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Camisinha apertada pode dificultar o orgasmo masculino?

 

          Disfunção orgásmica masculina pode ser caracterizada como dois extremos de um espectro: ejaculação prematura (1) e ejaculação atrasada ou anorgasmia. Orgasmo atrasado é definido como uma incômoda maior latência de orgasmo (tempo entre estimulação sexual e orgasmo), apesar de adequada estimulação sexual e vontade de ejacular. Anorgasmia é caracterizada por ausência de orgasmo, dramática infrequência do orgasmo ou dramática redução da intensidade orgásmica, onde o clímax sexual normal não pode ser alcançado por nenhum meio de estimulação. Essas condições podem ser primárias (sempre existentes) ou adquiridas (manifestadas em algum ponto da vida). Apesar de ejaculação (2) e de orgasmo serem eventos distintos, ambos ocorrem simultaneamente no sexo masculino e são tratados frequentemente como um fenômeno único (3). 

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Para mais informações:

(3) Existe evidência que alguns homens conseguem ter ejaculação sem um orgasmo, e alguns homens que podem ter um orgasmo sem ejaculação (Ref.2).

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          O orgasmo masculino ocorre secundariamente ao acúmulo de pressão dentro da uretra posterior durante o processo de ejaculação, devido ao fechamento do pescoço da bexiga e esfíncter uretral externo e contração da musculatura periuretral. Durante o orgasmo, existe ativação cortical no cérebro que inclui córtices occipitotemporal lateral, temporal inferior, parietal, orbitofrontal, pré-frontal medial, insular, cingulado anterior e pré-motor frontal. De forma contrária, existe uma redução no fluxo sanguíneo regional cerebral ao longo do córtex pré-frontal durante a ejaculação. Em homens com ejaculação atrasada existe um aumento da ativação no giro fusiforme direito.

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> Evidência sugere que o tempo médio de latência ejaculatória intravaginal (tempo entre o início da penetração vaginal e o início da ejaculação intravaginal) é de 5,4 minutos. Com base nesse valor, é proposto que o tempo médio para um diagnóstico de ejaculação atrasada é de pelo menos 20-25 minutos. Ref.1

> Prevalência reportada de ejaculação/orgasmo atrasado varia significativamente na literatura acadêmica (4,4%; 5%; 7,3%) e provavelmente são valores subestimados devido a resistência de homens em admitir o problema.

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          Várias etiologias têm sido identificadas na patogênese da ejaculação atrasada, devido à natureza multifatorial e complexa do transtorno. As etiologias mais comuns incluem o uso de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (42%), fatores psicogênicos (28%), baixo nível de testosterona (21%), sensação peniana anormal (7%) e hiperestimulação peniana (2%). Aberrantes níveis de hormônio estimulante da tireoide (TSH) e cirurgias pélvicas também estão associados ao transtorno. Os mais importantes medicamentos implicados no orgasmo atrasado incluem antidepressivos e antipsicóticos. Fatores psicogênicos incluem sentimentos de medo, ansiedade, hostilidade, e dificuldades de relacionamento associados com encontros e relações sexuais; gatilhos comuns incluem abuso sexual infantil, trauma sexual, educação sexual repressiva ou crenças religiosas, ansiedade geral, e histórico de viuvez ou divórcio.

          No caso da hiperestimulação peniana, é postulado que um aumento na frequência de masturbação resulta na perda de sensação peniana com subsequente aumento da intensidade masturbatória. Consequentemente, esse ciclo resulta em orgasmo atrasado durante penetração vaginal ou estimulação oral/anal, à medida que esses processos não são capazes de replicar a estimulação necessária. 


   TRATAMENTO 

          Não existe um tratamento padrão para o orgasmo atrasado. Estratégias terapêuticas são frequentemente multidisciplinares, envolvendo urologistas, terapia sexual e profissionais de saúde básica e mental. Mas, primeiro, pacientes devem ser avaliados para causas orgânicas. Se orgasmo atrasado está associado com medicamentos, os pacientes devem discutir ajustes da medicação com o médico responsável. Se o transtorno está associado com baixo nível de testosterona, terapia de testosterona é recomendada (4).

(4) Leitura recomendada: Ervas e suplementos para aumentar a testosterona?

          Caso o paciente reporte sensação peniana reduzida e/ou exiba sensibilidade peniana anormal, estimulação vibratória peniana pode ser incorporada. Durante esse tratamento, um vibrador é aplicado ao frênulo do pênis por até 10 minutos. Evidência ainda limitada suporta substancial eficácia e mínimo risco de efeitos adversos.

           E embora não existam fármacos aprovados nesse sentido, resultados promissores são reportados para o uso de cabergolina, bupropiona, oxitocina e anfetamina/dextroanfetamina. Na literatura acadêmica, cabergolina e bupropiona são os mais comumente prescritos. 

            A cabergolina age como um agonista de dopamina nos receptores D2, resultando em redução dos níveis de prolactina. Dopamina tem sido observada de melhorar o desejo sexual e a qualidade orgásmica e facilitar a ereção peniana, provavelmente ao aumentar a liberação de oxitocina. Reduções agudas nos níveis de prolactina induzidas por agonistas de dopamina podem também contribuir para aumentar a função sexual. 

           A bupropiona é um antidepressivo atípico que inibe a recaptação de dopamina e norepinefrina. Comparado a outros antidepressivos, bupropiona tem mostrado de ter menores taxas de efeitos sexuais adversos e pode melhorar a função sexual em alguns pacientes.

           Oxitocina, um peptídeo liberado pela glândula posterior pituitária, tem sido implicada na função sexual. Receptores de oxitocina são expressos ao longo do trato genital masculino. Aumentos nos níveis de oxitocina são observados durante a ejaculação, e supressão sistêmica de oxitocina resulta em redução no excitamento e prazer no orgasmo. Oxitocina também está associada com contração da uretra prostática, duto ejaculatório e pescoço da bexiga. Porém, evidência de suporte para oxitocina [administração nasal] no tratamento de orgasmo atrasado ainda é inconclusiva.

           Alguns homens com orgasmo atrasado experienciam pensamentos divagantes durante a atividade sexual e possuem dificuldade de concentração, resultando em redução do excitamento sexual. Portanto, o uso fármacos que ajudem a melhorar a concentração (ex.: anfetamina/dextroanfetamina) pode ter alguma valia terapêutica, mas evidência científica ainda é muito limitada.

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> Terapias invasivas, como injeções intracavernosas de plasma rico em plaquetas e procedimentos cirúrgicos, têm sido exploradas mas não são atualmente recomendadas na literatura médica.

> Modificação de posições sexuais ou práticas que aumentam o excitamento pode ter benefício terapêutico para alguns pacientes.

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   CAMISINHA APERTADA?

          Em um interessante relato de caso publicado em 2021 no periódico Sexual Medicine (Ref.4), pesquisadores reportaram um paciente com quadro adquirido de ejaculação/orgasmo atrasado que foi resolvido através de simples troca de tamanho da camisinha.

          Um homem Tailandês de 22 anos de idade apresentou-se ao hospital com um histórico de 6 meses de orgasmo atrasado. Ele reportou que tinha ejaculação normal até terminar o relacionamento com sua namorada, quando passou a ter relação sexual protegida com múltiplas parceiras e notar problemas ejaculatórios. O desejo sexual e a ereção do paciente estavam normais. Ele não relatou dor ou outras dificuldades exceto não conseguir alcançar orgasmo durante penetração vaginal. Durante masturbação e sexo oral, sua ejaculação permanecia normal. Ele negou histórico de abuso de drogas e outras doenças, ou qualquer problema psicológico além do incômodo causado pela dificuldade ejaculatória. Exames físico, mental e laboratorial também não revelaram nenhuma significativa anormalidade; seu nível de testosterona circulante estava inclusive um pouco acima da faixa normal.

          O paciente foi diagnosticado com orgasmo atrasado adquirido e situacional, e foi orientado a buscar aconselhamento sexual. Porém, terapia sexual não melhorou seu quadro, este o qual persistiu até ele acidentalmente usar uma camisinha de maior tamanho durante uma relação sexual.

           Quando o paciente usou uma camisinha com 58 mm de largura ao invés do tamanho que vinha usando (56 mm), seu quadro melhorou parcialmente. Como o tamanho de camisinhas comumente usadas na Tailândia variam de 49 até 56 mm, tamanhos maiores são raramente vendidos (inclusive o paciente achava que um maior tamanho do que 56 mm não existia).

           Durante relacionamento estável com sua ex-namorada, o paciente não usava camisinha (sexo era desprotegido), coincidindo com a ausência de sintomas de orgasmo atrasado. O pênis ereto do paciente tinha 17,3 cm de comprimento e 15,2 cm de circunferência (dimensões acima da média), enquanto o tamanho flácido era de 7,1 cm. Ele foi, então, orientado a usar uma camisinha ainda maior. O quadro de orgasmo atrasado foi resolvido com uma camisinha de 62 mm de largura. 

          Camisinhas reduzem a sensibilidade peniana (5), e uma camisinha apertada pode afetar negativamente a inervação do pênis, resultando em uma perda ainda maior de sensibilidade peniana. Nesse sentido, camisinha pode ser mais um fator causal na etiologia do orgasmo atrasado adquirido. Além desse transtorno, camisinha de tamanho inadequado pode causar outros problemas, como dor, dificuldade de ereção, rompimento do preservativo e possível remoção espontânea - aumentando também o risco de infecções sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada.

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(5) Aliás, uso de camisinha é uma das estratégias usadas para aumentar o tempo de latência ejaculatória em indivíduos com ejaculação precoce. Para mais informações: Afinal, o que é e como tratar Ejaculação precoce?

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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. Nguyen et al. (2023). Male delayed orgasm and anorgasmia: a practical guide for sexual medicine providers. International Journal of Impotence Research. https://doi.org/10.1038/s41443-023-00692-7
  2. https://www.mdpi.com/2411-5118/2/2/16
  3. https://www.auanet.org/guidelines-and-quality/guidelines/disorders-of-ejaculation
  4. Wainipitapong et al. (2021). Delayed Ejaculation Due to Improper Male Condom Size: A Case Report, Sexual Medicine, Volume 9, Issue 3, Page 100373. https://doi.org/10.1016/j.esxm.2021.100373