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Qual é a relação entre Leonardo da Vinci, genética, evolução e TDAH?


- Atualizado no dia 7 de outubro de 2023 -

           O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos mais comuns que afetam as crianças e, apesar de não ter cura, pode ser controlado com a ajuda de tratamentos e orientação profissional. Com o avanço da idade, o transtorno costuma sofrer uma progressiva amenização sintomática, desaparecendo por completo em parte dos casos durante a fase adulta. O TDAH é caracterizado, principalmente, por um alto nível de atividade corporal do indivíduo (sempre correndo, sempre falando, etc.), prática constante de ações sem pensar antes de agir, frequente procrastinação de tarefas, e perda rápida de foco, especialmente nos estudos. Esses sintomas acabam dificultando o progresso da criança na escola, e as interações sociais com amigos e familiares. Nesse sentido, reconhecer se o filho/a possui TDAH torna-se uma das maiores preocupações dos pais.


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          Na sua última atualização sobre o tema, o FDA (Departamento de Drogas e Alimentos dos EUA) (Ref.2) relacionou sintomas que crianças e adultos com TDAH  podem apresentar, nos três tipos no qual o problema se manifesta:

1. Desatenção: problemas para criar um foco em uma tarefa específica; dificuldade para seguir instruções; e dificuldade em finalizar tarefas e ser organizado; e esses sintomas não são devido ao desacato ou falta de compreensão.

2. Hiperatividade-Impulsividade: sempre se movimentando ou procurando fazer alguma coisa, incluindo em situações não-apropriadas para essas ações; tendência em falar excessivamente; e sempre interrompendo os outros; tomando frequentemente decisões sem pensar nas consequências de médio-longo prazo; na idade pré-escolar, a hiperatividade é o sintoma mais comum da TDAH.

3. Combinado: os sintomas reúnem aqueles dos dois tipos anteriores; a maioria das crianças possuem o tipo combinado.

         Para os adultos, os sintomas tendem a ser os mesmos daqueles observados nas crianças, mas podem frequentemente se apresentar com algumas modificações. Nessa faixa de idade, pessoas com o transtorno podem ter baixa habilidade na administração do tempo, ter dificuldade em multitarefas, se tornar bem inquietas com o tempo ocioso e evitar tarefas que requerem bastante concentração. 

           Nas últimas décadas, ano após ano, cada vez mais crianças e adolescentes têm sido diagnosticados com TDAH, em parte, provavelmente, devido à maior atenção da população para o problema (ou seja, uma maior taxa de de diagnósticos, não necessariamente de casos). Ao redor do mundo, é estimado que o TDAH afete em torno de 4-5% das crianças e adolescentes, e uma prevalência em torno de 5-7% entre crianças (Ref.8-10). Entre os adultos, estimativas recentes sugerem uma prevalência de 2,6% para o TDAH persistente e de 6,8% para sintomas de TDAH (Ref.11). A nível global, e englobando crianças, adolescentes e adultos, prevalência frequentemente reportada é em torno de 5%, mas pode variar significativamente dependendo da população analisada (Ref.18). Nos EUA, um recente estudo apontou que próximo de 10,5% das crianças e adolescentes de 4 a 17 anos possuem TDAH, uma taxa significativamente maior do que a taxa reportada a nível global (Ref.19).

          Na população adulta com transtornos psiquiátricos, a prevalência estimada de TDAH pode variar de 6,9% até 38,75% (Ref.12), e pode alcançar 73% e 28% na infância para pacientes com transtornos bipolar e depressivos, respectivamente (Ref.13). Nesse sentido, para esses indivíduos, uma atenção maior ao problema precisa ser adereçada.

          Um mito bastante disseminado é a ideia de que a maior parte dos casos de TDAH são completamente e espontaneamente resolvidos na fase adulta. Um robusto estudo recentemente publicado no periódico American Journal of Psychiatry (Ref.14), analisando 558 crianças (média de idade de 10 anos) com o transtorno até à idade média de 25 anos, encontrou que apenas 10% dos participantes se livraram definitivamente do transtorno quando adultas. Aproximadamente 30% dos participantes experienciaram total remissão em algum ponto do período de acompanhamento, mas a maioria deles (60%) experienciaram recorrência. Apesar de períodos intermitentes de remissão, 90% das crianças com TDAH analisadas no estudo continuaram experienciando sintomas residuais quando adultas. Durante a fase adulta, o TDAH pode se manifestar de diferentes formas e geralmente  mostra redução sintomática ao longo da vida. São incertos ainda os fatores ambientais e/ou biológicos que causam as flutuações sintomáticas do TDAH na fase adulta.

           O transtorno se manifesta normalmente entre 3 e 6 anos de idade, e pode continuar pouco alterado na adolescência. Caso suspeite que você ou seu filho possua TDAH, procure um profissional de saúde apto para o diagnóstico e planejamento terapêutico adequado. Nunca busque tratamentos por conta própria, especialmente se envolver o uso de fortes medicamentos como a Ritalina (I).

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(I) O metilfenidato (princípio ativo da Ritalina) é um eficaz medicamento usado no tratamento do TDAH. Os efeitos positivos do metilfenidato em indivíduos com TDAH parecem durar até o término do tratamento medicamentoso (Ref.15). Por outro lado, efeitos colaterais deletérios significativos de curto e de longo prazo não parecem persistir após o tratamento (Ref.15-16). Importante também mencionar que em torno de 30% dos indivíduos afetados pelo TDAH não respondem bem ao tratamento com metilfenidato; volumes regionais de matéria cinzenta no estriado e no pré-cúneo do cérebro parecem mediar de forma crítica a resposta ao medicamento (Ref.17). Infelizmente, existe muito abuso e uso irracional desse medicamento, incluindo por pessoas sem qualquer transtorno neurológico. Para mais informações: Ritalina é a Pílula da Inteligência?

> Indivíduos com idade mais avançada e com TDAH estão associados a um maior risco de se envolverem em acidentes automobilísticos. Ref.20
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          Ainda não são conhecidas as causas exatas do TDAH, mas fatores genéticos parecem ser os principais determinantes.

          Um estudo recentemente publicado no periódico JAMA (Ref.3) encontrou que irmãos de pacientes com autismo ou com TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) possuem um elevado risco em desenvolverem ambas as condições. Segundo os resultados do estudo, irmãos de pacientes autistas possuem um risco 30 vezes maior de desenvolver autismo, e um risco 3,7 vezes maior de desenvolverem TDAH. Já irmãos de pacientes com TDAH possuem um risco 13 vezes maior de desenvolverem TDAH e um risco 4,4 vezes maior de desenvolverem autismo.


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          Outros fatores de risco suspeitos são: traumatismo craniano; tóxicos ambientais (como metais pesados); bebidas alcoólicas/tabaco durante a gestação; nascimento prematuro; deficiência em vitamina D durante a gravidez (Ref.4); e baixa massa corporal no nascimento. Cada vez mais estudos vêm associando também o uso do medicamento paracetamol - também conhecido como acetaminofeno - pelas grávidas com um maior risco de desenvolvimento de autismo e de TDAH. Para saber mais, acesse: Uso de paracetamol pelas grávidas associado ao autismo e ao TDAH. E o problema pode ser talvez exacerbado se a grávida estiver com deficiência em selênio (!).

          O tratamento do TDAH costuma envolver o medicamento 'Ritalina', um calmante de tarja preta, e, por isso, o diagnóstico precisa ser preciso para não submeter desnecessariamente a criança a efeitos colaterais de significativa gravidade. Evidências acumuladas nos últimos anos vêm também mostrando que quando canalizada de forma positiva, e sob controle, a TDAH pode trazer certas vantagens para seus portadores, como o fomento à busca constante de novas áreas de exploração e de novos conhecimentos. Um mito comum nesse sentido é achar que o TDAH sempre está associado com baixo desempenho acadêmico e profissional. Aliás, é fortemente sugerido que o Leonardo da Vinci possuía TDAH (II).


   EVOLUÇÃO DO TDAH

          O fato do TDAH impor pesado fardo na qualidade de vida individual e dos familiares responsáveis, e ainda ser tão prevalente, parece ser contra-intuitivo de uma perspectiva evolucionária, e muitos tenderiam a esperar que a seleção natural teria já livrado os alelos de risco (variantes genéticas de causa) da população humana.

          Para explicar a alta prevalência do TDAH entre os humanos modernos (Homo sapiens) hoje, geralmente os pesquisadores recorrem à ideia de que os genes associados a essa condição garantiam vantagens no passado - acumulando altas frequências de alelos positivamente selecionados - mas desvantagens com o passar do tempo (mismatch theory), especialmente em relação às bruscas mudanças culturais, geográficas e de estilo de vida testemunhadas na transição Paleolítico-Neolítico. Como muito tempo não passou - em termos evolutivos e geológicos - desde que esses genes passaram de vantajosos para desvantajosos, os fenótipos associados ao TDAH continuaram persistindo em significativa extensão até o momento.


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          Nesse sentido, um estudo publicado esta semana na Scientific Reports (Ref.5) trouxe a primeira forte evidência dando suporte para essa hipótese. Para isso, os pesquisadores realizaram uma análise genômica ampla em mais de 20 mil indivíduos diagnosticados com TDAH e 35 mil controles visando acessar a evolução dos alelos associados em populações Europeias e usando amostras arcaicas, antigas e modernas. Os resultados das análises revelaram claros sinais de pressão seletiva agindo contra esses alelos desde o Paleolítico, com a frequência das variantes genéticas associadas ao TDAH diminuindo de forma consistente e continuamente. Essa tendência não pôde ser explicada por mistura com populações Africanas ou via introgressão com Neandertais. O mais interessante, é que a pressão seleção negativa observada teve início bem antes da transição entre o Paleolítico e o Neolítico, cerca de 10 mil anos antes.

          Porém, os pesquisadores não sabem ao certo quais traços comportamentais direta ou indiretamente associados ao TDAH (hiperatividade motora, impulsividade, etc.) têm sido alvos de seleção natural na nossa espécie.


  (II) LEONARDO DA VINCI

          Em um estudo publicado no periódico Brain (Ref.6), o professor Marco Catani, da Kins´s College, Reino Unido, trouxe fortes evidências de que Leonardo da Vinci - o gênio polímata Italiano do século XVI e uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento - tinha TDAH.

          O estudo reforça que Leonardo possuía uma marcante tendência de procrastinar seus trabalhos, deixando inúmeros deles incompletos. Registros de biógrafos antigos e contemporâneos deixam claro que Leonardo estava constantemente indo de uma tarefa para outra, em diversas áreas. E, além disso, Leonardo dormia muito pouco e trabalhava de forma contínua, noite e dia, alternando ciclos rápidos de curtos cochilos e períodos de despertar.



          Na sua obra 'A Última Ceia' (1495-1498), um afresco de 4,6 metros de altura e 8,8 metros de comprimento, e um trabalho para a Igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália, Leonardo foi forçado a comparecer na presença do Duque de Milão, Ludovico Sforza, para dar satisfações do porque a obra estava demorando tanto (levou 3 anos para ficar pronta). Apesar do Duque tê-lo perdoado e se afeiçoado pela sua pessoa, o Papa Leão X não foi tão paciente. Leonardo, em 1514 foi empregado pelo Papa para a realização de obras para o Vaticano. Porém, a falta de comprometimento do artista fez com que Leão X chegasse a exclamar: "Ai de mim! Esse homem nunca fará nada, porque ele começa já pensando no final do trabalho, antes mesmo de começar." De fato, a permanência de Leonardo no Vaticano durou menos do que 3 anos e, ao contrário de artistas como Michelangelo e Rafael, não deixou nenhum traço da sua passagem por Roma.

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Leitura recomendada: O Efeito Mona Lisa na Mona Lisa é um mito
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          Junto com reportes de comportamentos erráticos e projetos incompletos de outros artistas companheiros e de patrões, existem evidências indiretas sugerindo que o cérebro de Leonardo era organizado de forma significativamente diferente da organização comumente vista nas pessoas em geral (>95%). Ele era canhoto, provavelmente era disléxico, e possuía dominância da linguagem no lado destro do seu cérebro (aos 65 anos de idade, Leonardo sofreu um severo derrame no lado direito do seu cérebro, mas o qual deixou suas habilidades linguísticas intactas). Todas essas características são comuns entre pessoas com TDAH. Aliás, pessoas com dislexia tendem a possuir uma performance superior em tarefas de discriminação visual e de memória visual, algo ligado ao TDAH que pode explicar as habilidades artísticas avantajadas de Leonardo.


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          De acordo com Catani, o TDAH pode ter sido um importante fator de fomento à criatividade de Leonardo, permitindo que este também se interessasse profundamente por diversas áreas do conhecimento. Porém, como efeito colateral negativo, a condição também fazia com que seus interesses fossem extremamente volúveis, prejudicando a finalização dos seus trabalhos.

          Apesar de não ser conclusivo, o novo estudo ajuda a derrubar o mito de que pessoas com TDAH estão necessariamente associadas com um baixo QI ou com falta de criatividade. Nos últimos anos, diversos exemplos de TDAH já foram apontados em universitários e profissionais de sucesso. Se positivamente canalizada, algumas características do TDAH podem se transformar em uma grande vantagem: volubilidade da mente pode fomentar criatividade e originalidade; inquietação pode impulsionar a busca por novidades e ações de mudança. Esse último ponto reforça a forte persistência dos genes associados ao TDAH ao longo da evolução humana.


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(!) ALERTA: O paracetamol (acetaminofeno) - também chamado de Tylenol - é bastante usado para diminuir a febre e a dor, e é uma das principais causas de falha hepática quando tomado em níveis muito altos. Para adultos, o consumo máximo recomendado é de 4 g. Pesquisadores da Universidade de Bath encontraram que o micronutriente selênio afeta a velocidade na qual o fármaco é eliminado do corpo, ao interferir de forma dose-dependente com os níveis de atividade da reductase tioredoxina da selelenoproteína (TrxR) e da glutationa (GSH) presentes no fígado. Como resultado, tomar 4 gramas de paracetamol em um dado dia pode ser perigoso se a pessoa estiver com baixos níveis desse nutriente no corpo. É estimado que até 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo possuem um consumo diário insuficiente de selênio. Nesse sentido, segundo os pesquisadores, é uma péssima ideia tomar o nível máximo de paracetamol considerado seguro na bula. O estudo também encontrou que o consumo de selênio não apenas abaixo do ideal mas também em excesso aumentam a severidade de lesões hepáticas com o consumo de paracetamol. 

O alerta foi reportado em um estudo publicado no periódico Antioxidants & Redox Signaling (Ref.7), e baseando-se em experimentos com ratos.

> Fontes alimentares ricas em selênio são castanhas e outras sementes similares, óleo de peixe, ovos, arroz castanho, sementes de girassol, cogumelos queijo cottage, lentilhas e carne. O selênio ajuda a manter um balanço redox saudável no corpo via enzimas antioxidantes chamadas de selenoproteínas (proteínas contendo selênio).
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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. https://www.nimh.nih.gov/health/topics/attention-deficit-hyperactivity-disorder-adhd/index.shtml
  2. http://www.fda.gov/ForConsumers/ConsumerUpdates/ucm269188.htm 
  3. https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/article-abstract/2717035
  4. https://jaacap.org/article/S0890-8567(19)32232-4/fulltext
  5. https://www.nature.com/articles/s41598-020-65322-4
  6. https://academic.oup.com/brain/advance-article/doi/10.1093/brain/awz131/5492606
  7. https://www.liebertpub.com/doi/10.1089/ars.2019.7909
  8. Zarafshan et al. (2019). Prevalence of ADHD and Its Comorbidities in a Population-Based Sample. Journal of Attention Disorders, Vol 25, Issue 8, 2021. https://doi.org/10.1177%2F1087054719886372
  9. Angolkar & Mahesh (2018). Prevalence of ADHD in Primary School Children in Belagavi City, India. Journal of Attention Disorders, Vol 25, Issue 2, 2021. https://doi.org/10.1177%2F1087054718780326
  10. Pang et al. (2021). Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) among elementary students in rural China: Prevalence, correlates, and consequences. Journal of Affective Disorders, Volume 293, Pages 484-491. https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.06.014
  11. Song et al. (2021). The prevalence of adult attention-deficit hyperactivity disorder: A global systematic review and meta-analysis. Journal of global health, 11, 04009. https://doi.org/10.7189/jogh.11.04009
  12. Gerhand & Saville (2021). ADHD prevalence in the psychiatric population. International Journal of Psychiatry in Clinical Practice. https://doi.org/10.1080/13651501.2021.1914663
  13. Pavlova et al. (2021). Prevalence of attention-deficit/hyperactivity disorder in people with mood disorders: A systematic review and meta-analysis. Acta Psychiatrica Scandinavica, Volume 143, Issue 5, Pages 380-391. https://doi.org/10.1111/acps.13283
  14. Sibley et al. (2021).Variable Patterns of Remission From ADHD in the Multimodal Treatment Study of ADHD. The American Journal of Psychiatry. https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2021.21010032
  15. Groenman et al. (2021). Do effects of methylphenidate on cognitive performance last beyond treatment? A randomized placebo-controlled trial in boys and men with ADHD. European Neuropsychopharmacology, Volume 46, Pages 1-13. https://doi.org/10.1016/j.euroneuro.2021.02.002
  16. Carucci et al. (2021). Long term methylphenidate exposure and growth in children and adolescents with ADHD. A systematic review and meta-analysis. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, Volume 120, Pages 509-525. https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2020.09.031
  17. Chang et al. (2021). Regional brain volume predicts response to methylphenidate treatment in individuals with ADHD. BMC Psychiatry 21, 26. https://doi.org/10.1186/s12888-021-03040-5
  18. Espinet et al. (2022). A Review of Canadian Diagnosed ADHD Prevalence and Incidence Estimates Published in the Past Decade. Brain Sciences, 12(8), 1051. https://doi.org/10.3390/brainsci12081051
  19. Li et al. (2023). Prevalence and Trends in Diagnosed ADHD Among US Children and Adolescents, 2017-2022. JAMA Network Open, 6(10): e2336872. https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2023.36872
  20. https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2810131