O que causa Pitiríase Rósea?
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| Figura 1. Paciente com misteriosas manchas rosáceas no corpo. | 
Um paciente do sexo masculino de 42 anos de idade previamente saudável apresentou-se ao hospital com um histórico de 20 dias de erupção cutânea assintomática e crescente no tronco (Fig.1). A lesão inicialmente era um ponto vermelho no lado esquerdo do paciente. Dez dias após o aparecimento da mancha, lesões menores se desenvolveram em outras áreas. O paciente não relatou nenhum pródromo viral, ou seja, nenhum conjunto de sintomas sugestivo de uma virose.
Com base na existência de uma placa primária escapular (herald patch) na linha axilar média do lado esquerdo da paciente, um diagnóstico de pitiríase rósea foi feito.
O caso foi descrito e reportado no periódico New England Journal of Medicine.
Pitiríase Rósea
A pitiríase rósea é uma doença cutânea exantemática, aguda, autolimitada, caracterizada pelo aparecimento de lesões papuloescamosas, levemente inflamatórias, ovais, no tronco e nas extremidades proximais, possuindo uma distribuição centrífuga ou crânio-caudal. Possui pico de incidência em crianças mais velhas e adultos jovens (10 a 35 anos de idade), e é uma desordem relativamente comum em pessoas saudáveis.
A doença começa muitas vezes com uma lesão maior (Fig.2), caracterizada por uma placa primária escapular (herald patch ou medalhão). Em poucos dias, ocorrem erupções sequenciais de outras lesões semelhantes, menores, de crescimento centrífugo (que tende a se afastar do centro), com distribuição característica no tronco e nas extremidades ao longo das duas próximas semanas. As erupções secundárias clareiam, lentamente, por outras duas semanas. Uma característica de destaque da pitiríase rósea está no arranjo das lesões dorsais, que pode ter um aspecto de árvore de natal (Fig.3). As lesões cutâneas costumam ser assintomática ou apenas levemente pruriginosa (coceira). Lesões orofaríngeas indolores podem afetar até 28% dos pacientes (Ref.2).
Quadros atípicos de pitiríase rósea chegam a englobar 10-20% dos casos (Ref.5-6). As lesões primárias podem ser duplas, múltiplas ou ausentes. O quadro atípico pode representar diferentes variações clínicas. A forma purpúrica ou hemorrágica de pitiríase rósea acomete especialmente as crianças. É caracterizada por máculas múltiplas, pequenas e purpúricas ou hemorrágicas com ou sem descamação periférica.
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> A pitiríase rósea foi inicialmente descrita por Camille Melchior Gibert em 1860. O termo, "pitiríase" deriva do grego, que significa “escamas finas”, e "rósea", do latim, semelhante à cor rosa. Ref.7
> Taxas de incidência da condição variam ao redor do mundo, em torno de 0,5-2% ou maior. A população feminina parece ser mais afetada. Relevante, a manifestação da doença é mais comum na primavera e outono, nos climas temperados. Contudo, pode ser mais frequente no verão em algumas outras regiões Ref.2
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O diagnóstico diferencial principal inclui doenças purpúricas, como vasculinte, dermatoses purpúricas pigmentadas e manifestações cutâneas de doenças hematológicas. É também muito comum ser confundida com patologias como psoríase, sífilis, tinea e dermatoses alérgicas.
Devido à natureza geralmente benigna e autolimitada, a pitiríase rósea na maioria dos casos não precisa de tratamento, apenas monitoramento. A doença é tipicamente resolvida dentro de no máximo 12 semanas, mas em casos raros pode durar até 7 meses. Reincidência afeta apenas 1-3% dos pacientes e é muito raro mais de duas recorrências ao longo da vida (Ref.2). Pode regredir com alterações da cor da pele (ex.: escurecimento) que são reversíveis.
Aliás, a automedicação pode provocar agravamento das lesões, tornando-as mais descamativas e pruriginosas. Por outro lado, evidência limitada sugere que o antiviral aciclovir pode ajudar na resolução de lesões persistentes e extensivas ou sintomas sistêmicos (!).
Nesse último ponto, dependendo da severidade da pitiríase rósea, medicamentos podem ser testados, sob orientação médica, visando aliviar sintomas associados, como esteroides orais e anti-histamínicos para coceira (Ref.8-9). Coceira severa ocorre em ~25% dos pacientes e tipicamente é resolvida dentro de 6 a 8 semanas em mais de 80% dos casos (Ref.2).
É incerto o impacto da pitiríase rósea na gravidez, mas algumas evidências sugerem que o desenvolvimento da doença nas primeiras 15 semanas de gestação pode aumentar o risco de eventos adversos, como aborto espontâneo (Ref.10).
(!) Fatores causais
As causas ou gatilhos exatos para o desenvolvimento da pitiríase rósea continuam pouco esclarecidos.
Sintomas prodromais como fatiga, náusea, indisposição, nódulos linfáticos inchados, dores de cabeça, dor nas articulações, febre e dor de garganta estão presentes antes ou durante o curso da pitiríase rósea em 69% dos casos (Ref.6). Nesse contexto, existe forte suspeita de que agentes infecciosos são causas comuns da doença - hipótese reforçada pela variação sazonal de incidência e pelo agrupamento de casos (sugerindo transmissão infecciosa). A principal suspeita é uma origem viral.
Os herpesvírus humanos do tipo 6 (VHH-6) e do tipo 7 (VHH-7) são os agentes virais mais comumente reportados como aparente gatilho. Reativação viral e mecanismos de resposta imune mediados por células-T podem estar por trás da patogênese da pitiríase rósea. Porém, evidência conclusiva nesse sentido continua inexistente.
Muitos relatos de caso na literatura médica também apontam associação entre pitiríase rósea, algumas vacinas (reação pós-imunização) e uso de medicamentos diversos, incluindo inibidores de TNF-alfa (Ref.2, 11). Mas, novamente, sem prova de relação causal.
REFERÊNCIAS
- https://www.sbd.org.br/doencas/pitiriase-rosea/
- Mashoudy et al. (2025). Beyond the Herald Patch: Exploring the Complex Landscape of Pityriasis Rosea. American Journal of Clinical Dermatology 26, 237–250. https://doi.org/10.1007/s40257-024-00915-7
- Ruiz et al. (2019). Interventions for pityriasis rosea. Cochrane Database of Systematic Reviews. https://doi.org/10.1002/14651858.CD005068.pub3
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK513301/
- Augusto et al. (2024). Pitiríase Rósea Purpúrica: relato de caso e revisão da literatura. Journal Archives of Health, [S. l.], v. 5, n. 3, p. e2070. https://doi.org/10.46919/archv5n3espec-383
- Ruggiero et al. (2024). Pityriasis Rosea and Pityriasis Rosea-Like Eruption Following COVID-19 Vaccination: A Narrative Review. "Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology", Volume 17. https://doi.org/10.2147/CCID.S447834
- Miranda et al. (2008). Pitiríase rósea. Anais Brasileiros de Dermatologia, 83(5). https://doi.org/10.1590/S0365-05962008000500011
- Ciccarese et al. (2024). Comparative Efficacy of Different Pharmacological Treatments for Pityriasis Rosea: A Network Meta-Analysis. Journal of Clinical Medicine, 13(22), 6666. https://doi.org/10.3390/jcm13226666
- McGuigan, A. (2025). Monitor patients with pityriasis rosea and treat symptoms if required based on disease severity. Drugs & Therapy Perspectives. https://doi.org/10.1007/s40267-025-01201-0
- Sophia et al. (2025). The risks of pityriasis rosea in pregnancy: a review. International Journal of Women’s Dermatology, 11(1):p e191. https://doi.org/10.1097/JW9.0000000000000191
- Mashoudy et al. (2025). A retrospective analysis of medications associated with pityriasis rosea reported in the FDA adverse events reporting system. Archives of Dermatological Research 317, 231. https://doi.org/10.1007/s00403-024-03763-x
 



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
