguamento e brincadeiras/sensações de prazer (redução de tensão), como nos já citados bonobos (P. paniscus) e macacos-japoneses (M. fuscata). Mas não é necessário que o comportamento sexual tenha influência direta na pró-socialidade, apenas que o traço esteja associado à expressão da pró-socialidade (nesse último cenário, o traço homossexual seria neutro, arrastado e fixado junto com outros traços adaptativos). Essa hipótese também corrobora a provável natureza multifatorial das orientações sexuais, incluindo expressão poligênica.
CATALISADOR SEXUAL
Um estudo publicado em 2015 no periódico The Journal of Sexual Medicine (Ref.67) sugeriu uma hipótese evolutiva baseada em dados clínicos de 996 mulheres gêmeas, compreendendo 242 dizigóticos e 256 monozigóticos, e mais 1555 mulheres sem a sua irmã gêmea. Segundo a análise dos dados, foi reforçado que existe um forte fator genético envolvido na orientação sexual e que mulheres masculinizadas - as quais expressavam mais frequentemente uma orientação não-heterossexual - tendiam a ter mais parceiros sexuais. Ou seja, do ponto de vista evolutivo, ter mais mulheres masculinizadas aumentam as chances de procriação, devido ao maior número de parceiros sexuais. Isso ocorre devido ao fato de que, caso um parceiro tenha problemas de fertilidade, continuar com ele irá reduzir as chances de gravidez e, portanto, irá diminuir a natalidade populacional. Caso a troca de parceiros seja mais frequente, as chances de um acasalamento bem sucedido aumentam bastante.
Nesse sentido, mesmo com mais homossexuais, a taxa de procriação das mulheres masculinizadas heterossexuais super-compensariam. Outros estudos nessa mesma direção encontram resultados parecidos para homens homossexuais. No caso dos homens, uma hipótese sem evidências significativas por enquanto propõe que certos genes que controlam a produção de andrógenos durante o desenvolvimento embrionário podem estar em diferentes graus de ativação no código genético. Eles existiriam para limitar a produção de testosterona e impedir que comportamentos muito agressivos fossem gerados nos indivíduos machos, algo que fariam eles serem mais atrativos e tolerados pelas fêmeas. Porém, caso esses genes estivessem totalmente, ou em grande parte, desativados, a produção de testosterona seria mínima, podendo gerar indivíduos homossexuais. Em outras palavras, a orientação sexual seria um efeito colateral de um processo de beneficiamento nas relações heterossexuais. (Ref.30, 31, 38)
Um estudo publicado em 2015 no periódico The Journal of Sexual Medicine (Ref.67) sugeriu uma hipótese evolutiva baseada em dados clínicos de 996 mulheres gêmeas, compreendendo 242 dizigóticos e 256 monozigóticos, e mais 1555 mulheres sem a sua irmã gêmea. Segundo a análise dos dados, foi reforçado que existe um forte fator genético envolvido na orientação sexual e que mulheres masculinizadas - as quais expressavam mais frequentemente uma orientação não-heterossexual - tendiam a ter mais parceiros sexuais. Ou seja, do ponto de vista evolutivo, ter mais mulheres masculinizadas aumentam as chances de procriação, devido ao maior número de parceiros sexuais. Isso ocorre devido ao fato de que, caso um parceiro tenha problemas de fertilidade, continuar com ele irá reduzir as chances de gravidez e, portanto, irá diminuir a natalidade populacional. Caso a troca de parceiros seja mais frequente, as chances de um acasalamento bem sucedido aumentam bastante.
Nesse sentido, mesmo com mais homossexuais, a taxa de procriação das mulheres masculinizadas heterossexuais super-compensariam. Outros estudos nessa mesma direção encontram resultados parecidos para homens homossexuais. No caso dos homens, uma hipótese sem evidências significativas por enquanto propõe que certos genes que controlam a produção de andrógenos durante o desenvolvimento embrionário podem estar em diferentes graus de ativação no código genético. Eles existiriam para limitar a produção de testosterona e impedir que comportamentos muito agressivos fossem gerados nos indivíduos machos, algo que fariam eles serem mais atrativos e tolerados pelas fêmeas. Porém, caso esses genes estivessem totalmente, ou em grande parte, desativados, a produção de testosterona seria mínima, podendo gerar indivíduos homossexuais. Em outras palavras, a orientação sexual seria um efeito colateral de um processo de beneficiamento nas relações heterossexuais. (Ref.30, 31, 38)
> ATUALIZAÇÃO: Um massivo estudo genômico publicado na Nature trouxe mais evidência de suporte para a "hipótese do catalisador sexual". Para mais informações: Estudo genético traz nova evidência sobre a evolução da homossexualidade
Note que nas hipóteses acima expostas, não existe um lugar para os bissexuais. Pode ser que essa orientação sexual seja apenas uma flutuação no meio do caminho, um fenótipo neutro que acabou sendo carregado durante o processo evolutivo (deriva genética?) associado ao fenótipo homossexual. Tocando nesse assunto, existe também uma certa dúvida de classificação: será a orientação um discreto ou um contínuo dentro da sociedade? Em outras palavras, será que existem apenas heterossexuais, bissexuais e homossexuais (espalhamento discreto)? Ou será que existem vários graus que passam entre os extremos da heterossexualidade e da homossexualidade? É incerto dizer, e talvez seria algo mais bem explicado caso o construtivismo social e outros fatores ambientais junto à epigenética fossem somados ao longo do possível espectro. Em outras palavras, o indivíduo seria homossexual ou heterossexual, mas cada um apresentando variações (determinadas por fatores diversos) até se encontrarem no meio (bissexuais).
Nesse sentido, é válido lembrar também que a orientação sexual nos homens tende a ter uma distribuição mais bimodal entre os dois extremos do contínuo, ou seja, uma alta proporção de homens em cada um desses extremos (homossexuais ou heterossexuais). Já as mulheres expressam uma orientação sexual com distribuição mais espalhada entre esses extremos, com uma maior prevalência de bissexualidade do que o visto nos homens. Essa diferença provavelmente espelha os distintos perfis de exposição hormonal (estrógenos-andrógenos) durante o desenvolvimento embrionário (Ref.56).
De qualquer forma, a questão evolutiva pode ser resolvida com algo ainda mais simples, porém sem graça: um subproduto sem importância no percurso evolutivo. Assim como a presença de mamilos nos homens não possui funcionalidade aparente, sendo apenas enfeites evolucionários derivados dos mamilos funcionais nas mulheres, a orientação sexual bissexual seria apenas um efeito colateral.
CONCLUSÃO
No final, fica mais do que óbvio que é uma imprudência pensar na questão da orientação sexual como algo simplesmente causado pelo ambiente social e livre escolha das pessoas, ou mesmo causada por algum tipo de "doutrinação ideológica". Mecanismos neurais, hormonal-pré-natais, genéticos, epigenéticos e imunológicos têm sido fortemente implicados na determinação da orientação sexual (Ref.63-64). Existe muito mais suporte biológico para a expressão da homossexualidade do que alegados fatores sociais (Ref.65), estes últimos os quais até o momento não ganharam uma única evidência científica de suporte.
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Note que nas hipóteses acima expostas, não existe um lugar para os bissexuais. Pode ser que essa orientação sexual seja apenas uma flutuação no meio do caminho, um fenótipo neutro que acabou sendo carregado durante o processo evolutivo (deriva genética?) associado ao fenótipo homossexual. Tocando nesse assunto, existe também uma certa dúvida de classificação: será a orientação um discreto ou um contínuo dentro da sociedade? Em outras palavras, será que existem apenas heterossexuais, bissexuais e homossexuais (espalhamento discreto)? Ou será que existem vários graus que passam entre os extremos da heterossexualidade e da homossexualidade? É incerto dizer, e talvez seria algo mais bem explicado caso o construtivismo social e outros fatores ambientais junto à epigenética fossem somados ao longo do possível espectro. Em outras palavras, o indivíduo seria homossexual ou heterossexual, mas cada um apresentando variações (determinadas por fatores diversos) até se encontrarem no meio (bissexuais).
Nesse sentido, é válido lembrar também que a orientação sexual nos homens tende a ter uma distribuição mais bimodal entre os dois extremos do contínuo, ou seja, uma alta proporção de homens em cada um desses extremos (homossexuais ou heterossexuais). Já as mulheres expressam uma orientação sexual com distribuição mais espalhada entre esses extremos, com uma maior prevalência de bissexualidade do que o visto nos homens. Essa diferença provavelmente espelha os distintos perfis de exposição hormonal (estrógenos-andrógenos) durante o desenvolvimento embrionário (Ref.56).
De qualquer forma, a questão evolutiva pode ser resolvida com algo ainda mais simples, porém sem graça: um subproduto sem importância no percurso evolutivo. Assim como a presença de mamilos nos homens não possui funcionalidade aparente, sendo apenas enfeites evolucionários derivados dos mamilos funcionais nas mulheres, a orientação sexual bissexual seria apenas um efeito colateral.
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CONCLUSÃO
No final, fica mais do que óbvio que é uma imprudência pensar na questão da orientação sexual como algo simplesmente causado pelo ambiente social e livre escolha das pessoas, ou mesmo causada por algum tipo de "doutrinação ideológica". Mecanismos neurais, hormonal-pré-natais, genéticos, epigenéticos e imunológicos têm sido fortemente implicados na determinação da orientação sexual (Ref.63-64). Existe muito mais suporte biológico para a expressão da homossexualidade do que alegados fatores sociais (Ref.65), estes últimos os quais até o momento não ganharam uma única evidência científica de suporte.
Um pai castigar seu filho e tentar impor a ele uma orientação sexual será, além de perda de tempo (4), um sofrimento inútil para ambos os lados, especialmente no castigado injustamente. Já é mais do que evidente que a homossexualidade é algo que foge do controle do querer, a não ser quando você tenta escondê-la devido à pressão social (mas ela continuará lá). Você pode estar culpando seu filho por uma característica que você mesmo passou a ele por via genética, da mesma forma que a cor do cabelo e feições faciais. Além de não fazer sentido algum julgar alguém pela sua orientação sexual, a homossexualidade pode ter sido uma ferramenta importante para a evolução da nossa espécie e por causa de visões muitas vezes religiosas e ignorantes, lançamos violência ao cerne da nossa própria estrutura social.
Se pela ética é completamente errado o preconceito sexual considerando esse último como fruto exclusivo do construtivismo social, imagine a realidade onde os fatores biológicos são provavelmente os reais determinantes, como defendido pelo consenso científico - e especialmente quando não existem evidências científicas que defendam o contrário. Tratar a homossexualidade como um pecado ou coisas do tipo é algo cada vez mais ilógico. E como disse o próprio Papa Francisco:"Os gays não devem ser marginalizados, mas integrados à sociedade. Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?" Muitos se dizem religiosos, mas atiram a primeira pedra sem nem ao menos pensar por um segundo antes. O preconceito sexual não é 'Deus' falando, apenas o ódio. Com religião, ou não, um humano é um humano, e amor é amor.
Artigo relacionado: O que é a tal da ideologia de gênero?
Artigo complementar: Homossexualidade: criminalização, casamento e filhos
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
- (4) Não existem evidências científicas de que a homossexualidade possa ser 'ensinada' ou ascenda por simples influência do ambiente social. Para mais informações, acesse: Homossexualidade: Criminalização, casamento e filhos
Se pela ética é completamente errado o preconceito sexual considerando esse último como fruto exclusivo do construtivismo social, imagine a realidade onde os fatores biológicos são provavelmente os reais determinantes, como defendido pelo consenso científico - e especialmente quando não existem evidências científicas que defendam o contrário. Tratar a homossexualidade como um pecado ou coisas do tipo é algo cada vez mais ilógico. E como disse o próprio Papa Francisco:"Os gays não devem ser marginalizados, mas integrados à sociedade. Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?" Muitos se dizem religiosos, mas atiram a primeira pedra sem nem ao menos pensar por um segundo antes. O preconceito sexual não é 'Deus' falando, apenas o ódio. Com religião, ou não, um humano é um humano, e amor é amor.
Artigo relacionado: O que é a tal da ideologia de gênero?
Artigo complementar: Homossexualidade: criminalização, casamento e filhos
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