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As ondas eletromagnéticas dos celulares são cancerígenas?

                                                       

- Artigo atualizado no dia 3 de março de 2023 -                      

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         Desde a década de 1990, o uso e versatilidade dos celulares vêm aumentando drasticamente. Hoje, ter um celular é questão, muitas vezes, de obrigação social e profissional. Nesse sentido, os aparelhos móveis de comunicação modernos se transformaram em parte íntima do cotidiano das pessoas. E entre uma das várias preocupações consequentes dessa nova tendência tecno-comportamental, temos a antiga discussão sobre o perigo imposto pelas ondas eletromagnéticas de transmissão associadas a esses aparelhos e às torres telefônicas: afinal, essas radiações não-ionizantes são cancerígenas ou não?

         Os celulares funcionam através de ondas de rádio. Tanto para a internet quanto para ligações, os celulares enviam e recebem ondas na faixa da radiofrequência, as quais representam uma forma de energia no espectro eletromagnético localizada entre a faixa das ondas de rádio FM e a faixa das micro-ondas. Assim como as micro-ondas (1), luz visível e calor (infravermelho), as ondas de rádio não são ionizantes, e, portanto, não são capazes de causar danos diretos no DNA, como a radiação ultravioleta, raio X e os raios gama. Ondas de rádio de alta frequência (o que não é o caso das envolvidas com os celulares) podem até esquentar tecidos, mas são tão inofensivas quanto um banho de luz solar sem ultravioleta.

          As torres de transmissão até emitem uma frequência maior na faixa do rádio para um maior alcance, mas ainda assim continuam sendo uma radiação não-destrutiva. Além disso, considerando a altura em que se encontram, entre 25 e 100 metros do chão, essa maior frequência acaba tendo quaisquer níveis de periculosidade muito atenuados. E mesmo você morando na mesma altura e de frente para a antena de uma torre (algo proibido por lei), uma parede já bloqueia, drasticamente, grande parte das ondas eletromagnéticas emitidas.


Muito altas e isoladas para causar qualquer dano significativo, segundo alegam especialistas (!).


           Considerando tudo isso, as ondas de rádio das comunicações de telefonia móvel não parecem interferir significativamente nas funções do corpo humano de modo a fomentarem ou deflagrarem o crescimento de tumores malignos. Não existem sólidas evidências científicas corroborando esse quadro. Por outro lado, mesmo não causando danos no DNA e em outros tecidos do organismo humano, experimentos já demonstraram que as ondas de rádio desses aparelhos interferem um pouco com a atividade cerebral, principalmente quando o celular está junto à cabeça. Mas essa interferência não parece ser prejudicial. E outra: as pessoas, atualmente, nem usam muito os aparelhos móveis de comunicação para, fisicamente, falarem através dele, limitando-se mais a mandarem mensagens de texto a uma distância considerável da cabeça.

          Aliás, um estudo analisando a exposição de longo prazo das pessoas a campos eletromagnéticos de alta frequência (EMF) - os quais englobam frequências intermediárias (3kHz-10MHz) e radiofrequência (10MHz-300GHz) - não encontrou evidências de que essas radiações impõem risco de glioma ou meningioma, os dois tipos mais frequentes de tumores cerebrais primários em adultos. O estudo, publicado no periódico Environment International (Ref.10), envolveu 2054 casos de glioma, 1924 casos de meningioma e 5601 controles (indivíduos saudáveis nas mesmas condições de exposição) oriundos de sete países. Os indivíduos analisados trabalhavam em ambientes com alto nível de exposição às EMF, como próximos de radares, antenas de telecomunicações e certas instalações médicas.

O uso dos celulares tornou-se mais manual do que verbal


         Isso corrobora um estudo ainda mais recente publicado no periódico Environmental International (Ref.11), envolvendo 2500 crianças Holandesas (9-12 anos de idade). O estudo buscou analisar - via imagens por ressonância magnética - a relação entre exposição a diferentes doses de campos eletromagnéticos de radiofrequência (RF-EMF) associados a dispositivos móveis e alterações deletérias no volume cerebral de adolescentes (particularmente no núcleo caudado). No geral, as doses médias de exposição do RF-EMF foram de 84,3 mJ/kg/dia; a maior dose lobo-específica foi estimada no lobo temporal (307,1 mJ/kg/dia). Ambas as doses estão bem abaixo dos valores máximos recomendados pela Comissão Internacional de Proteção à Radiação Não-Ionizante (ICNIRP). De fato, nenhuma relação significativa adversa foi encontrada pelo estudo.

           As principais agências de saúde do mundo especializadas em câncer não incluem o uso dos celulares na lista negra dos agentes cancerígenos. A grande unanimidade dos estudos não mostram relação alguma entre tumores e ondas de rádio nos humanos. As mesmas conclusões também se aplicam aos sinais de WiFi e 5G (1).

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   (!) PORÉM...

          Segundo conclusão recente do NTP (Programa Nacional de Toxilogia) (Ref.9) existem claras evidências de que ratos machos expostos a elevados níveis de ondas na rádio frequência usadas nos sinais de 2G e 3G dos celulares desenvolvem tumores cancerígenos no tecido cardíaco. Existem também algumas evidências não conclusivas de que tumores no cérebro e nas glândulas adrenais também sejam fomentados nesses mamíferos. Para os ratos fêmeas, as evidências não são claras.

          Os estudos realizados pelo NTP envolveram 30 milhões de dólares de financiamento e mais de 10 anos para serem completados, onde diversos ratos foram expostos às ondas de rádio de forma intermitente (10 minutos sob radiação, 10 minutos sem radiação) e contínua (vitalícia, desde o desenvolvimento embrionário ou poucas semanas após o nascimento) em cada experimento.

          Outro achado curioso é que os ratos machos expostos a essas radiações apresentaram uma maior longevidade na média, associada com uma diminuição em problemas crônicos afetando os rins.

          Ainda é incerto as causas para a associação entre ondas de rádio frequência 2G-3G e câncer.

          No entanto, os resultados desses estudos não podem ser diretamente extrapolados para humanos, porque as doses radiativas de exposição foram altas e aplicadas por períodos mais longos do que normalmente um usuário típico de celular é exposto diariamente. Além disso, os ratos receberam as frequências de rádio por todo o corpo, onde os humanos apenas recebem com significativa intensidade essas radiações nas áreas corporais em proximidade com o aparelho celular, em geral nas mãos e parte do braço.

           Um trabalho de revisão mais recente, publicado no periódico Environmental Research (Ref.12), também apontou evidências acumuladas suportando potenciais efeitos deletérios da emissões de radiofrequência em humanos vivendo próximos de estações de telefonia móvel, incluindo possíveis efeitos cancerígenos.

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   CONCLUSÃO

          Apesar das ondas de rádio emitidas e recebidas pelas aparelhos de telefonia móvel possuírem o potencial de causar um estresse extra nas nossas células, esse efeito não parece carregar significativa periculosidade para o nosso corpo. No entanto, ratos machos, por algum motivo ainda não compreendido, parecem ser sensíveis a esse tipo de radiação, e já mostraram desenvolver cânceres fomentados pelas ondas de rádio associadas ao 2G e ao 3G, mas em condições laboratoriais muito específicas. Nesse último ponto, alguns especialistas apontam potenciais efeitos deletérios em humanos vivendo em áreas próximas de estações de telefonia móvel.

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(1) As micro-ondas utilizadas no forno de mesmo nome são muito mais intensas, e em quantidades muito maiores, do que as consideradas aqui para telecomunicação. Ou seja, seu aparelho, mesmo emitindo nessa faixa, não irá esquentar nem uma gotícula de água.  Em outras palavras, são inofensivas.
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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://www.cityofberkeley.info/uploadedFiles/Planning_and_Development/Level_3_-_Commissions/Commission_for_Community_Environmental_Advisory/CEAC2011-05-05_Item9b1_DoCellPhonesCauseBrainCancer_NYTimesArticlepdf.pdf
  2. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0928468009000121
  3. http://www.cnsneurosurgery.com.au/KHURANA_MORE_INFO_PDFs/New%20York%20Times%20Article.pdf
  4. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0928468009000066
  5. http://www.aeriusinternationalinc.com/pdf/article05%20New%20York%20Times_Snuggle%20With%20Phone%20%282%29.pdf
  6. http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2705577
  7. http://nopr.niscair.res.in/handle/123456789/16123
  8. http://large.stanford.edu/courses/2012/ph250/kao2/
  9. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S016041201830196X
  10. https://www.nih.gov/news-events/news-releases/high-exposure-radio-frequency-radiation-associated-cancer-male-rats
  11. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160412020317633
  12. Balmori, A. (2022). Evidence for a health risk by RF on humans living around mobile phone base stations: From radiofrequency sickness to cancer. Environmental Research, Volume 214, Part 2, 113851. https://doi.org/10.1016/j.envres.2022.113851