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Qual é o maior morcego do mundo?

Figura 1. Morcego da espécie Pteropus vampyrus, uma das maiores espécies de morcego do mundo.

             Morcegos são mamíferos voadores que pertencem à ordem Chiroptera, a qual engloba mais de 1400 espécies descritas ao redor do mundo. As raposas-voadoras (gênero Pteropus) e o gênero Acerodon incluem os maiores morcegos não-extintos conhecidos, particularmente o morcego-voador-Filipino (Acerodon jubatus), a raposa-gigante-voadora (Pteropus vampyrus) e a raposa-voadora-Indiana (Pteropus medius, previamente chamada Pteropus giganteus) (Ref.1-2). Essas espécies frequentemente somam mais de 1 kg de massa corporal e podem exibir envergadura de asas de até 2 metros (Ref.3-4).

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           A espécie P. medius habita florestas e pântanos tropicais na Sul da Ásia Central, e possui uma massa corporal de até 1,6 kg, comprimento corporal de ~23 cm e envergadura de asas de até 1,5 m (média de aproximadamente ~1,2 m). Machos são tipicamente maiores do que as fêmeas. Com uma longevidade de ~31 anos, a espécie é social, formando grandes colônias de até 1000 indivíduos, e possui hábitos noturnos. A dieta consiste primariamente de frutas (espécie frugívora) - em especial figos -, mas complementam a alimentação com flores, néctar de plantas e, ocasionalmente, insetos. São uma espécie social, formando grandes colônias de centenas até milhares de indivíduos abrigados em árvores de grande porte.

Figura 2. A espécie P. medius é considerada a mais massiva espécie de morcego, com massa corporal máxima na faixa de 1,3-1,6 kg.

           A espécie P. vampyrus habita florestas tropicais e pântanos, sendo encontrada desde Madagascar até a Austrália, Ásia Continental e Indonésia. Adultos possuem massa corporal de até 1 kg e envergadura de asas de até 1,5 m. Altamente social, essa espécie também forma grandes grupos de até milhares de indivíduos. De hábitos noturnos, deixam o abrigo nas árvores ao pôr-do-sol e retornam no amanhecer, e podem voar por até 50 km na busca de alimentos. Morcegos dessa espécie se alimentam de flores, néctar e frutas como bananas, figos e mangas. Conseguem consumir diariamente até metade da massa corporal em frutas.

Figura 3. A espécie P. vampyrus possui uma característica faixa de pelagem dourada a avermelhada na testa.

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> Assim como outras espécies de morcego de grande porte, as raposas-voadoras dependem da visão para navegar durante o voo - e também do olfato para a busca de alimento - e não realizam ecolocalização, mas a comunicação entre indivíduos do mesmo grupo é primariamente vocal. Atuam de forma importante como dispersadores de sementes, à medida que cospem a polpa seca e as sementas durante a alimentação, e também como polinizadores. A raposa-voadora-Indiana, por exemplo, atua na polinização de ~168 espécies de plantas em 100 gêneros e 41 famílias.

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          A espécie A. jubatus é endêmica das Filipinas, onde é amplamente distribuída com exceção dos grupos de ilhas Batanes e Babuyan. Morcegos dessa espécie abrigam-se em árvores, frequentemente misturados com outras espécies de morcegos, como o P. vampyrus. A envergadura média de asas do A. jubatus é >1,5 m e possui uma massa corporal de até 1,4 kg. Frugívoros, esses morcegos se alimentam primariamente de figos (frutos de plantas/árvores do gênero Ficus), ocasionalmente também ingerindo folhas dessas árvores. Atualmente a espécie encontra-se em perigo de extinção por causa da caça predatória e desmatamento, e são também vulneráveis a distúrbios antrópicos no seu habitat - com certos níveis de estresse levando esses morcegos a abandonarem filhotes em árvores; em espécies de raposas-voadoras, intenso distúrbio por caçadores e devastação ambiental afastam os adultos por até 5-10 anos das suas moradias.  

Figura 4. A espécie A. jubatus pode ter uma pelagem preta ou avermelhada cobrindo a testa, pescoço, ombros e costas.

          Nesse último ponto, raposas-voadoras também estão sob forte pressão antropogênica, especialmente devido à caça predatória. Esses morcegos são alvos preferenciais de caçadores em regiões tropicais devido justamente ao grande porte (Ref.13). Apesar dos importantes serviços ecológicos fornecidos pelos morcegos, como polinização, dispersão de sementes e consumo de "pestes" (ex.: controle populacional de insetos), esses animais recebem menos atenção conservacionista do que outras espécies percebidas como mais carismáticas pelo público. E morcegos são particularmente vulneráveis à caça devido à baixa taxa reprodutiva e alta idade de maturidade (!), reduzindo o potencial de recuperação após perdas populacionais. A caça é motivada por múltiplos fatores, desde alimentação humana e esporte até retaliação de agricultores contra alegados "ataques" a pomares.

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(!) Nas espécies do gênero Pteropus, fêmeas amadurecem apenas aos 3 anos de idade e produzem, no máximo, 1 filhote por ano (Ref.14). Mais da metade das espécies desse gênero estão na Lista Vermelha da IUCN, ameaçadas de extinção (Ref.15). A espécie Pteropus livingstoni, uma das maiores espécie de morcego do mundo, está em crítico estado de conservação, sendo estimado que existem apenas 1500 indivíduos na natureza (Ref.16).

> Estima-se que o gênero Pteropus emergiu no Mioceno Tardio, há ~6,8-8 milhões de anos (Ref.17). Nos últimos 10 milhões de anos, esse clado exibe a segunda maior taxa de diversificação [especiação] conhecida entre os mamíferos, ao longo da colonização de arquipélagos Indo-Australianos e no Pacífico Sul (habitat de 53 dos 65 táxons de raposas-voadoras). O gigantismo desses morcegos e da espécie Acerodon jubatus, no contexto de isolamento em ilhas, pode talvez ser explicado em parte pela Regra de Ilha (Evolução insular: O que é a Regra de Ilha?).

> Análises anatômicas, aerodinâmicas e baseadas em frequências de batidas de asas sugerem que morcegos podem somar uma massa corporal máxima para voo de 2,3 kg (Ref.18). Presença de ecolocalização limita o tamanho corporal desses animais (Ref.19).

> O morcego-nariz-de-porco-de-kitti (Craseonycteris thonglongyai) é o menor morcego conhecido, com cerca de 3 cm de comprimento e massa corporal de apenas ~2 g. Aliás, essa espécie é considerada o menor mamífero do mundo em termos de porte corporal (Ref.20).

Figura 5. A espécie C. thonglongyai é restrita a uma região de 2000 quilômetros quadrados na fronteira entre Myanmar e Tailândia. É um morcego raro e ameaçado de extinção.

Leitura recomendada: Asas de morcegos funcionam como um segundo "pulmão"?

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REFERÊNCIAS

  1. Madala et al. (2022). Roost tree characteristics of Pteropus medius (Chiroptera: Pteropodidae) in the midland laterite hillocks of northern Kerala, India. Journal of Asia-Pacific Biodiversity, Volume 15, Issue 4, Pages 465-472. https://doi.org/10.1016/j.japb.2022.04.011
  2. https://threatenedtaxa.org/index.php/JoTT/article/view/7468/8096
  3. Sam et al. (2005). Dietary Habits of the World's Largest Bats: the Philippine Flying Foxes, Acerodon Jubatus and Pteropus Vampyrus Lanensis, Journal of Mammalogy, Volume 86, Issue 4, Pages 719–728. https://doi.org/10.1644/1545-1542(2005)086[0719:DHOTWL]2.0.CO;2
  4. https://jurcon.ums.edu.my/ojums/index.php/jtbc/article/view/93
  5. https://www.sfzoo.org/indian-flying-fox-2/
  6. https://animaldiversity.org/accounts/Pteropus_giganteus/
  7. https://link.springer.com/article/10.2478/s11756-020-00472-4
  8. https://www.scientific-reports.com/index.php/srls/article/view/67
  9. Hassan et al. (2023). Morphometric analysis and roosting ecology of bat species Pteropus Medius in Mansehra, Khyber Pakhtunkhwa, Pakistan. Brazilian Journal of Biology, 83. https://doi.org/10.1590/1519-6984.259039 
  10. https://animaldiversity.org/accounts/Pteropus_vampyrus/
  11. https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1365-2664.2009.01699.x
  12. https://www.batcon.org/bat/acerodon-jubatus/
  13. Tanalgo et al. (2023). Are we hunting bats to extinction? Worldwide patterns of hunting risk in bats are driven by species ecology and regional economics. Biological Conservation, Volume 279, 109944. https://doi.org/10.1016/j.biocon.2023.109944
  14. Oedin et al. (2019). Monitoring hunted species of cultural significance: Estimates of trends, population sizes and harvesting rates of flying-fox (Pteropus sp.) in New Caledonia. PLoS ONE 14(12): e0224466. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0224466
  15. Bell et al. (2019). Flight patterns in zoo-housed fruit bats (Pteropus spp.). Zoo Biology. https://doi.org/10.1002/zoo.21481
  16. https://www.nature.com/articles/s41598-022-17835-3
  17. Tsang et al. (2019). Dispersal out of Wallacea spurs diversification of Pteropus flying foxes, the world’s largest bats (Mammalia: Chiroptera). Journal of Biogeography. https://doi.org/10.1111/jbi.13750
  18. Norberg & Norberg (2012). Scaling of wingbeat frequency with body mass in bats and limits to maximum bat size. Journal of Experimental Biology, 215(5):711-722. https://doi.org/10.1242/jeb.059865
  19. Arévalo et al. (2018). Evolution of Body Mass in Bats: Insights from a Large Supermatrix Phylogeny. Journal of Mammalian Evolution. https://doi.org/10.1007/s10914-018-9447-8
  20. Puechmaille et al. (2011) The evolution of sensory divergence in the context of limited gene flow in the bumblebee bat. Nature Communication 2, 573. https://doi.org/10.1038/ncomms1582