O pelo do urso-polar não é branco e, sim, transparente!
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Os Ursos-Polares (Thalarctos maritimus) são os maiores carnívoros terrestres (1) do mundo e possuem poderosas adaptações para sobreviverem no tenebroso frio do Ártico, o qual pode alcançar os 50°C negativos em determinadas épocas do ano. Possuindo um ancestral comum com os Ursos-Pardos (Ursus arctos), esses animais tiveram sua divergência evolutiva há menos de 500 mil anos, um período bem curto de adaptação apesar das drásticas mudanças corporais sofridas pelos ursos-polares. Porém, uma das características mais marcantes desses animais, e que geraram a maior confusão tanto no meio científico quanto no meio popular, refere-se à natureza da sua pelagem. Sim, apesar da maioria achar que ela é branca, na verdade seus pelos individuais são transparentes e a pele desses ursos é negra!
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Por causa da transparência, do conteúdo oco dos seus longos pelos e pela alta absorção da radiação UV pelo corpo do urso-polar, por muito tempo acreditou-se que a pelagem desses animais possuía um comportamento parecido com o de uma fibra ótica, transmitindo com grande eficiência essa faixa de radiação através dos pelos até a sua pele, resultando em uma ajuda extra no aquecimento. Mas estudos posteriores desbancaram essa ideia, não conseguindo achar propriedades do tipo nesses pelos e mostrando que a absorção era devida à proteína de queratina presente neles. Mesmo assim, até hoje, esse mito ainda circula em várias fontes de pesquisa.
Outro fato interessante associado ao urso-polar, e que envolve outra faixa de radiação do espectro eletromagnética, é que esse animal é praticamente invisível às câmeras/sensores de infravermelho (como mostrado na imagem ao lado)! Apenas o ar da sua respiração é bem capturado pelos sensores infravermelhos, e observações deles à noite, sem o uso de luz visível artificial, só é bem feita quando usa-se sensores de UV, onde a neve ao redor, por exemplo, reflete bem esse comprimento de onda, mas, como já dito, os ursos-polares o absorvem bastante. Com o UV, eles aparecem escuros na tela de captura. Essa invisibilidade ao infravermelho é devido à alta capacidade de retenção de calor dos seus corpos. Com uma espessa camada de gordura que possui cerca de 10 cm de largura e uma densa camada de pelos primários, os quais também refletem parte da radiação infravermelha de volta para a pele, pouco calor é perdido para as partes mais exteriores da pelagem, fazendo com que a temperatura nessa região fique próxima do ambiente em volta. Com isso, sua emissão de radiação infravermelha tende a se igualar ao do ambiente no qual ele está inserido (radiação de corpo negro), tornando-o invisível. Na verdade, a capacidade de retenção de calor dos ursos-polares é tão grande que se a temperatura ao seu redor ultrapassar, aproximadamente, os 10°C, ele passa a sofrer de um perigoso superaquecimento.
Mas você deve estar se perguntando sobre a existência de uma coloração meio amarelada (praticamente sempre presente em alguma intensidade) e até mesmo esverdeada que pode acompanhar esses animais. Bem, essas colorações podem surgir a partir de vários fatores:
1. Amarelado: Manchas diversas, como secreções do corpo, óleo de focas e sujeira do ambiente, ou através da oxidação da estrutura capilar pelos raios solares. O óleo de foca é o principal responsável pelo amarelado, o qual impregna no corpo do animal enquanto a devora. Quanto mais focas sendo consumidas, mais amarelado esse urso tenderá a ser. Como os ursos-polares trocam de pelo anualmente (geralmente começam na primavera e terminam no verão), a nova pelagem que vai nascendo é normalmente bem "branca" no início (bem, tecnicamente, transparente). Outro fato interessante é que eles são um dos poucos animais que não passam por uma mudança de pigmentação quando saem do inverno: estão sempre brancos independentemente se a neve no seu território derreteu ou não.

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Mas você deve estar se perguntando sobre a existência de uma coloração meio amarelada (praticamente sempre presente em alguma intensidade) e até mesmo esverdeada que pode acompanhar esses animais. Bem, essas colorações podem surgir a partir de vários fatores:
1. Amarelado: Manchas diversas, como secreções do corpo, óleo de focas e sujeira do ambiente, ou através da oxidação da estrutura capilar pelos raios solares. O óleo de foca é o principal responsável pelo amarelado, o qual impregna no corpo do animal enquanto a devora. Quanto mais focas sendo consumidas, mais amarelado esse urso tenderá a ser. Como os ursos-polares trocam de pelo anualmente (geralmente começam na primavera e terminam no verão), a nova pelagem que vai nascendo é normalmente bem "branca" no início (bem, tecnicamente, transparente). Outro fato interessante é que eles são um dos poucos animais que não passam por uma mudança de pigmentação quando saem do inverno: estão sempre brancos independentemente se a neve no seu território derreteu ou não.
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Na foto, as setas indicam um adulto com a pelagem bem amarelada em várias partes e um filhote com a pelagem bem branca. |
2. Esverdeado: Ursos-polares mantidos em zoológicos normalmente adquirem uma pelagem bem esverdeada. Foi no final da década de 1970 que os cientistas descobriram que algas como as do gênero Chlorella e Scenedesmus ocupavam os espaços ocos dentro dos fios longos da pelagem desses animais. Como as algas são verdes e os pelos transparentes, elas ficam bem visíveis e bem fixadas lá dentro. Essas algas são produzidas em grande quantidade nesses ambientes quando comparado com o habitat natural dos ursos-polares, devido às maiores temperaturas e acúmulo de resíduos nitrogenados nas águas das piscinas.
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Na foto, um urso-polar mantido em um zoológico e apresentando a pelagem colonizada por algas |
Bem, no final, é válido mencionar que por causa das características tão especiais da pelagem do urso-polar, ela serve até de modelo para pesquisas científicas em materiais com propriedades térmicas. Infelizmente, também, esses animais estão muito ameaçados de conservação por causa da perda massiva de território gelado gerada pelo crescente processo de aquecimento global Lutar pela causa ambiental e salvar essas fantásticas criaturas vale mais do que a pena.
(1) Os ursos-polares são classificados como mamíferos marinhos porque eles passam mais tempo na água do mar do que no ambiente terrestre, mas eles são bem adaptados em ambos os ambientes. Nadando, eles podem alcançar os 10 km/h de velocidade. Já no solo, correndo, eles podem bater os 40 km/h.
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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
- https://www.loc.gov/rr/scitech/mysteries/polarbear.html
- http://www.synergypublishers.com/jms/index.php/jabb/article/view/913
- http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0165163390900567
- http://link.springer.com/article/10.1007/s00360-013-0794-8
- http://www.polarbearsinternational.org/about-polar-bears/essentials/fur-and-skin
- https://www.researchgate.net/publication/228489376_Radiative_Properties_of_Polar_Bear_Hair
- http://thermalscience.vinca.rs/pdfs/papers-2015/TSCI15S1S43W.pdf
- http://proceedings.asmedigitalcollection.asme.org/proceeding.aspx?articleid=1583391
- http://it.stlawu.edu/~koon/polar.html
- http://it.stlawu.edu/~koon/mar_ref.html
- http://www.cell.com/cell/abstract/S0092-8674(14)00488-7?_returnURL=http%3A%2F%2Flinkinghub.elsevier.com%2Fretrieve%2Fpii%2FS0092867414004887%3Fshowall%3Dtrue
- http://rsta.royalsocietypublishing.org/content/367/1894/1749.short
- https://seaworld.org/Animal-Info/Animal-InfoBooks/Polar-Bears/Physical-Characteristics
- https://www.osapublishing.org/ao/abstract.cfm?uri=ao-37-15-3198
- http://www.nature.com/nature/journal/v278/n5703/abs/278445a0.html
- Article ID: 1674-649X(2012)05-0563-05