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A tecnologia 5G oferece riscos deletérios à saúde?

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          A nova tecnologia 5G teve os primeiros lançamentos comerciais em vários países na Europa, Ásia e América do Norte em 2018-2019, com ampla adoção comercial planejada ainda para este ano. Mas a expansão do 5G está vindo também acompanhada por uma grande disseminação de desinformações sobre os supostos riscos à saúde associados à nova tecnologia. Alguns inclusive estão afirmando que a nova pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) foi causada pelo 5G. Nesse sentido, um time de especialistas em diversas áreas buscou investigar a questão, detalhando os achados em um robusto estudo de revisão publicado recentemente no periódico Health Physics. A conclusão alcançada é que o 5G oferece muito pouco ou nenhum risco à saúde humana. 

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   O QUE É O 5G?

          Quinta Geração, ou 5G, se refere a um conjunto de padrões de engenharia para a operação de redes móveis wireless (sem fio). O 5G lida com dados substancialmente mais rápido do que as tecnologias 2G/3G/4G, cujas capacidades estão se aproximando do limite e sem condições de acompanhar as demandas futuras. A tecnologia 5G possui significativas maiores taxas de transferência de dados (bandwidth) e atrasos muito mais curtos (latência) na estação de base ao responder sinais recebidos. Essa alta eficiência é, em parte, devido ao uso de maiores faixas de radiofrequências em mais altas frequências (menores comprimentos de onda) do que aquelas usadas na maioria das atuais redes wireless. Nesse sentido, o 5G também será necessário para administrar o tráfico de dados nas atuais redes de wireless, o qual está aumentando em 90% todos os anos. 

          No início de 2019, o tráfico de dados manteve-se a cerca de 29 exabytes (29 x 1018 bytes) por mês. Para perspectiva, um exabyte de dados pode armazenar 100 mil vezes a informação de todos os materiais impressos na Biblioteca do Congresso dos EUA. 

          Aplicações iniciais do 5G incluem transmissão de múltiplos streams de conteúdo de entretenimento de alta-resolução para múltiplos usuários simultaneamente (ex.: aplicações de vídeo e de jogos) a uma capacidade grande o suficiente para aliviar a congestão sobre as redes wireless. Comunicações em tempo real via 5G permitirão que humanos e máquinas controlem ou operem eficientemente dispositivos e equipamentos remotos para a realização de tarefas como cirurgia remota, reparo de equipamentos em ambientes hostis, e controle remoto de aeronaves e outros veículos.

          Como já citado, o 5G não é específico a uma frequência, operando ao longo do espectro de radiofrequência: uma "banda baixa" abaixo de 1 GHz para voz e suporte de várias aplicações de loT (Internet de Coisas); uma "banda média" na faixa de 1-6 GHz - já em uso e em muitos casos próximo da capacidade máxima - na qual os protocolos do 5G possibilitarão transferências mais rápidas de dados comparado ao 2-4G; e uma nova "banda alta" de ~30-300 GHz na porção do espectro de milímetros (MMV) correspondendo aos comprimentos de onda de 10 mm até 1 mm que pode suportar transferências extremamente altas de dados (1).

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(1) Para um melhor entendimento sobre a natureza das ondas eletromagnéticas (frequência e comprimento de onda), sugestão de leitura: Partícula na caixa unidimensional: a Quântica explicando a cor da cenoura
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           As ondas MMVs não são inteiramente novas ao ambiente, sendo encontradas em aplicações como scanners de aeroportos, sistemas automotivos de prevenção a colisões, e sistemas de vigilância de perímetro via radar. A banda específica usada para o 5G irá variar por país; por exemplo, em várias nações Europeias, o 5G foi introduzido na banda de 3,6 GHz.

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   RISCOS À SAÚDE?

         Para adereçar a crescente onda de desinformações relativas ao 5G, especialmente reportes online acusando essa tecnologia de causar toda sorte de doenças e danos à saúde humana, um grupo de especialistas do COMAR (Comitê sobre Homem e Radiação) do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) resolveu revisar as evidências científicas sobre os riscos à saúde humana associados às radiofrequências do 5G. O COMAR é uma organização composta por cientistas Físicos, Biólogos, Epidemiologistas, Engenheiros e Médicos.

          Exposição humana às ondas de radiofrequência das tecnologias wireless em geral se origina de duas possível fontes: uma é o sinal de "downlink" (recebimento de dados) da estação de base, enquanto a outra é o "uplink" (envio de dados) a partir do dispositivo móvel (smartphone, tablet, etc.) do próprio indivíduo. Os dispositivos móveis podem transmitir a níveis de energia de até 1 watt (W), mas geralmente é otimizado para energias tão baixas quanto alguns miliwatts.

           No caso das bases de estação - as quais também recebem os sinais do uplink -, estas podem enviar sinais em diferentes faixas de energia dependendo da área que cobrem. Em geral, as mais comuns hoje e que irão se expandir muito com o 5G (densificação) são as chamadas "células pequenas", instaladas a uma altura de 10 metros em postes e visando cobrir pequenas áreas para otimizar energeticamente o sinal de envio (uplink). Essas células pequenas tipicamente transmitem sinais com menos do que 10 W. É previsto que até 2025, mais de 70 milhões de pequenas células serão instaladas ao redor do mundo, com um terço delas voltadas para as redes de 5G.

          Essa densificação das células pequenas será necessária porque as ondas MMW que serão bastante exploradas pelo 5G não conseguem penetrar folhagens e materiais de construção tão bem quanto sinais em menores frequências (maior comprimento de onda). Antenas "beamforming" em alguns sistemas 5G transmitirão um ou mais sinais diretamente aos usuários individuais, limitando, portanto, exposição a não-usuários.

         No estudo de revisão (1), os pesquisadores primeiro apontaram que o potencial efeito adverso à saúde de alguma real preocupação em relação à exposição às ondas de radiofrequência seria o aquecimento de tecidos no organismo. Vários países têm adotado para as tecnologias wireless em geral níveis limites de exposição recomendados por órgãos internacionais especializados em radiações não-ionizantes. Esses limites são muito inferiores àqueles que causariam quaisquer danos plausíveis e conhecidos à saúde humana. 

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(1) Publicação do estudo: Health Physics
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         Nesse sentido, após analisar as evidências, os cientistas concluíram:

- Primeiro, ao contrário de campos de menores frequências, as MMW não penetram além das camadas mais externas da pele e, portanto, órgão e tecidos internos não são expostos a essas ondas. Essas ondas, que seriam a grande "novidade" do 5G, portanto, parecem ser inofensivas ao nosso corpo.

- Segundo, atuais estudos indicam que os níveis gerais de exposição às ondas de radiofrequência são improváveis de significativamente serem alterados pelo 5G, com a exposição continuando a ser originária principalmente dos sinais de uplink.

- Terceiro, níveis de exposição em espaços de acesso público permanecerão bem abaixo dos limites estabelecidos pelas guias internacionais, e estudos acumulados até o momento não suportam efeitos adversos à saúde associados à exposição a ondas de radiofrequência (2), incluindo aquelas de sistemas 5G.

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            No estudo, apesar dos cientistas observarem que existe ainda limitada evidência na literatura científica sobre os efeitos biológicos das ondas MMW, foi reforçado que essas ondas já são usadas em tecnologias variadas e que a plausibilidade de danos à saúde humana é muito baixa. Além disso, não existe clara explicação para outros efeitos das radiações eletromagnéticas de rádio - as quais estão longe de serem ionizantes em qualquer extensão - no organismo humano além de um simples aquecimento e a níveis muito maiores do que aqueles impostos pela lei internacional.

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   ANÁLISES METEOROLÓGICAS

          Apesar de existir improvável risco à saúde humana devido à expansão da tecnologia 5G, existe uma real preocupação no campo da meteorologia e um caloroso debate internacional de negociação entre governos e cientistas climáticos.

          As transmissões 5G envolverão várias frequências, porém a mais problemática é aquela em 23,8 GHz (banda 3GPP n258). O vapor de água na atmosfera - extremamente importante para diversos eventos e tendências climáticas e temporais - naturalmente produzem um fraco sinal nessa frequência, a qual os satélites usam para quantificar a umidade atmosférica. Esses dados alimentam previsões do tempo ao redor do mundo inteiro. Porém, se uma estação 5G está transmitindo um sinal próximo de 23,8 GHz, um satélite pode pegá-lo e interpretar como vapor de água. E essa confusão analítica pode prejudicar substancialmente as previsões do tempo, cujas projeções já são naturalmente complexas.

> Para mais informações sobre essa questão (incluindo atualizações), acesse: As transmissões globais de 5G continuam preocupando os meteorologistas

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   CONCLUSÃO

           A tecnologia 5G de transmissão e recebimento de dados será fundamental para lidarmos com a dramática e crescente demanda dos serviços wireless de comunicação. Boatos infundados sobre severos danos à saúde associados ao 5G - incluindo a atual pandemia do novo coronavírus e cânceres diversos - estão longe da realidade, especialmente considerando que estamos falando de transmissões na faixa da radiofrequência, já amplamente usadas nas tecnologias prévias e bem estabelecidas de wireless ao redor do mundo. Estudos acumulados nas últimas décadas não conseguiram encontrar quaisquer evidências de danos à saúde humana ligados às radiofrequências.