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O que são os Grânulos de Fordyce?

           Um paciente de 32 anos do sexo masculino apresentou-se a uma clínica dermatológica reclamando de múltiplos pequenos grânulos sobre seus lábios. Os grânulos - diagnosticados como Grânulos de Fordyce - eram parcialmente confluentes, portanto causando problemas cosméticos (Fig.1a). Para remover as lesões sem danos superficiais, eletrocoagulação intralesional com uma única microagulha isolada foi selecionada como a modalidade de tratamento. Para melhorar a acuracidade, os lábios do paciente foram esticados horizontalmente com os dedos (Fig.2a).

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           Seguindo 3 meses pós-tratamento, o tamanho e o número de grânulos foram substancialmente reduzidos e o paciente ficou satisfeito com o resultado cosmético (Fig.1c,d).

           O caso foi descrito e reportado em 2019 no periódico Dermatologic Therapy (Ref.1). 


   GRÂNULOS DE FORDYCE

          Primeiro descritos em 1896 pelo Dr. J.A. Fordyce, os grânulos de Fordyce são glândulas sebáceas assintomáticas comumente encontradas na mucosa oral, no lábio superior e região retromolar; mais raramente podem ser encontradas na mucosa genital (glande do pênis e nos pequenos lábios da vulva) e, muito atipicamente, em outras mucosas internas, como esôfago, língua e cérvix uterino (Ref.2). Também podem ser observadas comumente na parte externa da pele do pênis ou na parte interna do prepúcio (grânulos de Fordyce são reportados em 65% dos homens não circuncidados) (1) (Ref.3-4). Na maior parte dos casos em que ocorrem na mucosa oral, os lábios superiores estão envolvidos.

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> Imagens de típicas manifestações dos grânulos de Fordyce na estrutura peniana e na vulva.

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          Caracterizam-se por múltiplas micropápulas amareladas ou esbranquiçadas de 0,1 a 1-3 mm de diâmetro que ocasionalmente podem coalescer e formar placas, sendo normalmente distribuídas de forma simétrica e contendo os mesmos lipídios encontrados nas glândulas sebáceas da pele. Somente as glândulas sebáceas visíveis através do epitélio devem ser consideradas grânulos de Fordyce, com a frequência dessas manifestações cutâneas aumentando com a idade, principalmente após o estímulo hormonal da puberdade, embora estejam presentes histologicamente em crianças. A prevalência em adultos varia de 70 a 85-90% com discreta predominância no sexo masculino. No entanto, a condição pode se manifestar desde o nascimento (Ref.5).


            Histopatologicamente, as lesões são indistinguíveis das glândulas sebáceas, porém não estão associadas ao folículo piloso, e seu ducto se abre diretamente na superfície. Importante apontar que 90% das glândulas sebáceas normais estão associadas com folículos capilares. A patofisiologia dos grânulos de Fordyce não está ainda bem elucidada. Como a incidência tende a aumentar com a idade, é sugerida uma influência endócrina sobre as glândulas sebáceas. Outros pesquisadores sugerem disposição anormal de glândulas sebáceas ectópicas durante o desenvolvimento embrionário.

          É entidade de fácil diagnóstico clínico, e geralmente não são necessários exames complementares. O quadro deve ser diferenciado de outras lesões da cavidade oral: candidíase, diminutos lipomas, manchas de Koplik, verrugas virais, lesões papulosas mucosas da síndrome de Cowden, líquen plano e leucoplasia. Podem também ser confundidas com Glândulas de Tyson (2).

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(2) Leitura recomendadaO que são as pápulas perláceas penianas?

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          Apesar do caráter assintomático, benigno e de serem considerados variantes da normalidade, alguns pacientes procuram tratamento por razões estéticas. Opções terapêuticas podem incluir o uso de ácido bicloroacético, eletrodissecção laser de CO2, terapia fotodinâmica com ácido 5-aminolevulínico, isotretinína oral, microagulhamento e curetagem com eletrocoagulação.


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. Ahn et al. (2019). A case of successful treatment of Fordyce spots with a single insulated microneedle radiofrequency device. Dermatologic Therapy. https://doi.org/10.1111/dth.13026 
  2. Lee et al. (2012). Clinicopathologic Manifestations of Patients with Fordyce's Spots. Annals of Dermatology 2012; 24(1): 103-106. https://doi.org/10.5021/ad.2012.24.1.103
  3. Hall, A. (2018). Ectopic Sebaceous Glands (Fordyce Spots) and Median Raphe Cysts. Atlas of Male Genital Dermatology, 15–17. https://doi.org/10.1007/978-3-319-99750-6_7 
  4. Fischer, G. (2019). White Papules and Nodules: Fordyce Spots, Sebaceous Cyst, Milia, and Hailey–Hailey Disease. Vulvar Disease, 235–237. https://doi.org/10.1007/978-3-319-61621-6_33
  5. Einstein et al. (2020). As Dr. Fordyce Might Say, A Peculiar Affection of the Lips of a Neonate. Pediatrics 146 (1_MeetingAbstract): 464–465. https://doi.org/10.1542/peds.146.1MA5.464 
  6. Ryu et al. (2021). Fordyce Spots Treated by an Intralesional Insulated Microneedle Radiofrequency Device. Dermatologic Surgery, Volume 47, Issue 7, p. 1021-1022. https://doi.org/10.1097/DSS.0000000000002868