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Por que homens são atraídos por mulheres com seios e bunda grandes e cintura fina?


- Atualizado no dia 23 de setembro de 2022 -

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          Antes de começarmos a explorar o assunto, é importante realçar que a pergunta no título deste artigo não sugere uma regra e, sim, uma generalização. Existem, claro, diferentes gostos quando o assunto é afinidade física, e o mesmo se aplica à tão problemática questão do tamanho peniano (1) ou do corpo masculino "sarado" - ambos traços associados a atratividade e seleção sexuais. Além disso, entre os humanos modernos (Homo sapiens), características intelectuais e sociáveis são certamente um fator muito mais importante na formação de um casal estável ou estabelecimento de um relacionamento amoroso.

         Aqui iremos apenas pegar um estereótipo funcional e [tentar] destrinchá-lo cientificamente. Outro ponto a ser mencionado é que não existe um consenso científico sobre a questão e iremos apenas abordar algumas das principais hipóteses. Por último, o  'seios e bunda grandes e cintura fina' é equivalente ao senso comum de corpo feminino "violão", ou o famoso '90-60-90'. E, para facilitar  a compreensão, o texto foi dividido em três partes. Na primeira e na segunda, será explorada a questão da fertilidade, saúde e status reprodutivo, e, na terceira parte, será analisado o ato sexual em si. Todas as hipóteses apresentadas são englobadas na Teoria de Atração Sexual, e não são necessariamente excludentes entre si.



 
   SAÚDE, FERTILIDADE E REPRODUÇÃO

          Começando pelo tamanho do busto, atratividade sexual do sexo feminino tende a aumentar linearmente com o tamanho das mamas, mas grandes mamas não parecem ser julgadas significativamente mais atrativas do que mamas de tamanho médio (Ref.36). 


          Já de início, temos que esclarecer uma ideia popular muito disseminada. É comumente e erroneamente alegado que seios (mamas) grandes produzem mais leite do que mamas pequenas ou de tamanho médio. Embora à primeira vista pareça que quanto maior a mama mais leite pode ser produzido, isso passa longe da realidade. No geral, a produção de leite não depende do tamanho das mamas. Mamas grandes só são grandes (quando naturais, claro!) porque acumulam mais gordura (tecido adiposo) e isso não interfere significativamente com a capacidade de lactação caso a mulher esteja se alimentando adequadamente. 

Figura 1. Seios [mamas] maiores não espelham necessariamente maior produção de leite

          A produção de leite é definida durante a gravidez, onde o tecido mamário responsável pela liberação desse líquido torna-se bem desenvolvido nesse período (por isso o aumento das mamas durante a gravidez). Problemas na lactação são tipicamente indiferentes ao tamanho das mamas. Por outro lado, existe uma significativa parcela da população feminina (aproximadamente 5%) afetada por um desenvolvimento insuficiente das glândulas mamárias (hipoplasia glandular); essa condição é fortemente associada com a síndrome das mamas tuberosas, a qual é frequentemente caracterizada por um volume pequeno das mamas (Ref.39). De fato, mulheres com mamas muito pequenas antes da gravidez amamentam com frequência média >2 vezes menor antes da primeira gravidez do que mulheres com mamas maiores (Ref.39).

          De qualquer forma, tanto mulheres quanto homens em diferentes culturas associam mamas maiores com uma maior eficiência reprodutiva, eficiência de lactação, desejo sexual e até mesmo promiscuidade (Ref.39). Em outras palavras, mamas maiores parecem sinalizar benefícios reprodutivos e estão associadas a atração sexual. Estariam mamas maiores sinalizando características biológicas vantajosas no sentido de atrair investimento reprodutivo masculino?

         Altos níveis dos hormônios estradiol e progesterona no corpo são um bom indicativo de que a mulher terá mais chances de engravidar. Em alguns estudos, pesquisadores têm mostrado que mulheres com grandes mamas e baixa razão entre a cintura e o quadril (ou seja, "cintura fina e bunda grande") apresentam quantidades maiores dos dois hormônios. Em relação ao estradiol, a diferença tende a ser ainda maior, com uma média 26% maior desse estrógeno no período não-menstrual, e 37% maior durante o ciclo menstrual. Nesse sentido, mulheres com um perfil fenotípico "90-60-90" sinalizariam um status de maior fertilidade, e machos com essa preferência teriam começado a ser selecionados (seleção intrassexual) durante o percurso evolucionário humano. 

Figura 2. Ishtar, por exemplo, Deusa associada ao amor, guerra, fertilidade e sexualidade na Mesopotâmia, há milhares de anos atrás, possui um perfil de baixa razão entre cintura e quadril, e seios avantajados; claro, isso pode apenas ser um fruto de influências exclusivamente culturais, mas não deixa de ser um evidência.

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> Quadris com aspecto mais largo - pronunciados também com uma bunda/nádegas mais recheada - indicam que o bebê, na hora do nascimento, irá encontrar uma passagem mais larga para passar, ou seja, mulheres com esse fenótipo teriam um menor risco de complicações durante o parto. De fato, a preferência dos homens por uma baixa razão cintura/quadril já é bem estabelecida por inúmeros estudos, onde a razão 0,7 é a mais atraente para a maioria dos homens em diferentes culturas e sociedades, apesar de relevantes exceções (Ref.37). E quanto maior o quadril (ou a percepção dimensional do quadril), menor essa razão.

> É relevante apontar que estatuetas pré-históricas frequentemente retratavam corpos femininos obesos. É incerto o real significado dessas estatuetas, que persistiram ao longo do Paleolítico. Pode ser um padrão de beleza ou de fertilidade cultuado ou mesmo adoração a uma divindade. Fica a sugestão de leitura para mais informações: 
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           Os estrógenos (hormônios femininos, como o estradiol) causam o típico padrão feminino de distribuição de gordura corporal, ou seja, concentrando gordura nas mamas, nádegas e coxas. Durante os anos reprodutivos (gravidez e lactação), as mulheres ganham uma deposição adicional de gordura nessas partes do corpo e também na pélvis. Nesse sentido, é também proposto que a deposição de gordura ao redor das glândulas mamárias pode ter evoluído em concerto com a maior reserva de gordura glútea/femoral para suportar o requerimento alimentar extra durante a reprodução (gasto energético desviado para o desenvolvimento fetal e a produção de leite) sem comprometer o equilíbrio postural bípede e sem causar danos à saúde (ex.: gordura visceral). E quanto maior a deposição adiposa, maiores seriam as chances de uma prole saudável. Nesse sentido, maiores mamas, nádegas e coxas ("pernas torneadas") podem também sinalizar maior status de reserva nutricional - e consequente maior potencial reprodutivo - para os humanos machos, ou seja, um atrativo sexual extra (Ref.44-45).

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> Interessante também mencionar que o notável acúmulo de gordura nas nádegas femininas e masculinas - traço único entre os primatas não-extintos - podem ter evoluído também na linhagem evolutiva dos homininis como resposta ao ambiente árido e quente das savanas Africanas (Ref.45). O acúmulo de gordura em uma parte específica do corpo reduz a necessidade de acúmulo adiposo subcutâneo no restante do corpo, auxiliando os mecanismos de termorregulação corporal (1). Essa estratégia seria similar à presença de corcovas nos camelos (2).  Em mamíferos de clima frio, o acúmulo subcutâneo de gordura é tipicamente ao redor de todo o corpo, ajudando também a reduzir a perda de calor. 

Para mais informações:

> Nesse contexto, função de reserva energética para as mamas e nádegas é proposta de ter emergido primeiro, com a função sexual emergindo de forma secundária na linhagem evolutiva associada aos humanos. 
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         Em relação específica ao busto, existe também a possibilidade de muitas mulheres terem mamas grandes como forma de "fingir" uma fertilidade sempre alta. Ao contrário de outros primatas modernos fêmeas (3), os quais têm as mamas aumentadas somente durante a ovulação, fêmeas na nossa espécie desenvolvem uma significativa deposição de massa adiposa nas mamas durante a puberdade, antes mesmo da primeira gravidez ou da possibilidade de gravidez efetiva. Humanos (ou outros ancestrais na linhagem evolutiva) podem ter começado a expressar mamas com grande volume como uma tentativa de atrair a atenção de um maior número de potenciais parceiros masculinos para investimento reprodutivo mesmo quando não estivessem realmente férteis. E, como já mencionado, as mamas geralmente aumentam significativamente durante a gravidez e durante a amamentação, ou seja, se as mulheres têm mamas sempre grandes, isso passa a impressão de alta fertilidade, já que parecem estar sempre grávidas e com filhos. 

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(3) As glândulas mamárias nas fêmeas humanas se desenvolvem dramaticamente durante a puberdade, e acumulando tipicamente grande quantidade de tecido adiposo, bem antes da gravidez e da lactação, permanecendo com grande volume ao longo de toda a vida, mesmo além do período reprodutivo. Essa característica é única não apenas entre os primatas como também entre todos os mamíferos conhecidos. Um estudo publicado em 2021 no periódico Biological Reviews (Ref.40) propôs que as mamas anormalmente maiores dos humanos evoluíram há mais de 1,2 milhão de anos, emergindo provavelmente na espécie Homo ergaster, primeiro como subproduto de vários novos traços que emergiram no gênero Homo, como aumento do tecido adiposo subcutâneo (resposta às demandas termorregulatórias e de armazenamento energético, especialmente após a perda de densa pelagem corporal), desenvolvimento de um grande cérebro, e aumento dos níveis de estradiol (devido ao aumento de tecido adiposo). Com o tempo, mamas maiores e de tamanhos diferenciados teriam sido co-optadas para outras funções, como atrair machos e indicar condições biológicas (sinalização honesta ou desonesta).

> As mamas se desenvolvem ao longo das "linhas de leite embrionárias", e em indivíduos com polimastia, mais de um par de glândulas mamárias podem se desenvolver nessas regiões e persistir além do período fetal, incluindo potencial desenvolvimento de mamilos e aréolas extras. Algumas mulheres com polimastia podem inclusive produzir leite na região axilar durante a lactação! Para mais informações, acesse: Tecido mamário acessório: O que é a polimastia?

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         Mamas maiores podem também ser mais atrativas por sinalizarem melhor a idade biológica de uma mulher: quanto mais a idade avança, mais as mamas tendem a 'cair', ou sejam, se tornam menos firmes. Durante a evolução humana, machos podem ter começado a selecionar fêmeas com mamas maiores e firmes indicando que a menopausa (4) ainda está longe, ou seja, fêmeas com um maior potencial e capacidade reprodutiva a longo prazo. Mamas pequenas dificultariam esse tipo de análise fenotípica, atraindo, portanto, menor atenção dos machos.

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(4) Apesar da longa longevidade, mulheres perdem a capacidade reprodutiva relativamente muito cedo (em torno de 45 anos). Três espécies conhecidas possuem menopausa muito adiantada: nós (H. sapiens), orcas (Orcinus orca) e as baleias-pilotos-de-aleta-curta (Globicephala macrorhynchus). A Hipótese da Avó pode explicar essa curiosa - e a princípio contraintuitiva - característica: Por que as mulheres passam pela menopausa e tão cedo na vida?
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          Em um estudo publicado em 2011 no periódico Aesthetic Plastic Surgery (Ref.23), analisando as preferências de >34 mil participantes (49,1% homens) em relação às proporções de um corpo feminino (Fig.3), encontrou que a maioria achava mais atrativo um corpo com um índice de massa corporal (IMC) baixo ou médio, um quadril de tamanho médio, um busto de tamanho médio, pernas mais longas e uma cintura fina. Corroborando estudos prévios, uma razão cintura/quadril de ~0,7 era a mais comumente preferida. Importante mencionar que em uma comparação direta entre busto pequeno e busto grande, os participantes preferiam 3 vezes mais um busto grande, e, entre os homens, 45% preferiam um busto grande.

      
         Relativo à preferência por "bundas grandes" (ou um quadril grande) e uma cintura fina, temos a também a questão da saúde. Todos devem já estar cansados de saber que o acúmulo de gordura na barriga, a razão alta entre circunferência da cintura e circunferência dos quadris, e o índice de massa corporal elevado (no caso de obesidade) são fortes indicadores de maior risco para a vários problemas de saúde, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Aliás, pesquisadores recentemente recomendaram substituir o Índice de Massa Corporal (IMC) pela razão cintura/quadril como um indicador mais confiável de "peso saudável" (Ref.41). Ou seja, ter a cintura mais fina e quadris maiores, mas sem a presença de obesidade, sinaliza boa saúde, e perfeitamente se encaixa com a nossa mulher "violão" retratada neste artigo. E quanto maior a massa das nádegas, menor a razão cintura/quadril. Uma mulher mais saudável tende a suportar uma uma gravidez também mais saudável, e pode viver mais, gerando potencialmente mais descendentes. Além disso, uma maior razão cintura/quadril (ex.: 0,9) está associada com maior prevalência de anovulação nas mulheres, contribuindo para infertilidade e desordens reprodutivas (Ref.30) De fato, como mencionado, existe uma maior preferência por mulheres com uma baixa razão cintura:quadril (~0,7). 

             A preferência por uma menor razão cintura/quadril é também observada ao longo de diferentes culturas e países. Por exemplo, em um estudo publicado em 2020 no periódico South African Journal of Clinical Nutrition (Ref.29), tanto homens quanto mulheres em uma vila rural de Botsuana, um país na África Central, mostraram preferência por um corpo feminino com menor percentual de gordura corporal e uma razão cintura/quadril de 0,81. Na maioria das culturas e etnias, preferência é sempre por uma baixa razão cintura-quadril em torno de 0,7, com variação entre 0,5 e 0,8 (Ref.26). O mesmo padrão de preferência foi encontrado por um estudo de 2012 analisando a tribo de Yali, um povo nativo que vive relativamente isolado na Papua-Nova Guiné: a maior parte dos homens mostraram preferência por mulheres com uma razão de 0,6 (Ref.31). Por fim, em um estudo de 2018 analisando três vilas em regiões rurais da Nicarágua cujas populações eram expostas a diferentes níveis de televisão, a preferência masculina por um corpo feminino com a razão 0,7 novamente persistiu independentemente do consumo de 'mídia ocidental' (Ref.38).

          Uma bunda mais recheada  pode ter também um impacto indireto na atratividade feminina. Em um estudo publicado em 2015 no periódico Evolution and Human Behavior (Ref.24), pesquisadores chegaram à conclusão que a curvatura da lombar (visão de perfil) representa um importante fator de atratividade feminina. Para ser mais exato, o ângulo de curvatura que mais parece excitar os homens é em torno de 45°, na região da terceira à última vértebra lombar, área responsável por absorver e transmitir o peso do corpo. E qual é a lógica por trás disso? Os autores do estudo argumentaram que essa inclinação desloca o centro de massa para os quadris durante a gravidez, esta a qual puxa o centro de gravidade para a frente. Mulheres com uma coluna mais reta sofrem um aumento danoso no torque dos quadris, induzindo a riscos de fatiga muscular e lesões na parte inferior da coluna (lombar). A barriga da grávida vai crescendo e jogando o corpo para frente, enquanto os quadris mais inclinados jogam o corpo para trás, contrabalanceando e equilibrando a massa corporal. É plausível também argumentar que quanto maior a bunda, mais a curvatura da lombar fica evidente - atraindo mais a atenção masculina - e é proposto que a maior massa nas nádegas contribui de forma importante na adição de mais contrapeso (otimizando o balanço corporal durante a locomoção bípede da gestante) (Ref.46). 

            Uma curvatura ótima na lombar e melhor balanço do corpo reduz o risco de sérias lesões nas grávidas e facilita a mobilidade durante a gestação, permitindo manter as atividades normais diárias e mesmo escapar de predadores ou enfrentar outras adversidades.



          Nesse sentido, a preferência evolucionária dos homens por mulheres com uma curvatura lombar entre os ângulos de hipo- e hiper-lordose garante uma vantagem reprodutiva, já que essas mulheres seriam menos prováveis de sofrerem de lesões espinhais enquanto mais prováveis de sustentar múltiplas gravidezes sem sérias complicações. A literatura ortopédica sugere que o ângulo ideal da curvatura lombar é de aproximadamente 45°, e, de fato, outros estudos também têm mostrado que homens possuem uma maior atratividade por esse ângulo nas mulheres (Ref.25, 32). Por outro lado, existe também suporte para uma hipótese alternativa ou complementar: Hipótese da Sinalização de Receptividade (Ref.32). Nessa hipótese é proposto que uma maior curvatura da lombar é uma manifestação de receptividade sexual no sexo feminino e serve como um remanescente vestigial de sinalização receptividade-comunicativa entre homens e mulheres. Em outras palavras, uma mulher com uma maior curvatura na lombar seria mais disposta a engajar em atividades sexuais, atraindo maior atenção dos homens.


> O salto alto também fornece a percepção de uma perna mais longa, um fator que promove atração sexual; especula-se que pernas mais longas (e maior razão perna/altura) nas mulheres - porém não excessivamente mais longas - é uma sinalização de boa saúde (incluindo filhos mais saudáveis) (Ref.31, 34-35)


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> Além de prováveis papéis no balanço corporal durante a gestação e como reserva energética, existe também uma recente hipótese defendendo que o robusto desvio de gordura da cavidade abdominal para as nádegas e coxas nas fêmeas humanas, após o início dos ciclos menstruais e ao longo do período fértil, possui o benefício evolucionário de reduzir o conteúdo intra-abdominal, consequentemente aumentando espaço para uma potencial gravidez. Secundariamente, esse desvio previne elevação da pressão intra-abdominal e reduz complicações maternas e fetais associadas com gordura visceral na gravidez (5). Esse padrão de acúmulo adiposo é revertido após a menopausa e consequente perda de fertilidade. Essa proposta também pode ajudar a explicar a atratividade sexual associada a uma cintura mais fina (menor acúmulo de gordura abdominal). Ref.47

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   SINALIZAÇÃO HONESTA PARA AUSÊNCIA DE GRAVIDEZ

          Um interessante estudo publicado em 2016 (Ref.22) trouxe evidência sugerindo que um corpo feminino mais atrativo para o homem seria aquele com uma cintura mais fina, e não necessariamente com uma baixa razão cintura/quadris ou com um busto avantajado. Para explicar essa associação, o autor do estudo propôs duas possibilidades, as quais também já foram exploradas em outros estudos:

I. De alguma forma ter uma cintura mais fina poderia facilitar o ato sexual, dependendo das condições do ambiente associado à prática sexual;

II. Ter uma cintura bem fina seria um indicativo de que a mulher, definitivamente, não está grávida, indicando ao homem que vale a pena investir seu esperma na potencial parceira.


Jessica Rabbit
          No estudo, a preferência sexual dos homens foi investigada com com o uso de várias fotos de mulheres em uma Universidade local e de Playmates (modelos da Playboy), e de imagens artísticas populares (ex.: personagens de desenho animado). Neste último cenário, um dos objetos de análise mais detalhada foi a campeã de votos masculinos: a Jessica Rabbit, um dos símbolos sexuais mais clássicos na história recente, e personagem do filme de 1988 'Uma Cilada para Roger Rabbit' (Who Framed Roger Rabbit, no título original). Mas é interessante também notar que a personagem (Jessica) possui, além da cintura fina, um grande par de generosas mamas, uma curvatura lombar aguda bem pronunciada, e, naturalmente, uma baixa razão cintura/quadril, suportando também as hipóteses previamente discutidas.

          Corroborando em parte esse último estudo, um estudo publicado em 2019 no periódico Evolution and Human Behavior (Ref.26) trouxe evidência suportando que um baixo IMC, baixa razão cintura/coxa, baixa razão cintura/estatura e uma baixa razão cintura/quadril eram sinais altamente confiáveis de que a mulher é jovem, fisicamente e sexualmente madura, e que nunca esteve grávida. Analisando a população Norte-Americana, os pesquisadores mostraram que esse conjunto de características fenotípicas era altamente prevalentes entre mulheres de 15 a 19 anos. Esse cenário contrasta a hipótese da fertilidade, já que máxima fertilidade não é alcançada até 25-30 anos. Além disso, eles mostraram que uma cintura mais fina, em conjunto com quadris ou coxas relativamente grandes, era fortemente associado com nuliparidade (mulher que nunca deu a luz) e com maiores níveis sanguíneos de ácido docosa-hexaenóico (DHA), um ácido graxo importante para o desenvolvimento cerebral de bebês. Nesse sentido, uma mulher com cintura fina e quadris relativamente grandes é muito provável de estar pronta para engravidar e de nunca ter engravidado, trazendo também ricas reservas corporais de importantes recursos reprodutivos.

          Existem várias razões adaptativas para a seleção natural favorecer na nossa espécie machos preferindo fêmeas fisicamente e sexualmente maduras e que nunca engravidaram (núbeis) ao invés de fêmeas mais férteis porém mais velhas: (i) Um macho que forma um par com uma fêmea núbil possui máxima oportunidade para criar um filho com a parceira nos anos subsequentes mais férteis; (ii) uma mulher núbil é mais provável de ter mais parentes vivos que podem ajudá-la a criar os filhos do que mulheres mais velhas; (iii) mulheres núbeis possuem maior chance de sobreviveram por tempo suficiente para os filhos ficarem independentes antes delas morrerem; (iv) uma macho que escolhe uma fêmea núbil evita investir em crianças pertencentes a outros machos, e também evita conflito relativo ao investimento de recursos para a prole.


    ISCAS PARA O COITO

           Vamos agora explorar o ato sexual em si. Voltando à bunda, precisamos primeiro lembrar que, antes dos nossos ancestrais andarem eretos, os quatro membros eram usados para a locomoção. E, como a maioria dos mamíferos, nossa posição sexual preferencial era a por trás (o famoso 'de quatro'), e continuamos, até hoje, tendo ela como preferida, tanto por herança comportamental, quanto por observação constante dos outros mamíferos à nossa volta. Nesta posição, a visão da bunda é privilegiada, e onde ficamos com maior contato no corpo da mulher durante a penetração. Por causa disso, ver uma bunda nos remete imediatamente ao sexo e prazer sexual, e, quanto maior a bunda, mais chamativo o ato sexual se torna para a nossa visão. E, nesse mesmo caminho, as mamas podem exibir um mimetismo similar na nossa espécie, mas em um contexto de moda vestuária. As nádegas humanas são bem avantajadas em aos outros primatas, estes os quais, em geral, possuem um traseiro mais reto e sem relevo. Cientistas acham bem plausível que o decote dos seios nas roupas humanas imitam o 'decote' natural formado pelas duas 'bandas' da bunda. Ou seja, as mulheres com um decote volumoso teriam, praticamente, uma bunda na frente e outra atrás, aumentando, em dobro, o desejo sexual masculino.

Figura 4. Nádegas femininas (foto menor) e um decote generoso: as semelhanças são inegáveis.
       
           As mamas podem também ser mais do que personagens secundários no ato sexual. Quando nossos ancestrais começaram a andar sobre apenas as duas pernas, o sexo cara a cara ("papai-mamãe") começou a ficar tão comum quanto a posição "de quatro". E, se antes a bunda possuía uma visão privilegiada, agora as mamas passariam a ser mais visíveis durante o sexo. Considerando também que a mulher tipicamente sente muito prazer ao ter seus mamilos manipulados (!), os indivíduos do sexo feminino começaram, ao longo do processo evolucionário, a estimular ainda mais a "visita" do parceiro às mamas, tornando os mamilos ainda mais visíveis aos homens. E, claro, quanto maior as mamas, mais notáveis elas se tornam - assim como o complexo aréola-mamilo. Uma mulher mais satisfeita com o ato sexual passa a fazer mais sexo e gerar mais descendentes que passam o fenótipo de mama avantajada para a frente. 


          E mais: estudos também mostram que o hormônio ocitocina, responsável pela forte ligação afetiva entre mãe e filho (especialmente durante a amamentação), é também liberado quando um parceiro estimula sexualmente o complexo aréola-mamilo, contribuindo significativamente para o orgasmo feminino.  


          

   CONCLUSÃO

          Razão cintura/quadril e tamanho das mamas são consideradas importantes características associadas à atratividade no corpo feminino, representando pistas sobre o status de saúde, juventude e/ou fecundidade de uma mulher. Tamanho da bunda não é um fator tão importante quanto comparado de forma isolada, mas, no geral, índice de massa corporal (IMC), razão cintura/quadril, razão cintura/estatura, razão ombro/cintura e o tamanho das mamas/busto e das nádegas/quadril são considerados os mais confiáveis indicadores da fertilidade, saúde, beleza e, provavelmente, de investimento parental. 

          É importante lembrar que outras características físicas no corpo feminino também representam importantes fatores de atração sexual, como a voz e feições faciais. Nas próprias mamas, além do tamanho, o aspecto do bico e a cor da auréola também parecem influenciar na atratividade (Ref.21,36).

Leitura recomendada:

            

*Sugestão de artigo enviada pelo leitor Bruno Luiz.


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
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