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"Mente cega": O que é Afantasia?

- Atualizado no dia 31 de março de 2024 -

   Primeiro relato de caso

          Scotty Enyart é um homem de 39 anos com uma curiosa condição. Durante a infância, ele lembra que leitura nunca evocava imagem mental sobre aquilo que estava lendo, ou seja, ele não conseguia imaginar visualmente os personagens e os cenários descritos. E, quando tinha 16 anos, Enyart lembra que não conseguia visualizar os padrões de palavras, tornando o ato de soletrar extremamente difícil:

          "Olhando de volta para a minha vida, torna-se claro que minha habilidade de soletrar se desenvolveu a um nível apropriado para a minha idade quando eu aprendi a datilografar. Um componente para ser um bom soletrador é lembrar os padrões das palavras; portanto, quando alguém não consegue lembrar como soletrar uma palavra, acaba evocando visualmente a palavra na mente. Aprender como datilografar permitiu que eu entendesse as palavras através do toque, e, quando eu não lembrava de uma palavra, bastava usar meus dedos e memória muscular para sentir a palavra."

          Durante um curso de psicologia cognitiva do seu programa de graduação, Enyart, então com 24 anos, finalmente compreendeu sua exata condição: 

          "O professor pediu para os estudantes fecharem os olhos e lembrarem da imagem de um relógio. Uma vez que a imagem fosse identificada, ele nos orientou a desenhar a imagem em um pedaço de papel. Os outros estudantes começaram a desenhar relógios bem detalhados. Eu fechei meus olhos várias vezes tentando trazer a imagem mental de um relógio, mas nada veio."

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          Então, em 2015, Enyart se auto-diagnosticou com afantasia após ver um especial na BBC sobre um homem com o mesmo diagnóstico. Ele continuou seu relato: 

          "Quando eu fecho meus olhos, eu não consigo ver o rosto da minha esposa, eu não consigo ver meus filhos. Se eu fecho meus olhos e penso sobre minha esposa ou filhos, eu sinto um espaço físico, e, enquanto eu não consigo ver mentalmente características faciais únicas deles, eu posso sentir essas características. Eu posso sentir minha conexão emocional a eles muito profundamente. Eu posso ouvir suas vozes, eu posso sentir o toque deles, mas eu não posso vê-los."

          Sobre seus sonhos durante o sono, Enyart relatou: 

          "Meus sonhos são sentidos espacialmente e emocionalmente, mas o visual não existe. Quando eu sonho que estou sendo perseguido por um monstro, eu consigo sentir que estou me movendo pelo espaço e eu experiencio intenso medo, mas o monstro em si não possui forma, é uma terrível presença que está vindo atrás de mim."

          Enyart reportou que experienciou recente melhora da condição após tomar a bebida alucinógena ayahuasca em um contexto ritualístico, na região Amazônica (!). Com base na experiência alucinógena, suspeitou que sua condição era adquirida, e que tinha relação com a difícil e traumática relação que teve com o pai. Após essa experiência, Enyart afirmou que desenvolveu (ou reganhou) parcialmente a habilidade de visualizar mentalmente: 

          "Eu posso agora visualizar fracas imagens na minha mente. Elas desaparecem rapidamente, mas elas estão lá. Quando eu sonho, agora eu vejo fracas e efêmeras imagens. Eu sinto que a experiência com a ayahuasca abriu levemente os olhos da minha mente e me permitiu ver imagens internamente como eu nunca fui capaz antes."

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(!) Leitura recomendadaO consumo de ayahuasca é prejudicial? Qual o potencial terapêutico?

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          O caso foi reportado e descrito em 2018 no periódico Journal of Psychedelic Studies (Ref.1).


   Segundo relato de caso

          Uma grande frustração da advogada Mary Wathen, de 43 anos de idade, sempre foi a dificuldade de se divertir em jogos de RPG (role playing games) com seus dois filhos e amigos. O mesmo não ocorria em outras atividades recreativas e, nesse contexto, Mary passou a desconfiar que existia algo de estranho com ela.

          Suspeita de afantasia emergiu durante uma interação entre Mary e uma pessoa próxima. Segundo relatou Mary: 

          "Um dos meus amigos disse que ele usava imagens na cabeça para dar vida ao RPG. Quando eu pedi a ele para explicar isso em mais detalhes, ficou claro que ele - e todos participando do jogo - podiam facilmente criar imagens na mente e usá-las como cenário durante as partidas de RPG. Isso foi uma explosão de cabeça para mim. Eu não consigo entender o que isso significa - onde estão essas imagens e qual a aparência delas? Para mim, exceto se você ver algo com os olhos, não existe nada para ser visto."

          O choque de Mary se intensificou quando ela descobriu que seu marido conseguia criar imagens mentais muito vívidas, como se fossem filmes e ao ponto de confundi-las com memórias. Para ela, isso era algo inconcebível.

           Mary também passou a desconfiar que sua falta de imagens mentais eram responsáveis por sua dificuldade com memórias. Ela relatou:

          "Eu consigo compreender e reter conceitos e princípios muito bem, mas eu sou incapaz de relembrar fatos e imagens. Eu não consigo recriar algo na minha cabeça ou rever algo que não está presente no momento."

          "Eu fiquei bem triste ao aprender que outras pessoas podem trazer à mente uma imagem dos seus filhos quando eles não estão presentes. Eu amaria ser capaz de fazer isso, mas eu simplesmente não posso - apesar de ter aprendido a compensar isso tirando muitas fotos, para aliviar essas memórias [visuais] através dessas imagens [físicas]."

          "Enquanto eu tenho certeza que existem maravilhosas vantagens com a capacidade de pensar em imagens, eu acho que é importante também lembrar a mim mesma que existem vantagens também com a afantasia. Eu sou uma escritora e uma comunicadora verbal realmente muito boa - e eu acredito que isso é porque eu não fico presa em nenhuma imagem [mental], e assim apenas foco no poder da palavra. Eu também sou uma pessoa profundamente emocional e talvez esse é o modo como meu cérebro compensa; eu sinto as coisas de forma a experienciá-las, ao invés de vê-las."

          > Relato divulgado pela Universidade de Exeter, Reino Unido (Ref.28).


   APHANTASIA

          A Aphantasia ou afantasia, conhecida também como "imaginação cega" e "mente cega", apresenta uma etiologia indefinida, sendo caracterizada por uma redução ou ausência de imagens mentais voluntárias, mas também podendo afetar a capacidade de percepção visual durante o sono ("sonhos cegos"). Pessoas com essa condição frequentemente não conseguem criar (ou relembrar e visualizar) imagens estáticas ou cenas visuais dinâmicas na mente. Congênita ou adquirida, estima-se que essa estranha condição afete 3,9% da população mundial em algum grau de intensidade (Ref.2). Quando se pede para imaginar uma paisagem específica (ex.: uma praia), a maioria das pessoas conseguem criar uma imagem mental desse cenário; porém, pessoas com extrema afantasia não possuem essa capacidade mental, mesmo que possam descrever como é a aparência visual de uma praia e outras percepções sensoriais associadas.

          A literatura médica cita essa estranha condição desde o ano de 1880, mas significativo interesse só foi levantado a partir de 2010 com um estudo publicado por Zeman et al. (Ref.3), ao descrever um paciente que subitamente perdeu a habilidade de produzir imagens mentais após um procedimento de angioplastia coronária. O paciente em questão descreveu: "Eu consigo lembrar de detalhes visuais mas eu não posso vê-los... Eu não consigo explicar isso... De tempo em tempo eu sinto saudade da minha visão mental". Em 2015, Zeman et al. sugeriu o nome 'aphantasia' para a condição, estabelecido oficialmente desde então na literatura acadêmica (Ref.4). O termo também faz referência à incapacidade de simular mentalmente sons e músicas (ausência de "voz interior" ou de "imagem" auditória), e outras experiências perceptuais (Ref.5).

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> O termo aphantasia é derivado do termo Grego para imaginação (phantasia, φαντασία), definido por Aristóteles na obra De Anima como 'a virtude na qual uma imagem [phantasma] emerge para nós'. O prefixo 'a-' é adicionado para indicar a qualidade de ausência. No português, naturalmente, o termo seria traduzido para 'afantasia', mas este ainda não é usado na literatura acadêmica em língua portuguesa.

> Imagem mental é o mecanismo pelo qual nós mentalmente simulamos experiências perceptuais - desde o rosto de um amigo no "olho da mente" até ouvir uma música favorita através do "ouvido da mente", o mesmo valendo para outros sentidos: olfato, toque e paladar. O fenômeno da afantasia pode dificultar ou impedir a simulação mental de um ou mais dessas experiências perceptuais.

CURIOSIDADE: Existe uma condição no extremo oposto à afantasia, chamada de hiperphantasia, onde o indivíduo afetado é capaz formar imagens mentais com grande vividez e similares a fotos ou vídeos, de tão detalhadas. Extrema hiperfantasia é estimada de afetar até 2,5% da população global (Ref.21). As pessoas no geral possuem diferentes graus de vividez na formação e percepção de imagens mentais, variando em um espectro normal entre afantasia e hiperfantasia. Diferenças na conectividade neural e fatores genéticos associados parecem explicar a existência desses extremos de imagens mentais (Ref.27).

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          Vários estudos já foram publicados sobre a condição nos últimos anos, explorando em especial os mecanismos e consequências neurológicas por trás da "cegueira mental" - com propostas teóricas ainda conflitantes entre si (Ref.24). Comumente, a afantasia é uma condição congênita ou vitalícia, na qual o indivíduo experiencia uma ausência ou manifestação vaga/fraca de imagem mental desde muito cedo na infância. Enquanto que completa ausência de imagem mental é estimada de afetar 0,8% da população, capacidade limitada ou completa dessa habilidade é estimada de afetar quase 4 em cada 100 pessoas (Ref.2). Considerando que imagem mental está ligada a muitos aspectos importantes de atividades, experiências e planejamentos do dia-a-dia (ex.: memória autobiográfica; memória de curto prazo; motivação tarefa-orientada; prospecção de eventos futuros; formação de sonhos), acaba sendo um mistério para os cientistas como tantas pessoas possuem afantasia e geralmente nem sabem que são diferentes. De fato, no geral, a condição não parece ter significativa relevância patológica e não parece preencher critérios para ser classificada como um transtorno mental (Ref.25).

           Por outro lado, alguns afetados pela afantasia reportam significativos problemas em atividades comuns, como reconhecimento de rostos, e a condição está associada a certos traços compartilhados com o autismo, está ligada a uma redução em funções cognitivas envolvendo componentes sensoriais visuais, e pode modificar outros fenômenos neurológicos, como a sinestesia, alucinação e a rivalidade binocular (!) (Ref.6-7). Por exemplo, indivíduos com afantasia parecem ser menos suscetíveis a experienciar percepções anômalas, como fenômenos alucinatórios (Ref.8). Evidências recentes sugerem também que a afantasia reduz a intensidade de respostas emocionais, como o medo, e a sensibilidade a estímulos sensoriais externos, como cheiros (Ref.9-10). Aliás, a condição pode ter implicações para estratégias de processamento visual e até mesmo para a escolha de carreiras (ex.: pessoas com afantasia são menos prováveis de trabalhar com arte, e mais prováveis de trabalhar em áreas envolvendo ciências exatas e matemática) (Ref.6). 

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> Cerca de 40% das pessoas com afantasia reportam dificuldade de reconhecimento facial, com traços similares à condição conhecida como prosopagnosia. Sugestão de leitura: Por que nosso cérebro vê rostos e expressões faciais em todo lugar?

> Evidência acumulada também sugere que pessoas com afantasia são menos prováveis de lembrar de detalhes de importantes eventos pessoais passados (memória autobiográfica). Além disso, experiência reduzida ou ausente de imagem mental visual também parece reduzir a capacidade para a produção de outras formas de imagens mentais, como imaginar músicas. Por outro lado, imagens mentais em sonhos tipicamente são preservadas. Ref.27

(!) Leitura recomendada: O que é a Rivalidade Binocular?

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          Curiosamente, a afantasia não parece necessariamente afetar a performance de atividades envolvendo a memória de trabalho visual, implicando que existem processamentos cognitivos alternativos para tal fim (Ref.12-13). Memória de trabalho visual e imagem mental são dois processos que dependem da representação e manipulação de conteúdo visual mental não produzido por uma real imagem externa sendo apresentada à visão. Por exemplo, se uma sequência de imagens é apresentada, cada uma delas associada a um certo elemento, uma pessoa com afantasia é capaz de posteriormente lembrar e resolver as associações mesmo não conseguindo formar a imagem mental das imagens e dos elementos, e sem prejuízos em relação a indivíduos sem a condição. Além disso, habilidades espaciais (incluindo memória espacial) parecem ser amplamente preservadas em indivíduos com afantasia (e até melhores em certos aspectos), mas evidência experimental sugere significativo prejuízo na memória de objetos (capacidade de lembrar de objetos específicos presentes no ambiente) (Ref.14). No geral, a aphantasia não parece reduzir de forma significativa a performance em um amplo espectro de tarefas neuropsicológicas pensadas de estarem relacionadas a aspectos de visualização mental, incluindo memória de reconhecimento de padrões, memória de reconhecimento verbal e rotação mental (Ref.15).

             Porém, um estudo publicado recentemente no periódico Cortex (Ref.26), analisando a performance de 44 indivíduos com afantasia congênita, 31 com hiperfantasia e 42 pessoas com típica capacidade de imagem mental em uma série de testes visuais, encontrou que os participantes com afantasia eram, na média, mais lentos no processamento de informações visuais do que os outros dois grupos, particularmente informações sobre formas e cores. Além disso, aqueles afetados pela afantasia possuíam pouca confiança na acuracidade das respostas. Considerando que pessoas com afantasia congênita possuem capacidade normal de manipular conceitos abstratos, exibem acurada percepção dos elementos da realidade e não exibem deficiência no processamento de memória e linguagem, os autores do estudo sugeriram que esses indivíduos exibem um leve defeito na chamada "consciência fenomenal". Ou seja, a afantasia permite acesso a informações sobre formas, cores e relações espaciais - mas que essas informações visuais não são traduzidas em imagem visual mental na experiência consciente. 

          Embora exista a possibilidade dos indivíduos com afantasia estarem formando imagens mentais sem estarem cientes dessas imagens - ou seja, uma falta de metacognição, ou uma inabilidade de introspecção -, evidências experimentais acumuladas apontam fortemente que as pessoas afetadas pela condição, de fato, não são capazes de formar imagens mentais, pelo menos não de forma voluntária; não é apenas uma incapacidade de processá-las conscientemente (Ref.16). Nesse último ponto, é importante lembrar que grande parte dos indivíduos com afantasia podem experienciar imagens mentais involuntárias, como em flashbacks e sonhos (Ref.17).

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          Devido ao amplo espectro de variações no grau de intensidade, no processo de formação (voluntário e involuntário) e natureza da imagem mental envolvida (visual, auditória, gustativa ou multissensorial), alguns pesquisadores defendem que o termo afantasia continue assumindo um significado mais generalizado mas englobando subtipos (Ref.18). Seria o mesmo que ocorre com o termo 'alucinação', o qual engloba alucinação auditória, alucinação visual e alucinação multissensorial. Termos como 'anauralia' (ausência de "imagem" mental auditória) têm sido usados para fazer referências a subtipos de afantasia, e é argumentando que isso pode potencialmente gerar confusão na literatura acadêmica e entre o público.

           Afantasia adquirida é uma manifestação muito mais rara da condição, e, assim como nos casos congênitos, o mecanismo patológico não é conhecido. Causas de gatilho parecem ser diversas, incluindo fatores psicogênicos, doenças (infecciosas, inflamatórios ou neurodegenerativas), intervenções cirúrgicas e medicamentos, mas frequentemente envolvem dano cerebral direto (ex.: derrames cerebrais e traumas cranianos) e transtorno afetivo (Ref.19). Em 2021, no periódico Oxford Medical Case Reports (Ref.20), pesquisadores reportaram o caso de um paciente de 62 anos que desenvolveu afantasia após receber um transplante de células-tronco para o tratamento de mieloma múltiplo; ao longo dos próximos 6 meses de acompanhamento, o paciente reportou uma leve melhora mas não resolução da afantasia; os médicos suspeitaram de danos cerebrais devido a um plausível insulto hipoxêmico no sistema nervoso central durante sua estadia hospitalar. 

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> Na Ref.5, fica a sugestão de leitura de um paper de 2018 onde o Físico e Cientista Britânico Nicholas W. Watkins descreve sua experiência de conviver com afantasia.  

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   PUPILA E AFANTASIA

          Uma grande rede de atividade cerebral se estendendo das regiões frontal, parietal, temporal e o córtex visual está envolvida na geração e manutenção de imagens mentais. Assinatura neuropsicológica e neural para a afantasia ainda não é bem estabelecida, mas existe evidência de uma mais forte conectividade entre os córtices pré-frontais e a rede visual tanto nos indivíduos com afantasia quanto naqueles com hiperfantasia(Ref.22). Por outro lado, um estudo publicado em 2022 no periódico eLife (Ref.23) encontrou uma confiável e inesperada assinatura fisiológica para a condição. 

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           A habilidade da nossa pupila de mudar de tamanho (maior ou menor abertura) é uma importante resposta fisiológica que ajusta a quantidade de luz atingindo a retina para otimizar a visão e proteger as células retinais. A pupila contrai em resposta a uma maior claridade enquanto dilata em resposta a condições mais escuras (reflexo pupilar); e, enquanto essas respostas são relacionadas, ambas parecem envolver distintos caminhos neurais. Essas respostas involuntárias da pupila já foram pensadas serem orientadas apenas por estimulação visual aferente, ou por ativação automática a partir de respostas emocionais. Porém, evidências acumuladas têm mostrado que o reflexo pupilar também é engatilhado por processos perceptuais e cognitivos de mais alta ordem, incluindo interpretações subjetivas de estímulos visuais externos.

           No novo estudo, os pesquisadores mostraram que enquanto indivíduos sem afantasia exibem reflexo pupilar engatilhado por imagens mentais, indivíduos com afantasia não exibem qualquer significativa resposta nesse sentido, exceto sob condições de maior sobrecarga cognitiva. Primeiro, os pesquisadores recrutaram 42 participantes sem auto-reportada afantasia para calibrar um sistema de referência associando reflexo pupilar e imagens imaginadas com diferentes graus de claridade (olho aberto contra um background cinza); as medições foram feitas com o auxílio de um óculos especial usado para rastrear os movimentos dos olhos e mensurar a abertura pupilar. Nessa fase do estudo, os pesquisadores confirmaram que, ao se pedir para um participante imaginar imagens claras ou escuras, a pupila reagia com contração ou dilatação como se estivesse recebendo mais ou menos radiação luminosa externa. Em seguida, eles usaram o mesmo sistema de medição para investigar o reflexo pupilar em 18 participantes com afantasia auto-reportada.

           No primeiro teste, o reflexo pupilar dos participantes com afantasia mostrou funcionar normalmente em resposta à exposição de reais imagens mais ou menos escuras. No entanto, quando pedidos para imaginarem aquelas mesmas imagens, reflexo pupilar não se manifestou de forma significativa e mostrou-se indiferente às tentativas de formação de imagens mentais mais ou menos escuras. 

          Para assegurar que os participantes com afantasia estavam realmente tentando produzir imagens mentais, os pesquisadores incluíram uma condição experimental extra, requisitando que os participantes visualizassem quatro diferentes imagens para cada grau de claridade, ao invés de uma. Enquanto o reflexo pupilar continuou não reagindo aos diferentes graus de claridade para um mesmo tipo de imagem, houve resposta diferencial - sugerindo maior esforço mental - para as diferentes imagens no mesmo grau de luminosidade, confirmando que os participantes estavam realmente tentando produzir as imagens mentais requisitadas. 

          O achado representou a primeira evidência fisiológica objetiva confirmando a existência de afantasia. Isso pode fornecer um teste simples para determinar se um indivíduo com afantasia auto-reportada realmente possui a condição.

 

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. Santos et al. (2018). “Ayahuasca turned on my mind’s eye”: Enhanced visual imagery after ayahuasca intake in a man with “blind imagination” (aphantasia). Journal of Psychedelic Studies, Volume 2, Issue 2. https://doi.org/10.1556/2054.2018.008 
  2. Dance et al. (2022). The prevalence of aphantasia (imagery weakness) in the general population. Consciousness and Cognition, Volume 97, 103243. https://doi.org/10.1016/j.concog.2021.103243
  3. Zeman et al. (2010). Loss of imagery phenomenology with intact visuo-spatial task performance: A case of “blind imagination”. Neuropsychologia, 48(1), 145e155.
  4. Zeman et al. (2015). Lives without imagery – congenital aphantasia. Cortex, 73, 378–380. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2015.05.019
  5. Watkins, N. W. (2018). (A)phantasia and severely deficient autobiographical memory: Scientific and personal perspectives. Cortex, 105, 41–52. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2017.10.010
  6. Dawes et al. (2020). A cognitive profile of multi-sensory imagery, memory and dreaming in aphantasia. Scientific Reports 10, 10022. https://doi.org/10.1038/s41598-020-65705-7
  7. Dance et al. (2021). What is the relationship between Aphantasia, Synaesthesia and Autism? Consciousness and Cognition, 89, 103087. https://doi.org/10.1016/j.concog.2021.103087
  8. Reeder et al. (2021).The Ganzflicker experience: High probability of seeing vivid and complex pseudo-hallucinations with imagery but not aphantasia. Cortex, Volume 141, Pages 522-534. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2021.05.007
  9. Keogh et al. (2021). The critical role of mental imagery in human emotion: insights from fear-based imagery and aphantasia. Proceedings of the Royal Society B, Volume 288, Issue 1946. https://doi.org/10.1098/rspb.2021.0267 
  10. Dance et al. (2021). What is the Link Between Mental Imagery and Sensory Sensitivity? Insights from Aphantasia. Perception. https://doi.org/10.1177%2F03010066211042186
  11. Zeman et al. (2021). Chapter 15 - Aphantasia: The science of visual imagery extremes. Handbook of Clinical Neurology, Volume 178, Pages 277-296. 
  12. Jacobs et al. (2018). Visual working memory performance in aphantasia. Cortex, 105, 61–73. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2017.10.014
  13. Keogh et al. (2021). Visual working memory in aphantasia: Retained accuracy and capacity with a different strategy. Cortex, Volume 143, Pages 237-253. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2021.07.012
  14. Bainbridge et al. (2021). Quantifying aphantasia through drawing: Those without visual imagery show deficits in object but not spatial memory. Cortex, Volume 135, Pages 159-172. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2020.11.014
  15. Pounder et al. (2022). Only minimal differences between individuals with congenital aphantasia and those with typical imagery on neuropsychological tasks that involve imagery. Cortex, Volume 148, March 2022, Pages 180-192. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2021.12.010
  16. Keogh & Pearson (2018). The blind mind: No sensory visual imagery in aphantasia. Cortex, 105, 53–60. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2017.10.012 
  17. Whiteley, C.M.K. (2021). Aphantasia, imagination and dreaming. Philos Stud 178, 2111–2132. https://doi.org/10.1007/s11098-020-01526-8
  18. Monzel et al. (2022). Aphantasia, dysikonesia, anauralia: call for a single term for the lack of mental imagery–Commentary on Dance et al. (2021) and Hinwar and Lambert (2021). Cortex, Volume 150, Pages 149-152. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2022.02.002
  19. Adam et al. (2021). I cannot picture it in my mind: acquired aphantasia after autologous stem cell transplantation for multiple myeloma, Oxford Medical Case Reports, Volume 2021, Issue 5, omab019. https://doi.org/10.1093/omcr/omab019
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  21. Zeman et al. (2021). Behavioral and Neural Signatures of Visual Imagery Vividness Extremes: Aphantasia versus Hyperphantasia. Cerebral Cortex Communications, Volume 2, Issue 2, tgab035. https://doi.org/10.1093/texcom/tgab035
  22. Zeman et al. (2021). Behavioral and Neural Signatures of Visual Imagery Vividness Extremes: Aphantasia versus Hyperphantasia. Cerebral Cortex Communications, Volume 2, Issue 2, tgab035. https://doi.org/10.1093/texcom/tgab035
  23. Keogh et al. (2022). The pupillary light response as a physiological index of aphantasia, sensory and phenomenological imagery strength. eLife; 11:e72484. https://doi.org/10.7554/eLife.72484
  24. Blomkvist, A. (2022). Aphantasia: In search of a theory. Mind & Language. https://doi.org/10.1111/mila.12432
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  27. Zeman, A. (2024). Aphantasia and hyperphantasia: exploring imagery vividness extremes. Trends in Cognitive Sciences. https://doi.org/10.1016/j.tics.2024.02.007
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