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Qual é o mais massivo animal do mundo?




- Atualizado no dia 21 de maio de 2024 -

A Baleia-Azul (Balaenoptera musculus) é o mais massivo animal hoje no nosso planeta e potencialmente o maior em comprimento (1). Na verdade, esse cetáceo é talvez o mais massivo que já existiu na história da Terra! Suas colossais medidas chegam a ultrapassar 30 metros de comprimento e 180 toneladas de massa corporal!! Para se ter uma ideia, um dos maiores dinossauros que se tem registro, o saurópode Argentinosaurus, não passava de 90 toneladas.

(1) Sugestão de leitura: Qual é a verdade sobre o "animal mais longo da Terra"?

As fêmeas adultas costumam ser maiores do que os machos, com um comprimento médio de 27 metros (2). O maior - em comprimento - espécime já registrado possuía 33,5 metros e é estimado que indivíduos com essas dimensões podem alcançar 270 toneladas de massa (Ref.12)! Um estudo de 2022, publicado ainda como preprint (Ref.9), concluiu que algumas das maiores fêmeas adultas de baleia-azul podem alcançar ~200 toneladas, um valor equivalente a ~10 vezes aquele associado aos mais massivos animais terrestres conhecidos que já habitaram o planeta (dinossauros saurópodes). Quando nascem, os filhotes já possuem entre 7 e 8 metros de comprimento e chegam a ganhar cerca de 90 kg por dia durante a amamentação! Na figura abaixo, é possível ver a comparação de tamanho entre um humano adulto e a baleia-azul (Créditos: BBC).



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(2) Interessante mencionar que existe uma narrativa popular e acadêmica que se arrasta desde o século XIX [Darwin] de que em mamíferos os machos são tipicamente maiores do que as fêmeas. Porém, evidência científica mais recente e robusta não suporta essa ideia: análise de >400 espécies de mamíferos em 17 diferentes ordens encontrou que machos são maiores apenas em 45% das espécies, com 39% não exibindo dimorfismo sexual em termos de dimensão corporal e 16% exibindo fêmeas maiores do que os machos (ex.: baleia-azul). Em outras palavras, na maioria das espécies de mamíferos os machos não parecem ser maiores do que as fêmeas. Ref.13

> A espécie de mamífero que parece ter o maior dimorfismo corporal é o elefante-marinho-do-norte (Mirounga angustirostris), cujos machos exibem uma massa corporal média 3,2 vezes maior do que àquela das fêmeas.
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A baleia-azul adulta é tão grande que apenas seu coração chega a ultrapassar 180 kg e sua artéria aorta é grande o suficiente para um humano adulto inserir facilmente sua cabeça. Para suprir as necessidades do imenso corpo, esse cetáceo consome, diariamente, mais de 4 toneladas de alimento, em sua maior parte constituída por krills, pequenos crustáceos que representam a base de alimentação desses mamíferos. A baleia-azul bate ainda outro recorde: emite os sons mais barulhentos registrados entre os animais, os quais podem ultrapassar 200 decibéis (mais fortes do que um avião a jato decolando!) e ser ouvidos a uma distância de >800 km devido à característica baixa frequência (~14 Hz)! .

De hábitos migratórios - mas nem todos os indivíduos migram -, a baleia-azul possui uma expectativa de vida entre 80 e 90 anos. Como mencionado, alimenta-se principalmente de krills (Euphausia superba e E. crystallorophias), mas podem também consumir pequenos peixes e lulas. Geralmente as baleias-azuis  nadam a velocidades em torno de 20 km/h, mas podem alcançar 48 km/h quando alarmadas (uma das maiores velocidades de nado entre as espécies marinhas). Podem ficar submersas de 10 a 20 minutos e, quando sobem à superfície para respirar, o jato de água que liberam do orifício respiratório pode alcançar 10 metros de altura! Para a comunicação, dependem muito dos poderosos sons emitidos e possuem uma excelente audição.

Baleia-Azul se alimentando de krills

Devido às colossais dimensões e considerando o ambiente marinho, baleias-azuis adultas não possuem predadores naturais. Porém, os filhotes podem ser alvos de grandes tubarões ou de grupos de orcas.

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FUNÇÕES CARDÍACAS EXTREMAS

Usando marcadores de registro eletrocardiográfico (ECG), pesquisadores em um estudo recente (nov. 2019) publicado no periódico PNAS (Ref.8) analisaram de forma inédita as funções cardíacas de quatro espécimes de baleia-azul enquanto esses animais mergulhavam até profundidades de até 184 metros e por até 16,5 minutos na busca por alimentos. As taxas de batimentos cardíacos foram tipicamente de 4 a 8 batimentos por minuto (bpm) nos mergulhos (bradicardia), mas chegavam a ser tão baixas quanto 2 bpm. Já no pós-mergulho, na superfície oceânica, as taxas subiam para 25 a 37 bpm (taquicardia), próximo do máximo estimado (40 bpm). Essa extrema diferença na taxa de batimento cardíaco responde às diferentes disponibilidades de oxigênio durante o mergulho (baixa) e na superfície (alta), de forma a melhor atender as necessidade energéticas e proteger o coração e outros órgãos da alta demanda metabólica imposta pelo enorme corpo desses mamíferos (poupando inclusive oxigênio para o próprio músculo cardíaco nos mergulhos). Durante a fase de alimentação ("estocada") para engolir grandes volumes de água e posteriormente filtrá-la (retendo o alimento), essa taxa cardíaca aumenta um máximo de 2,5 vezes a taxa na descida.


O aumento da taxa cardíaca na fase de alimentação mostrou-se bem menor do que o esperado, considerando os altos custos energéticos dessa fase, onde existe uma aceleração para altas velocidades e um volume engolido de água maior do que o próprio corpo da baleia-azul. De qualquer forma, os extremos fisiológicos observados nas funções cardíacas provavelmente representam limites que impediram esses animais de evoluírem para maiores dimensões. Essa dinâmica nas taxas de batimentos cardíacos também explicam as características hemodinâmicas únicas nas baleias rorquais, especialmente o arco aórtico de grande diâmetro, elástico e altamente complacente que permite a artéria aorta acomodar sangue ejetado pelo coração e manter o fluxo sanguíneo durante as longas e variáveis pausas entre os batimentos cardíacos.


RECORDE PENIANO

O pênis da baleia-azul é o maior do Reino Animal, com uma média de comprimento ereto de 2,4 metros, mas podendo alcançar 3 metros, e até 30 cm de diâmetro (Ref.10-11). Cada testículo desse cetáceo possui uma massa entre 45 e 68 kg, e estima-se que cada ejaculação libera 20 litros de sêmen.

Pênis de uma baleia-azul ressecado e exibido no Museu do Pênis, em Reykjavík, Islândia.

> Porém, o recorde de massa testicular não é da baleia-azul e, sim, da baleia-franca (gênero Eubalaena): os dois testículos combinados possuem uma massa de quase 1 tonelada! Sugestão de leitura: Por que temos um saco escrotal e testículos externos?

> As línguas de cetáceos incluem os maiores órgãos musculares que existem ou potencialmente existiram. Em baleias da família Balaenidae, a língua possui uma média de 4-6% da massa corporal total. Na média, uma baleia de 50 toneladas possui uma língua com 2-3 toneladas (2000-3000 kg) e alcança até 5 metros de comprimento e >1 metros de largura e altura. Em grandes rorquais (Balaenopteridae), incluindo a baleia-azul, a língua possui tamanho (>5 metros de comprimento) e massa (2500-3500 kg) similares, mas mais flácidas do que firmes nos adultos. Ref.13
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Esses mamíferos titânicos possuem quatro subespécies, com todas podendo habitar todos os oceanos do planeta - de áreas polares às tropicais. A Baleia-Azul da Antártica (B. m. intermedia) é a maior delas. Até o início do século XX, as baleias-azuis eram abundantes em todos os oceanos. Devido à caça excessiva por causa do valioso óleo desses cetáceos, é estimado que, ao longo do século XX, 350 mil indivíduos foram mortos. Atualmente, existem apenas entre 10 e 25 mil baleias-azuis no mundo, mas parece existir um aumento populacional constante nas últimas décadas. Por outro lado, as ameaças ainda persistem, como a caça ilegal, mudanças climáticas, poluição diversa nos oceanos (ex.: sonora) e acidentes com embarcações (colisões). Por causa desses fatores deletérios e devido à baixa densidade populacional ao redor do mundo, as baleias-azuis ainda correm grande risco de extinção e é incerto o futuro da espécie. 

Artigos recomendados: 

REFERÊNCIAS:
1. http://www.iucnredlist.org/details/2477/0
2. http://animaldiversity.org/accounts/Balaenoptera_musculus/
3. https://naturalhistory.si.edu/mna/image_info.cfm?species_id=18
4. http://www.environment.gov.au/cgi-bin/sprat/public/publicspecies.pl?taxon_id=36
5. http://www.fisheries.noaa.gov/pr/species/mammals/whales/blue-whale.html
6. https://www.st.nmfs.noaa.gov/feature-news/big-hearted-blue-whale
7http://www.mass.gov/eea/docs/dfg/nhesp/species-and-conservation/nhfacts/balaenoptera-musculus.pdf
8https://www.pnas.org/content/early/2019/11/19/1914273116
9. Paul, G. (2022). Restoring the True Form of the Gigantic Blue Whale for the First Time, and Mass Estimation. bioRxiv [preprint]. https://doi.org/10.1101/2022.08.28.505602
12. Motani et al. (2024). Downsizing a heavyweight: factors and methods that revise weight estimates of the giant fossil whale Perucetus colossus. PeerJ, 12:e16978. https://doi.org/10.7717/peerj.16978
13. Werth & Crompton (2023). Cetacean tongue mobility and function: A comparative review. Journal of Anatomy, Volume 243, Issue 3, Pages 343-373. https://doi.org/10.1111/joa.13876
Tombak et al. (2024). New estimates indicate that males are not larger than females in most mammal species. Nature Communications 15, 1872. https://doi.org/10.1038/s41467-024-45739-5

*Peso, neste artigo, está se referindo ao uso popular da palavra, ou seja, para indicar a massa do corpos aqui na Terra (já que a variação da força-peso na superfície do nosso planeta é bem pequena)