Deve-se evitar dormir logo após um traumatismo craniano?
- Artigo atualizado no dia 10 de agosto de 2020 -
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É bem comum ouvirmos que nunca se pode deixar uma pessoa dormir depois uma forte concussão na cabeça, no caso de ter ocorrido um Traumatismo Crânio-Encefálico (TBI). Supostamente, se deixarmos a pessoas dormir, ela poderá entrar em um coma. Mas será que isso é verdade? Além disso, é seguro voltar a realizar atividade que exigem alto nível de reflexo - como dirigir - tão logo os sintomas da concussão sejam resolvidos?
O Traumatismo Crânio-Encefálico é causado por alguma ação externa que causa uma repentina lesão no tecido cerebral. Só nos EUA, entre 1,6 e 3 milhões casos de TBI são estimados de ocorrerem todos os anos. Aqui no Brasil, temos mais de 150 mil casos pelo mesmo período. As causas podem incluir:
1. Forte pancada na cabeça, resultado de uma acidente de carro ou ataque violento, por exemplo. O traumatismo pode ser fechado (quando não ocorre ruptura do crânio) ou aberto (quando ocorre ruptura do crânio - através de um tiro, por exemplo);
2. Rápida desaceleração ou aceleração, onde não há golpe direto no crânio, mas o cérebro ´sacode´ violentamente dentro da cabeça, causando lesões em veias e fibras conectivas. Acidentes de carro quando a pessoa está com o cinto de segurança entram nessa categoria;
3. Mudança brusca de pressão no ambiente, onde bolhas de ar podem ser formadas no sangue e causarem danos no cérebro. Mal funcionamento de locais com ar pressurizado, como em aviões, podem ser a causa;
Independentemente da causa, lesões ocorrem no cérebro, e podem variar em sua gravidade dependendo da força causal do dano. Os traumas, então, podem ser classificados em suaves, moderados e graves. Se houve, ou não, perda de consciência inferior a 30 minutos, estamos, provavelmente, na faixa do suave/moderado. Caso esteja acima de 30 minutos, estamos, provavelmente, no quadro mais grave. Mas não é necessário existir um desmaio para o diagnóstico da gravidade da situação. Após a perda de consciência, ou não, os seguintes sintomas podem vir seguidos, em maior ou menor intensidade:
1. Problemas de memória;
2. Cansaço;
3. Dores de cabeça;
4. Tontura;
5. Mudanças cognitivas e problemas de concentração;
6. Depressão;
7. Irritabilidade, e outras mudanças de humor/comportamento;
8. Problemas durante o sono;
9. Visão dupla;
10. Sensibilidade à luz;
Os sintomas mais comuns estão indicados em 2, 5, 7 e 8. Além dos listados, outros podem surgir, em diferentes graus, dependendo do trauma infringido. Esses sintomas não necessariamente significam que os danos estão se complicando, apenas fazem parte, na maioria das vezes, do processo normal de recuperação do cérebro. Eles podem durar dias, semanas ou meses, sendo comum a total recuperação entre 3 e 6 meses. A maior parte dos TBI ocorrem em jovens entre 15 e 24 anos, e cerca de 80% deles são suaves. Nessa faixa de idade, claro, atividades de risco, sem a mínima análise responsável das consequências são bem frequentes.
AFINAL, PODE-SE DORMIR OU NÃO?
Bem, mas a pergunta inicial ainda não foi respondida: é perigoso deixar uma pessoa dormir depois de uma forte contusão na cabeça ou outros quadros típicos de uma TBI? Não, não existe base científica por trás dessa preocupação. Normalmente, uma pessoa com TBI se sentirá muito cansada (um dos principais sintomas listados) e tenderá a querer dormir com mais frequência. Na verdade, o correto é priorizar muito o descanso do paciente, evitando que ele vá trabalhar ou fazer atividades exaustivas depois do acidente.
Pesquisas já mostraram que o tempo de recuperação pode dobrar ou triplicar caso o descanso não seja priorizado. O cansaço é justamente um sintoma gerado pelo corpo para induzir a pessoa a buscar um descanso restaurador e diminuir o estresse, este o qual só piora o prognóstico. Se uma pessoa dormir depois de uma forte contusão, isso é até benéfico, independentemente se foi após uma perda de consciência ou não. Mas procure um atendimento médico o mais rápido possível para um diagnóstico do trauma sofrido e recomendações de tratamento indicados pelo profissional de saúde. Evitar o uso de bebidas alcoólicas e drogas também é fundamental para uma melhor recuperação do paciente.
Não existe problema algum em deixar uma pessoa dormir após uma concussão. A história do "risco de coma" é pura lenda. Porém, é importante tomar cuidado para não voltar a dirigir - ou realizar outras tarefas que existem alto nível de reflexo - muito cedo após uma concussão, mesmo na ausência de sintomas.
Artigo relacionado: Como amenizar, naturalmente, uma dor de cabeça?
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
É bem comum ouvirmos que nunca se pode deixar uma pessoa dormir depois uma forte concussão na cabeça, no caso de ter ocorrido um Traumatismo Crânio-Encefálico (TBI). Supostamente, se deixarmos a pessoas dormir, ela poderá entrar em um coma. Mas será que isso é verdade? Além disso, é seguro voltar a realizar atividade que exigem alto nível de reflexo - como dirigir - tão logo os sintomas da concussão sejam resolvidos?
O Traumatismo Crânio-Encefálico é causado por alguma ação externa que causa uma repentina lesão no tecido cerebral. Só nos EUA, entre 1,6 e 3 milhões casos de TBI são estimados de ocorrerem todos os anos. Aqui no Brasil, temos mais de 150 mil casos pelo mesmo período. As causas podem incluir:
1. Forte pancada na cabeça, resultado de uma acidente de carro ou ataque violento, por exemplo. O traumatismo pode ser fechado (quando não ocorre ruptura do crânio) ou aberto (quando ocorre ruptura do crânio - através de um tiro, por exemplo);
2. Rápida desaceleração ou aceleração, onde não há golpe direto no crânio, mas o cérebro ´sacode´ violentamente dentro da cabeça, causando lesões em veias e fibras conectivas. Acidentes de carro quando a pessoa está com o cinto de segurança entram nessa categoria;
3. Mudança brusca de pressão no ambiente, onde bolhas de ar podem ser formadas no sangue e causarem danos no cérebro. Mal funcionamento de locais com ar pressurizado, como em aviões, podem ser a causa;
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Independentemente da causa, lesões ocorrem no cérebro, e podem variar em sua gravidade dependendo da força causal do dano. Os traumas, então, podem ser classificados em suaves, moderados e graves. Se houve, ou não, perda de consciência inferior a 30 minutos, estamos, provavelmente, na faixa do suave/moderado. Caso esteja acima de 30 minutos, estamos, provavelmente, no quadro mais grave. Mas não é necessário existir um desmaio para o diagnóstico da gravidade da situação. Após a perda de consciência, ou não, os seguintes sintomas podem vir seguidos, em maior ou menor intensidade:
1. Problemas de memória;
2. Cansaço;
3. Dores de cabeça;
4. Tontura;
5. Mudanças cognitivas e problemas de concentração;
6. Depressão;
7. Irritabilidade, e outras mudanças de humor/comportamento;
8. Problemas durante o sono;
9. Visão dupla;
10. Sensibilidade à luz;
Os sintomas mais comuns estão indicados em 2, 5, 7 e 8. Além dos listados, outros podem surgir, em diferentes graus, dependendo do trauma infringido. Esses sintomas não necessariamente significam que os danos estão se complicando, apenas fazem parte, na maioria das vezes, do processo normal de recuperação do cérebro. Eles podem durar dias, semanas ou meses, sendo comum a total recuperação entre 3 e 6 meses. A maior parte dos TBI ocorrem em jovens entre 15 e 24 anos, e cerca de 80% deles são suaves. Nessa faixa de idade, claro, atividades de risco, sem a mínima análise responsável das consequências são bem frequentes.
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AFINAL, PODE-SE DORMIR OU NÃO?
Bem, mas a pergunta inicial ainda não foi respondida: é perigoso deixar uma pessoa dormir depois de uma forte contusão na cabeça ou outros quadros típicos de uma TBI? Não, não existe base científica por trás dessa preocupação. Normalmente, uma pessoa com TBI se sentirá muito cansada (um dos principais sintomas listados) e tenderá a querer dormir com mais frequência. Na verdade, o correto é priorizar muito o descanso do paciente, evitando que ele vá trabalhar ou fazer atividades exaustivas depois do acidente.
Pesquisas já mostraram que o tempo de recuperação pode dobrar ou triplicar caso o descanso não seja priorizado. O cansaço é justamente um sintoma gerado pelo corpo para induzir a pessoa a buscar um descanso restaurador e diminuir o estresse, este o qual só piora o prognóstico. Se uma pessoa dormir depois de uma forte contusão, isso é até benéfico, independentemente se foi após uma perda de consciência ou não. Mas procure um atendimento médico o mais rápido possível para um diagnóstico do trauma sofrido e recomendações de tratamento indicados pelo profissional de saúde. Evitar o uso de bebidas alcoólicas e drogas também é fundamental para uma melhor recuperação do paciente.
O sono e descanso são essenciais para a recuperação de um traumatismo encéfalo-craniano |
Essa história do "dormir depois de uma concussão leva ao coma" deve ter surgido dos raros casos conhecidos como 'Intervalo de Lucidez'. Neste, a pessoa sofre um desmaio provocado pela TBI, perdendo a consciência, e, logo depois, acorda se sentindo muito bem. Mas, do nada, perde novamente a consciência por causa de hemorragias internas no cérebro. Nessa situação, é preciso sair correndo para um hospital Pronto-Socorro, porque isso é um quadro grave. Mas a pessoa não vai 'dormir' ou sentir-se sonolenta, ela subitamente desmaia (observação: esse tipo de desmaio não significa que a pessoa entrou em coma). Aliás, a proibição de dormir logo após pancadas fortes na cabeça, ou incidentes do tipo nessa parte do corpo, nem mesmo é mencionado nos guias de saúde.
QUANDO VOLTAR A DIRIGIR?
DIAGNÓSTICO DE GRAVIDADE
CONCLUSÃO
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QUANDO VOLTAR A DIRIGIR?
Por outro lado, pessoas que sofreram concussão devem ficar um tempo sem dirigir mesmo após a resolução dos sintomas, segundo sugere estudo publicado no periódico Neurology (Ref.14).
No estudo preliminar em questão, pesquisadores da Universidade da Georgia, em Atenas, mostraram que mesmo após todos os sintomas terem desaparecido, pessoas que tiveram uma contusão levam ainda mais tempo para recuperar complexos reflexos de reação. Foram analisados 28 estudantes universitários com idade média de 20 anos, todos com carteira de motorista e incluindo 14 com concussões e 14 sem concussões. Dois cenários foram simulados computacionalmente para as análises: um onde os participantes tinham que frear rapidamente com uma mudança repentina de sinal (verde para amarelo), e outro onde o acionamento do freio tinha que ser feito rápido para evitar colidir com uma criança atravessando a rua repentinamente.
No caso do sinal, os participantes com concussões gastaram 0,24 segundos a mais, na média, para reagirem (~4,7 metros de distância percorrida a mais antes do freio efetivo). No caso da criança, uma média de 0,06 segundos a mais (~1 metro). Estudos de maior porte precisam ser agora feitos para confirmar os achados.
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DIAGNÓSTICO DE GRAVIDADE
Só nos EUA, cerca de 3,8 milhões de concussões ligadas ao esporte são tratados por especialistas na área. Porém, os médicos ainda não conseguem saber com precisão o nível de gravidade ou evolução dos danos traumáticos após uma concussão. Um exame de sangue eficaz nesse sentido, além de melhorar os prognósticos, pode impedir que atletas mintam sobre seu estado físico apenas para poder voltar mais rapidamente a jogar, ou que pessoas voltem muito rapidamente a realizar tarefas que podem ser prejudicadas pelos efeitos de maior prazo da concussão.
Em 2017, pesquisadores do National Institute of Nursing Research in Bethesda, Maryland, reportaram que um teste de sangue poderia potencialmente predizer quando um jogador que sofre de concussão (danos no cérebro seguidos de um traumatismo craniano, normalmente havendo perda de consciência) poderá voltar para os treinos e campo. De acordo com o estudo associado (Ref.12), foi descoberto uma proteína, conhecida como 'tau', que fica presente em maiores níveis 6 horas após a concussão naqueles que demoram mais tempo para se recuperar totalmente. Obtendo-se uma relação entre tempo de recuperação e a quantidade dessa proteína no sangue, acaba sendo possível realizar um teste sanguíneo procurando a tau e seus níveis de concentração.
Já um estudo mais recente, publicado no periódico Journal of Neurotrauma (Ref.12), trouxe mais uma proteína - a catepsina B, bem estudada e importante para o desenvolvimento e funções do cérebro - que pode ser usada como um biomarcador (no caso, quantificação no sangue junto com sua protease de cisteína) para assinaturas de progressão de lesões traumáticas no cérebro.
Já um estudo mais recente, publicado no periódico Journal of Neurotrauma (Ref.12), trouxe mais uma proteína - a catepsina B, bem estudada e importante para o desenvolvimento e funções do cérebro - que pode ser usada como um biomarcador (no caso, quantificação no sangue junto com sua protease de cisteína) para assinaturas de progressão de lesões traumáticas no cérebro.
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CONCLUSÃO
Não existe problema algum em deixar uma pessoa dormir após uma concussão. A história do "risco de coma" é pura lenda. Porém, é importante tomar cuidado para não voltar a dirigir - ou realizar outras tarefas que existem alto nível de reflexo - muito cedo após uma concussão, mesmo na ausência de sintomas.
É bom também lembrar que nem toda concussão na cabeça irá resultar em uma TBI. Como ainda não existem exames que deem um diagnóstico rápido e confiável de lesões de danos no cérebro, apenas a observação do paciente pelo médico irá ser capaz de diagnosticar a extensão do trauma sofrido. Ressonâncias magnéticas também podem ajudar, mas não conseguem distinguir qualquer tipo de dano cerebral, especialmente se esse último for mínimo. Sempre procure um hospital depois de uma forte pancada na cabeça, especialmente se houver um desmaio ou se o atingido for uma criança. Algo que parece não ter tido maiores consequências pode se tornar um sério problema depois, principalmente se for seguido dos sintomas listados neste artigo.
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Artigo relacionado: Como amenizar, naturalmente, uma dor de cabeça?
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
- http://www.mentalhealth.va.gov/docs/tbi.pdf
- http://www.cdc.gov/traumaticbraininjury/recovery.html
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19968047
- http://www.cenepe.com.br/duvidas-frequentes/saudes-doencas/traumatismo-cranioencefalico/
- http://www.nhs.uk/conditions/concussion/Pages/Introduction.aspx
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26929626
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23099139
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23330993
- http://www.nhs.uk/conditions/Subdural-haematoma/Pages/Introduction.aspx
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4453625/
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3359788/
- http://www.sciencemag.org/news/2017/01/blood-test-could-predict-recovery-time-after-concussions
- https://www.liebertpub.com/doi/10.1089/neu.2019.6537
- https://aanfiles.blob.core.windows.net/aanfiles/2b84b941-8b91-4b3c-837f-c02943b67697/EMBARGOED%20Driving%20Reaction%20Time%20Versus%20Computerized%20Reaction%20Deficits%20Following%20Concussion%20Implications%20for%20Return%20to%20Driving%20Recommendations%20-%20Lempke%20titled.pdf