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O que é a Ejaculação Retrógrada?

 

          Ejaculação é um processo essencial na reprodução humana normal e sua falha leva à infertilidade masculina. Muitas desordens ejaculatórias possuem causas psicológicas assim como causas orgânicas; no entanto, a ejaculação retrógrada é única no sentido que é quase exclusivamente orgânica em origem. Apesar de ser um tipo comum de disfunção ejaculatória, a condição é responsável por apenas 0,3-2% dos casos de infertilidade. A combinação de um "orgasmo seco" e o problema com infertilidade torna a condição perturbadora tanto para o paciente quanto para a parceira, especialmente quando o casal está tentando engravidar.

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          O processo de ejaculação requer uma complexa coordenação e interação entre os epidídimos, tubos/canais deferentes, próstata, vesículas seminais, pescoço da bexiga e as glândulas bulbouretral. No ato da ejaculação, espermatozoides são rapidamente conduzidos ao longo dos canais deferentes e para dentro da uretra através dos dutos ejaculatórios. De lá, o esperma progride continuamente via coaptação do pescoço da bexiga e contrações rítmicas dos músculos periuretrais coordenados por um reflexo centralmente mediado. Fechamento do pescoço da bexiga e emissão seminal são iniciados através do sistema nervoso simpático a partir do gânglio simpático lombar e, subsequentemente, nervo hipogástrico. Secreção prostática e da vesícula seminal assim como contração bulbocavernosa, isquiocavernosa e do chão pélvico são iniciadas pelo sistema nervoso parassimpático através do nervo pélvico.

         Qualquer fator que interfira nesses reflexos e iniba o fechamento do pescoço da bexiga (contração do esfíncter vesical interno), pode levar à passagem retrógrada de esperma (sêmen) da uretra posterior para dentro da bexiga. Fatores causais podem ser farmacológicos, neurogênicos, anatômicos ou idiopáticos (sem causa conhecida). Para citar exemplos:

- Farmacológicos: Bloqueadores alfa-adrenérgicos, medicamentos psicotrópicos.

- Neurogênicos: Lesões na medula espinhal, cirurgias lombares, dissecção de linfonodo retroperitoneal, cirurgia vascular aórtica-ilíaca, resseção abdominoperineal, neuropatia autonômica diabética (complicação de diabetes Tipo 2), esclerose múltipla, mielodisplasia, acidente cerebrovascular (CVA).

- Anatômicos: Válvulas uretrais posteriores, cistos utriculares e extrofia (congênitos); incisão transuretral do pescoço da bexiga, lesões traumáticas na bexiga, cistectomia, prostatectomia, efeitos colaterais de radioterapia, resseção transuretral da próstata (adquiridos).

           Sintomas da ejaculação retrógrada podem ser mínimos além de ejaculação reduzida ou ausência total de ejaculação no momento do orgasmo. Após o orgasmo e o ato sexual, muitos homens com a condição irão descrever a passagem de uma urina esbranquiçada, a qual é atribuída à mistura de esperma na bexiga com a urina ali armazenada. Obviamente, outro sintoma comum é a infertilidade. Concentração acima de 1 milhão de espermatozoides em uma amostra de urina pós-ejaculatória é considerado um marcador para o diagnóstico de ejaculação retrógrada.

          O menor limite de referência para o volume de sêmen expelido pela abertura uretral é de 1,5 mL, como definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Homens com valores abaixo desse limite possuem hipospermia enquanto aqueles com total ausência de ejaculado são definidos como aspérmicos. Presença de hipospermia e de aspermia são um indicativo de possível quadro de ejaculação retrógrada. 

           Tratamento da ejaculação retrógrada irá depender do fator causal, e pode incluir desde medicamentos simpatomiméticos até reconstrução cirúrgica do pescoço da bexiga. Para o objetivo específico de gravidez, existem um número de técnicas para recuperar espermatozoides viáveis da bexiga ou diretamente do tecido testicular (Ref.6-7).


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. Jefferys et al. (2012). The management of retrograde ejaculation: a systematic review and update. Fertility and Sterility, 97(2), 306–312.e6. https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2011.11.019
  2. Parnham et al. (2016). Retrograde ejaculation, painful ejaculation and hematospermia. Translational Andrology and Urology, 5(4), 592–601. https://doi.org/10.21037/tau.2016.06.05
  3. Mao et al. (2021). Retrograde ejaculation as an initial presenting symptom of type 2 diabetes mellitus: a case report and literature review. Journal of Men's Health, 1-4. http://doi.org/10.31083/jomh.2021.114 
  4. Body et al. (2021). Retrograde ejaculation following anterior lumbar surgery: a systematic review and pooled analysis. Journal of Neurosurgery. https://doi.org/10.3171/2020.12.SPINE201101
  5. Alnajjar & Muneer (2021). Retrograde ejaculation and anejaculation. Assisted Reproduction Techniques, 575–579. https://doi.org/10.1002/9781119622215.ch90
  6. Agarwal et al. (2021). A Comprehensive Guide to Sperm Recovery in Infertile Men with Retrograde Ejaculation. The World Journal of Men's Health, 2021;39:e29. https://doi.org/10.5534/wjmh.210069
  7. Tian et al. (2020). Restoration of antegrade ejaculation after transurethral bladder neck injection of Deflux for retrograde ejaculation: a case report of natural conception. Translational Andrology and Urology, 2270–2274. https://dx.doi.org/10.21037%2Ftau-20-593