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Principais desinformações sobre o novo coronavírus desmistificadas

- Artigo atualizado no dia 21 de março de 2020 -

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          Com o robusto avanço do novo coronavírus (SARS-CoV-2), várias desinformações estão correndo solta pelas redes sociais, desde receitas caseiras de prevenção sem base científica até teorias conspiratórias sobre a origem do vírus. O maior propagador de fake news sobre o novo coronavírus tem sido o WhatsApp.

         O Ministério da Saúde inclusive criou um número de WhatsApp, (61) 99289-4640, para receber 'informações virais' sobre o 2019-nCoV, que serão analisadas pelos técnicos do governo federal. Desde o início da divulgação dos casos da doença pelo mundo, foram recebidas 6500 mensagens, das quais 90% eram relacionadas à nova doença. Em torno de 85% dos vídeos, textos e fotos que chegaram mostraram-se falsos.

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(1) Para mais informações, sobre o vírus, acesse: O que se sabe até o momento sobre o vírus da China?

          Nesse sentido, abaixo, serão listadas as principais desinformações sendo espalhadas, aqui no Brasil e ao redor do mundo [O artigo estará sendo continuamente atualizado].


"ÁLCOOL GEL E ÁGUA E SABÃO NÃO NÃO POSSUI EFICÁCIA CONTRA O CORONAVÍRUS"

Circula pelas redes sociais - especialmente em grupos de WhatsApp - um vídeo em que um homem que se diz 'químico autodidata' afirma que álcool gel não tem nenhuma eficácia e recomenda vinagre para prevenir o contágio do coronavírus. A afirmação - e as outras ditas ao longo do vídeo de 4 minutos e 25 segundos - são totalmente falsas.

O álcool em gel - em suas várias formulações comercialmente aprovadas - age rapidamente sobre bactérias vegetativas (inclusive microbactérias), vírus e fungos, sendo a higienização equivalente e até superior à lavagem de mãos com sabão comum ou alguns tipos de antissépticos degermante. Dentro de instalações hospitalares, o álcool em gel é mais do que recomendado para uma boa higienização e como uma forma de prevenção contra a disseminação de diversos patógenos.

De acordo com evidências e estudos científicos atuais, o álcool em gel ou líquido é um dos métodos mais eficientes de prevenção contra o coronavírus (SARS-CoV-2), assim como a higienização das mãos com água e sabão.

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A maioria dos produtos antissépticos a base de álcool - na forma líquida, de gel ou de espuma - contém isopropanol, etanol, n-propanol, ou uma combinação de dois desses compostos. A atividade anti-microbiana desses álcoois é atribuída à capacidade de desnaturarem e coagularem proteínas, levando a uma lise das células dos microrganismos e subsequente disrupção metabólica. Somando-se a isso, esses solventes orgânicos são capazes de removerem lipídios dos vírus que possuem envelope (2). Nesse último ponto, é válido lembrar que o álcool etílico e o isopropílico possuem atividade apenas contra bactérias na forma vegetativa, vírus envelopados (p.ex.: vírus causadores da influenza, da hepatites B e C, da SIDA, e os coronavírus), micobactérias e fungos. Não apresentam ação contra esporos e vírus não-envelopados (p.ex.: vírus da hepatite A e Rinovírus),3 caracterizando-se como desinfetante e anti-séptico, porém sem propriedade esterilizante.

As mais efetivas soluções contém de 60% a 95% de álcool. O álcool em gel geralmente vendido aqui no Brasil contém 70% de etanol - bem diferente do '10%' mencionado no vídeo desinformativo. Notavelmente, maiores concentrações de álcool são menos efetivas porque as proteínas não são facilmente desnaturadas na ausência de água.

A maior eficácia anti-microbiana pode ser alcançada com etanol (60-85%), isopropanol (60-80%) e n-propanol (60-80%). O etanol - o ingrediente mais comum - parece ser o mais efetivo contra vírus, enquanto os propanóis possuem uma melhor atividade bactericida. A concentração de 85% de etanol parece ser a mais efetiva contra bactérias. E talvez o mais importante, nenhum desses álcoois fomentam a evolução de resistência bacteriana. O tempo esfregando as mãos com o álcool em gel não precisa ultrapassar os 10 segundos - evidências indicam que 10-15 segundos de lavagem das mãos com produtos de sanitização a base de álcool não possui menor eficácia significativa em relação a lavagens com maior duração; aliás, esfregar esses produtos por mais de 45 segundos parece diminuir a eficácia, talvez devido à descamação da pele (Ref.12).

Voltando ao  vídeo, o tal 'químico autodidata' também afirma que gelatinantes colocados no álcool em gel 'alimentam' os vírus. De fato, gelatinantes podem ser usados em meio de cultura na placa de Petri, mas eles agem apenas para solidificar o meio. O que vai alimentar bactérias são os nutrientes adicionados no meio. E, para piorar a falsa informação do vídeo, o meio de cultura aqui mencionado obviamente não visa vírus, já que estes se replicam de forma bem diferente das bactérias, necessitando do maquinário genético de uma célula hospedeira.

Para finalizar, no vídeo é afirmado que o vinagre seria uma melhor opção de sanitização das mãos. Isso também é falso. A concentração de ácido acético - um ácido fraco - na solução conhecida como vinagre é de apenas 4-5% (v/v), ou seja, cada 100 ml de vinagre contém, no máximo, 5 ml desse ácido. Não existe suporte científico para uma ação esterilizante do vinagre. O vinagre deve ser usado apenas para temperar saladas. E na lavagem de frutas e verduras, água sanitária deve ser a opção ideal.

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E ATENÇÃO com receitas caseiras de produtos para a limpeza das mãos, sendo bastante propagadas, especialmente envolvendo o uso de vodka. No geral, essas receitas resultam em soluções apropriadas apenas para a sanitização de superfícies, não para uso na pele. Os produtos comerciais geralmente trazem emolientes que evitam a ressecação excessiva da pele quando o álcool-gel, por exemplo, é usado. Além disso, o álcool em gel adequado para a limpeza das mãos possui em torno de 70% de etanol, enquanto a vodka possui apenas 40% de etanol.

E é mais do que importante lembrar: a limpeza das mãos com produtos a base de álcool e com água e sabão não só é uma poderosa ferramenta de prevenção contra o novo coronavírus como também é um elemento essencial para a prevenção de infecções em geral, bacterianas e virais em especial.
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E não só a lavagem das mãos com álcool em gel (60-90%) é capaz de eliminar os coronavírus das mãos. Água e sabão também é tão eficiente quanto. E água e sabão ainda possuem a vantagem de serem mais baratos, acessíveis e realizarem uma limpeza mais ampla do corpo (além do vírus). Mas qual a importância do sabão na eliminação do vírus?

A água é um solvente polar, e tende a dissolver substâncias polares. O sabão engloba compostos que possuem uma estrutura molecular contendo tanto uma parte não-polar/apolar quanto uma parte polar (anfifílica). Por isso você consegue limpar gordura/lipídios (apolar) com água em presença de sabão, porque a parte apolar do sabão interage com a gordura e a parte polar interage com a água, permitindo que tudo seja misturado. Isso pode ser aplicado também à estrutura do novo coronavírus - e de outros vírus -, a qual é constituída externamente por uma bicamada lipoproteica contendo lipídios (apolar) e proteínas ligadas por interações não-covalentes e bem mais fracas do que estas últimas. Na verdade, toda estrutura do vírus protegendo seu material genético é segurada por interações não-covalentes, englobando iterações hidrofóbicas (de repulsa à água, apolares) e hidrofílicas (de atração à água, polares). O sabão e a água acabam desestabilizando essas interações e dissolvendo os lipídios associados, junto com os lipídios e outros resíduos naturalmente presentes na sua mão que ajudam também a fixar os vírus, varrendo tudo na lavagem e livrando sua mão desses patógenos. Nesse sentido, mesmo vírus que não forem varridos acabam sendo destruídos no processo.


"CHÁ DE ERVA DOCE PREVINE E COMBATE O CORONAVÍRUS"

Como sempre, diversas receitas caseiras e medicinas alternativas sem suporte científico de eficácia começam a circular fortemente pelas redes sociais acompanhando novos surtos de doenças. Podemos citar 'chás de erva doce e de abacate com hortelã', 'alho', 'óleos essenciais', 'vitamina C + zinco', 'vitamina D', 'chá quente' e até mesmo 'uísque e mel' como as alegações mais populares sendo compartilhadas de receitas ou alimentos que supostamente podem prevenir ou curar a infecção pelo novo coronavírus. Todas elas falsas.

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Até o momento, não há nenhum medicamento específico, infusão, óleo essencial ou vacina que possa prevenir ou tratar a infecção pelo novo coronavírus. Diversos laboratórios ao redor do mundo estão correndo para desenvolver uma vacina eficaz contra o SARS-CoV-2. Existem estudos também avaliando a eficácia de anti-virais já usados para outros vírus para ajudar no tratamento do COVID-19. Nesse sentido, informações circulando sobre alegadas curas - como "médicos tailandeses curam coronavírus em 48 horas" - são também falsas.

Até o aparecimento de uma vacina, as recomendações das agências de saúde para melhor prevenir as pessoas contra o novo coronavírus são:

- Evitar contato próximo com pessoas que sofrem de infecções respiratórias agudas.

- Realizar lavagem frequente das mãos.

- Utilizar lenço descartável para higiene nasal.

- Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir.

- Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca.

- Higienizar as mãos após tossir ou espirrar.

- Não compartilhar objetos de uso pessoal.

- Manter os ambientes bem ventilados.

- Evitar contato próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas da doença.

- Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações.


"EVITEM ENTRAR EM CONTATO COM PRODUTOS DA CHINA, PORQUE ELES PODEM ESTAR CONTAMINADOS"

Não há nenhuma evidência que produtos enviados da China para o Brasil tragam o novo coronavírus. Os vírus geralmente não sobrevivem muito tempo fora do corpo de outros seres vivos, e o tempo de tráfego destes produtos costuma ser de muitos dias. O vírus só é transmitido entre humanos e não sobrevive mais de 24 horas fora do organismo humano ou de algum animal. Isso é especialmente válido para o SARS-CoV-2.


"SOPA DE MORCEGO FOI A RESPONSÁVEL PELO SURTO DO CORONAVÍRUS NA CHINA"

O novo coronavírus não foi transmitido aos humanos diretamente dos morcegos. Os coronavírus presentes nesses animais mostraram compartilhar 'apenas' 88% do material genético com aquele infectando nossa espécie. Isso indica que os morcegos foram a origem primordial do vírus, mas que houve outro animal intermediário que o transmitiu para os humanos, como ocorreu com o SARS em 2002, cujo vírus foi transmitido por civetas infectadas a partir de morcegos. Uma aposta inicial sugeriu as cobras, mas análises genéticas subsequentes indicaram que o provável intermediário são os pangolins, considerado o mamífero mais traficado do mundo (Para mais informações, acesse: O que se sabe até o momento sobre o vírus da China?).


"O NOVO CORONAVÍRUS FOI GENETICAMENTE ENGENHADO E ESCAPOU DE UM LABORATÓRIO NA CHINA"

Dois cientistas Chineses publicaram um artigo no ReserarchGate agora deletado sugerindo que o novo coronavírus poderia ter sido originado de um acidente no CCDC (Centro Chinês para o Controle e Prevenção de Doenças), devido a falhas de segurança e operações de alto risco (Ref.7). Tal sugestão não possui evidência científica corroborativa, e tudo aponta para uma origem natural. Outras histórias similares também estão se espalhando nas redes sociais, mas são apenas boatos.

Aliás, um estudo publicado mais recentemente no periódico Nature Medicine (Ref.14) trouxe robustas evidências da origem natural do vírus. Analisando dados de sequenciamentos genômicos do SARS-CoV-2 até o momento disponibilizados, os pesquisadores nesse estudo não encontraram evidências de que o vírus foi criado em laboratório ou feito via engenharia/manipulação genética. O genoma do novo coronavírus mostrou-se marcado por um processo evolutivo baseado em seleção natural.

No estudo de revisão, os pesquisadores identificaram duas notáveis características genômicas no SARS-CoV-2: (i) esse vírus parece ser otimizado para se ligar ao receptor ACE2; e (ii) sua proteína spike possui uma clivagem polibásica funcional (furina) na fronteira S1-S2 através da inserção de 12 nucleotídeos. O domínio ligante-receptor (RBD) na proteína spike é a parte mais variável no genoma do coronavírus, e seis aminoácidos RBD têm mostrado ser críticos para a ligação aos receptores ACE2 e para a determinação do espectro de hospedeiros dos vírus do tipo SARS-CoV. Em específico, cinco desses seis aminoácidos diferem entre o SARS-CoV-2 e o SARS-CoV, fazendo com que o RBD do primeiro tenha uma alta afinidade ao ACE2 de humanos, furão, gato e outras espécies com alta homologia a nível do receptor.

No entanto, enquanto que as análises genômicas tradicionais sugeriram que o SARS-CoV-2 pode se ligar ao ACE2 humano com alta afinidade, análises computacionais indicaram que essa interação não é ideal e que a sequência RBD é diferente daquelas mostradas no SARS-CoV que são otimizadas para a ligação com o receptor. Portanto, a ligação de alta afinidade da proteína spike do SARS-CoV-2 ao ACE2 humano é muito provavelmente o resultado de seleção natural sobre um ACE2 humano ou próximo que permite outra solução otimizada de ligação emergir. Essa é a primeira forte evidência de que o SARS-CoV não é o produto de manipulação planejada.

Somando-se a isso, o local de clivagem polibásica na junção de S1 e S2 - com consequência funcional desconhecida no SARS-CoV-2 - é bastante distinto em termos de composição, similar ao observado em betacoronavírus humanos de linhagem A mas não na linhagem B na qual pertence o novo coronavírus. Se manipulação genética tivesse sido usada, a estrutura genética básica dos betacoronavírus na linhagem B ("matéria-prima" padrão e lógica) teria sido conservada, não apresentando tal clivagem polibásica.

Com base nessas evidências, os pesquisadores propuseram que só existem duas vias plausíveis para a emergência do SARS-CoV-2: (i) seleção natural em um hospedeiro animal antes da transferência zoonótica; e (ii) seleção natural em humanos seguindo a transferência zoonótica. Na primeira, um coronavírus teria sido passado de morcegos para um animal hospedeiro - talvez pangolins da espécie Manis javanica, ilegalmente importados para o mercado Chinês - e evoluído nesses animais para uma forma capaz de infectar humanos. No segundo caso, um coronavírus do hospedeiro teria infectado humanos e evoluído na nossa espécie durante transmissões humano-para-humano, otimizando seu material genético via adaptação até infectar células humanas com maior eficiência.


"CÃES E GATOS PODEM TRANSMITIR O CORONAVÍRUS"

Não existem evidências científicas de que esses animais possam ser infectados pelo novo coronavírus e muito menos de que possam transmiti-lo para humanos.

Em um caso específico, um cão foi colocado em quarentena em Hong Kong após ser testado "fracamente positivo" para o SARS-CoV-2 (Ref.8). No entanto, o animal não demonstrou nenhum sintoma da doença associada (COVID-19) ou qualquer indício de ter sido infectado. É possível que o cão tenha apenas pegado partículas virais de uma superfície contaminada e o carregado em suas mucosas.

O cão infectado estava vivendo junto com um paciente com COVID-19 (doença causada pelo SARS-CoV-2). Uma pequena quantidade de RNA viral foi confirmada a partir de amostras retiradas das cavidades oral e nasal do canídeo. De acordo com o Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação de Hong Kong (AFCD) (Ref.11), o cão estava apenas levemente infectado pelo vírus, e não mostrou sinais do COVID-19. Além disso, não se sabe se o RNA viral estava presente apenas em fragmentos ou se existia vírus intactos e viáveis no cão.

No entanto, as agências de saúde recomendam que cães e gatos em contato com pacientes com coronavírus também sejam colocados em quarentena. Não só por causa da incerteza de possível transmissão entre humanos e esses animais no atual momento, mas também devido à possibilidade de mutações permitirem que o novo coronavírus consiga infectar outras espécies além da nossa.

A melhor forma de prevenir o COVID-19 é a adoção de práticas de boa higiene (incluindo lavar bem as mãos antes e depois de estar ao redor ou lidando com esses animais, assim como evitar beijá-los ou deixá-los lamberem seu rosto) e manter o ambiente doméstico limpo e higiênico. Pessoas doentes devem restringir o contato com outros animais, especialmente mamíferos. Se seu cão ou gato expressar sintomas de alguma doença, leve-o imediatamente ao veterinário.

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E independentemente do novo vírus, é sempre uma boa recomendação lavar as mãos com água e sabão após o contato com cães e gatos para prevenir a transmissão de outros patógenos (zoonoses), como  E.coli e Salmonella.


"SECADOR DE MÃO É EFETIVO EM MATAR O CORONAVÍRUS"

Informação mais do que falsa. Para se proteger do novo coronavírus, a recomendação é a lavagem frequente das mãos com água e sabão ou com álcool em gel. Após a lavagem, o ideal seria secá-las com papel toalha ou com um secador de ar quente. Outra informação errônea é aconselhar as pessoas a usarem lâmpadas de ultravioleta para esterilizar as mãos. Além de desnecessário, a radiação ultravioleta pode irritar a pele e causar outros danos.


"USAR LUVAS AJUDA NA PREVENÇÃO"

O uso de luvas por si só NÃO ajuda na prevenção do novo coronavírus porque o SARS-CoV-2 não infecta as pessoas diretamente através das mãos. As recomendações sobre limpeza das mãos e de superfícies visam diminuir as chances de você tocar seu rosto com a mão contaminada, onde o vírus pode entrar em contato com mucosas (interior nasal, boca e olhos) e infectá-lo. Aliás, é estimado que uma pessoa toca, em média, 20 vezes no rosto por hora. Caso a pessoa com luva toque em uma superfície contaminada e depois no rosto, o risco de contaminação continua o mesmo. As luvas só irão ajudar caso seu uso, de alguma forma, faça você tocar no rosto com menos frequência, ou caso você descarte e coloque uma luva nova frequentemente. Mas, nesse caso, seria mais prático e efetivo usar o álcool em gel, por exemplo, ou mesmo a lavagem com água e sabão caso possível.


"BORRIFAR ÁLCOOL OU CLORO SOBRE O CORPO PODE MATAR O CORONAVÍRUS EM PESSOAS INFECTADAS"

Não. O uso de álcool visa apenas a limpeza das mãos ou de superfícies que podem potencialmente estarem contaminadas. Sua aplicação - ou de outra substância de sanitização - sobre o corpo não surte efeito no vírus já infectando o corpo, e pode trazer danos consideráveis caso atinja mucosas.


"VACINA CONTRA A GRIPE E CONTRA A PNEUMONIA É SUFICIENTE PARA A PREVENÇÃO CONTRA O CORONAVÍRUS"

Não. Vacinas contra o vírus da gripe (Influenza) e contra a bactéria Streptococcus pneumoniae (responsável por alguns casos de pneumonia) não possuem efeito contra o 2019-nCoV. O novo coronavírus é bem diferente em termos genéticos desses dois patógenos, necessitando de uma vacina única. De qualquer forma, a vacinação contra a pneumonia e contra a gripe são altamente recomendadas.


"PINGAR REGULARMENTE SOLUÇÃO SALINA NO NARIZ PODE PREVENIR INFECÇÃO PELO CORONAVÍRUS"

Não existem evidências de que o uso regular de solução salina no nariz possa prevenir infecções respiratórias em geral. Existe apenas limitada evidência de que esse tipo de intervenção possa ajudar as pessoas a se recuperarem mais rapidamente de resfriados comuns - os quais também podem ser causados por certos coronavírus, mas não o SARS-CoV-2. Nesse sentido, temos também alegações de que gargarejar pode combater o vírus quando a infecção 'se limita' à garganta; outra fake news.


"ANTIBIÓTICOS PODEM PREVENIR E MATAR O CORONAVÍRUS"

Infelizmente, muitos continuam usando antibióticos para qualquer infecção, fator esse que está fomentando a atual e grave crise de resistência bacteriana (Para mais informações, acesse: O que são as superbactérias e a resistência bacteriana?). Antibióticos apenas eliminam bactérias, não vírus. Em hospitais, uma pessoa infectada pelo SARS-CoV-2 pode talvez receber antibióticos durante o tratamento para tratar infecções bacterianas oportunistas, e não o coronavírus.


"EXISTE UM SUPLEMENTO MILAGROSO QUE LIMPA O CORPO DO CORONAVÍRUS"

Canais de YouTube irresponsáveis e anti-científicos, entre outros veículos nas redes sociais, estão promovendo um "suplemento mineral" chamado de 'MMS', alegando que este é capaz de livrar o corpo do novo coronavírus, entre outras alegações de cura para doenças diversas, incluindo câncer. Esse assim chamado suplemento mineral contém como "princípio ativo" dióxido de cloro. Não existem evidências científicas de que produtos contendo MMS previnam ou tratem qualquer tipo de doença. Pelo contrário, o consumo desses produtos podem causar náusea, vômitos, diarreia e sintomas de desidratação severa (Ref.9). Solução de dióxido de cloro é um poderoso alvejante e não deve ser ingerida.


"INGESTÃO DE PRATA É UM TRATAMENTO EFETIVO CONTRA O CORONAVÍRUS"

O uso oral de prata coloidal - pequenas partículas de prata suspensas em uma mistura aquosa - têm sido amplamente promovido para o tratamento de diversas doenças, e, mais recentemente, diversas postagens no Facebook têm incentivado seu uso para o tratamento do novo coronavírus. Defensores da prata coloidal alegam que tal mistura aquosa pode tratar todos os tipos de condições de saúde, agindo como um "antisséptico" e fortalecendo o sistema imune. No entanto, não existem evidências científicas dando suporte para tal alegação. Aliás, ao contrário de metais como ferro e zinco (e na forma de íons), prata não possui funções no corpo humano, podendo causar danos renais, problemas neurológicos e argiria - uma condição na qual sua pele se torna azul-cinzenta - em especial quando exposta ao Sol - devido ao acúmulo de prata nos tecidos do corpo, e geralmente de forma permanente (Ref.10). A ingestão oral de prata coloidal é nociva. A prata possui aplicabilidade médica apenas via uso tópico, para tratar queimaduras, infecções de pele, etc., e para prevenir conjuntivite em recém-nascidos.


"BEBA ÁGUA A CADA 15 MINUTOS"

Enquanto que boa hidratação é mais do que recomendado para uma boa saúde em geral e para o tratamento de doenças diversas, o excesso no consumo de água pode ser prejudicial e não previne infecções virais. No caso do coronavírus, está sendo comumente alegado que a ingestão frequente de água 'lava' o vírus entrando pela boca, levando-o até o estômago e, consequentemente, matando-o. Essa ideia de "prevenção" não possui base científica alguma, especialmente porque vírus que causam infecções respiratórias entram no corpo primariamente pelo trato respiratório durante a respiração nasal.


"AQUECER O CORPO MATA O CORONAVÍRUS"

Beber água ou outros líquidos quentes, e evitar alimentos gelados, como sorvete, não previnem nem combatem o novo coronavírus. Fora do corpo, é necessário uma temperatura superior a 60°C para matar o SARS-CoV-2 e mesmo se temperaturas menores matassem o esse patógeno, o ser humano é um animal homeotérmico, assim como os outros mamíferos, e a nossa temperatura é sempre mantida numa faixa constante (ao redor de 36-37°C), exceto no caso de uma febre ou de uma hipotermia. Seu corpo não experiencia elevação de temperatura apenas porque você ingeriu algo quente ou ficou exposto à radiação solar, assim como a nossa temperatura corporal não cai apenas porque tomamos um sorvete.


"QUALQUER SINAL DE FEBRE PRECISA SER ELIMINADO COM O USO DE MEDICAMENTOS ANTI-TÉRMICOS"

Mais uma vez é preciso reforçar: febre NÃO é uma manifestação deletéria do corpo, pelo contrário, é uma ferramenta que ajuda no combate aos patógenos invasores (3). Não é recomendado buscar baixar qualquer febre, apenas raros casos quando ela se torna muito elevada ou estiver trazendo muito desconforto. Além do seu papel de defesa, a febre persistente deve ser encarada como um sinal para uma consulta médica. E outra: febre é a partir de 38,3°C (literatura médica), e não acima de 37°C (temperatura ainda normal).

Para a maioria dos pacientes infectados com o novo coronavírus e isolados, hidratação, boa alimentação e repouso é o suficiente, assim como para gripes e resfriados. Caso a febre se eleve muito ou você desenvolva dificuldade respiratória - entre outras pioras de sintomas -, é necessário buscar atenção médica imediata, não se entupir de medicamentos por conta própria, especialmente porque não existe tratamento específico para o SARS-CoV-2.

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(3) Leitura recomendada para quem quiser entender melhor esse assunto: É benéfico sempre buscar baixar a febre?

E ALERTA: Medicamentos anti-inflamatórios - visando baixar a febre ou dores no corpo - devem ser evitados porque podem piorar a infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Medicamentos como o paracetamol, no caso de febre, devem ser preferidos.
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"O NOVO CORONAVÍRUS CAUSA IMEDIATA E PERIGOSA PNEUMONIA"

A infecção pelo novo coronavírus geralmente leva, de fato, a um quadro de pneumonia, mas uma forma branda na maioria dos casos. E esse possível quadro de pneumonia não se desenvolve de forma súbita, com os sintomas evoluindo de forma substancialmente similar a outras infecções respiratórias, como resfriados e gripes, e englobando geralmente febre, tosse seca e dificuldade respiratória.

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A doença causada pelo 2019-nCoV é chamada de COVID-19, e possui uma taxa estimada de mortalidade relativamente baixa (~3-4%), englobando em sua maioria indivíduos de idade avançada e/ou com problemas crônicos prévios, como diabetes, tuberculose e doenças cardíacas. Somando-se a isso, essa taxa de mortalidade pode estar sendo superestimada, já que muitos infectados com um quadro mais leve da doença podem não ir ao hospital e, consequentemente, não serem diagnosticados.


"CRIANÇAS NÃO SÃO CONTAMINADAS COM O NOVO CORONAVÍRUS"

Apesar das crianças e adolescentes realmente parecerem resistir mais ao COVID-19 - raramente desenvolvem sintomas mais graves -, as evidências acumuladas até o momento indicam que indivíduos nessa faixa de idade são quase tão propensas à contaminação pelo SARS-CoV-2 quanto os adultos. Um estudo publicado no periódico The New England Journal of Medicine (Ref.15), avaliando 1391 crianças e adolescentes com idades abaixo de 16 anos atendidas no Hospital Infantil de Wuhan que tiveram contato com pessoas infectadas encontrou que 171 (12,3%) tiveram resultado positivo para o novo coronavírus. A idade média das crianças contaminadas era de 6,7 anos e 41,5% delas desenvolveu febre. Outros sintomas comuns incluíram tosse e eritema faríngea. Um total de 27 pacientes (15,8%) não apresentaram sintomas, mas 12 apresentaram características radiológicas de pneumonia, mas sem qualquer sintoma de infecção. Apenas três pacientes requereram cuidados médicos intensivos e ventilação mecânica invasiva, mas todos os três apresentavam condições crônicas de risco (leucemia e intussuscepção). Uma morte foi registrada. Esse estudo corrobora que a maioria das crianças infectadas desenvolvem sintomas leves da doença, apesar delas serem também substancialmente suscetíveis à infecção.


"DENGUE E GRIPE MATAM MAIS. NÃO PRECISAMOS NOS PREOCUPAR COM O NOVO CORONAVÍRUS."

Não é porque o novo coronavírus está se mostrando menos letal do que outras doenças que a população não deve fazer o possível para pará-lo. Não é preciso entrar em pânico, mas é importante deter o avanço tanto para proteger indivíduos em grupos de riscos (idosos, pacientes com certas doenças crônicas, etc.) quanto para minimizar o acúmulo de mutações no vírus, o que pode torná-lo (processo evolutivo) mais virulento e patogênico.

Nesse último caso, para exemplificar, cientistas Brasileiros sequenciaram recentemente o genoma dos dois primeiros casos de infecção no Brasil e mostraram que o vírus já possuía três mutações distintas daquele que está circulando na China (2). E mais: os genomas virais dos dois casos mostraram-se significativamente diferentes entre si. Quanto mais o vírus vai se espalhando, infectando e se replicando, mais mutações vão surgindo, deletérias ou não, as quais são então selecionadas e/ou são alvos de deriva genética (especialmente a partir da infecção inicial).

Vejo muitos comentando que não é preciso se preocupar porque "a dengue e a gripe matam mais". Nunca é uma boa ideia deixar um vírus ainda em boa parte desconhecido sair se espalhando sem controle. Na família dos coronavírus, temos vírus que causam simples resfriados e temos vírus como o SARS (e o de agora, o SARS-CoV-2), apesar de bem semelhantes entre si.

Seguir as orientações básicas de prevenção não é apenas uma questão de "frescura". E são bem simples, como lavar bem as mãos com boa frequência, algo que não precisa de uma epidemia para ser adotado no dia-a-dia.

(2) Para mais informações, acesse:

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> O Ministério da Saúde criou uma página desmistificando as Fake News circulando aqui no Brasil. Para acompanhar as atualizações, acesse aqui.

(2) O envelope viral, presente em vírus de algumas famílias, origina-se de membranas da célula hospedeira através de brotamento, que ocorre durante o egresso de vírions maduros da célula hospedeira. Essa membrana freqüentemente é derivada de uma região da membrana plasmática, mas pode originar-se também das membranas do aparelho de Golgi, do retículo endoplasmático ou da membrana nuclear, dependendo do vírus e do compartimento celular onde ocorre a replicação. Independentemente de sua origem, o envelope é composto de uma camada dupla de lipídios – de origem celular – com proteínas associadas. As proteínas do envelope são codificadas pelo vírus e constituem-se em sua maioria de glicoproteínas.
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REFERÊNCIAS
  1. https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public/myth-busters
  2. https://www.saude.gov.br/fakenews/coronavirus?limitstart=0 
  3. https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2020/02/28/e-fake-mensagem-em-video-que-diz-que-alcool-gel-nao-funciona-como-forma-de-prevencao-contra-o-coronavirus.ghtml
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2259358/
  5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK513254/
  6. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30020626
  7. https://www.sciencemag.org/news/2020/02/scientists-strongly-condemn-rumors-and-conspiracy-theories-about-origin-coronavirus
  8. https://edition.cnn.com/2020/02/29/asia/hong-kong-pet-dog-coronavirus-trnd/index.html
  9. https://www.fda.gov/consumers/consumer-updates/danger-dont-drink-miracle-mineral-solution-or-similar-products
  10. https://nccih.nih.gov/health/colloidalsilver
  11. https://www.pets.gov.hk/english/highlights/files/New_Updates_on_Low-level_of_Infection_with_COVID-19_in_Pet_Dog_0503__eng.pdf
  12. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28264743
  13. http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/controle_alcool.pdf
  14. https://www.nature.com/articles/s41591-020-0820-9
  15. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc2005073