Vacina: História, Conquistas e Mitos
- Atualizado no dia 4 de junho de 2024 -
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Recentemente, nas Filipinas - um país no sul da Ásia -, um triste e preocupante pânico tomou conta da população. De acordo com o Sub-Secretário de Saúde, Enrique Domingo, muitos pais estão se recusando a vacinar seus filhos pra a pólio, catapora e tétano por causa de um medo infundado. O centro do problema começou com a Dengvaxia, uma droga desenvolvida pela companhia Francesa Sanofi e a primeira vacina do mundo contra a dengue, uma doença que afeta mais de 400 milhões de pessoas todos os anos e responsável por inúmeras mortes de crianças em países asiáticos e latino-americanos. Durante os anos de 2016 e 2017, mais de 800 mil crianças foram vacinadas no país com a Dengvaxia, mas, nesse mesmo período, 14 dessas crianças morreram, e seus pais em revolta acusaram a nova vacina de ter sido a causa. Houve uma pesada investigação por especialistas, e descobriu-se - como já esperado - que as mortes não estavam ligadas com a vacina. Porém, o estrago já tinha sido feito. Estima-se que o índice de vacinação caiu 60% para algumas doenças, e a crise só está piorando.
Esse relato, infelizmente, é algo comum sendo visto no campo da vacinação desde a década de 1870 ao redor de todo o mundo, mesmo a vacina sendo uma das maiores conquistas da humanidade e responsável pela prevenção de milhões de mortes todos os anos. Desinformações se misturam com o sofrimento e confusão da população para gerar o monstro do pânico, este o qual age sem lógica ou razoabilidade, e alimenta-se apenas de emoções e crenças infundadas.
Campanhas ignorantes contra a imunização ainda continuam atuando com força no mundo, e acabam gerando quedas preocupantes nas taxas de vacinação em inúmeros países, principalmente na França, Itália e nos EUA. Chega-se ao cúmulo de, no Paquistão, militantes Islâmicos estarem atacando profissionais de vacinação em anos recentes afirmando que a imunização é uma campanha do Ocidente para esterilizar as crianças Paquistanesas. E grande parte desses movimentos irracionais foi fortemente fomentada a partir de 1998, quando um criminoso estudo falsamente ligou as vacinas do sarampo, caxumba e rubéola com o autismo, e acabou se tornando uma das principais bandeiras dos movimentos anti-vacinação.
O artigo a seguir vem para trazer um amplo e resumido esclarecimento sobre as vacinas, e está dividido em três partes principais:
Existe uma antiga dúvida na comunidade científica sobre a origem da primeira vacina: era de um vírus de vaca ou de cavalo? Aliás, o próprio criador da primeira vacina, no século XVIII, se perguntava a mesma coisa.
O médico Britânico Dr. Edward Jenner, em 1796, testou a hipótese de que as ordenhadoras da região do interior da Inglaterra não contraíam varíola pois eram protegidas pela infecção que apresentavam nas mãos contraída das vacas (supostamente o vírus cowpox). Ele retirou material da lesão da ordenhadora Sarah Nelmes e inoculou em uma criança. Semanas depois, ele inoculou no braço dessa criança material oriundo de lesão de varíola e a criança não desenvolveu a doença. Após outras tentativas com sucesso, ele publicou seus achados em um impactante estudo de 1798.
Esse extrato obtido por Jenner para a imunização recebeu o nome de 'vírus vaccnia', em referência ao termo em latim 'vaccinae' que denota a origem bovina do material. O mundo estava testemunhando a primeira vacina (o nome é em homenagem ao 'vírus vaccnia') propriamente dita. Esse nome mais tarde passou a denominar um distinto vírus usado para a produção da vacina contra a varíola, o vaccinia (VACV) - um vírus do gênero Orthopoxvirus da família Poxviridae que, em seres humanos, ocasionalmente gera uma doença não-letal, pustular e localizada -, o qual se mostrou distinto daquele utilizado por Jenner.
Porém, pesquisas recentes mostram que a vacina da varíola de Jenner parece ter se originado na verdade de cavalos e análises moleculares mostram que a moderna cepa do vírus VACV compartilha uma ancestralidade comum com o vírus HPXV. O próprio Jenner notava que cuidadores de cavalo nas fazendas de onde tinha extraído sua vacina contra a varíola às vezes iam ordenhar vacas também, podendo haver a possibilidade de que um vírus de cavalo estava sendo passado para as vacas, e que as infecções de onde o material de imunização estava sendo retirado poderiam estar sendo causadas por esse vírus, e não pelo cowpox.
De qualquer forma, seja do cavalo ou da vaca, a vacina se mostrou um milagre para a medicina moderna desde então. Nos últimos 50 anos ela salvou mais vidas ao redor do mundo do que qualquer outro produto médico ou procedimento. Mas os pilares da vacina não foram construídos somente a partir do século XVIII, encontrando suas origens mais primitivas desde a Grécia Antiga.
429 a.C. - Thucydides, um famoso historiador grego, anotou em seus registros que aqueles que sobreviveram à praga de varíola em Atenas não se infectavam mais com a doença.
900 d.C. - Os chineses foram os primeiros a descobrirem uma primitiva forma de vacinação chamada de 'variolação', sendo utilizada já no início do século X e particularmente entre os séculos XIV e XVII. A técnica se baseava em expor pessoas saudáveis ao tecido de cicatrizes causadas pela varíola, tanto através do contato direto com a pele quanto pela insertação de pó das pústulas cicatrizadas no nariz, com o objetivo de prevenir a doença ao provocar no corpo uma forma benigna da doença (varioloide).
1700-1796 - A variolação eventualmente se espalhou para a Turquia e chegou na Inglaterra no início do século XVIII. Nesse época, a varíola era a doença mais infecciosa na Europa, atingindo ricos e pobres sem distinção, e matando até 1/5 daqueles infectados em numerosas epidemias. A variolação causava uma forma mais amena da doença na maioria das vezes, e apesar de ocasionalmente causar mortes, foi responsável por diminuir significativamente as taxas de varíola nas populações que se submetiam à técnica.
1796 - Aqui, finalmente, temos a descoberta da vacinação - na sua forma moderna - por Edward Jenner. A diferença entre a variolização e a vacina de Jenner é que a primeira tentava implantar a forma benigna da varíola, e a segunda buscava evitar a varíola através do acometimento de doença não letal.
1803 - O suporte para a vacinação começa a crescer substancialmente, depois de ter sido inicialmente recebida com descrédito e receio. Jenner foi agraciado com um fundo governamental e, em 1803, o Instituto Real Jenneriano foi fundado. A partir daí, a vacinação se tornou popular ao longo de toda a Europa, e, pouco tempo depois, nos EUA. Chegou ao Brasil ainda no século XVIII.
1840 - Cerca de vinte anos depois da descoberta da vacina, percebeu-se que, algum tempo após a inoculação, seu efeito imunitário era perdido. Assim, após anos de investigações científicas, o vírus cowpox original foi localizado, iniciando uma nova etapa da imunização antivariólica, com a utilização da vacina retirada diretamente da pústula da vaca e inoculada no homem. Quebrava-se assim a cadeia de imunização conhecida como ‘de braço a braço’, e dava-se início à era da ‘vacina animal’. Porém, é válido lembrar que até o momento não se sabia ainda qual a natureza específica das vacinas e da doença, apenas que a vacina funcionava.
1870-1880 - Na década de 1870, apesar da vacinação estar sendo abraçada por muitos, começaram a pipocar algumas violentas campanhas de oposição. Diversas pessoas, por causa de desinformações ou falta de informações, não acreditavam que as vacinas - principalmente de origem animal - funcionavam e as consideravam perigosas. Entre essas pessoas, existiam aquelas que se sentiam tiradas da sua liberdade civil, particularmente quando a vacinação era compulsória. Mesmo com a sua comprovada maior efetividade, não obstante a comprovação de sua eficácia, a vacina animal demorou mais de vinte anos para se difundir fora de seu país de origem, chegando ao Brasil somente em 1887.
1880-1890 - O famoso cientista Louis Pasteur aperfeiçoou a vacinação ainda mais e desenvolveu a vacina para a raiva. À medida que a ciência da imunologia se desenvolveu - sustentada pelo desenvolvimento de um profundo conhecimento de microbiologia e imunologia e por importantes descobertas técnicas, com destaque para a microscopia eletrônica, os cientistas começaram a entender mais sobre como as doenças funcionam, e, assim, outras vacinas foram criadas. Em relação à vacina antivariólica, tivemos um grande avanço em Berlim, no ano de 1886, com a introdução da glicerina como substância purificadora e conservadora para o imunoterápico, procedimento que se tornou de uso universal. Essa descoberta, de grande valia, resultou da comprovação de que a vacina continha restos celulares, líquidos orgânicos e outros microrganismos que precisavam ser eliminados ou controlados. As experiências alteraram também a concepção de varíola, possibilitando a elucidação do agente etiológico, a compreensão do processo imunológico natural, da fisiopatologia e da terapêutica. O permanganato de potássio tornou-se um agente fundamental no tratamento da doença, na medida em que eliminava os microrganismos que provocavam infecções secundárias e agravavam a doença.
1890 - O cientista Alemão Emil von Behring foi premiado com o primeiro Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina ao descobrir a base das vacinas da difteria e tétano. Já o médico e bacteriologista Japonês Shibasaburo Kitasato descobriu as antitoxinas da difteria e do tétano, demonstrando que animais injetados com pequenas quantidades da toxina do tétano se tornavam imunes à doença.
1920-1930 - Pelo fim da década de 1920, vacinas para a difteria, tétano, coqueluche e tuberculose já estavam disponíveis. Nesse ponto, a vacinação se espalhou pelo mundo, e apesar dessas formulações de vacina ainda serem relativamente cruas, elas funcionavam muito bem. Os primeiro programas de vacinação dramaticamente reduziram o número de mortes de um número de doenças e foram cruciais para estabelecer o conceito de medidas preventivas de saúde pública.
1955 - Aqui a vacinação para a pólio foi introduzida no Reino Unido, reduzindo enormemente o número de casos dessa doença. Atualmente, a pólio é extremamente rara e está perto de ser completamente eliminada do planeta - embora casos recentes tenham aumentado significativamente devido a quedas nas taxas de vacinação.
1956 - A Organização Mundial de Saúde (OMS) faz sua primeira tentativa de usar a vacina da varíola em escala global para a completa erradicação da terrível doença em todo o mundo.
1980 - Os esforços da OMS alcançaram seu objetivo, e a varíola foi declarada erradicada. Essa foi uma das mais marcantes conquistas na história da medicina.
2008 - O pesquisador Harald zur Hausen descobriu que o câncer cervical er causado por um vírus, tornando possível desenvolver uma vacina para a doença (isso lhe rendeu um Prêmio Nobel). Então, cientistas conseguiram provar mais tarde que um grupo de vírus chamado de papilomavírus humano (HPV) causavam o câncer cervical. A descoberta levou ao desenvolvimento da vacina HPV, a qual protege contra o câncer cervical, e é agora mundialmente disponível para a população.
2013 - Vacinas começam a entrar em ação contra o rotavírus em bebês e o herpes-zóster para pessoas com mais de 70 anos. Uma vacina contra a gripe para crianças também foi lançada, e confeccionada na forma de spray nasal ao invés de injeção.
2015 - A vacinação de bebês contra a meningite B é lançada.
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O artigo a seguir vem para trazer um amplo e resumido esclarecimento sobre as vacinas, e está dividido em três partes principais:
- HISTÓRIA DA VACINAÇÃO (Suas origens e conquistas ao longo da história humana, incluindo o famoso capítulo da história brasileira conhecido como 'Revolta da Vacina')
- COMO A VACINA FUNCIONA? (Mecanismo de ação e outras informações de interesse nessa área, como possíveis efeitos colaterais oriundos das vacinas)
- MITOS (As principais desinformações que fomentam os movimentos anti-vacinação)
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Existe uma antiga dúvida na comunidade científica sobre a origem da primeira vacina: era de um vírus de vaca ou de cavalo? Aliás, o próprio criador da primeira vacina, no século XVIII, se perguntava a mesma coisa.
O médico Britânico Dr. Edward Jenner, em 1796, testou a hipótese de que as ordenhadoras da região do interior da Inglaterra não contraíam varíola pois eram protegidas pela infecção que apresentavam nas mãos contraída das vacas (supostamente o vírus cowpox). Ele retirou material da lesão da ordenhadora Sarah Nelmes e inoculou em uma criança. Semanas depois, ele inoculou no braço dessa criança material oriundo de lesão de varíola e a criança não desenvolveu a doença. Após outras tentativas com sucesso, ele publicou seus achados em um impactante estudo de 1798.
Esse extrato obtido por Jenner para a imunização recebeu o nome de 'vírus vaccnia', em referência ao termo em latim 'vaccinae' que denota a origem bovina do material. O mundo estava testemunhando a primeira vacina (o nome é em homenagem ao 'vírus vaccnia') propriamente dita. Esse nome mais tarde passou a denominar um distinto vírus usado para a produção da vacina contra a varíola, o vaccinia (VACV) - um vírus do gênero Orthopoxvirus da família Poxviridae que, em seres humanos, ocasionalmente gera uma doença não-letal, pustular e localizada -, o qual se mostrou distinto daquele utilizado por Jenner.
Porém, pesquisas recentes mostram que a vacina da varíola de Jenner parece ter se originado na verdade de cavalos e análises moleculares mostram que a moderna cepa do vírus VACV compartilha uma ancestralidade comum com o vírus HPXV. O próprio Jenner notava que cuidadores de cavalo nas fazendas de onde tinha extraído sua vacina contra a varíola às vezes iam ordenhar vacas também, podendo haver a possibilidade de que um vírus de cavalo estava sendo passado para as vacas, e que as infecções de onde o material de imunização estava sendo retirado poderiam estar sendo causadas por esse vírus, e não pelo cowpox.
De qualquer forma, seja do cavalo ou da vaca, a vacina se mostrou um milagre para a medicina moderna desde então. Nos últimos 50 anos ela salvou mais vidas ao redor do mundo do que qualquer outro produto médico ou procedimento. Mas os pilares da vacina não foram construídos somente a partir do século XVIII, encontrando suas origens mais primitivas desde a Grécia Antiga.
429 a.C. - Thucydides, um famoso historiador grego, anotou em seus registros que aqueles que sobreviveram à praga de varíola em Atenas não se infectavam mais com a doença.
900 d.C. - Os chineses foram os primeiros a descobrirem uma primitiva forma de vacinação chamada de 'variolação', sendo utilizada já no início do século X e particularmente entre os séculos XIV e XVII. A técnica se baseava em expor pessoas saudáveis ao tecido de cicatrizes causadas pela varíola, tanto através do contato direto com a pele quanto pela insertação de pó das pústulas cicatrizadas no nariz, com o objetivo de prevenir a doença ao provocar no corpo uma forma benigna da doença (varioloide).
1700-1796 - A variolação eventualmente se espalhou para a Turquia e chegou na Inglaterra no início do século XVIII. Nesse época, a varíola era a doença mais infecciosa na Europa, atingindo ricos e pobres sem distinção, e matando até 1/5 daqueles infectados em numerosas epidemias. A variolação causava uma forma mais amena da doença na maioria das vezes, e apesar de ocasionalmente causar mortes, foi responsável por diminuir significativamente as taxas de varíola nas populações que se submetiam à técnica.
1796 - Aqui, finalmente, temos a descoberta da vacinação - na sua forma moderna - por Edward Jenner. A diferença entre a variolização e a vacina de Jenner é que a primeira tentava implantar a forma benigna da varíola, e a segunda buscava evitar a varíola através do acometimento de doença não letal.
1803 - O suporte para a vacinação começa a crescer substancialmente, depois de ter sido inicialmente recebida com descrédito e receio. Jenner foi agraciado com um fundo governamental e, em 1803, o Instituto Real Jenneriano foi fundado. A partir daí, a vacinação se tornou popular ao longo de toda a Europa, e, pouco tempo depois, nos EUA. Chegou ao Brasil ainda no século XVIII.
1840 - Cerca de vinte anos depois da descoberta da vacina, percebeu-se que, algum tempo após a inoculação, seu efeito imunitário era perdido. Assim, após anos de investigações científicas, o vírus cowpox original foi localizado, iniciando uma nova etapa da imunização antivariólica, com a utilização da vacina retirada diretamente da pústula da vaca e inoculada no homem. Quebrava-se assim a cadeia de imunização conhecida como ‘de braço a braço’, e dava-se início à era da ‘vacina animal’. Porém, é válido lembrar que até o momento não se sabia ainda qual a natureza específica das vacinas e da doença, apenas que a vacina funcionava.
1870-1880 - Na década de 1870, apesar da vacinação estar sendo abraçada por muitos, começaram a pipocar algumas violentas campanhas de oposição. Diversas pessoas, por causa de desinformações ou falta de informações, não acreditavam que as vacinas - principalmente de origem animal - funcionavam e as consideravam perigosas. Entre essas pessoas, existiam aquelas que se sentiam tiradas da sua liberdade civil, particularmente quando a vacinação era compulsória. Mesmo com a sua comprovada maior efetividade, não obstante a comprovação de sua eficácia, a vacina animal demorou mais de vinte anos para se difundir fora de seu país de origem, chegando ao Brasil somente em 1887.
1880-1890 - O famoso cientista Louis Pasteur aperfeiçoou a vacinação ainda mais e desenvolveu a vacina para a raiva. À medida que a ciência da imunologia se desenvolveu - sustentada pelo desenvolvimento de um profundo conhecimento de microbiologia e imunologia e por importantes descobertas técnicas, com destaque para a microscopia eletrônica, os cientistas começaram a entender mais sobre como as doenças funcionam, e, assim, outras vacinas foram criadas. Em relação à vacina antivariólica, tivemos um grande avanço em Berlim, no ano de 1886, com a introdução da glicerina como substância purificadora e conservadora para o imunoterápico, procedimento que se tornou de uso universal. Essa descoberta, de grande valia, resultou da comprovação de que a vacina continha restos celulares, líquidos orgânicos e outros microrganismos que precisavam ser eliminados ou controlados. As experiências alteraram também a concepção de varíola, possibilitando a elucidação do agente etiológico, a compreensão do processo imunológico natural, da fisiopatologia e da terapêutica. O permanganato de potássio tornou-se um agente fundamental no tratamento da doença, na medida em que eliminava os microrganismos que provocavam infecções secundárias e agravavam a doença.
1890 - O cientista Alemão Emil von Behring foi premiado com o primeiro Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina ao descobrir a base das vacinas da difteria e tétano. Já o médico e bacteriologista Japonês Shibasaburo Kitasato descobriu as antitoxinas da difteria e do tétano, demonstrando que animais injetados com pequenas quantidades da toxina do tétano se tornavam imunes à doença.
1920-1930 - Pelo fim da década de 1920, vacinas para a difteria, tétano, coqueluche e tuberculose já estavam disponíveis. Nesse ponto, a vacinação se espalhou pelo mundo, e apesar dessas formulações de vacina ainda serem relativamente cruas, elas funcionavam muito bem. Os primeiro programas de vacinação dramaticamente reduziram o número de mortes de um número de doenças e foram cruciais para estabelecer o conceito de medidas preventivas de saúde pública.
1955 - Aqui a vacinação para a pólio foi introduzida no Reino Unido, reduzindo enormemente o número de casos dessa doença. Atualmente, a pólio é extremamente rara e está perto de ser completamente eliminada do planeta - embora casos recentes tenham aumentado significativamente devido a quedas nas taxas de vacinação.
1956 - A Organização Mundial de Saúde (OMS) faz sua primeira tentativa de usar a vacina da varíola em escala global para a completa erradicação da terrível doença em todo o mundo.
1980 - Os esforços da OMS alcançaram seu objetivo, e a varíola foi declarada erradicada. Essa foi uma das mais marcantes conquistas na história da medicina.
2008 - O pesquisador Harald zur Hausen descobriu que o câncer cervical er causado por um vírus, tornando possível desenvolver uma vacina para a doença (isso lhe rendeu um Prêmio Nobel). Então, cientistas conseguiram provar mais tarde que um grupo de vírus chamado de papilomavírus humano (HPV) causavam o câncer cervical. A descoberta levou ao desenvolvimento da vacina HPV, a qual protege contra o câncer cervical, e é agora mundialmente disponível para a população.
2013 - Vacinas começam a entrar em ação contra o rotavírus em bebês e o herpes-zóster para pessoas com mais de 70 anos. Uma vacina contra a gripe para crianças também foi lançada, e confeccionada na forma de spray nasal ao invés de injeção.
2015 - A vacinação de bebês contra a meningite B é lançada.
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CURIOSIDADE: SARAMPO TAMBÉM VEIO DO GADO?
O sarampo é causado pelo Measles morbillivirus (MeV), um vírus de RNA de fita única da família Paramyxoviridae. Esse vírus é um patógeno exclusivamente humano e seu mais próximo parente evolutivo é o agora erradicado Rinderpest morbillivirus (RPV), um patógeno bovino altamente destrutivo. Nesse sentido, sempre foi sugerido que o MeV emergiu através de um processo zoonótico, onde um vírus bovino próximo-relacionado ao RPV - um intermediário entre MeV e RPV capaz de infectar humanos e gado - passou do gado para humanos.
Nesse sentido, um estudo de 2020 publicado na Science (Ref.66), resolveu explorar mais a fundo a origem do MeV. Para isso, eles realizaram uma análise comparativa entre o genoma viral de um caso de sarampo de 1912 extraído de um pulmão conservado há mais de 100 anos - de uma garota de 2 anos de idade diagnosticada com broncopneumonia causada pelo sarampo - com dados sequenciais do genoma de vírus do MeV de 1960 e de 127 genomas modernos do MeV. Usando uma série de modelos evolucionários e de relógios moleculares (!), os pesquisadores traçaram a emergência do MeV entre os anos de 1174 a.C. e 165 a.C., com uma estimativa média de 528 a.C. O achado suporta um cenário onde um vírus bovino ancestral circulou entre o gado por milhares de anos, antes de pular para humanos à medida que as cidades começaram surgir e a população humana começou a aumentar de forma robusta, no final do primeiro milênio a.C. (favorecendo surtos epidêmicos). Evidências genético-arqueológicas são necessárias para confirmar a hipótese.
(!) Leitura recomendada: Como calcular a idade dos fósseis e da Terra?
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E as pesquisas e desenvolvimento de novas vacinas não param. Uma para a dengue está sendo testada em alguns países já com excelentes resultados nos últimos anos, e importantes passos estão sendo dados para a produção de vacina contra a gonorreia, Zika vírus (este o qual já possui uma que mostrou ser eficiente em testes clínicos envolvendo animais e humanos) e a tão aguardada AIDS (HIV). E apesar das vacinas para a gripe terem que ser atualizadas a cada 6 meses e não servirem para todas as cepas do influenza, ela também mostrou importantes resultados nos últimos anos, diminuindo consideravelmente a incidência da doença em pessoas nos grupo de risco, como crianças muito novas e idosos.
E segundo um estudo recentemente publicado no The Lancet Global Health (Ref.52), entre os anos de 2000 e 2015, o número de óbitos infantis devido às infecções causadas pelas bactérias Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae type b (Hib) caíram cerca de 51% e 90% respectivamente em países do Sul Asiático e da África com a introdução das vacinas. Isso corresponde a algo em torno de 1,45 milhões de crianças salvas ao longo desse período. Já um estudo publicado na eLife (Ref.62) mostrou que entre 2010 e 2013, após as campanhas de vacinação contra o sarampo na Índia, entre 41 mil e 56 mil mortes de crianças foram evitadas, ou 37-57% menos mortes. Com uma alta taxa de imunização a partir de uma maior cobertura de crianças vacinadas, os autores do estudo afirmaram que é possível eliminar as mortes infantis causadas por sarampo no país.
Um terceiro estudo publicado no periódico Vaccine (Ref.63) mostrou que após 22 anos após a introdução da vacina contra o vírus Hepatite B para pré-adolescentes na Catalunha, Espanha, as taxas de incidência da doença na região diminui 52% (do período de 1991 até 2014). E, por fim, mais recentemente, um estudo publicado na BMJ (Ref.64) encontrou uma dramática diminuição nos níveis de células anormais e de lesões cervicais - conhecidas como neoplasia cervical intraepitelial, ou CIN - em mulheres imunizadas contra o vírus HPV na Escócia. O CIN é dividido em três grades: CIN1, CIN2 e CIN3, e quanto maior o número, maior o risco de desenvolvimento de câncer invasivo. Comparado com mulheres não vacinadas nascidas em 1988, mulheres vacinadas aos 12-13 anos de idade nascidas em 1995 e em 1996 mostraram uma redução de 89% no CIN3 ou pior, uma redução de 88% no CIN2 ou pior, e uma redução de 79% no CIN1. Foram quase 140 mil mulheres analisadas. A vacinação analisada é aquela cobrindo os vírus HPV tipo 16 e tipo 18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer cervical no mundo.
REVOLTA DA VACINA
Apesar de no Brasil ainda existir uma grande quantidade de crianças não vacinadas adequadamente, podemos dizer com orgulho que hoje temos um poderoso programa nacional de vacinação e somos uma relativa referência mundial no campo da imunização. Diversas doenças como a pólio, o sarampo e a rubéola foram combatidas com sucesso no território brasileiro. Porém, no século XX, experienciamos um dos maiores levantes populares da nossa história, conhecido como 'Revolta da Vacina'. Esse episódio histórico reuniu uma série de elementos bastante significativos em relação à vacina e sua utilização social, envolvendo desinformações, ineficiência na propagação das informações e até mesmo fatores de manipulação política - a insurreição seria fruto da pregação de opositores do regime que viram na insatisfação popular contra Oswaldo Cruz e Pereira Passos (responsáveis respectivamente pelo combate às epidemias e pela reforma urbana que então se
processavam) uma oportunidade de derrubar o governo liderado por Rodrigues Alves.
Bem, no início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, mesmo um ponto turístico importante, era bastante deficiente em estruturas básicas de saneamento básico e possuía péssimas condições de higiene, culminando em um prato cheio de epidemias, especialmente febre amarela, varíola e peste bulbônica. Então, em 1904, a cidade foi assolada por uma violenta epidemia de varíola, forçando as autoridades a tomarem providências. Oswaldo Cruz - na época o Diretor Geral de Saúde Pública (cargo hoje do Ministro da Saúde) - mandou ao Congresso uma lei que reiterava a obrigatoriedade da vacinação, já instituída em 1837, mas que nunca tinha sido cumprida. Ciente da resistência da opinião pública, montou uma campanha em moldes militares. Dividiu a cidade em distritos, criou uma polícia sanitária com poder para desinfetar casas, caçar ratos e matar mosquitos.
Com a imposição da vacinação obrigatória, as brigadas sanitárias entravam nas casas e vacinavam as pessoas à força. Isso, obviamente, causou uma repulsa pela maneira como foi feita. A maioria da população ainda desconhecia e temia os efeitos que a injeção da vacina poderia trazer, devido à extrema falta de informações de conscientização e educação básica deficiente. Nisso, setores de oposição ao governo gritaram contra as medidas autoritárias e quase toda a imprensa ficou contra Oswaldo Cruz, ridicularizando seus atos com charges e artigos.
Tudo isso ainda veio para se juntar às políticas de remodelação urbana implantadas pelo presidente Rodrigues Alves (1902-1906), este o qual decidiu modernizar a cidade e tomar medidas drásticas para combater as epidemias. Cortiços e casebres, que compunham inúmeros quarteirões dos bairros centrais, foram demolidos, e deram lugar a grandes avenidas e ao alargamento das ruas, seguindo o modelo de urbanização dos grandes bulevares de Paris. A população local foi desalojada, refugiando-se em barracos nos morros cariocas ou em bairros distantes na periferia, e disparando a expansão das favelas.
Como eventual resultado, em 11 de novembro de 1904, uma rebelião popular explodiu, regada com incêndios, saques e violentos confrontos com a força policial. Durante uma semana as ruas do Rio de Janeiro se transformaram no palco de uma verdadeira guerra civil. Segundo dados oficiais da época, foram 23 mortos e 67 feridos, tendo sido presas 945 pessoas, das quais quase a metade foi deportada para o Acre e submetida a trabalhos forçados.
Episódios como esse mostram a importância da conscientização e da educação da população sobre questões de saúde em detrimento do uso da força e da violência. Bruscas imposições apenas servem para ativar uma forte reação emocional que muitas vezes acabam obscurecendo quaisquer processos lógicos de pensamento. E os danos de um único evento podem trazer sérias consequências crônicas. Felizmente, apesar de existirem no Brasil posições e ações individuais contra vacinas (ou sua obrigatoriedade) - fundamentadas por argumentos de natureza religiosa, ética, política ou científica, e mesmo eventuais desconfianças em relação aos riscos de uma determinada vacina, seus custos e benefícios ou do açodamento de uma campanha -, elas não se transformaram em movimentos sociais, científicos ou profissionais contra a imunização, como aqueles encontrados nos Estados Unidos ou na Inglaterra do século XXI.
SISTEMA IMUNE
A imunidade é a habilidade do corpo humano - e de outros organismos vivos - de proteger a si mesmo de doenças infecciosas. O complexo sistema imune tanto de mecanismos inatos quanto de sistemas adquiridos. A imunidade inata (não-específica) está presente desde o nascimento e inclui barreiras físicas (pele, membranas, mucosas, etc.), barreiras químicas (acidez estomacal, enzimas digestivas, ácidos graxos bacteriostáticos da pele, etc.), células fagocíticas e o sistema complementar; ou seja, são mecanismos gerais básicos de proteção e representam a primeira barreira a ser rompida para um patógeno atacar seu corpo (por exemplo, um vírus HIV não conseguirá infectar seu corpo apenas tendo contato com a pele do braço).
Já a imunidade adquirida é geralmente específica para um único organismo ou para um grupo de organismos evolucionalmente relacionados. Aqui, temos dois básicos mecanismos para o acionamento da imunidade: ativo e passivo.
Imunidade ativa: É produzida pelo próprio sistema imune do indivíduo e é geralmente de longa duração, podendo ser adquirida tanto pela doença natural quanto pela vacinação. É dividida em componentes mediados por anticorpos e componentes mediados por células, com ambos atuando em parceria. No caso da mediação-anticorpo, as respostas são produzidas por linfócitos B e seus descendentes diretos (células plasmáticas), e reguladas por contato com o antígeno e interações com as células T (um tipo de linfócito), macrófagos e complementos. Quando um linfócito B encontra um antígeno que ele reconhece, esse é estimulada a se proliferar e produzir grandes quantidades de linfócitos secretando um anticorpo para o antígeno. Nisso a infecção é combatida neutralizando-se o patógeno infeccioso, impedindo sua replicação, entre outros meios. Já a mediação-celular é controlada especificamente pelas células T, estas as quais mediam três principais funções: ajuda (estimula a resposta imune de outras células), supressão (controla o nível e a qualidade da resposta imune) e citotoxidade (diretamente destrói células infectadas e ativam fagócitos para destruir os patógenos).
Imunidade passiva: É a proteção fornecida pela transferência de anticorpo entre os sistemas imunes de indivíduos, mais comumente ocorrendo através da placenta - mãe para o feto - ou menos frequentemente através da transfusão sanguínea ou via produtos sanguíneos, incluindo a imunoglobulina. A proteção mediada pela placenta é mais efetiva contra algumas infecções (tétano e sarampo, por exemplo) do que para outras (pólio e coqueluche, por exemplo), e é temporária, durando geralmente por apenas algumas semanas ou meses.
VACINAS
As vacinas produzem um efeito protetor ao induzir a imunidade ativa e fornecer memória imunológica, esta a qual possibilita que o sistema imune reconheça e responda rapidamente ao ser exposto a uma infecção natural mais tarde, prevenindo ou modificando a doença. Basicamente, as vacinas imitam a infecção, mas sem causar a doença original, e deixam para trás linfócitos T e linfócitos B - os quais atuaram para combater essa infecção simulada - que irão se lembrar de como lutar contra a doença no futuro. Elas podem ser divididas em:
Vacinas vivas, atenuadas: São contra vírus e contêm uma versão viva desse tipo de microrganismo enfraquecida que não conseguem causar uma doença séria em pessoas com sistemas imunes saudáveis. Devido ao fato de utilizarem organismos vivos, as vacinas atenuadas são as mais próximas de uma infecção natural e acabam sensibilizando o sistema inume da pessoa com excelência. Exemplos de vacinas atenuadas incluem aquelas para o sarampo, a caxumba e a rubéola (tríplice viral), e a varicela (varíola). Mesmo essas vacinas sendo muito efetivas, nem todo mundo podem recebê-las. Crianças com o sistema imune enfraquecido - como aquelas passando por quimioterapia - não podem recebê-las.
Vacinas inativadas: Também são contra vírus e são feitas com o patógeno morto ou inativado, não existindo, portanto, qualquer tipo de infecção através dessas vacinas. Elas produzem respostas imunes de forma diferente do aquelas associadas com as vacinas atenuadas. Frequentemente, múltiplas doses são necessárias para a construção ou manutenção da imunidade. A vacina inativa da pólio é um exemplo desse tipo de vacina.
Vacinas toxoides: São contra bactérias que produzem toxinas no corpo. No processo de fabricação dessas vacinas, as toxinas bacterianas visadas são enfraquecidas para que não causem a doença, formando toxoides. Quando o sistema imune recebe a vacina contendo o toxoide, ele aprende a lutar a toxina original. Um exemplo é a vacina DTaP, a qual contém toxoides para a difteria e o tétato.
Vacinas de subunidades: Incluem apenas partes de vírus ou bactérias - subunidades - ao invés dos patógenos inteiros. Devido ao fato dessas vacinas conterem apenas os antígenos essenciais e não todas as moléculas que constroem o patógeno, efeitos colaterais são menos comuns. Um componente da vacina DTaP oriundo do vírus da coqueluche é um exemplo de vacina de subunidades.
Vacinas conjugadas: São usadas para combater um tipo específico de bactéria, organismo o qual possui um antígeno com uma camada externa formada de polissacarídeos (um tipo de carboidrato). Esse tipo de cobertura disfarça o antígeno, tornando difícil para o sistema imune de uma criança muito nova reconhecê-lo e criar uma resposta adequada. Nesse sentido, as vacinas conjugadas possuem antígenos conjugados (conectados) com polissacarídeos específicos, facilitando o trabalho de reconhecimento do sistema imune. Um exemplo é a vacina Haemophilus influenzae tipo B (Hib).
Outras formas mais eficientes de vacinas estão sendo hoje pesquisadas e desenvolvidas, como as Vacinas de DNA (as quais possuem o potencial de produzir uma imunidade muito poderosa e de longa duração para um amplo espectro de doenças), Vacinas de Vetor Recombinante (as quais agem quase que exatamente como a infecção natural no corpo - mas de forma segura -, ensinando perfeitamente o sistema imune a como combater a infecção original) e até mesmo vacinas em que uma única dose consegue entregar todas as vacinas recomendadas para as crianças.
EFEITOS COLATERAIS E FALHAS
No geral, como acontece com os medicamentos, as vacinas podem ter efeitos colaterais em algumas pessoas, como febre e leves infecções, mas que muito raramente se transformam em algo sério. Os riscos são virtualmente desprezíveis perto dos benefícios, e nas últimas décadas os novos métodos aperfeiçoados de produção das vacinas reduziram drasticamente a incidência e preocupação clínica dos efeitos colaterais.
Por exemplo, a vacina do tétano pode causar uma séria reação alérgica no máximo em 0,0006% das pessoas que as tomam. Já a taxa de mortalidade da infecção do tétano em pessoas não vacinadas é de 13,2%. Em outras palavras, os riscos são compensados, literalmente, milhares de vezes pelos benefícios. Chega a ser comparável a uma pessoa que fica com medo de sair de casa porque uma pequena pedra de meteoro pode acertar sua cabeça. Nessa mesma linha, outros efeitos colaterais muito raros aterrorizam as pessoas devido ao fato de casos isolados serem alardeados com bastante intensidade pelos grupos anti-vacinação ou mesmo na mídia, como ocorre com acidentes de avião, onde uma tragédia faz com que muitos achem o meio de transporte mais seguro do mundo o mais perigoso. Entre outros exemplos, podemos citar:
1. A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma desordem aguda e autoimune dos nervos periféricos caracterizada primariamente por uma fraqueza muscular e perda de reflexos. Parece incidir naturalmente entre 0,8 e 1,9 pessoas todos os anos para cada 100 mil pessoas, sendo mais comum em homens. A SGB está associada com antecedente de infecções gastrointestinais e do trato respiratório superior, incluindo gripe, e também fracamente com a vacina da gripe (por também gerar resposta imunológica no corpo). Acredita-se que seja uma desordem imune que resulta da geração de anticorpos autoimunes que atravessam-reagem com epítopes nos nervos periféricos, levando a danos nervosos. Uma meta-análise de 2015 mostrou que essa rara doença atinge 1 ou no máximo duas pessoas - dependendo do tipo de vacina ou população analisada - para cada 1 milhão de pessoas vacinadas. E as pouquíssimas pessoas que podem desenvolver essa doença via vacinas da gripe já estariam propensas a manifestar a doença (a qual parece possuir fatores genéticos envolvidos), especialmente se ficassem gripadas ou tivessem outras infecções já mencionadas.
2. Reações alérgicas sérias às vacinas, em geral, atingem apenas 2,6 pessoas para cada 2 milhões de pessoas vacinadas (!).
3. Um bloqueio intestinal não grave é visto em apenas 1-5 bebês para cada 100 mil bebês vacinados contra o rotavírus.
4. Vacinas também podem provocar (como também prevenir) convulsões febris em até 5% dos bebês que ficam febris após a vacina (por motivos diversos), e que, em termos globais, atingem 300 crianças para cada 1 milhão vacinadas. Porém, essas convulsões - mais comumente associadas com a MMR ou a MMR combinada, e com a vacina para a catapora - não são algo preocupante na grande maioria dos casos e tipicamente duram de 1 a 2 minutos. Aliás, vários eventos de febre gerados por causas diversas podem disparar convulsões nas crianças que, apesar de serem assustadoras de serem vistas, carregam baixíssimos riscos de danos. Aliás, esses eventos de febre são muitas vezes causados com maior intensidade quando o bebê/criança adquire doenças que não teriam caso tivesse sido vacinado.
5. A vacina da dengue já está atuando em 11 países nos últimos anos, e sendo de exclusiva fabricação da Sanofi Pasteur. No mundo todo, 100 milhões de pessoas são infectadas pela doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti (o hospedeiro intermediário do vírus da dengue). Quando a pessoa é primeiro infectada por qualquer um dos quatro sorotipos do vírus, ela tipicamente desenvolve uma doença não séria, com sintomas parecidos com o da gripe, englobando dores musculares e febre. Porém, se a pessoa é infectada uma segunda vez com outro sorotipo (já que ela ganhou imunidade contra o primeiro que a infectou), ela pode desenvolver uma forma mais grave da doença, conhecida como dengue hemorrágica, onde existe uma massiva perda de fluídos corporais, falhas de órgãos e morte. Porém, o mecanismo ainda é incerto do porquê isso acontece, sendo que uma das hipóteses hoje sendo mais aceita é a de que o vírus entra em parceria com os anticorpos (ligantes e neutros) anteriormente produzidos para combater a gripe, via otimização anticorpo-dependente (ADE, na sigla em inglês). Estudos já mostraram que uma criança com uma proporção ideal de anticorpos ligantes/neutros possui um risco 7,64 vezes maior de adquirir a dengue hemorrágica (Ref.30). Além disso, um estudo recente publicado no PLOS ONE (Ref.42) revelou dois genes que tornam as populações asiáticas e europeias - PLCE1 e PLCB4, ambos relacionados com inflamações nos vasos sanguíneos - mais suscetíveis à dengue hemorrágica (1). Nesse cenário, por precaução, as vacinas da Sanofi Pasteur desde o final do ano passado estavam sendo dadas apenas para crianças maiores de 9 anos e que já tiveram dengue antes (ou seja, possuem já anticorpos contra um sorotipo e terão as mesmas chances de desenvolver a dengue hemorrágica com ou sem vacina) (Ref.31). E, mais recentemente, a OMS determinou que essa vacina só poderá ser dada às pessoas que já tiveram dengue (Ref.49) Mas fora essas circunstâncias, as vacinas da dengue são muito seguras e estão salvando inúmeras vidas.
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(!) ALERGIAS
A chance de você ter uma real alergia a vacinas é ínfima. Apenas 1 em cada 760 mil vacinações envolverão uma anafilaxia. Um estudo publicado no Canadian Medical Association Journal (Ref.65) listou cinco principais fatos sobre reações alérgicas às vacinas:
I. Alergias mediadas pela Imunoglobulina-E (IgE) às vacinas são extremamente incomuns, e começaram dentro de minutos da vacinação, sendo improvável começar após 60 minutos e altamente improvável começar após 4 horas.
II. Sinais como febre, dor local ou inchaço local não são sinais de alergia. Essas respostas a uma vacina podem acontecer de 7 a 21 dias após a vacinação, mas elas não são uma reação alérgica.
III. Com exceção da vacina para a febre amarela, uma alergia a ovos não é razão para evitar as vacinas. Nenhuma precaução especial é necessária quando a pessoa com alergia a ovos toma uma vacina para a gripe, tríplice viral ou raiva porque a quantidade de proteína de ovo (albumina) que pode conter nelas é muito minúscula.
IV. Pode ocorrer uma rara reação alérgica ao látex associado aos materiais da seringa ou em contato com esta, mas a vacina em si não é a causa do problema.
V. Mesmo se você possuir uma raríssima alergia a vacinas, seu alergista pode vacinar você com segurança, via técnicas diversas como administração gradual.
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Somando-se a esses fatos, nenhuma vacina oferece 100% de proteção, com uma pequena proporção de indivíduos podendo ainda ser infectados com a doença (lembre-se, nenhum corpo é igual ao outro). As vacinas podem falhar de duas maneiras: de forma primária ou de forma secundária. Falha primária ocorre quando um indivíduo falha em criar uma resposta imunológica inicial após ser exposto à vacina. A infecção pode ocorrer, portanto, a qualquer momento após a vacinação. Um exemplo é a vacina MMR, onde 5-10% das crianças não respondem aos componentes destinados a dar imunidade contra o sarampo. Nesse caso, o risco de sarampo em tais crianças é reduzido ao se oferecer uma dose adicional de vacina, geralmente antes da entrada escolar.
A falha secundária ocorre quando o indivíduo responde inicialmente bem à vacina, mas então a proteção vai enfraquecendo com o tempo. Nesse caso, caso a infecção ocorra, as chances são grandes dela vir de forma mais suave e menos séria em comparação com as pessoas que nunca foram vacinadas. Um bom exemplo é a vacina para a coqueluche, na qual após as três doses iniciais é garantida uma excelente imunidade mas, à medida que a criança vai ficando mais velha, a proteção vai diminuindo. Uma quarta dose (reforço) é então dada para compensar a proteção perdida durante os anos escolares.
Outro ponto importante é destacar que muitos dos poucos casos de "efeitos colaterais" durante a vacinação não ocorrem por causa da vacina em si, e, sim, por causa de erro humano na hora da aplicação (injeção no lugar errado do braço). Infelizmente, danos gerados por causa de profissionais de saúde despreparados mancham injustamente a imagem das vacinas. Existem também casos de coincidência, onde algumas pessoas desenvolvem uma doença em nada relacionada com a vacina que tomaram, mas como a vacinação ocorreu próximo da data de ocorrência da doença, a culpa acaba indo para a vacina, especialmente considerando o medo irracional que envolve o assunto.
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E as pesquisas e desenvolvimento de novas vacinas não param. Uma para a dengue está sendo testada em alguns países já com excelentes resultados nos últimos anos, e importantes passos estão sendo dados para a produção de vacina contra a gonorreia, Zika vírus (este o qual já possui uma que mostrou ser eficiente em testes clínicos envolvendo animais e humanos) e a tão aguardada AIDS (HIV). E apesar das vacinas para a gripe terem que ser atualizadas a cada 6 meses e não servirem para todas as cepas do influenza, ela também mostrou importantes resultados nos últimos anos, diminuindo consideravelmente a incidência da doença em pessoas nos grupo de risco, como crianças muito novas e idosos.
E segundo um estudo recentemente publicado no The Lancet Global Health (Ref.52), entre os anos de 2000 e 2015, o número de óbitos infantis devido às infecções causadas pelas bactérias Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae type b (Hib) caíram cerca de 51% e 90% respectivamente em países do Sul Asiático e da África com a introdução das vacinas. Isso corresponde a algo em torno de 1,45 milhões de crianças salvas ao longo desse período. Já um estudo publicado na eLife (Ref.62) mostrou que entre 2010 e 2013, após as campanhas de vacinação contra o sarampo na Índia, entre 41 mil e 56 mil mortes de crianças foram evitadas, ou 37-57% menos mortes. Com uma alta taxa de imunização a partir de uma maior cobertura de crianças vacinadas, os autores do estudo afirmaram que é possível eliminar as mortes infantis causadas por sarampo no país.
Um terceiro estudo publicado no periódico Vaccine (Ref.63) mostrou que após 22 anos após a introdução da vacina contra o vírus Hepatite B para pré-adolescentes na Catalunha, Espanha, as taxas de incidência da doença na região diminui 52% (do período de 1991 até 2014). E, por fim, mais recentemente, um estudo publicado na BMJ (Ref.64) encontrou uma dramática diminuição nos níveis de células anormais e de lesões cervicais - conhecidas como neoplasia cervical intraepitelial, ou CIN - em mulheres imunizadas contra o vírus HPV na Escócia. O CIN é dividido em três grades: CIN1, CIN2 e CIN3, e quanto maior o número, maior o risco de desenvolvimento de câncer invasivo. Comparado com mulheres não vacinadas nascidas em 1988, mulheres vacinadas aos 12-13 anos de idade nascidas em 1995 e em 1996 mostraram uma redução de 89% no CIN3 ou pior, uma redução de 88% no CIN2 ou pior, e uma redução de 79% no CIN1. Foram quase 140 mil mulheres analisadas. A vacinação analisada é aquela cobrindo os vírus HPV tipo 16 e tipo 18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer cervical no mundo.
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REVOLTA DA VACINA
Apesar de no Brasil ainda existir uma grande quantidade de crianças não vacinadas adequadamente, podemos dizer com orgulho que hoje temos um poderoso programa nacional de vacinação e somos uma relativa referência mundial no campo da imunização. Diversas doenças como a pólio, o sarampo e a rubéola foram combatidas com sucesso no território brasileiro. Porém, no século XX, experienciamos um dos maiores levantes populares da nossa história, conhecido como 'Revolta da Vacina'. Esse episódio histórico reuniu uma série de elementos bastante significativos em relação à vacina e sua utilização social, envolvendo desinformações, ineficiência na propagação das informações e até mesmo fatores de manipulação política - a insurreição seria fruto da pregação de opositores do regime que viram na insatisfação popular contra Oswaldo Cruz e Pereira Passos (responsáveis respectivamente pelo combate às epidemias e pela reforma urbana que então se
processavam) uma oportunidade de derrubar o governo liderado por Rodrigues Alves.
Bem, no início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, mesmo um ponto turístico importante, era bastante deficiente em estruturas básicas de saneamento básico e possuía péssimas condições de higiene, culminando em um prato cheio de epidemias, especialmente febre amarela, varíola e peste bulbônica. Então, em 1904, a cidade foi assolada por uma violenta epidemia de varíola, forçando as autoridades a tomarem providências. Oswaldo Cruz - na época o Diretor Geral de Saúde Pública (cargo hoje do Ministro da Saúde) - mandou ao Congresso uma lei que reiterava a obrigatoriedade da vacinação, já instituída em 1837, mas que nunca tinha sido cumprida. Ciente da resistência da opinião pública, montou uma campanha em moldes militares. Dividiu a cidade em distritos, criou uma polícia sanitária com poder para desinfetar casas, caçar ratos e matar mosquitos.
Com a imposição da vacinação obrigatória, as brigadas sanitárias entravam nas casas e vacinavam as pessoas à força. Isso, obviamente, causou uma repulsa pela maneira como foi feita. A maioria da população ainda desconhecia e temia os efeitos que a injeção da vacina poderia trazer, devido à extrema falta de informações de conscientização e educação básica deficiente. Nisso, setores de oposição ao governo gritaram contra as medidas autoritárias e quase toda a imprensa ficou contra Oswaldo Cruz, ridicularizando seus atos com charges e artigos.
Tudo isso ainda veio para se juntar às políticas de remodelação urbana implantadas pelo presidente Rodrigues Alves (1902-1906), este o qual decidiu modernizar a cidade e tomar medidas drásticas para combater as epidemias. Cortiços e casebres, que compunham inúmeros quarteirões dos bairros centrais, foram demolidos, e deram lugar a grandes avenidas e ao alargamento das ruas, seguindo o modelo de urbanização dos grandes bulevares de Paris. A população local foi desalojada, refugiando-se em barracos nos morros cariocas ou em bairros distantes na periferia, e disparando a expansão das favelas.
Como eventual resultado, em 11 de novembro de 1904, uma rebelião popular explodiu, regada com incêndios, saques e violentos confrontos com a força policial. Durante uma semana as ruas do Rio de Janeiro se transformaram no palco de uma verdadeira guerra civil. Segundo dados oficiais da época, foram 23 mortos e 67 feridos, tendo sido presas 945 pessoas, das quais quase a metade foi deportada para o Acre e submetida a trabalhos forçados.
Episódios como esse mostram a importância da conscientização e da educação da população sobre questões de saúde em detrimento do uso da força e da violência. Bruscas imposições apenas servem para ativar uma forte reação emocional que muitas vezes acabam obscurecendo quaisquer processos lógicos de pensamento. E os danos de um único evento podem trazer sérias consequências crônicas. Felizmente, apesar de existirem no Brasil posições e ações individuais contra vacinas (ou sua obrigatoriedade) - fundamentadas por argumentos de natureza religiosa, ética, política ou científica, e mesmo eventuais desconfianças em relação aos riscos de uma determinada vacina, seus custos e benefícios ou do açodamento de uma campanha -, elas não se transformaram em movimentos sociais, científicos ou profissionais contra a imunização, como aqueles encontrados nos Estados Unidos ou na Inglaterra do século XXI.
SISTEMA IMUNE
A imunidade é a habilidade do corpo humano - e de outros organismos vivos - de proteger a si mesmo de doenças infecciosas. O complexo sistema imune tanto de mecanismos inatos quanto de sistemas adquiridos. A imunidade inata (não-específica) está presente desde o nascimento e inclui barreiras físicas (pele, membranas, mucosas, etc.), barreiras químicas (acidez estomacal, enzimas digestivas, ácidos graxos bacteriostáticos da pele, etc.), células fagocíticas e o sistema complementar; ou seja, são mecanismos gerais básicos de proteção e representam a primeira barreira a ser rompida para um patógeno atacar seu corpo (por exemplo, um vírus HIV não conseguirá infectar seu corpo apenas tendo contato com a pele do braço).
Já a imunidade adquirida é geralmente específica para um único organismo ou para um grupo de organismos evolucionalmente relacionados. Aqui, temos dois básicos mecanismos para o acionamento da imunidade: ativo e passivo.
Imunidade ativa: É produzida pelo próprio sistema imune do indivíduo e é geralmente de longa duração, podendo ser adquirida tanto pela doença natural quanto pela vacinação. É dividida em componentes mediados por anticorpos e componentes mediados por células, com ambos atuando em parceria. No caso da mediação-anticorpo, as respostas são produzidas por linfócitos B e seus descendentes diretos (células plasmáticas), e reguladas por contato com o antígeno e interações com as células T (um tipo de linfócito), macrófagos e complementos. Quando um linfócito B encontra um antígeno que ele reconhece, esse é estimulada a se proliferar e produzir grandes quantidades de linfócitos secretando um anticorpo para o antígeno. Nisso a infecção é combatida neutralizando-se o patógeno infeccioso, impedindo sua replicação, entre outros meios. Já a mediação-celular é controlada especificamente pelas células T, estas as quais mediam três principais funções: ajuda (estimula a resposta imune de outras células), supressão (controla o nível e a qualidade da resposta imune) e citotoxidade (diretamente destrói células infectadas e ativam fagócitos para destruir os patógenos).
Imunidade passiva: É a proteção fornecida pela transferência de anticorpo entre os sistemas imunes de indivíduos, mais comumente ocorrendo através da placenta - mãe para o feto - ou menos frequentemente através da transfusão sanguínea ou via produtos sanguíneos, incluindo a imunoglobulina. A proteção mediada pela placenta é mais efetiva contra algumas infecções (tétano e sarampo, por exemplo) do que para outras (pólio e coqueluche, por exemplo), e é temporária, durando geralmente por apenas algumas semanas ou meses.
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VACINAS
As vacinas produzem um efeito protetor ao induzir a imunidade ativa e fornecer memória imunológica, esta a qual possibilita que o sistema imune reconheça e responda rapidamente ao ser exposto a uma infecção natural mais tarde, prevenindo ou modificando a doença. Basicamente, as vacinas imitam a infecção, mas sem causar a doença original, e deixam para trás linfócitos T e linfócitos B - os quais atuaram para combater essa infecção simulada - que irão se lembrar de como lutar contra a doença no futuro. Elas podem ser divididas em:
Vacinas vivas, atenuadas: São contra vírus e contêm uma versão viva desse tipo de microrganismo enfraquecida que não conseguem causar uma doença séria em pessoas com sistemas imunes saudáveis. Devido ao fato de utilizarem organismos vivos, as vacinas atenuadas são as mais próximas de uma infecção natural e acabam sensibilizando o sistema inume da pessoa com excelência. Exemplos de vacinas atenuadas incluem aquelas para o sarampo, a caxumba e a rubéola (tríplice viral), e a varicela (varíola). Mesmo essas vacinas sendo muito efetivas, nem todo mundo podem recebê-las. Crianças com o sistema imune enfraquecido - como aquelas passando por quimioterapia - não podem recebê-las.
Vacinas inativadas: Também são contra vírus e são feitas com o patógeno morto ou inativado, não existindo, portanto, qualquer tipo de infecção através dessas vacinas. Elas produzem respostas imunes de forma diferente do aquelas associadas com as vacinas atenuadas. Frequentemente, múltiplas doses são necessárias para a construção ou manutenção da imunidade. A vacina inativa da pólio é um exemplo desse tipo de vacina.
Vacinas toxoides: São contra bactérias que produzem toxinas no corpo. No processo de fabricação dessas vacinas, as toxinas bacterianas visadas são enfraquecidas para que não causem a doença, formando toxoides. Quando o sistema imune recebe a vacina contendo o toxoide, ele aprende a lutar a toxina original. Um exemplo é a vacina DTaP, a qual contém toxoides para a difteria e o tétato.
Vacinas de subunidades: Incluem apenas partes de vírus ou bactérias - subunidades - ao invés dos patógenos inteiros. Devido ao fato dessas vacinas conterem apenas os antígenos essenciais e não todas as moléculas que constroem o patógeno, efeitos colaterais são menos comuns. Um componente da vacina DTaP oriundo do vírus da coqueluche é um exemplo de vacina de subunidades.
Vacinas conjugadas: São usadas para combater um tipo específico de bactéria, organismo o qual possui um antígeno com uma camada externa formada de polissacarídeos (um tipo de carboidrato). Esse tipo de cobertura disfarça o antígeno, tornando difícil para o sistema imune de uma criança muito nova reconhecê-lo e criar uma resposta adequada. Nesse sentido, as vacinas conjugadas possuem antígenos conjugados (conectados) com polissacarídeos específicos, facilitando o trabalho de reconhecimento do sistema imune. Um exemplo é a vacina Haemophilus influenzae tipo B (Hib).
Outras formas mais eficientes de vacinas estão sendo hoje pesquisadas e desenvolvidas, como as Vacinas de DNA (as quais possuem o potencial de produzir uma imunidade muito poderosa e de longa duração para um amplo espectro de doenças), Vacinas de Vetor Recombinante (as quais agem quase que exatamente como a infecção natural no corpo - mas de forma segura -, ensinando perfeitamente o sistema imune a como combater a infecção original) e até mesmo vacinas em que uma única dose consegue entregar todas as vacinas recomendadas para as crianças.
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EFEITOS COLATERAIS E FALHAS
No geral, como acontece com os medicamentos, as vacinas podem ter efeitos colaterais em algumas pessoas, como febre e leves infecções, mas que muito raramente se transformam em algo sério. Os riscos são virtualmente desprezíveis perto dos benefícios, e nas últimas décadas os novos métodos aperfeiçoados de produção das vacinas reduziram drasticamente a incidência e preocupação clínica dos efeitos colaterais.
Por exemplo, a vacina do tétano pode causar uma séria reação alérgica no máximo em 0,0006% das pessoas que as tomam. Já a taxa de mortalidade da infecção do tétano em pessoas não vacinadas é de 13,2%. Em outras palavras, os riscos são compensados, literalmente, milhares de vezes pelos benefícios. Chega a ser comparável a uma pessoa que fica com medo de sair de casa porque uma pequena pedra de meteoro pode acertar sua cabeça. Nessa mesma linha, outros efeitos colaterais muito raros aterrorizam as pessoas devido ao fato de casos isolados serem alardeados com bastante intensidade pelos grupos anti-vacinação ou mesmo na mídia, como ocorre com acidentes de avião, onde uma tragédia faz com que muitos achem o meio de transporte mais seguro do mundo o mais perigoso. Entre outros exemplos, podemos citar:
1. A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma desordem aguda e autoimune dos nervos periféricos caracterizada primariamente por uma fraqueza muscular e perda de reflexos. Parece incidir naturalmente entre 0,8 e 1,9 pessoas todos os anos para cada 100 mil pessoas, sendo mais comum em homens. A SGB está associada com antecedente de infecções gastrointestinais e do trato respiratório superior, incluindo gripe, e também fracamente com a vacina da gripe (por também gerar resposta imunológica no corpo). Acredita-se que seja uma desordem imune que resulta da geração de anticorpos autoimunes que atravessam-reagem com epítopes nos nervos periféricos, levando a danos nervosos. Uma meta-análise de 2015 mostrou que essa rara doença atinge 1 ou no máximo duas pessoas - dependendo do tipo de vacina ou população analisada - para cada 1 milhão de pessoas vacinadas. E as pouquíssimas pessoas que podem desenvolver essa doença via vacinas da gripe já estariam propensas a manifestar a doença (a qual parece possuir fatores genéticos envolvidos), especialmente se ficassem gripadas ou tivessem outras infecções já mencionadas.
2. Reações alérgicas sérias às vacinas, em geral, atingem apenas 2,6 pessoas para cada 2 milhões de pessoas vacinadas (!).
3. Um bloqueio intestinal não grave é visto em apenas 1-5 bebês para cada 100 mil bebês vacinados contra o rotavírus.
4. Vacinas também podem provocar (como também prevenir) convulsões febris em até 5% dos bebês que ficam febris após a vacina (por motivos diversos), e que, em termos globais, atingem 300 crianças para cada 1 milhão vacinadas. Porém, essas convulsões - mais comumente associadas com a MMR ou a MMR combinada, e com a vacina para a catapora - não são algo preocupante na grande maioria dos casos e tipicamente duram de 1 a 2 minutos. Aliás, vários eventos de febre gerados por causas diversas podem disparar convulsões nas crianças que, apesar de serem assustadoras de serem vistas, carregam baixíssimos riscos de danos. Aliás, esses eventos de febre são muitas vezes causados com maior intensidade quando o bebê/criança adquire doenças que não teriam caso tivesse sido vacinado.
5. A vacina da dengue já está atuando em 11 países nos últimos anos, e sendo de exclusiva fabricação da Sanofi Pasteur. No mundo todo, 100 milhões de pessoas são infectadas pela doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti (o hospedeiro intermediário do vírus da dengue). Quando a pessoa é primeiro infectada por qualquer um dos quatro sorotipos do vírus, ela tipicamente desenvolve uma doença não séria, com sintomas parecidos com o da gripe, englobando dores musculares e febre. Porém, se a pessoa é infectada uma segunda vez com outro sorotipo (já que ela ganhou imunidade contra o primeiro que a infectou), ela pode desenvolver uma forma mais grave da doença, conhecida como dengue hemorrágica, onde existe uma massiva perda de fluídos corporais, falhas de órgãos e morte. Porém, o mecanismo ainda é incerto do porquê isso acontece, sendo que uma das hipóteses hoje sendo mais aceita é a de que o vírus entra em parceria com os anticorpos (ligantes e neutros) anteriormente produzidos para combater a gripe, via otimização anticorpo-dependente (ADE, na sigla em inglês). Estudos já mostraram que uma criança com uma proporção ideal de anticorpos ligantes/neutros possui um risco 7,64 vezes maior de adquirir a dengue hemorrágica (Ref.30). Além disso, um estudo recente publicado no PLOS ONE (Ref.42) revelou dois genes que tornam as populações asiáticas e europeias - PLCE1 e PLCB4, ambos relacionados com inflamações nos vasos sanguíneos - mais suscetíveis à dengue hemorrágica (1). Nesse cenário, por precaução, as vacinas da Sanofi Pasteur desde o final do ano passado estavam sendo dadas apenas para crianças maiores de 9 anos e que já tiveram dengue antes (ou seja, possuem já anticorpos contra um sorotipo e terão as mesmas chances de desenvolver a dengue hemorrágica com ou sem vacina) (Ref.31). E, mais recentemente, a OMS determinou que essa vacina só poderá ser dada às pessoas que já tiveram dengue (Ref.49) Mas fora essas circunstâncias, as vacinas da dengue são muito seguras e estão salvando inúmeras vidas.
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(!) ALERGIAS
A chance de você ter uma real alergia a vacinas é ínfima. Apenas 1 em cada 760 mil vacinações envolverão uma anafilaxia. Um estudo publicado no Canadian Medical Association Journal (Ref.65) listou cinco principais fatos sobre reações alérgicas às vacinas:
I. Alergias mediadas pela Imunoglobulina-E (IgE) às vacinas são extremamente incomuns, e começaram dentro de minutos da vacinação, sendo improvável começar após 60 minutos e altamente improvável começar após 4 horas.
II. Sinais como febre, dor local ou inchaço local não são sinais de alergia. Essas respostas a uma vacina podem acontecer de 7 a 21 dias após a vacinação, mas elas não são uma reação alérgica.
III. Com exceção da vacina para a febre amarela, uma alergia a ovos não é razão para evitar as vacinas. Nenhuma precaução especial é necessária quando a pessoa com alergia a ovos toma uma vacina para a gripe, tríplice viral ou raiva porque a quantidade de proteína de ovo (albumina) que pode conter nelas é muito minúscula.
IV. Pode ocorrer uma rara reação alérgica ao látex associado aos materiais da seringa ou em contato com esta, mas a vacina em si não é a causa do problema.
V. Mesmo se você possuir uma raríssima alergia a vacinas, seu alergista pode vacinar você com segurança, via técnicas diversas como administração gradual.
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Somando-se a esses fatos, nenhuma vacina oferece 100% de proteção, com uma pequena proporção de indivíduos podendo ainda ser infectados com a doença (lembre-se, nenhum corpo é igual ao outro). As vacinas podem falhar de duas maneiras: de forma primária ou de forma secundária. Falha primária ocorre quando um indivíduo falha em criar uma resposta imunológica inicial após ser exposto à vacina. A infecção pode ocorrer, portanto, a qualquer momento após a vacinação. Um exemplo é a vacina MMR, onde 5-10% das crianças não respondem aos componentes destinados a dar imunidade contra o sarampo. Nesse caso, o risco de sarampo em tais crianças é reduzido ao se oferecer uma dose adicional de vacina, geralmente antes da entrada escolar.
A falha secundária ocorre quando o indivíduo responde inicialmente bem à vacina, mas então a proteção vai enfraquecendo com o tempo. Nesse caso, caso a infecção ocorra, as chances são grandes dela vir de forma mais suave e menos séria em comparação com as pessoas que nunca foram vacinadas. Um bom exemplo é a vacina para a coqueluche, na qual após as três doses iniciais é garantida uma excelente imunidade mas, à medida que a criança vai ficando mais velha, a proteção vai diminuindo. Uma quarta dose (reforço) é então dada para compensar a proteção perdida durante os anos escolares.
Outro ponto importante é destacar que muitos dos poucos casos de "efeitos colaterais" durante a vacinação não ocorrem por causa da vacina em si, e, sim, por causa de erro humano na hora da aplicação (injeção no lugar errado do braço). Infelizmente, danos gerados por causa de profissionais de saúde despreparados mancham injustamente a imagem das vacinas. Existem também casos de coincidência, onde algumas pessoas desenvolvem uma doença em nada relacionada com a vacina que tomaram, mas como a vacinação ocorreu próximo da data de ocorrência da doença, a culpa acaba indo para a vacina, especialmente considerando o medo irracional que envolve o assunto.
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(1) As análises epidemiológicas e genéticas do novo estudo revelaram que as populações asiáticas são altamente suscetíveis às duas formas da dengue, as populações africanas são melhor protegidas contra a dengue hemorrágica e relativamente bem protegidas contra a dengue hemorrágica, e a população europeia é a mais bem protegida contra à dengue mas a mais vulnerável contra a dengue hemorrágica.
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VACINAS QUE NECESSITAM DE MAIS DE UMA DOSE
Existem quatro razões do porquê bebês - e até mesmo adolescentes ou adultos - poderem necessitar de mais de uma dose de uma vacina:
1. Para algumas vacinas (primariamente vacinas inativadas), a primeira dose não fornece tanta imunidade quanto a desejada. Assim, mais de uma dose é necessária para construir uma imunidade mais completa. A vacina que protege contra a bactéria Hib é um bom exemplo.
2. Em outros casos, como a vacina DTaP, a série inicial de quatro aplicações que as crianças recebem como parte do processo de imunização infantil as ajudam a construir suas imunidades. Depois de um tempo, no entanto, a imunidade adquirida começa a enfraquecer, necessitando de doses extras necessárias para o estado imune original ser restaurado, uma aos 4-6 anos de idade e a outra aos 11-12 anos de idade. Esse reforço para crianças mais velhas - e adolescentes ou adultos - é chamado de 'Tdap'.
3. Para algumas vacinas (primariamente vacinas atenuadas), estudos ao longo dos anos mostraram que mais de uma dose é necessária para todos desenvolverem uma melhor resposta imune. Por exemplo, depois de uma dose para a vacina da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), , algumas pessoas podem não desenvolver anticorpos o suficiente para combater a infecção. A segunda dose ajuda a assegurar que quase todo mundo estará protegido.
4. Por último, no caso da vacina da gripe, adultos e crianças (com mais de 6 meses de idade) precisam receber uma dose todos os anos. Crianças de 6 meses a 8 anos de idade que nunca ficaram gripadas (infectadas com o vírus influenza) ou que receberam apenas uma dose nos anos anteriores precisam de duas doses no primeiro ano que são vacinadas para a melhor proteção possível. Então, vacinações anuais para a gripe são necessárias porque os vírus causadores da doença podem ser diferentes de ano para ano (mutações). Todo ano, a vacina da gripe é projetada para prevenir os vírus específicos que os especialistas predizem que estarão circulando.
IMUNIDADE POPULACIONAL
Um dos aspectos mais importantes da vacinação é a capacidade de garantir uma poderosa proteção à nível populacional mesmo quando nem todas as pessoas são vacinadas, em um efeito conhecido como 'imunidade de rebanho'.
O objetivo primário da vacinação é garantir a proteção do indivíduo contra sérias infecções. Mas também acontece que quando esse indivíduo ganha essa proteção, o risco dele ser contaminado com aquela doença é drasticamente reduzido. Se ele não consegue ser infectado, ele passa a não ser capaz de passar os agentes infecciosos - vírus e bactérias - para outras pessoas. Nesse sentido, quanto mais pessoas vacinadas, menos risco cada indivíduo dentro de uma população passa a ter de ser infectado com a doença alvo à medida que os pontos de transmissão viral ou bacteriana vão sendo eliminados. Um exemplo clássico disso é a vacina (englobando dois tipos) para o pneumococo, a bactéria que causa pneumonia. Essa doença é muitas vezes letal para crianças muito novas e idosos (>65 anos), porém só existe disponível até o momento a vacina conjugada - e comprovadamente efetiva - para as crianças, sendo que para os idosos existe a menos eficiente vacina de polissacarídeo. De qualquer forma, desde a data que esses dois tipos vacinas foram liberadas para uso, os casos de pneumonia tanto nas crianças quanto nos idosos caíram fortemente, fornecendo claras evidências de um efeito de rebanho.
Isso é importantíssimo para o caso de indivíduos que não podem ser vacinados, como os bebês muito novos (menores de 2 meses, os quais ainda não podem ser imunizados), ou que não podem receber vacinas para certas doenças que utilizam patógenos vivos. Quanto mais pessoas vacinadas, menores as chances do agente infeccioso chegar até aqueles sem proteção. Aliás, quando maior é a imunidade de rebanho, maiores as chances de uma doença ser eliminada completamente do país ou mesmo do mundo, já que o vírus ou a bactéria associados ficam com cada vez menos hospedeiros para seguir o ciclo de multiplicação e disseminação. Isso aconteceu com a varíola, em 1980 e atualmente a OMS (Organização Mundial de Saúde) está trabalhando para erradicar de vez a pólio.
Porém, para um bom efeito de rebanho, é necessário uma alta taxa de vacinação, no mínimo acima de 85-90% da população vacinada. Infelizmente, por causa da resistência de muitas pessoas em relação à aceitação das vacinas, escassez de recursos em países muito pobres e alcance insuficiente de conscientização - e lembrete - popular por parte dos órgãos/representantes de saúde em muitas regiões, essas taxas estão sempre encontrando dificuldade para serem alcançadas. Nisso, áreas com baixas taxas de vacinação frequentemente enfrentam períodos de epidemia de graves doenças que poderiam ser prevenidas com as vacinas.
VACINAÇÃO NA GRAVIDEZ
A imunização durante a gestação protege não somente a mãe, mas também o bebê. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde recomenda quatro vacinas nesse período: a influenza; hepatite B; dupla adulto (difteria e tétano - dT); e a difteria, tétano e coqueluche (dTpa).
O esquema da vacinação depende do histórico de cada mulher e deve ser avaliado pelo profissional de saúde responsável pelo acompanhamento da gestação. A vacina de influenza, por exemplo, é aplicada durante a campanha nacional em qualquer momento da gravidez. A medicação contra hepatite B é aplicada em três doses após o primeiro trimestre. A dT também é administrada em três doses, com o intervalo de 60 dias entre elas. Já a dTpa é aplicada as 27ª e a 36ª semanas de gestação.
Hoje, a coqueluche é um problema de saúde pública no mundo, devido ao seu aumento de casos nos últimos anos. No Brasil, 87% dos casos de coqueluche se concentram em crianças menores de seis meses. Como o bebê não pode se vacinar nessa fase, a proteção passada pela mãe vacinada se torna essencial. Além disso, muitos bebês com coqueluche podem não apresentar os clássicos sintomas de tosse, facilitando o atraso do tratamento e graves complicações. Já no caso da gripe (influenza), a grávida está em um maior risco de desenvolver graves complicações da doença, o que pode acarretar também em problemas para o bebê, como parto prematuro.
Todas essas vacinas acima listadas são totalmente seguras para as grávidas, porque lidam com o vírus morto ou partes bacterianas inativas. Em caso de surtos diversos em certas regiões - como no caso da Febre Amarela - outas vacinas que usam vírus vivos (enfraquecidos) podem ser administradas, porque o pequeno risco de baixas-moderadas complicações supera e muito os riscos de se adquirir graves doenças.
Antes e após a gravidez a mulher também precisa dar especial atenção às vacinas. Antes da gravidez - caso ela for planejada - é importante verificar se o calendário de vacinação está atualizado, aproveitando para tomar as vacinas faltantes no mínimo 1 mês antes da gravidez. A infecção por rubéola, por exemplo, durante a gestação, pode trazer graves consequências, como o aborto espontâneo ou má formação fetal. E é seguro tomar as vacinas em geral mesmo logo após o parto e durante a amamentação, caso elas sejam necessárias.
Infecções de especial risco para a gestante e o feto
Mesmo que, literalmente há séculos, as vacinas tenham demostrado ser mais do que efetivas, e desde o último século, mais do que seguras, desinformações, falta de informações e crenças infundadas têm gerado persistentes resistências contra a vacinação em diferentes intensidades ao longo dos anos, principalmente de pais preocupados com a saúde dos filhos. E diversos dos mitos gerados nesse processo continuam até hoje fomentando grupos anti-vacinas.
Nos EUA é onde a situação é mais grave em termos de atitudes anti-vacinação. De acordo com o 2015 National Immunization Survey, apenas 72,2% das crianças com idades de 19 a 35 meses nos EUA estão sendo completamente vacinadas seguindo as recomendações da Advisory Committee on Immunization Practices. Devido às preocupações infundadas dos pais em relação à segurança e à eficácia das vacinas, muitas famílias escolhem não permitir que suas crianças recebam as vacinas exigidas pelas escolas ao obter dispensas não-médicas (NMEs, na sigla em inglês) baseadas unicamente em crenças religiosas ou 'filosóficas'. Em 2016, 18 Estados no país já permitiam NMEs devido a crenças filosóficas (2) - um aumento de 6 Estados desde 2009 -, o que coloca as grandes áreas metropolitanas dessas regiões em alto risco de epidemias pediátricas com graves doenças facilmente preveníveis pelas vacinas (Ref.53). Essa tendência mais do que preocupa as autoridades de saúde, especialmente porque pode inspirar outras regiões ao redor do mundo a seguirem o mais do que irresponsável exemplo.
(2) Exemplos: Arkansas, Arizona, Idaho, Maine, Minnesota, North Dakota, Ohio, Oklahoma, Oregon, Pennsylvania, Texas, e Utah.
MITO I. "VACINAS PODEM CAUSAR AUTISMO."
O ex-médico britânico Andrew Wakefield, hoje com 58 anos, publicou um "trabalho" em 1998, junto com colegas de pesquisa, onde fortemente sugeria que a vacina do sarampo, rubéola e caxumba (tríplice viral) estaria ligada diretamente com a ocorrência de autismo nas crianças e problemas gastrointestinais. Ele, eventualmente, perdeu o registro médico e o periódico The Lancet, o qual publicou o estudo, teve que se retratar publicamente anos mais tarde, depois que nenhum outro estudo mostrou veracidade alguma em suas conclusões e hipóteses, e após descobrirem que a pesquisa "científica" conduzida por Wakefield era altamente tendenciosa e fraudulenta (Ref.18-22). Todo o seu trabalho foi porcamente conduzido e uma investigação posterior mostrou que ele estava recebendo investimento de um advogado representando interesses de grupos cujo objetivo era processar as companhias produtoras de vacinas, desde 1996, e mais: tinha já tudo preparado para uma patente da sua própria versão "livre de autismo" da vacina para o sarampo. Ou seja, um puro golpe visando somente o lucro.
Infelizmente, devido ao seu trabalho criminoso e contínua defesa de Wakefield do seu ponto de vista distorcido, ocorreu um declínio acentuado nos números de vacinações pelo mundo, especialmente nos EUA, Reino Unido e Irlanda. Nos anos subsequentes à publicação do estudo a taxa de vacinação com a tríplice viral entre crianças de 2 anos de idade na Inglaterra, por exemplo, caíram 80%. Com isso, o sarampo e a caxumba, que antes estavam controladas, voltaram a se alastrar em diversos pontos desses países. E o pior: o medo e a recusa das vacinas continuaram bastante presentes mesmo depois de 2004, onde o autismo acabou entrando em íntima associação com todas as vacinas na visão alienada de grupos anti-vacinação. Muitas doenças antes pensadas quase extintas estão voltando porque as pessoas se recusam a ser vacinadas ou deixarem de vacinar os seus filhos.
E não para por aí. Como mencionado, Wakefield ainda continua defendendo seus achados "científicos" - mesmo com inúmeros estudos científicos por todo o mundo mostrando que não existe nenhuma associação do autismo ou problemas gastrointestinais com as vacinas (aliás, é difícil pensar em alguma base médica para tal acusação) - e, em 2016, liberou um filme por ele dirigido chamado de Vaxxed, onde, supostamente, o CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA) teria acobertado evidências de que as vacinas aumentavam o risco de autismo em garotos negros, e o esquema teria sido descoberto por Brian Hooker, após analisar em 2014 um estudo de 2004 liberado pelo CDC. Nesse estudo, o CDC deixou claro que, no geral, não houveram diferenças entre as taxas de vacinação entre crianças com ou sem autismo, trazendo mais uma das inúmeras evidências de que as vacinas não eram uma causa para o problema. Mas nesse estudo, o CDC também reporta que entre o grupo de maior idade com uma pequena maior taxa de vacinação eram em crianças com autismo, algo provavelmente causado como um requerimento obrigatório de vacinação para crianças em escolas de educação especial. Porém, o CDC não 'escondeu' nada, reportando explicitamente o irrelevante pequeno desvio estatístico. De qualquer forma, isso foi o suficiente para o Wakefield voltar a atacar as vacinas em seu filme distorcido.
Aliás, um recente estudo, publicado na Frontiers of Public Health, mostrou que a vacina do sarampo, em completo oposto aos fraudulentos perigos alegados por Walkefield, traz uma substancial maior taxa de sobrevivência que vai além da simples proteção contra o sarampo para as crianças, se tomadas no cronograma recomendado pela OMS, o que reforça ainda mais a importância dessa e de outras vacinas suspeitas de produzirem o mesmo efeito positivo. Para saber mais sobre o assunto, acesse: Vacina para o sarampo aumenta as chances de sobrevivência das crianças muito além de apenas protegê-las do sarampo.
Outros dois recentes estudos mais uma vez reforçaram a não associação do autismo com as vacinas. O primeiro, publicado no periódico Pediatrics (Ref.59), após analisar 81993 crianças durante um período de 4 anos desde o nascimento mostrou que a vacina pré-natal Tdap (para o tétano, difteria e coqueluche acelular) não estava associada com um aumento no risco de autismo em crianças. Aliás, contrário ao alegado pelos grupos anti-vacinas, os bebês nascidos de mulheres vacinadas tinham uma incidência menor de problemas ligados ao espectro do autismo (-0,3%). As mulheres imunizadas com essa vacina passam seus anticorpos de proteção para o feto em desenvolvimento, imunizando-o também. Já o segundo estudo, publicado no periódico Annals of Internal Medicine (Ref.61), analisando todas as crianças nascidas na Dinamarca entre 1999 e 2010 mostrou que a vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) não possui nenhuma associação com o autismo. Das 657461 crianças analisadas, 6517 foram diagnosticadas com autismo, mas sem diferença perceptível de risco entre as vacinadas e as não vacinadas.
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VACINAS QUE NECESSITAM DE MAIS DE UMA DOSE
Existem quatro razões do porquê bebês - e até mesmo adolescentes ou adultos - poderem necessitar de mais de uma dose de uma vacina:
1. Para algumas vacinas (primariamente vacinas inativadas), a primeira dose não fornece tanta imunidade quanto a desejada. Assim, mais de uma dose é necessária para construir uma imunidade mais completa. A vacina que protege contra a bactéria Hib é um bom exemplo.
2. Em outros casos, como a vacina DTaP, a série inicial de quatro aplicações que as crianças recebem como parte do processo de imunização infantil as ajudam a construir suas imunidades. Depois de um tempo, no entanto, a imunidade adquirida começa a enfraquecer, necessitando de doses extras necessárias para o estado imune original ser restaurado, uma aos 4-6 anos de idade e a outra aos 11-12 anos de idade. Esse reforço para crianças mais velhas - e adolescentes ou adultos - é chamado de 'Tdap'.
3. Para algumas vacinas (primariamente vacinas atenuadas), estudos ao longo dos anos mostraram que mais de uma dose é necessária para todos desenvolverem uma melhor resposta imune. Por exemplo, depois de uma dose para a vacina da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), , algumas pessoas podem não desenvolver anticorpos o suficiente para combater a infecção. A segunda dose ajuda a assegurar que quase todo mundo estará protegido.
4. Por último, no caso da vacina da gripe, adultos e crianças (com mais de 6 meses de idade) precisam receber uma dose todos os anos. Crianças de 6 meses a 8 anos de idade que nunca ficaram gripadas (infectadas com o vírus influenza) ou que receberam apenas uma dose nos anos anteriores precisam de duas doses no primeiro ano que são vacinadas para a melhor proteção possível. Então, vacinações anuais para a gripe são necessárias porque os vírus causadores da doença podem ser diferentes de ano para ano (mutações). Todo ano, a vacina da gripe é projetada para prevenir os vírus específicos que os especialistas predizem que estarão circulando.
IMUNIDADE POPULACIONAL
Um dos aspectos mais importantes da vacinação é a capacidade de garantir uma poderosa proteção à nível populacional mesmo quando nem todas as pessoas são vacinadas, em um efeito conhecido como 'imunidade de rebanho'.
O objetivo primário da vacinação é garantir a proteção do indivíduo contra sérias infecções. Mas também acontece que quando esse indivíduo ganha essa proteção, o risco dele ser contaminado com aquela doença é drasticamente reduzido. Se ele não consegue ser infectado, ele passa a não ser capaz de passar os agentes infecciosos - vírus e bactérias - para outras pessoas. Nesse sentido, quanto mais pessoas vacinadas, menos risco cada indivíduo dentro de uma população passa a ter de ser infectado com a doença alvo à medida que os pontos de transmissão viral ou bacteriana vão sendo eliminados. Um exemplo clássico disso é a vacina (englobando dois tipos) para o pneumococo, a bactéria que causa pneumonia. Essa doença é muitas vezes letal para crianças muito novas e idosos (>65 anos), porém só existe disponível até o momento a vacina conjugada - e comprovadamente efetiva - para as crianças, sendo que para os idosos existe a menos eficiente vacina de polissacarídeo. De qualquer forma, desde a data que esses dois tipos vacinas foram liberadas para uso, os casos de pneumonia tanto nas crianças quanto nos idosos caíram fortemente, fornecendo claras evidências de um efeito de rebanho.
Isso é importantíssimo para o caso de indivíduos que não podem ser vacinados, como os bebês muito novos (menores de 2 meses, os quais ainda não podem ser imunizados), ou que não podem receber vacinas para certas doenças que utilizam patógenos vivos. Quanto mais pessoas vacinadas, menores as chances do agente infeccioso chegar até aqueles sem proteção. Aliás, quando maior é a imunidade de rebanho, maiores as chances de uma doença ser eliminada completamente do país ou mesmo do mundo, já que o vírus ou a bactéria associados ficam com cada vez menos hospedeiros para seguir o ciclo de multiplicação e disseminação. Isso aconteceu com a varíola, em 1980 e atualmente a OMS (Organização Mundial de Saúde) está trabalhando para erradicar de vez a pólio.
Porém, para um bom efeito de rebanho, é necessário uma alta taxa de vacinação, no mínimo acima de 85-90% da população vacinada. Infelizmente, por causa da resistência de muitas pessoas em relação à aceitação das vacinas, escassez de recursos em países muito pobres e alcance insuficiente de conscientização - e lembrete - popular por parte dos órgãos/representantes de saúde em muitas regiões, essas taxas estão sempre encontrando dificuldade para serem alcançadas. Nisso, áreas com baixas taxas de vacinação frequentemente enfrentam períodos de epidemia de graves doenças que poderiam ser prevenidas com as vacinas.
VACINAÇÃO NA GRAVIDEZ
A imunização durante a gestação protege não somente a mãe, mas também o bebê. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde recomenda quatro vacinas nesse período: a influenza; hepatite B; dupla adulto (difteria e tétano - dT); e a difteria, tétano e coqueluche (dTpa).
O esquema da vacinação depende do histórico de cada mulher e deve ser avaliado pelo profissional de saúde responsável pelo acompanhamento da gestação. A vacina de influenza, por exemplo, é aplicada durante a campanha nacional em qualquer momento da gravidez. A medicação contra hepatite B é aplicada em três doses após o primeiro trimestre. A dT também é administrada em três doses, com o intervalo de 60 dias entre elas. Já a dTpa é aplicada as 27ª e a 36ª semanas de gestação.
Hoje, a coqueluche é um problema de saúde pública no mundo, devido ao seu aumento de casos nos últimos anos. No Brasil, 87% dos casos de coqueluche se concentram em crianças menores de seis meses. Como o bebê não pode se vacinar nessa fase, a proteção passada pela mãe vacinada se torna essencial. Além disso, muitos bebês com coqueluche podem não apresentar os clássicos sintomas de tosse, facilitando o atraso do tratamento e graves complicações. Já no caso da gripe (influenza), a grávida está em um maior risco de desenvolver graves complicações da doença, o que pode acarretar também em problemas para o bebê, como parto prematuro.
Todas essas vacinas acima listadas são totalmente seguras para as grávidas, porque lidam com o vírus morto ou partes bacterianas inativas. Em caso de surtos diversos em certas regiões - como no caso da Febre Amarela - outas vacinas que usam vírus vivos (enfraquecidos) podem ser administradas, porque o pequeno risco de baixas-moderadas complicações supera e muito os riscos de se adquirir graves doenças.
Antes e após a gravidez a mulher também precisa dar especial atenção às vacinas. Antes da gravidez - caso ela for planejada - é importante verificar se o calendário de vacinação está atualizado, aproveitando para tomar as vacinas faltantes no mínimo 1 mês antes da gravidez. A infecção por rubéola, por exemplo, durante a gestação, pode trazer graves consequências, como o aborto espontâneo ou má formação fetal. E é seguro tomar as vacinas em geral mesmo logo após o parto e durante a amamentação, caso elas sejam necessárias.
Infecções de especial risco para a gestante e o feto
- Gestantes, puérperas (45 dias após o parto) e crianças com até cinco anos responderam por 11,4% dos óbitos por influenza entre pessoas com fatores de risco no Brasil em 2017.
- Ainda com relação à influenza, a fase mais crítica para o bebê é nos seis primeiros meses de vida, ou seja, antes da primeira dose da vacina. Estudos apontam que as chances de internação em UTI nesse período são 40% maiores se comparadas às de crianças entre seis meses e 12 meses.
- Dos 2955 casos de coqueluche registrados no Brasil em 2015, 1850 (62,6%) aconteceram em menores de 1 ano. Das 35 mortes, 30 foram em menores de 3 meses.
- Aproximadamente 11,1% dos casos de hepatite B verificados no Brasil entre 1999 e 2015 ocorreram entre gestantes. A transmissão vertical (mãe-filho), com 6,2% do total, é fonte de infecção importante.
- Cerca de 90% dos recém-nascidos que contraem hepatite Ba durante o parto desenvolvem a forma crônica. Em adultos, o índice é de 10%.
- O tétano neonatal matava 6,7 a cada 1.000 nascidos vivos no fim da década de 1980, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Graças às políticas de vacinação, apenas 15 países ainda não conseguiram eliminar a doença. A região das Américas alcançou essa conquista em setembro de 2017.
Mesmo que, literalmente há séculos, as vacinas tenham demostrado ser mais do que efetivas, e desde o último século, mais do que seguras, desinformações, falta de informações e crenças infundadas têm gerado persistentes resistências contra a vacinação em diferentes intensidades ao longo dos anos, principalmente de pais preocupados com a saúde dos filhos. E diversos dos mitos gerados nesse processo continuam até hoje fomentando grupos anti-vacinas.
Nos EUA é onde a situação é mais grave em termos de atitudes anti-vacinação. De acordo com o 2015 National Immunization Survey, apenas 72,2% das crianças com idades de 19 a 35 meses nos EUA estão sendo completamente vacinadas seguindo as recomendações da Advisory Committee on Immunization Practices. Devido às preocupações infundadas dos pais em relação à segurança e à eficácia das vacinas, muitas famílias escolhem não permitir que suas crianças recebam as vacinas exigidas pelas escolas ao obter dispensas não-médicas (NMEs, na sigla em inglês) baseadas unicamente em crenças religiosas ou 'filosóficas'. Em 2016, 18 Estados no país já permitiam NMEs devido a crenças filosóficas (2) - um aumento de 6 Estados desde 2009 -, o que coloca as grandes áreas metropolitanas dessas regiões em alto risco de epidemias pediátricas com graves doenças facilmente preveníveis pelas vacinas (Ref.53). Essa tendência mais do que preocupa as autoridades de saúde, especialmente porque pode inspirar outras regiões ao redor do mundo a seguirem o mais do que irresponsável exemplo.
(2) Exemplos: Arkansas, Arizona, Idaho, Maine, Minnesota, North Dakota, Ohio, Oklahoma, Oregon, Pennsylvania, Texas, e Utah.
MITO I. "VACINAS PODEM CAUSAR AUTISMO."
O ex-médico britânico Andrew Wakefield, hoje com 58 anos, publicou um "trabalho" em 1998, junto com colegas de pesquisa, onde fortemente sugeria que a vacina do sarampo, rubéola e caxumba (tríplice viral) estaria ligada diretamente com a ocorrência de autismo nas crianças e problemas gastrointestinais. Ele, eventualmente, perdeu o registro médico e o periódico The Lancet, o qual publicou o estudo, teve que se retratar publicamente anos mais tarde, depois que nenhum outro estudo mostrou veracidade alguma em suas conclusões e hipóteses, e após descobrirem que a pesquisa "científica" conduzida por Wakefield era altamente tendenciosa e fraudulenta (Ref.18-22). Todo o seu trabalho foi porcamente conduzido e uma investigação posterior mostrou que ele estava recebendo investimento de um advogado representando interesses de grupos cujo objetivo era processar as companhias produtoras de vacinas, desde 1996, e mais: tinha já tudo preparado para uma patente da sua própria versão "livre de autismo" da vacina para o sarampo. Ou seja, um puro golpe visando somente o lucro.
Infelizmente, devido ao seu trabalho criminoso e contínua defesa de Wakefield do seu ponto de vista distorcido, ocorreu um declínio acentuado nos números de vacinações pelo mundo, especialmente nos EUA, Reino Unido e Irlanda. Nos anos subsequentes à publicação do estudo a taxa de vacinação com a tríplice viral entre crianças de 2 anos de idade na Inglaterra, por exemplo, caíram 80%. Com isso, o sarampo e a caxumba, que antes estavam controladas, voltaram a se alastrar em diversos pontos desses países. E o pior: o medo e a recusa das vacinas continuaram bastante presentes mesmo depois de 2004, onde o autismo acabou entrando em íntima associação com todas as vacinas na visão alienada de grupos anti-vacinação. Muitas doenças antes pensadas quase extintas estão voltando porque as pessoas se recusam a ser vacinadas ou deixarem de vacinar os seus filhos.
E não para por aí. Como mencionado, Wakefield ainda continua defendendo seus achados "científicos" - mesmo com inúmeros estudos científicos por todo o mundo mostrando que não existe nenhuma associação do autismo ou problemas gastrointestinais com as vacinas (aliás, é difícil pensar em alguma base médica para tal acusação) - e, em 2016, liberou um filme por ele dirigido chamado de Vaxxed, onde, supostamente, o CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA) teria acobertado evidências de que as vacinas aumentavam o risco de autismo em garotos negros, e o esquema teria sido descoberto por Brian Hooker, após analisar em 2014 um estudo de 2004 liberado pelo CDC. Nesse estudo, o CDC deixou claro que, no geral, não houveram diferenças entre as taxas de vacinação entre crianças com ou sem autismo, trazendo mais uma das inúmeras evidências de que as vacinas não eram uma causa para o problema. Mas nesse estudo, o CDC também reporta que entre o grupo de maior idade com uma pequena maior taxa de vacinação eram em crianças com autismo, algo provavelmente causado como um requerimento obrigatório de vacinação para crianças em escolas de educação especial. Porém, o CDC não 'escondeu' nada, reportando explicitamente o irrelevante pequeno desvio estatístico. De qualquer forma, isso foi o suficiente para o Wakefield voltar a atacar as vacinas em seu filme distorcido.
Aliás, um recente estudo, publicado na Frontiers of Public Health, mostrou que a vacina do sarampo, em completo oposto aos fraudulentos perigos alegados por Walkefield, traz uma substancial maior taxa de sobrevivência que vai além da simples proteção contra o sarampo para as crianças, se tomadas no cronograma recomendado pela OMS, o que reforça ainda mais a importância dessa e de outras vacinas suspeitas de produzirem o mesmo efeito positivo. Para saber mais sobre o assunto, acesse: Vacina para o sarampo aumenta as chances de sobrevivência das crianças muito além de apenas protegê-las do sarampo.
Outros dois recentes estudos mais uma vez reforçaram a não associação do autismo com as vacinas. O primeiro, publicado no periódico Pediatrics (Ref.59), após analisar 81993 crianças durante um período de 4 anos desde o nascimento mostrou que a vacina pré-natal Tdap (para o tétano, difteria e coqueluche acelular) não estava associada com um aumento no risco de autismo em crianças. Aliás, contrário ao alegado pelos grupos anti-vacinas, os bebês nascidos de mulheres vacinadas tinham uma incidência menor de problemas ligados ao espectro do autismo (-0,3%). As mulheres imunizadas com essa vacina passam seus anticorpos de proteção para o feto em desenvolvimento, imunizando-o também. Já o segundo estudo, publicado no periódico Annals of Internal Medicine (Ref.61), analisando todas as crianças nascidas na Dinamarca entre 1999 e 2010 mostrou que a vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) não possui nenhuma associação com o autismo. Das 657461 crianças analisadas, 6517 foram diagnosticadas com autismo, mas sem diferença perceptível de risco entre as vacinadas e as não vacinadas.
Antes da introdução da tríplice viral em 1963, epidemias a cada 2-3 anos causavam 2,6 milhões de mortes ao ano. A vacina, dada aos 12-15 meses de idade e depois entre 4 e 6 anos de idade, preveniu aproximadamente 57 milhões de mortes entre 2000 e 2022 (Ref.68). Em 2022, mais de 9 milhões de casos de sarampo ocorreram ao redor do mundo, associados com 136 mil mortes (Ref.70).
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> Para mais informações sobre o autismo - baseadas em reais evidências e trabalhos científicos -, acesse o artigo: A problemática questão do autismo
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Infelizmente, ainda hoje, a falsa associação entre vacina tríplice viral e autismo continua forte em vários países. Nos EUA é reportado que 24% dos adultos acreditam que existe ligação entre a tríplice viral e autismo, com outros 3% tendo dúvida sobre a questão (Ref.67). Casos e surtos de sarampo estão ficando cada vez mais comuns nos EUA, acompanhando uma ressurgência global da doença (Ref.69). De 2021 até 2022, casos e mortes aumentaram em 18% e 43%, respectivamente (Ref.68).
Como a doença é uma das mais contagiosas do mundo, pelo menos 95% das pessoas em uma comunidade precisam estar totalmente vacinadas para prevenir surtos de sarampo. Nos anos de 2021 e de 2022, essa taxa de cobertura ficou pouco acima de 80% ao redor do mundo (Ref.68).
MITO II. "O MERCÚRIO NAS VACINAS AGE COMO UMA NEUROTOXINA."
Em 2005, as revistas Rolling Stone e Salon copublicaram a história do advogado ambiental Robert F. Kennedy Jr. (neto do ex-Presidente John F. Kennedy) a qual alegava uma conspiração governamental para acobertar evidências de que o timerosal - um preservativo baseado em mercúrio utilizado em algumas vacinas - pode causar problemas cerebrais, incluindo autismo. Logo após as publicações, inúmeras falhas metodológicas e até mesmo fraudes foram encontradas nas alegações de Kennedy (principalmente nos níveis acusados de timerosal encontrados nas vacinas), algo que levou a própria Salon a fazer uma retratação da sua publicação em 2011. Mesmo assim, para tentar escapar da humilhação, Kennedy continua defendendo suas acusações infundadas, algo que, infelizmente, continua alimentando movimentos antivacinação.
É válido ainda mencionar que o timerosal foi retirado de todas as vacinas infantis nos EUA em 2001 - com exceção das multi-doses da vacina da gripe armazenadas em contêineres -, e o que se viu nos anos seguintes foi que as taxas de autismo continuaram as mesmas, ou seja, nenhuma relação com o timerosal utilizado nas vacinações. Houve até um rumor de que os casos de autismo na Dinamarca tinham diminuído após a retirada da substância das vacinas no país em 1992, algo que não é verdade e que originou-se de boatos aleatórios de grupos antivacina.
Nesse sentido, outra acusação do tipo já tinha emergido em 2000, de que o timerosal estaria causando autismo nas crianças via sua interação com a testosterona no corpo. Essa hipótese tinha sido levantada por um médico em Maryland, EUA, Mark Geier, sendo também promovida pelo seu filho, David. E o objetivo disso? Vender um tratamento caríssimo (cerca de $5 mil mensais) para tratar supostas crianças com autismo via a utilização de Leuprolide (Lupron) - uma droga usada para tratar câncer de próstata e castrar agressores sexuais.
Pegando carona na onda de acusações relacionando o autismo com as vacinas - pós-Wakefield -, Mark e David vieram explicar a suposta razão da culpabilidade das vacinas e dar base para o tratamento por eles desenvolvido. O pior é que o Lupron só é recomendado para tratar crianças com uma rara condição na qual a puberdade começa antes da idade de 8 anos. Seria exatamente nessas crianças que a hipótese de Mark estaria sendo aplicada (maior produção de testosterona). Efeitos colaterais podem ser pesados, incluindo graves danos cardíacos e ósseos. Nisso, para conseguir o máximo de clientes, pai e filho criminosos começaram a diagnosticar várias crianças com a rara condição, sem as metodologias clínicas apropriadas. Eventualmente, ambos foram processados e Mark perdeu sua licença médica. David foi condenado por praticar medicina sem uma licença (ele apenas possuía uma graduação em Artes).
Um pequeno estudo publicado em 2014 por pesquisadores brasileiros - e bastante alardeado entre o público - SUGERIU potenciais efeitos tóxicos nos rins - nada relativo a danos neurológicos - decorrentes da exposição de curto prazo a pequenas quantidades de timerosal (Ref.54). Porém, esse estudo foi realizado apenas in vitro para se atestar a toxicidade da substância, sendo longe de conclusivo ou de simular minimamente a realidade das vacinas (in vivo). Em sistemas vivos, o comportamento pode mostrar-se completamente diferente, especialmente considerando a pequena meia vida do timerosal no corpo e inexistência de exposição a longo prazo (já que vacinas são aplicadas apenas uma única vez). Aliás, alguns estudos já mostraram que a quantidade de mercúrio ingerido na alimentação normal é superior aquela contida nas vacinas, estas as quais conterão apenas traços ínfimos desse metal (Ref.55). Para você ter uma ideia, a quantidade de timerosal presente em uma dose da vacina da gripe é de apenas 2 microgramas, sendo que apenas ~50% da massa desse composto corresponde ao mercúrio (Ref.56). E mais: apenas vacinas usadas em multidoses contêm essa substância. A tríplice viral, por exemplo, não contém hoje sequer conservantes.
Nos Estados Unidos, assim como na União europeia e em outros países desenvolvidos, o timerosal não é mais utilizado como conservante em vacinas dos calendários de vacinação infantil. As únicas exceções entre as vacinas rotineiramente recomendadas para crianças nos Estados Unidos são algumas formulações da vacina da gripe inativada para crianças maiores de dois anos. Porém, esses países apenas retiraram o conservante - investindo mais em monodoses - tanto para diminuir a exposição humana ao mercúrio (no processo geral de fabricação e aplicação das vacinas) quanto por causa do medo infundado entre a população e principalmente propagado por grupos anti-vacinação, os quais geralmente utilizam o timerosal como arma de ataque às vacinas, independentemente se o composto é usado somente naquelas distribuídas em multidoses. Em países mais pobres - principalmente aqueles em desenvolvimento com um grande número populacional, como o Brasil -, o uso de timerosal é ainda necessário por causa dos altos custos de refrigeração caso inexista a possibilidade de multidoses para algumas vacinas.
Em 2005, as revistas Rolling Stone e Salon copublicaram a história do advogado ambiental Robert F. Kennedy Jr. (neto do ex-Presidente John F. Kennedy) a qual alegava uma conspiração governamental para acobertar evidências de que o timerosal - um preservativo baseado em mercúrio utilizado em algumas vacinas - pode causar problemas cerebrais, incluindo autismo. Logo após as publicações, inúmeras falhas metodológicas e até mesmo fraudes foram encontradas nas alegações de Kennedy (principalmente nos níveis acusados de timerosal encontrados nas vacinas), algo que levou a própria Salon a fazer uma retratação da sua publicação em 2011. Mesmo assim, para tentar escapar da humilhação, Kennedy continua defendendo suas acusações infundadas, algo que, infelizmente, continua alimentando movimentos antivacinação.
É válido ainda mencionar que o timerosal foi retirado de todas as vacinas infantis nos EUA em 2001 - com exceção das multi-doses da vacina da gripe armazenadas em contêineres -, e o que se viu nos anos seguintes foi que as taxas de autismo continuaram as mesmas, ou seja, nenhuma relação com o timerosal utilizado nas vacinações. Houve até um rumor de que os casos de autismo na Dinamarca tinham diminuído após a retirada da substância das vacinas no país em 1992, algo que não é verdade e que originou-se de boatos aleatórios de grupos antivacina.
Nesse sentido, outra acusação do tipo já tinha emergido em 2000, de que o timerosal estaria causando autismo nas crianças via sua interação com a testosterona no corpo. Essa hipótese tinha sido levantada por um médico em Maryland, EUA, Mark Geier, sendo também promovida pelo seu filho, David. E o objetivo disso? Vender um tratamento caríssimo (cerca de $5 mil mensais) para tratar supostas crianças com autismo via a utilização de Leuprolide (Lupron) - uma droga usada para tratar câncer de próstata e castrar agressores sexuais.
Pegando carona na onda de acusações relacionando o autismo com as vacinas - pós-Wakefield -, Mark e David vieram explicar a suposta razão da culpabilidade das vacinas e dar base para o tratamento por eles desenvolvido. O pior é que o Lupron só é recomendado para tratar crianças com uma rara condição na qual a puberdade começa antes da idade de 8 anos. Seria exatamente nessas crianças que a hipótese de Mark estaria sendo aplicada (maior produção de testosterona). Efeitos colaterais podem ser pesados, incluindo graves danos cardíacos e ósseos. Nisso, para conseguir o máximo de clientes, pai e filho criminosos começaram a diagnosticar várias crianças com a rara condição, sem as metodologias clínicas apropriadas. Eventualmente, ambos foram processados e Mark perdeu sua licença médica. David foi condenado por praticar medicina sem uma licença (ele apenas possuía uma graduação em Artes).
Um pequeno estudo publicado em 2014 por pesquisadores brasileiros - e bastante alardeado entre o público - SUGERIU potenciais efeitos tóxicos nos rins - nada relativo a danos neurológicos - decorrentes da exposição de curto prazo a pequenas quantidades de timerosal (Ref.54). Porém, esse estudo foi realizado apenas in vitro para se atestar a toxicidade da substância, sendo longe de conclusivo ou de simular minimamente a realidade das vacinas (in vivo). Em sistemas vivos, o comportamento pode mostrar-se completamente diferente, especialmente considerando a pequena meia vida do timerosal no corpo e inexistência de exposição a longo prazo (já que vacinas são aplicadas apenas uma única vez). Aliás, alguns estudos já mostraram que a quantidade de mercúrio ingerido na alimentação normal é superior aquela contida nas vacinas, estas as quais conterão apenas traços ínfimos desse metal (Ref.55). Para você ter uma ideia, a quantidade de timerosal presente em uma dose da vacina da gripe é de apenas 2 microgramas, sendo que apenas ~50% da massa desse composto corresponde ao mercúrio (Ref.56). E mais: apenas vacinas usadas em multidoses contêm essa substância. A tríplice viral, por exemplo, não contém hoje sequer conservantes.
Nos Estados Unidos, assim como na União europeia e em outros países desenvolvidos, o timerosal não é mais utilizado como conservante em vacinas dos calendários de vacinação infantil. As únicas exceções entre as vacinas rotineiramente recomendadas para crianças nos Estados Unidos são algumas formulações da vacina da gripe inativada para crianças maiores de dois anos. Porém, esses países apenas retiraram o conservante - investindo mais em monodoses - tanto para diminuir a exposição humana ao mercúrio (no processo geral de fabricação e aplicação das vacinas) quanto por causa do medo infundado entre a população e principalmente propagado por grupos anti-vacinação, os quais geralmente utilizam o timerosal como arma de ataque às vacinas, independentemente se o composto é usado somente naquelas distribuídas em multidoses. Em países mais pobres - principalmente aqueles em desenvolvimento com um grande número populacional, como o Brasil -, o uso de timerosal é ainda necessário por causa dos altos custos de refrigeração caso inexista a possibilidade de multidoses para algumas vacinas.
Reforçando: NÃO existe nenhuma evidência científica de boa qualidade ou conclusiva de que o timerosal minimamente presente em algumas vacinas (multidoses) leve a quaisquer danos à saúde, com isso sendo corroborado por inúmeros estudos realizados nas últimas décadas. E lembre-se: estamos expostos a todo momento a traços de compostos tóxicos, seja na água, no ar ou nos alimentos, não significando necessariamente que a quantidade deles inalada ou ingerida no dia-a-dia cause mal.
- INGREDIENTES DAS VACINAS
Somando-se ao timerosal (preservativo) e aos antígenos, as vacinas podem trazer estabilizantes (como açúcar ou gelatina, os quais ajudam os ingredientes ativos a continuarem funcionais durante o transporte e armazenamento) e quantidades ínfimas de restos derivados do processo de fabricação das vacinas, como materiais de cultura celular (ovos, por exemplo, que ajudam o crescimento dos microrganismos visados para a extração dos antígenos), germicidas (como formaldeído, para enfraquecer ou matar os vírus e bactérias) e antibióticos (como a neomicina, usada para manter outros germes de crescerem na vacina).
- QUESTÕES COMUNS SOBRE OS INGREDIENTES
1. As vacinas com timerosal podem causar envenenamento por mercúrio?
Não. O timerosal é um conservante presente em vacinas multidoses, que são armazenadas por um período sob refrigeração para serem administradas para mais de uma pessoa, e necessitam do conservante para impedir o perigoso crescimento de fungos e bactérias. Como já dito, o timerosal é seguro nas doses utilizadas nas vacinas. Além disso, o timerosal, após ser metabolizado pelo organismo, possui uma forma diferente de mercúrio (etilmercúrio) daquela que geralmente está associada com os envenenamentos por mercúrio (metilmercúrio). O etilmercúrio é muito menos provável de se acumular no corpo devido à sua estrutura química e à ínfima quantidade presente nas vacinas, sendo rapidamente transformado em mercúrio inorgânico e eliminado. E, para completar, como já mencionado, o timerosal não é utilizado ou está presente em todas as vacinas, apenas no caso de armazenamento de contêineres.
2. Pessoas com alergia a antibióticos podem ser vacinadas?
Sim. No entanto, se você tem uma alergia a antibióticos, é uma boa ideia conversar com o seu médico antes de ser vacinado. Mas, em geral, antibióticos que as pessoas mais provavelmente possuem alergia - como a penicilina - não são usados nas vacinas.
3. Pessoas com alergia ao ovo podem ser vacinadas?
Sim. Pessoas com esse tipo de alergia podem pegar tomar qualquer vacina de gripe licenciada e recomendada, e que seja apropriada para sua idade. Também não é mais necessário a observação por 30 minutos após a vacinação das pessoas com alergia ao ovo. Porém, indivíduos com severa alergia ao ovo devem ser vacinados em uma instalação médica e serem supervisionados por um profissional de saúde que possa reconhecer e lidar com condições de alergias severas.
4. O formaldeído presente em algumas vacinas é perigoso?
Não. O formaldeído só é utilizado no processo de preparação da vacina, sobrando muito pouco dele no produto final. Essa quantidade ínfima é muito pequena para causar qualquer dano no organismo humano. Aliás, o formaldeído encontrado naturalmente no nosso corpo excede a quantidade dessa substância encontrada nas vacinas.
5. O alumínio utilizado em algumas vacinas é perigoso?
Não. A quantidade de alumínio presente em certas vacinas é ínfima e estudos nas últimas décadas não encontraram nenhuma evidência de danos oriundos desse ingrediente (resto de produção).
MITO III. "VACINAS PODEM SOBRECARREGAR O SISTEMA IMUNE DA CRIANÇA."
Essa crença, bastante disseminada, não faz sentido nenhum. Muitos questionam erroneamente o cronograma de vacinação, alegando riscos para as crianças ao vaciná-las para 14 doenças antes da idade de 2 anos. A base de justificativa seria que essa quantidade de vacinas administradas estaria 'sobrecarregando' o sistema imune das crianças muito novas, deixando-as suscetíveis a infecções e desordens diversas - incluindo atraso no desenvolvimento neural e diabetes.
Só que os especialistas facilmente mostram que essa alegação não possui base científica. O sistema imune de uma criança lida com milhares de antígenos do ambiente ao seu redor diariamente, e as vacinas dadas até a idade de 2 anos, no total, expõe as crianças a apenas 300 antígenos. Em outras palavras, as vacinas levam um trabalho imune mais do que ínfimo em comparação com a quantidade total de antígenos diversos interagindo com o sistema imune da criança. É estimado que se 11 vacinas fossem dadas de uma só vez para um criança com até 2 anos de idade, apenas 0,1% do potencial do sistema imune estaria sendo utilizado naquele momento.
Em 2015, nos EUA, é estimado que entre 10% e 15% dos pais não seguiram o calendário de vacinas recomendado para seus filhos menores de 2 anos de idade, com um dos medos principais sendo a suposta sobrecarga imunológica e consequente maior suscetibilidade a infecções. Para novamente adereçar esse medo infundado, um recente estudo publicado na The Journal of the American Medical Association (Ref.44), analisando mais de 900 bebês (193 que contraíram doenças não-vacinadas e 751 que contraíram doenças vacinadas) de seis hospitais e clínicas no oeste do território norte-americano entre 2003 e 2013, não encontrou nenhuma associação entre as vacinas e sobrecarga imunológica, algo já esperado pelos pesquisadores. Mais uma veze, os autores do estudo reforçaram: bebês saem de um útero completamente esterilizado e para um mundo cheio de patógenos e corpos estranhos por todo canto - a exposição às vacinas não chega a ser minimamente comparável.
Simplesmente não é nem próximo do possível sobrecarregar o sistema imune de uma criança com as vacinas. Espaçar mais as vacinas - dar um tempo maior entre uma vacina e outra para as crianças - apenas expõe as crianças a um maior risco de contrair graves doenças sem necessidade.
MITO IV. "NAS ÚLTIMAS DÉCADAS AS VACINAS SE TORNARAM DESNECESSÁRIAS PORQUE OS MÉTODOS MODERNOS DE HIGIENE E LIMPEZA DA ÁGUA JÁ PREVINEM AS DOENÇAS"
Essa é outra alegação absurda. Primeiro, mesmo se os métodos e tecnologias modernas de higienização tivessem tornado as vacinas inúteis, nem toda a população mundial possui acesso a esses avanços ou estes são aplicados de forma ineficiente. Aliás, grande parte dos países sofre com esse problema, especialmente em nações pobres da África, Ásia e América Latina.
Em segundo lugar, apesar de água tratada, saneamento básico, entre outros métodos de boa higienização, terem ajudado bastante a frear a disseminação de diversas doenças, isso não consegue impedi-las de serem transmitidas por completo. Além disso, muitas das mais perigosas são transmitidas via aérea (insetos ou gotículas das vias respiratórias), onde as medidas de higiene não são minimamente suficientes para contê-las. Isso sem contar infecções passadas pela via sexual e outras formas de contato íntimo, ou mesmo por acidentes (mordidas de animais e cortes na pele). Muitas vezes quando falamos em epidemias lembramos de sujeiras e ratos nas ruas, e falta de saneamento básico, mas nem sempre são esses os fatores limitantes para a transmissão de doenças.
Outro ponto importante nessa linha de pensamento são as pessoas que erroneamente afirmam que as vacinas não são necessárias ao exemplificarem que seus filhos - ou mesmo elas - não foram vacinados mas continuam saudáveis e sem adquirirem as graves doenças que as vacinas supostamente estariam protegendo. Só que aqui essas pessoas desinformadas esquecem do efeito de rebanho, onde outras pessoas ao seu redor vacinadas são as responsáveis por proteger toda a comunidade, incluindo as não-vacinadas. Porém, quando muita gente deixa de ser vacinada em uma certa população, esse efeito de rebanho começar a ser drasticamente enfraquecido, levando facilmente ao surto de doenças antes controladas pelas vacinas. Por isso, todos que podem ser vacinados, devem ser vacinados, para garantir ao máximo a efetividade do efeito de rebanho.
MITO V. "VACINA DO HPV CAUSA DANOS NEUROLÓGICOS"
Em 2011, o governo do Japão começou a oferecer a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), este o qual é um dos principais responsáveis pelo câncer cervical nas mulheres (3). Porém, reportes anedóticos e não confirmados de efeitos colaterais da vacina - como dores de cabeça, fatiga e baixa capacidade de concentração - começaram a surgir na forma de casos isolados, e, quando a mídia e grupos anti-vacinas no país começaram a inflamar os supostos casos de jovens mulheres sofrendo dessas reações adversas, o Ministro da Saúde, Trabalho e Bem-Estar parou de recomendar a vacina em 2013, mesmo sem base científica para tal. Com isso, os índices de vacinação na cidade Japonesa de Sapporo - a qual tinha iniciado a distribuição gratuita da vacina em 2011 - caíram rapidamente de cerca de 70% das garotas elegíveis para a imunização para quase zero, de acordo com especialistas epidemiológicos no país.
- (3) Para mais informações, acesse: A vacinação contra o HPV é apenas para as meninas?
Infelizmente, por causa de má ciência e boatos infundados, a redução nos 9 mil novos casos todos os anos de câncer cervical no Japão e cerca de 3 mil mortes associadas anualmente provavelmente não ocorrerá tão cedo.
- PARÊNTESES PARA FALAR SOBRE A VACINA DA GRIPE -
Uma outra observação é sobre o mais do que comum argumento levantado por pessoas que se recusam a tomar a vacina da gripe: "eu não tomo porque quando fico gripado, meu sistema imune sempre dá um jeito". Mas o maior problema não são as pessoas saudáveis ficando infectadas e, sim, aquelas dos grupos de risco (crianças novas, idosos, enfermos, etc.). Quando você toma a vacina, além de evitar a gripe, também diminui as chances de outras pessoas mais vulneráveis de a contraírem. Gripado, você se torna uma fonte do vírus. Lembre-se do efeito de rebanho.
As vacinas são uma das histórias de maior sucesso na área de saúde pública. Através da vacinação, nós conseguimos erradicar a temida varíola e quase eliminamos o vírus selvagem da pólio. O Brasil tem evoluído nos últimos anos nessa área, especialmente com a criação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em 1973, que facilitou o acesso da população às vacinas, além do nosso país possuir o domínio tecnológico das mais modernas gerações de vacina. Porém, muita coisa ainda precisa melhorar, via campanhas mais fortes de conscientização e lembrança da população quanto ao calendário de vacinação. E o mesmo pode ser dito para inúmeros outros países desenvolvidos ou não, especialmente quando entra em jogo as campanhas de desinformações de grupos anti-vacinação.
O cidadão também deve estar bem ciente a respeito dos grandes benefícios da imunização e sobre as reações adversas. Nenhuma vacina está totalmente livre de provocar reações porque existem pessoas que apresentam quadros infecciosos e de natureza alérgica. O mesmo ocorre com medicamentos, mesmo os mais seguros e amplamente usados no dia-a-dia. É importante lembrar que os riscos de complicações graves ligados à vacinação são muito menores do que os das doenças contra as quais a pessoa está se imunizando. As crianças são as que mais apresentam reações às vacinas, mas em grande maioria inofensivas. Um exemplo é a vacina tríplice bacteriana (a DTP, contra a difteria, o tétano e a coqueluche), que pode causar, entre outras reações, irritações na pele e coceira. O perigo é quando essas exceções acabam sendo inflamadas e distorcidas tanto por medo irracional quanto pela promoção de crenças pessoais.
Nesse sentido, é válido finalizar este artigo mencionando que a França recentemente implantou uma lei que faz obrigatória a vacinação de bebês nascidos pós-1° de Janeiro contra 11 doenças, para alavancar a qualidade de vida da população e vencer a resistência por parte de grupos e indivíduos contrários à imunização. Porém, tal medida autoritária pode não ser a melhor saída, mesmo possuindo um fim responsável. Melhor conscientização e educação são sempre a melhor escolha nessas situações, porque evitam fomentar os sintomas do Pós-Verdade. Cada indivíduo cresce um uma bolha cultural distinta dentro de cada sociedade, e sem as ferramentas necessárias para entender o porquê de uma ou outra lei serem criadas, tais imposições governamentais pode levá-lo, dependendo da sua visão de mundo, ao medo e deixá-lo exposto a um maior risco de alienação por agentes irresponsáveis de manipulação.
No final, quem puder compartilhar este artigo e ajudar a promover uma maior conscientização sobre a importância das vacinas, deixo aqui meu forte agradecimento.
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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
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- PARÊNTESES PARA FALAR SOBRE A VACINA DA GRIPE -
Uma outra observação é sobre o mais do que comum argumento levantado por pessoas que se recusam a tomar a vacina da gripe: "eu não tomo porque quando fico gripado, meu sistema imune sempre dá um jeito". Mas o maior problema não são as pessoas saudáveis ficando infectadas e, sim, aquelas dos grupos de risco (crianças novas, idosos, enfermos, etc.). Quando você toma a vacina, além de evitar a gripe, também diminui as chances de outras pessoas mais vulneráveis de a contraírem. Gripado, você se torna uma fonte do vírus. Lembre-se do efeito de rebanho.
As vacinas são uma das histórias de maior sucesso na área de saúde pública. Através da vacinação, nós conseguimos erradicar a temida varíola e quase eliminamos o vírus selvagem da pólio. O Brasil tem evoluído nos últimos anos nessa área, especialmente com a criação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em 1973, que facilitou o acesso da população às vacinas, além do nosso país possuir o domínio tecnológico das mais modernas gerações de vacina. Porém, muita coisa ainda precisa melhorar, via campanhas mais fortes de conscientização e lembrança da população quanto ao calendário de vacinação. E o mesmo pode ser dito para inúmeros outros países desenvolvidos ou não, especialmente quando entra em jogo as campanhas de desinformações de grupos anti-vacinação.
O cidadão também deve estar bem ciente a respeito dos grandes benefícios da imunização e sobre as reações adversas. Nenhuma vacina está totalmente livre de provocar reações porque existem pessoas que apresentam quadros infecciosos e de natureza alérgica. O mesmo ocorre com medicamentos, mesmo os mais seguros e amplamente usados no dia-a-dia. É importante lembrar que os riscos de complicações graves ligados à vacinação são muito menores do que os das doenças contra as quais a pessoa está se imunizando. As crianças são as que mais apresentam reações às vacinas, mas em grande maioria inofensivas. Um exemplo é a vacina tríplice bacteriana (a DTP, contra a difteria, o tétano e a coqueluche), que pode causar, entre outras reações, irritações na pele e coceira. O perigo é quando essas exceções acabam sendo inflamadas e distorcidas tanto por medo irracional quanto pela promoção de crenças pessoais.
Nesse sentido, é válido finalizar este artigo mencionando que a França recentemente implantou uma lei que faz obrigatória a vacinação de bebês nascidos pós-1° de Janeiro contra 11 doenças, para alavancar a qualidade de vida da população e vencer a resistência por parte de grupos e indivíduos contrários à imunização. Porém, tal medida autoritária pode não ser a melhor saída, mesmo possuindo um fim responsável. Melhor conscientização e educação são sempre a melhor escolha nessas situações, porque evitam fomentar os sintomas do Pós-Verdade. Cada indivíduo cresce um uma bolha cultural distinta dentro de cada sociedade, e sem as ferramentas necessárias para entender o porquê de uma ou outra lei serem criadas, tais imposições governamentais pode levá-lo, dependendo da sua visão de mundo, ao medo e deixá-lo exposto a um maior risco de alienação por agentes irresponsáveis de manipulação.
No final, quem puder compartilhar este artigo e ajudar a promover uma maior conscientização sobre a importância das vacinas, deixo aqui meu forte agradecimento.
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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
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