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Banho de sauna faz bem à saúde?


- Atualizado no dia 7 de maio de 2023 -

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        Muitos adoram um banho de sauna, e encontram nessa atividade uma boa fonte de relaxamento. Mas será que a sauna possui efeitos positivos para a saúde, a nível terapêutico? Existem contraindicações? O que a literatura médica traz sobre o tema?

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   O QUE É SAUNA?

         A sauna consiste de um pequeno ambiente projetado para os indivíduos terem sessões de aquecimento seco ou úmido com o fim de propiciar relaxamento e promover o convívio social entre os frequentadores desses ambientes. Há basicamente dois tipo de saunas: a "sauna a vapor" ('sauna úmida' ou banho turco) e a "sauna seca" (também conhecida como banho Finlandês), esta a qual utiliza pedras ou outro material que é aquecido, mas sem liberar vapor. Na sauna úmida, a umidade é tipicamente superior a 50%.

          A sauna úmida raramente ultrapassa os 60°C - ficando em torno de 40°C - enquanto na sauna seca o corpo humano tolera facilmente temperaturas ambientes superiores a 80 °C durante curtos períodos de tempo (devido à baixa umidade relativa do ar). Basicamente, a concentração de vapor de água no ar determina o quão quente a sauna pode ser aquecida; quanto menos água no ar, maior a temperatura tolerada pelo corpo (!).

         Mas o tipo que vem mais demonstrando benefícios à saúde é a sauna seca.


   BANHO FINLANDÊS

         Ao contrário do banho Turco, a sauna seca (banho Finlandês) usa ar com baixa umidade e alta temperatura. As instalações modernas desse tipo de sauna consistem em uma sala construída com madeira não pintada, possuindo plataformas também de madeira e um aquecedor elétrico preenchido com pedras. As paredes são feitas de abeto ou pinheiro, e os bancos de obeche, abeto ou aspen (esses tipos de madeira esquentam muito lentamente e ficam mais confortáveis para o assento nesse tipo de sauna, além de reduzir a perda de calor para o ambiente externo). A temperatura interna recomendada é de 80°C a 90-100°C no nível do rosto do usuário e de 30°C no nível do chão. O ar deve ter uma umidade relativa de 10% a 20%, e a ventilação no ambiente deve ser eficiente, onde recomenda-se trocar o ar de três a oito vezes por hora. Devido à baixa capacidade térmica do ar, temperaturas de até 120°C em um ar muito seco não causam nenhum dano à pele.

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> Historicamente, saunas têm sido aquecidas com lenha e fogo, uma prática ainda observada em partes rurais na Finlândia. A maioria das saunas modernas, no entanto, são aquecidas por aquecedores elétricos convencionais ou via emissão direta de infravermelho. 

> A sauna estilo Finlandesa envolve 1-3 sessões de exposição ao calor durando 5-20 minutos cada, intercaladas com períodos de resfriamento. Alguns métodos de resfriamento envolvem rolar na neve ou imergir em água fria. Ref.15
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         Em uma sauna seca, a temperatura da pele pode aumentar rapidamente para aproximadamente 40°C. A transpiração sobe bruscamente e alcança seu máximo em aproximadamente 15 minutos, com uma secreção de suor média de 0,5 kg. A elevada transpiração e robusto transporte de calor através do suor é o principal mecanismo de resfriamento do corpo nesse contexto. O fluxo de sangue na pele aumenta de 5% a 10%, passando a representar de 50% a 70% do trabalho cardíaco de saída, enquanto o sangue fluindo para os órgãos internos diminui. Em relação ao ritmo de batimento do coração, o trabalho cardíaco aumenta em torno de 60-70%, enquanto o volume de ejeção não muda.


   (!) FÍSICA DA SAUNA

          Humanos não foram feitos para viver em um ambiente a 90°C ou mais, uma temperatura próxima do ponto de ebulição da água a nível do mar! Então como suportamos sem sofrimento ou sérias queimaduras tal ambiente extremo?

          Primeiro, as cabines de sauna e seus bancos são feitos de madeira, esta a qual possui baixa condutividade térmica; tipicamente os usuários também sentam em cima de uma toalha. Isso evita rápida transmissão de calor e de aumento de temperatura nas estruturas de assento e apoio. Segundo e mais importante, o ar é seco, aumentando substancialmente o resfriamento via transpiração ao facilitar a evaporação do suor (levando água com bastante energia térmica do corpo para o ar). 

          O banho de sauna representa uma carga calórica de 300-600W/ m2 da área de superfície corporal. A temperatura da pele aumenta rapidamente a ± 40-41°C e os mecanismos termorregulatórios são acionados. A transferência do calor via evaporação da sudorese é a única forma efetiva de dissipação do calor do corpo na sauna seca - e crucial, compensando a grande quantidade de calor recebida do ambiente. A sudorese começa rapidamente e atinge o seu nível máximo em ± 15 min. A secreção total de suor pode chegar a 0,5-1kg/h e representa uma perda calórica de 200W/m2 da área de superfície corporal. Entre as sessões de saunas - período de resfriamento -, os usuários aproveitam também para ingerir bastante fluido para hidratação do corpo.

           Quanto maior a umidade do ar (conteúdo de água no ar) a uma dada temperatura ou quanto maior a umidade relativa, mais difícil é a transferência de calor via transpiração (suor não evapora rápido) e, portanto, em saunas úmidas - onde o aquecedor também libera muito vapor d'água - temperaturas toleradas são muito menores.  

          Relevante também mencionar que o ar seco dentro da sauna é uma consequência da alta temperatura. Considerando o ambiente da sauna seca e ausência de adição de água no aquecedor ou no interior da cabine para evaporar, quando o ar é aquecido a 90°C a umidade relativa se torna tipicamente muito baixa (≤10%). Isso por causa da acentuada inclinação característica da curva de pressão de vapor da água; por exemplo, se tivéssemos um ambiente a 20°C que está com umidade relativa a 100%, esse valor cairia para 3% em um ar a ~90°C.

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> Umidade relativa do ar é o quanto de água na forma de vapor existe na atmosfera no momento em relação ao total máximo que poderia existir, na temperatura observada. Não confundir o conceito com umidade específica ou absoluta, ou seja, a quantidade total de água em um determinado volume de ar (medido, por exemplo, em g/Kg). O "ar seco" em uma baixa umidade relativa é porque esse ar consegue forçar evaporação da água [secar] mais facilmente do ambiente, e não porque o ar contém necessariamente um baixo conteúdo de água. 

> Quanto maior a temperatura da atmosfera, mais água esta consegue suportar. Isso inclusive representa um importante feedback atmosférico associado ao efeito estufa, devido ao fato do vapor de água representar o mais poderoso gás estufa em significativa quantidade na atmosfera. Entenda: Quais os mecanismos do efeito estufa atmosférico?
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          Por fim, é interessante apontar outro fenômeno curioso dentro da sauna seca. Usuários desse tipo de sauna gostam da sensação de súbito e significativo aquecimento do corpo quando água é jogada sobre as pedras quentes do aquecedor. Talvez o principal mecanismo que explica essa percepção de rápido aquecimento extra é o calor latente sendo liberado do vapor de água quente após condensação sobre a pele (Ref.18). Por causa da sudorese e contínua perda de grande quantidade de calor via evapotranspiração, nossa pele é uma das superfícies mais frias na sauna seca e a umidade relativa pode facilmente se tornar 100% próximo da pele, portanto causando condensação do vapor quente saindo do aquecedor e liberação de muita energia térmica no processo. Outro significativo contribuinte nesse mesmo sentido é a condensação de água na superfície higroscópica da madeira da sauna, liberando energia térmica no ambiente (Ref.17). Convecção extra causada pelo vapor quente saindo do aquecedor é também um contribuinte relevante para o "pulso de calor" percebido.

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   BENEFÍCIOS DA SAUNA

            A terapia com sauna vem sendo utilizada por centenas de anos na região Escandinava como uma atividade saudável bastante popular, possuindo origem tradicional comumente associada à Finlândia (aliás, nesse país é muito comum as residências familiares possuírem uma particular), onde a sauna é algo praticado há milhares de anos. No território Finlandês, a sauna é historicamente ligada à higiene, à saúde e a rituais místicos, assim como ao nascimento e à morte. Existem no país aproximadamente 3 milhões de saunas, para uma população total em torno de 5,4 milhões de habitantes. Nas últimas décadas, os banhos de sauna vêm se tornando muito populares também em outras culturas ao redor do mundo.

         O acumulado de evidências científicas na literatura acadêmica sugere que os banhos de sauna estão ligados a uma redução no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como hipertensão, mortalidade por doença cardiovascular, demência (!), assim como mortalidade por todas as causas. Estudos ao longo dos anos também vêm acumulando evidências de que o uso regular dos banhos de sauna trazem benefícios significativos para pessoas com hipertensão, falha cardíaca congestiva e como ajuda de recuperação para casos de pós-infarto do miocárdio. Além disso, alguns indivíduos com doença obstrutiva pulmonar crônica (DOPC), fatiga crônica, dores crônicas, ou vícios também podem encontrar benefícios.

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(!) Temperaturas muito altas na sauna podem ser muito prejudiciais ao cérebro. Por exemplo, o risco de demência com o uso regular de saúde a temperaturas maiores do que 100°C parece dobrar comparado com aqueles expostos a temperaturas menores do que 80°C ao longo de um período de 20 anos (Ref.17).
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         O banho de sauna é uma forma de terapia de calor passivo usada geralmente para propósitos de relaxamento e prazer. Além do vapor ou ar seco quentes, esse calor passivo pode ser obtido também com banhos quentes (imersão em fontes hidrotermais, por exemplo). Nesse tipo de terapia, o corpo fica exposto a um estresse térmico, onde já foi demonstrado que a exposição à sauna resulta em elevação da temperatura interna do corpo e alteração nas hemodinâmicas cardiovasculares, em efeitos similares àqueles vistos nos exercícios físicos. Nessa linha, o que parece ser uma realidade científica é que a sauna pode ajudar a melhorar a saúde cardiovascular do corpo, caso seja realizada regularmente, em específico a sauna seca. Nesse sentido, os benefícios obtidos por essa atividade estariam ligados às consequências nas funções circulatórias e cardiovasculares via redução na pressão sanguínea sistêmica, modulação positiva no perfil lipídico, redução na rigidez arterial e na grossura do revestimento interno da carótida, estimulação do sistema imune, alteração positiva do sistema nervoso autônomo, redução do estresse oxidativo, redução de processos inflamatórios e diminuição na resistência vascular periférica.

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> A exposição passiva às altas temperaturas na sauna causa leve hipertermia, um aumento na temperatura central do corpo que induz uma resposta termorreguladora envolvendo mecanismos neuroendócrinos, cardiovasculares e cito-protetores que participam na restauração da homeostase e no condicionamento do corpo para futuros fatores de estresse.
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            Uma típica sessão de banho Finlandês também melhora de forma aguda a dilatação periférica fluxo-mediada  em adultos de meia-idade e idosos com doença arterial coronária estável, potencialmente implicando em adaptações fisiológicas a longo prazo que podem estar associadas a um menor risco de mortalidade cardiovascular (Ref.13). Além disso, possui grande impacto agudo no sistema endócrino (ex.: suor aumenta a produção do hormônio antidiurético, do hormônio do crescimento, de prolactina e endorfina-beta) (Ref.14). Estresse térmico promove aumento da expressão de proteínas de choque térmico (HSPs), as quais previnem desordem e agregação proteica ao reparar proteínas que foram danificadas. As HSPs são sugeridas de atuarem promovendo benefícios à saúde associados às saunas (Ref.15).

A exposição a altas temperaturas estressa o corpo, elicitando uma rápida e robusta resposta que afeta primariamente a pele e sistemas cardiovasculares. A pele aquece primeiro, ficando com uma temperatura de aproximadamente 40°C, seguido por mudanças na temperatura central do corpo, aumentando lentamente de 37°C até aproximadamente 39°C. O trabalho cardíaco pode aumentar em até 60-70%, enquanto a taxa cardíaca aumenta e o volume de ejeção permanece estável. Ao mesmo tempo, aproximadamente 50-70% da circulação corporal é redistribuída do centro para a pele, facilitando o suor, fomentando a perda de fluído a uma taxa de aproximadamente 0,6 a 1,0 kg por hora - e uma média de 0,5 kg a temperaturas de 80 a 90°C na sauna seca. Ref.15

          Em um estudo publicado em 2018 na Nature (Ref.6), pesquisadores avaliaram 102 participantes e confirmaram vários desses benefícios cardiovasculares, pelo menos a curto prazo. Os voluntários (56% homens) tinham uma idade média aproximada de 52 anos e tinham pelo menos um fator de risco cardiovascular. Eles foram expostos uma sessão única de sauna seca (duração: 30 minutos; temperatura: 73°C; e umidade: 10-20%). Parâmetros cardiovasculares e sanguíneos foram coletados antes, imediatamente depois e após 30 minutos de recuperação. Os resultados principais mostraram que a velocidade de pulso de onda carótide-femoral era de 9,8 m/s antes da sauna e diminuiu para 8,6 m/s imediatamente após a sauna;, e que a pressão sanguínea sistólica foi de 137 mmHg para 130 mmHg, e diastólica de 82 para 75. E mesmo após 30 minutos de recuperação a pressão sistólica permaneceu menor do que no período pré-sauna, enquanto os níveis de sódio e potássio permaneceram constantes.

         No geral, os resultados apontaram que uma sauna seca durante 30 minutos possui efeitos benéficos na rigidez arterial, na pressão sanguínea e em alguns biomarcadores sanguíneos. Ainda é incerto o significado disso a médio e a longo prazo, mas fica claro que o uso regular da sauna seca pode gerar significativos impactos positivos na saúde cardiovascular.

          Outro notável estudo publicado também em 2018 no periódico Neurology (Ref.7), conduzido por um time internacional de pesquisa - incluindo pesquisadores das Universidades da Eastern Finland, Bristol, Leicester, Atlanta, Cambridge e Innsbruck -, concluiu que pessoas que tomam banho de sauna seca 4-7 vezes por semana possuem 61% menos risco de sofrer um derrame do aquelas que utilizam a sauna apenas 1 vez por semana. Para chegarem nessa conclusão, os pesquisadores utilizaram o Kuopio Ischaemic Heart Disease Risk Factor (KIHD) e incluíram 1628 adultos com idades de 53 até 74 anos vivendo na parte leste da Finlândia (788 homens e 840 mulheres), durante um período de análise, na média, de 14,9 anos. Os participantes foram divididos em três grupos: aqueles que tomam banho de sauna seca 1 vez por semana; 2-3 vezes por semana; e 4-7 vezes por semana.


        Basicamente, os pesquisadores encontraram que quanto mais frequentes os banhos de sauna, menores os riscos de derrame. Comparado com aqueles que tomam 1 banho de sauna seca por semana, os do grupo de 2-3 vezes/semana e 4-7 vezes/semana tinham o risco diminuído em torno de 14% e 61%, respectivamente. E esse decréscimo de risco persistiu mesmo quando se levava em conta os fatores de risco convencionais, como idade, sexo, diabetes, índice de massa corporal, lipídios no sangue, consumo de bebidas alcoólicas, nível de atividades físicas e status sócio-econômico. Além disso, a associação foi similar entre homens e mulheres.

        Esse foi o único estudo prospectivo de grande porte até o momento conduzido e publicado sobre o tópico. Os pesquisadores acreditam que como o banho de sauna seca está fortemente associado com a diminuição dos riscos ligados aos problemas cardiovasculares, isso traz também consequências para os riscos de derrames, já que ambas as esferas patológicas estão intimamente relacionadas. Aliás, um grande corpo de evidências sugere que os riscos de derrame cerebral diminuem com a diminuição da pressão sanguínea. Existem, porém, especialistas céticos em relação aos resultados do estudo (Ref.11-12) - como todo estudo observacional, cofatores e viés são difíceis de serem adequadamente ou completamente identificados e isolados. Mais estudos de alta qualidade e grande porte precisam ser feitos para confirmar os achados.

          Por fim, um estudo de 2019, publicado no periódico Complementary Therapies in Medicine (Ref.9) encontrou que uma sessão de sauna equivale à realização de exercícios físicos curtos e moderados (exercícios dinâmicos submáximos), elevando a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos de maneira similar durante a sessão. O estudo analisou 19 voluntários adultos expostos a 25 minutos de sauna (93°C, 13% de umidade) e, em uma segunda parte, a um programa curto de exercícios em uma bicicleta (carga de 60-100 watts). Durante e até 30 minutos após ambas as atividades, a pressão sanguínea e a taxa de batimentos cardíacos foram monitoradas. Ambos os parâmetros aumentaram no mesmo nível durante a realização das duas atividades, com um consequente aumento no consumo miocardíaco de oxigênio. Isso corrobora efeitos positivos cardiovasculares oriundos da sauna, e desmitifica a crença comum de que durante a sauna (exposição aguda a altas temperaturas) a pressão sanguínea é reduzida; apenas depois da sauna esse efeito é observado e de forma sustentada. Pessoas com problemas de hipotensão, portanto, não precisam se preocupar durante a sauna, mas precisam ficar mais atentas no período pós-sauna.

           Um estudo clínico randomizado e controlado, publicado em 2022 no periódico Regulatory, Integrative and Comparative Physiology (Ref.16), encontrou que, junto a exercícios físicos, o uso regular de sauna por 15 minutos pós-exercício traz significativo benefício extra no sentido de melhorar a capacidade cardiorrespiratória e reduzir a pressão sanguínea sistólica. O estudo foi conduzido ao longo de 8 semanas e englobou 47 participantes sedentários e com pelo menos um fator de risco para doença cardiovascular. A sauna [seca] era iniciada com uma temperatura de 65°C e então elevada para 70°C, a uma umidade do ar entre 10% e 20%.

             Com base nas evidências acumuladas até o momento, alguns pesquisadores sugerem que o uso regular de sauna seca pode ser um meio efetivo para aumentar a expectativa de vida e preservar a saúde com o avanço da idade (Ref.15).

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   CONTRA-INDICAÇÕES

        Em geral, a sauna seca tem sido contraindicada para pacientes com falha cardíaca crônica, apesar de já ter sido mostrado que ela é bem tolerada em pacientes com esse problema tanto após exposições únicas quanto regulares, trazendo inclusive potenciais benefícios. Além disso, pacientes com estenose aórtica severa, angina pectoris instável, recente infarto do miocárdio, e funções alteradas ou reduzidas de suor (ex.: certas doenças autoimunes, lesões na medula espinhal e crianças muito jovens) também são aconselhados a evitarem esse tipo de terapia térmica. Idosos propensos à hipotensão ortostática (!) devem ser cuidadosos nesses ambientes porque uma diminuição na pressão sanguínea pode causar síncope, geralmente logo depois da sauna.

(!) Leitura recomendada: Por que fico com tontura ao me levantar?

        No mais, a sauna seca é segura para a maioria das pessoas com doença arterial coronária, angina pectoris estável ou antigo infarto do miocárdio. São raros os infartos agudos do miocárdio e mortes súbitas durante sessões de saunas, mas o consumo alcoólico durante uma sessão aumenta o risco de hipotensão, arritmia e morte súbita, e deve ser evitado. E como já mencionado, indivíduos com hipotensão não precisam se preocupar durante a sauna, mas devem ficar atentos que após a sauna a pressão sanguínea tende a ser significativamente reduzida.

          Também importante, perda de consciência durante uma sessão de sauna seca pode ser muito perigoso. Isso porque o estado inconsciente leva a uma redução da perfusão da pele com prejuízos na função cardíaca e baixa pressão sanguínea; esse efeito, por sua vez, resulta em resfriamento insuficiente da pele, e queimaduras podem se desenvolver em um relativo curto período de tempo (um período de 20 minutos a 1 hora pode ser suficiente).

   RELATO DE CASO

         Aqui é válido alertar para um relato de caso publicado em 2016 no periódico American Journal of Forensic Medicine and Pathology (Ref.10), envolvendo uma morte súbita na sauna seca. No caso, um homem de 62 anos de idade estava em um banho de sauna pública, eletricamente aquecida. A temperatura da sauna estava em torno de 115°C-116°C. Água tinha sido adicionada às pedras aquecidas no forno, e a umidade relativa do ar variou de 3,5% a 22,3%. Uma segunda pessoa, fora da sauna, viu que a vítima tinha perdido a consciência e a arrastou para fora. Quando a vítima foi puxada da sauna, grandes pedaços da sua pele foram arrancadas nas partes do corpo em contato com solo, ou seja, as extremidades. Fora da sauna, a vítima caiu no chão e seu corpo começou a convulsionar. O serviço de emergência foi chamado, e ressuscitação foi iniciada, mas a vítima foi declarada morta após 30 minutos de tentativas de ressuscitação. O tempo que a vítima passou na sauna foi de apenas 7 minutos, de acordo com a pessoa que tentou socorrê-la. Exame detalhado de autópsia foi realizado.

           O corpo da vítima era de um adulto normal, do sexo masculino, com massa corporal de 70 kg e medindo 161 cm. Existiam queimaduras de terceiro grau em 85% do seu corpo, as quais tinham menor intensidade apenas nas áreas cobertas por um short. A membrana mucosa da boca, língua e da garganta estavam parcialmente descascadas. Uma pequena hemorragia foi vista no tecido mole da cartilagem da tireoide. A tireoide e os músculos intercostais estavam levemente cozidos, e a mucosa do esôfago estava cheia de bolhas. A traqueia estava normal. A mucosa do estômago e do duodeno estavam cobertas por pequenas hemorragias, e existia 0,5 L de sangue fresco no estômago. Foi notado também uma leve doença coronária arterial (placa aterosclerótica).

          Enquanto que possíveis úlceras no estômago e os leves danos cardíacos na vítima podem ajudar a explicar em parte a rápida morte, os autores do relato de caso concluíram que os fatores causais primários foram a temperatura significativamente acima do recomendado (80-100°C) e a umidade relativa muito alta para essa temperatura (>22°C). Além disso, o subsequente vapor gerado pela adição de água ao forno provavelmente removeu boa parte do oxigênio molecular (O2) do ar, levando à perda de consciência da vítima e piorando as graves queimaduras observadas na pele. Portanto é preciso muito cuidado em uma sauna seca durante procedimentos de ajuste da umidade do ar, especialmente no contexto de temperaturas muito altas.

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   CONCLUSÃO

         O banho de sauna seca - e talvez outras modalidades similares, mas provavelmente em menor grau de benefícios - possui o potencial de ser uma efetiva opção terapêutica para pacientes com hipertensão ou outros problemas/fatores de risco cardiovasculares. Somando-se a isso, parece ser uma boa opção para reduzir o risco de derrame e de outras doenças cardiovasculares. O mecanismo comum de ação parece ser a otimização da função vascular endotelial, a qual reduz a pré e pós-carga cardíacas. Ainda é incerto se benefícios agudos comprovados resultam em benefícios de longo prazo, mas prejuízos não parecem existir, salvo as poucas contraindicações. Importante também apontar que os estudos clínicos de boa qualidade e grande porte são muito escassos na literatura médica sobre os efeitos da sauna seca na saúde e, portanto, propriedades terapêuticas e de prevenção são ainda apenas sugeridas.


Artigo Recomendado: 

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16871826
  2. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24304490
  3. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21951023
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11165553
  5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2359619/
  6. https://www.nature.com/articles/s41371-017-0008-z
  7. http://n.neurology.org/content/early/2018/05/02/WNL.0000000000005606
  8. https://www.cdc.gov/stroke/about.htm
  9. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S096522991930473X
  10. Lindroos & Keltanen (2016). Sudden Death in Sauna Due to Fatal Burns: A Case Report. Am J Forensic Med Pathol. 2016 Mar;37(1):1-3. https://doi.org/10.1097/PAF.0000000000000208
  11. https://n.neurology.org/content/reader-response-healthy-subject-bias-may-explain-observed-effect-sauna-bathing-stroke-risk
  12. https://n.neurology.org/content/reader-response-sauna-bathing-reduces-risk-stroke-finnish-men-and-women
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  16. Lee et al. (2022). Effects of regular sauna bathing in conjunction with exercise on cardiovascular function: a multi-arm, randomized controlled trial. Regulatory, Integrative and Comparative Physiology, Vol.323, No.3. https://doi.org/10.1152/ajpregu.00076.2022  
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