YouTube

Artigos Recentes

Existem baratas coloridas?

Figura 1. Barata da espécie Polyzosteria mitchelli. Foto: Dr. James Bickerstaff/@lessrof2weevils

- Atualizado no dia 22 de janeiro de 2024 -

           Quando falamos em baratas, logo vem na cabeça aquela clássica barata marrom, de tamanho médio e que adora passear pelos nossos banheiros. Chamada de barata-americana (Periplaneta americana), ela é uma das mais comuns do mundo, mas é apenas uma espécie dentro de pelo menos 4700 espécies conhecidas de baratas no nosso planeta - e alguns especulam que o real número é pelo menos duas vezes maior! Existem baratas com variadas formas, dimensões e cores (Fig.1), e habitando todos continentes, com exceção do Ártico e da Antártica. Apenas algumas poucas espécies (em torno de 30) são consideradas pestes urbanas. Esses insetos pertencem à ordem Blattodea - a qual também inclui os cupins (1) -, emergindo há aproximadamente 300-350 milhões de anos, no Carbonífero (Ref.1). Aliás, enquanto a maioria dos insetos são ovíparos (colocam ovos), as baratas exibem oviparidade e viviparidade (2), com diversas estratégias reprodutivas mais específicas entre as milhares de espécies (Ref.2).

 

Figura 2. Existe alta diversidade fenotípica entre as baratas, incluindo cores diversas, formatos diversos, presença ou ausência de asas, tamanhos que podem ir de alguns poucos milímetros até 9,7 cm de comprimento e 20 cm de envergadura de asas (no caso, a espécie Megaloblatta longipennis), e variados nichos ecológicos. As baratas são ecologicamente muito importantes como decompositores em diversos biomas, desde florestas até desertos.

Figura 3. Existe inclusive uma barata do gênero Prosoplecta - cujos membros habitualmente mimetizam besouros - que exibe notável mimetismo relativo à família Coccinellidae (joaninhas). Fotos: @mamekosato1. Ref.9-12

-----------

(1) CURIOSIDADE: Cupins são baratas! Aliás, um estudo genômico comparativo publicado em 2018 na Nature Ecology & Evolution (Ref.3) detalhou a nível molecular como os cupins evoluíram eussocialidade a partir de baratas ancestrais, com esses insetos divergindo do restante das baratas modernas há cerca de 150 milhões de anos, no final do período Jurássico (Ref.4). A família Termitidae - compreendendo mais de 75% das atuais espécies de cupins - emergiu há ~54 milhões de anos, provavelmente na África ou na Ásia (Ref.4). Ao contrário das "baratas tradicionais", as quais são solitárias e onívoras, os cupins são baratas que evoluíram uma estrutura social altamente estratificada, incluindo uma rainha, trabalhadores e soldados, além de se alimentarem de um único alimento: madeira. Também em 2018, a Sociedade Entomológica da América oficialmente atualizou a classificação taxonômica dos insetos trazendo os cupins para a mesma ordem das baratas.


(2) Leitura recomendada: Raias são ovíparas ou vivíparas?

-----------

            Entre as baratas mais coloridas e chamativas, temos a espécie Polyzosteria mitchelli. Nativa da Austrália, essa barata não possui asas e exibe uma coloração que mistura um brilhante amarelo e um azul pálido nas pernas com uma superfície dorsal marcada por iridescência (cor estrutural resultante de difração e variante com o ângulo de observação e incidência luminosa) azul/verde. Assim como outras espécies do gênero Polyzosteria, a P. mitchelli secreta um fluído pungente de glândulas no seu abdômen quando perturbada, composto por >90% de trans-2-Hexenal. Como sinal de distúrbio ou para atrair parceiros sexuais, a P. mitchelli também emite baixos sons de estridulação ao esfregar os segmentos torácicos. Energéticas escaladoras e de hábitos diurnos, espécies do gênero Polyzoasteria passam grande parte do dia se locomovendo em estruturas arborícolas, reduzindo dramaticamente de atividade apenas em épocas mais frias do ano. Parecem ter uma dieta onívora bastante diversificada.

 

Figura 4. Barata da Fig.1 Foto: Dr. James Bickerstaff/@lessrof2weevils

Figura 5. Espécime de P. mitchelli na Reserva Charles Darwin, Austrália. Foto: Ben Parkhurst/@ParkhurstBen

> Leitura recomendada: Qual a relação entre baratas e asma?


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. https://link.springer.com/article/10.1007/s13355-022-00810-9
  2. Wang et al. (2023). Advances in the understanding of Blattodea evolution: Insights from phylotranscriptomics and spermathecae. Molecular Phylogenetics and Evolution, Volume 182, 107753. https://doi.org/10.1016/j.ympev.2023.107753
  3. Bourguignon et al. (2015). The Evolutionary History of Termites as Inferred from 66 Mitochondrial Genomes, Molecular Biology and Evolution, Volume 32, Issue 2, February 2015, Pages 406–421. https://doi.org/10.1093/molbev/msu308
  4. Harrison et al. (2018). Hemimetabolous genomes reveal molecular basis of termite eusociality. Nature Ecology & Evolution 2, 557–566. https://doi.org/10.1038/s41559-017-0459-1
  5. Wallbank & Waterhouse (1970). The defensive secretions of Polyzosteria and related cockroaches. Journal of Insect Physiology, 16(11), 2081–2096. https://doi.org/10.1016/0022-1910(70)90081-8
  6. Spencer & Richards (2012). On the Polyzosteria trail - a cockroach of the tasmanian high country. The Tasmanian Naturalist 134.
  7. Richards & Spencer (2019). Notes on the ecology of the Tasmanian alpine cockroach Polyzosteria sp. Burmeister, 1838 (Blattodea: Polyzosteriinae) including parasitism by Gordian worms (Nematomorpha: Gordioida). The Tasmanian Naturalist 141.
  8. Henry et al. (2021). Polyzosteria cockroaches in Tasmania (Blattodea: Blattidae: Polyzosteriinae) represent a new, endemic species, with allopatric alpine and coastal sub-populations. Zootaxa 4926 (3): 384–400. https://doi.org/10.11646/zootaxa.4926.3.4
  9. https://twitter.com/doradoblatta/status/1323282864159510529
  10. https://twitter.com/DrRossPiper/status/1037067794066669568
  11. Roth, L. M. (1994). The beetle-mimicking cockroach genera Prosoplecta and Areolaria, with a description of Tomeisneria furthi gen. n., sp. n. (Blattellidae: Pseudophyllodromiinae). 
  12. Anisyutkin, L. N. (2013). A description of a new species of the cockroach genus Prosoplecta saussure, 1864 (Dictyoptera, Ectobiidae) from South Vietnam. Entomological Review, 93(2), 182–193. https://doi.org/10.1134/S0013873813020061