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Lagartas com tentáculos queimam a pele?


           Assim como várias espécies na família de borboletas Lycaenidae, lagartas do gênero Curetis possuem duas estruturas retráteis chamadas de órgãos de tentáculos (OTs), cuja função geral parece ser de defesa contra potenciais atacantes - especialmente formigas - mas cujos mecanismos exatos de defesa são ainda pouco esclarecidos (e NÃO, os filamentos dos OTs não queimam a pele quando tocados).

             É estimado que mais de 70% dos licenídeos exibem forte associação com formigas (mirmecófilos, ou "amantes de formigas"). Essas relações são tipicamente reportadas como mutualísticas, mas existe evidência de ocasionais interações parasíticas para ambos os lados. As lagartas desse grupo possuem vários mecanismos promovendo relações pacíficas com formigas, incluindo a liberação de substâncias químicas que ajudam a atrair ou repelir essas últimas.

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           A subfamília Curetinae - consistindo de um único gênero (Curetis) - engloba 18 espécies distribuídas da Índia até as Ilhas Salomão. Os OTs nesse clado são armazenados em grandes cilindros esclerotizados, dos quais são evertidos longos processos filamentosos ("tentáculos") quando as lagartas são perturbadas, e tipicamente excitando formigas próximas; a eversão pode ser unilateral ou bilateral, e é controlada hidrostaticamente por músculos especializados. Substâncias orgânicas com potenciais funções sinalizadoras já foram identificadas nos OTs das lagartas Curetis, como a dendrolasina, um composto encontrado em alguns feromônios de alarme nas formigas (Ref.1). Nesse sentido, tem sido sugerido que os tentáculos servem para dissipar compostos voláteis repulsivos em resposta a formigas e outros atacantes (ex.: moscas e vespas parasitas que colocam ovos nessas lagartas). Porém, um estudo de 2017 (Ref.2) falhou em encontrar estruturas glandulares ou de dispersão que poderiam sugerir emissão de compostos voláteis.

> Vídeo mostrando a eversão dos tentáculos da C. acuta

          

           De qualquer forma, formigas geralmente mostram pouco interesse nas lagartas Curetis, mas frequentemente as acompanham durante o consumo de folhas.  



REFERÊNCIAS

  1. Pierce & Dankowicz (2022). The Natural History of Caterpillar-Ant Associations. In: Marquis, R.J., Koptur, S. (eds) Caterpillars in the Middle. Fascinating Life Sciences. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-030-86688-4_11
  2. Gnatzy et al. (2017). The eversible tentacle organs of Polyommatus caterpillars (Lepidoptera, Lycaenidae ): Morphology, fine structure, sensory supply and functional aspects. Arthropod Structure & Development, 46(6), 788–804. https://doi.org/10.1016/j.asd.2017.10.003
  3. https://butterflycircle.blogspot.com/2010/08/life-history-of-sumatran-sunbeam.html
  4. Bodo et al. (2013). Shiny wing scales cause spec(tac)ular camouflage of the angled sunbeam butterfly, Curetis acuta, Biological Journal of the Linnean Society, Volume 109, Issue 2, Pages 279–289. 
  5. Zhou et al. (2019). Bright Silver Brilliancy from Irregular Microstructures in Butterfly Curetis acuta Moore. Advanced Optical Materials, Volume 7, Issue 18, 1900687.