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Gelo da Groenlândia registrou a ascensão e a queda do Império Romano


- Atualizado no dia 22 de novembro de 2020 -

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         Apesar de ligarmos a poluição atmosférica à nossa moderna civilização, há dois mil anos os Romanos lançavam substanciais quantidades de chumbo na atmosfera durante os processos de derretimento de minérios em fornalhas de barro para a extração de prata. Essa suspensão de chumbo na atmosfera acabou sendo depositada ao longo dos séculos nas camadas de gelo se acumulando no território da Groenlândia. Nesse sentido, cientistas estudando as deposições anuais das camadas de gelo acumuladas na forma de geleiras conseguiram traçar picos e vales relativos às flutuações na concentração de chumbo que espelham em detalhes a cronologia de vários eventos históricos, incluindo as guerras enfrentadas por Júlio César.

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   DENARIUS

         Já pelo ano de 269 a.C., o consistente e tradicional sistema monetário de Roma era baseado primariamente em prata e cobre, apesar de moedas de ouro também serem ocasionalmente cunhadas. No caso da moeda de prata - a mais importante sem sombra de dúvidas -, esta recebia o nome de denarius.

         Em termos de dimensões, a denarius (denarii no plural) possui um diâmetro de 20 milímetros e uma massa em torno de 3,4 gramas. Durante a República e início do período do Império, a denarius possuía um alto grau de pureza - cerca de 95-98% em massa de prata na liga metálica (nessa época, uma moeda de ouro valia 25 denarri). Essa qualidade manteve-se durante a reforma do Caesar Augustus. Para dar uma ideia do valor dessa moeda para os Romanos, um exército privado na época de Augustus ganhava entre 200 e 300 denarii por ano, pagos a cada 4 meses; um oficial chegava a ganhar até 10000 dessas moedas por ano; e um oficial de alta patente até 25000. Por outro lado, os soldados, devido às várias deduções por comida, uniformes e até despesas de funeral, quase não viam a cor da prata, ganhando cerca de 15-20 denarii a cada dia de pagamento - o qual era feito a cada 4 meses! A atração ao serviço militar durante o período Romano era algo mais patriótico do que monetário, mas o cargo trazia benefícios consideráveis, incluindo a estabilidade, comida, roupas, abrigo, cidadania Romana (caso o soldado não possuísse) e uma aposentadoria após 20 ou 25 anos com direito a um lote de terra.


          Na época de Augustus, o exército Romano já somava 250 mil homens, quase todos atuando de forma vitalícia. O total de legionários e auxiliares demandavam anualmente cerca de 75 milhões de denarii (ou o equivalente em moedas de cobre)! No período final do Império, após 200 d.C., Imperadores governaram apenas através do suporte do exército, o qual acumulava agora 500 mil homens. Com a demanda por moedas aumentando absurdamente - mesmo com boa parte delas sendo reciclada -, já não existia mais prata suficiente para a cunhagem das denarii e a necessidade de mais dinheiro físico circulante era crucial. A solução que naturalmente surgiu foi simplesmente corromper a denarius de prata com cobre, um processo que começou no século I d.C. e aumentou pelos dois próximos séculos.


         No século III d.C., a denarius foi perdendo cada vez mais seu conteúdo de prata, ficando apenas com uma cobertura de 'fachada' desse metal progressivamente mais e mais fina (e o interior quase totalmente de cobre), alcançando os 2% de concentração em massa no estágio final de decadência. Nessa época, a inflação estava altíssima, porque o Império estava produzindo cada vez mais moedas de "prata" através da introdução de massivas quantidades de cobre, visando manter sua riqueza. Uma moeda de ouro (aureus) já valia cerca de 2250 denarii e novas moedas começaram a ser introduzidas, como a Antoninianus (um pouco maior que a denarius e uma massa média de 5 gramas). Foi somente em 296 d.C. que a Reforma Diocleciana criou uma nova vida para a moeda de prata.

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   PRATA E CHUMBO

         Nesse contexto de absurdas quantidades de moedas de prata e cobre sendo produzidas, entra um outro metal de interesse histórico e arqueológico: chumbo. Metais pesados oriundos dos processos metalúrgicos utilizados para a extração e produção de ligas metálicas acabavam contaminando em grande escala o ambiente e a atmosfera na Antiguidade, e desde a década de 1990 os cientistas vêm explorando traços desses poluentes para melhor entender os eventos nessa época. Padrões de deposição via circulação atmosférica de chumbo ligados às atividades Romanas foram encontrados primeiramente na Groenlândia e mais tarde pesquisadores confirmaram os mesmos padrões em amostras de solo na Espanha, Escócia e nas Ilhas Faroe. Porém, nenhum desses estudos conseguiam mostrar como a poluição por chumbo mudava anualmente.


        Apenas em 2018, um estudo publicado na PNAS (Ref.1), conduzido pelo arqueólogo Andrew Wilson, da Universidade de Oxford, Reino Unido, e pelo especialista em Era Romana, Joseph R. McConnella - com a ajuda de especialistas em núcleo de gelo - trouxe finalmente um quadro cronológico acurado da poluição metalúrgica Romana a partir das variações de concentração de chumbo presentes nas camadas de gelo que formam as geleiras da Groenlândia. O time de cientistas conseguiu medir os níveis de chumbo em uma seção transversal de 400 metros de comprimento de gelo representando 1900 anos do período Romano (entre 1100 a.C. e 800 d.C.).


          Com a preciosa seção de gelo em mãos, os pesquisadores derreteram pequenas partes por vez da sua extensão, de uma ponta a outra, com as amostras líquidas resultantes sendo levadas para análise química. Foram cerca de 12 medidas para cada ano correspondendo à era Romana. Obviamente, nem todo o chumbo encontrado era resultante das atividades Romanas de derretimento dos minérios em forja, com parte oriunda de processos naturais (como erupções vulcânicas). Esse chumbo "contaminante" foi estimado pelos pesquisadores e subtraído das análises quantitativas.

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> A geleira (ou glaciar) é uma grande e espessa massa de gelo formada por camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada, de várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior ao degelo. É dotada de movimento e se desloca lentamente, em razão da gravidade e da inclinação do relevo, provocando erosão e sedimentação glacial.
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   SIGA O CHUMBO

         Os resultados das análises mostraram que os níveis de emissão de chumbo começaram a aumentar substancialmente em ~1000 a.C., coincidindo com a expansão Feniciana para o Mediterrâneo Ocidental e continuou através do final do século II a.C. à medida que as atividades de mineração aumentaram, particularmente no norte e oeste das áreas ocupadas.

        Consistentes altas emissões em meados do século IV até o século II a.C. corresponderam à intensa atividade de mineração em Cartagena e na República Romana da Espanha, com níveis similares correspondendo aos séculos I e II a.C. de mineração sob o Império Romano. Flutuações dentro desse quadro geral corresponderam perfeitamente às guerras afetando regiões chaves de mineração, com declínios de curto prazo provavelmente causados pelo desvio de parte da força de trabalho das minas para os campos de batalha, ou pela massiva fuga de trabalhadores das áreas atingidas pelos conflitos. Já longos períodos de declínio possivelmente estavam ligados aos desestímulo em investimento nas regiões devastadas pela guerra. Por exemplo, as emissões de chumbo caíram drasticamente no início da primeira Guerra Púnica (264-241 a.C.), mas aumentou anos mais tarde à medida que a Cartagena aumentou sua atividade mineradora para a fabricação de moedas de prata que visavam o pagamento de mercenários. Durante a Segunda Guerra Púnica, as emissões de chumbo inicialmente declinaram mas aumentaram após Roma cercar os territórios Púnicos de mineração no sul da Espanha em 206 a.C.



         Guerras entre 200 e 79 a.C. na Península Ibérica e no sul da França também corresponderam a declínios nas emissões de chumbo. Para exemplificar, emissões caíram notavelmente após 125 a.C., espelhando uma guerra na região centro-sul da França contra os Alóbroges (124 a.C.) e os Arveni (124-121 a.C.), assim como as invasões pelos Cambri e Têutones em 104-101 a.C. As emissões continuaram baixas durante recorrentes conflitos na Espanha de 108 a 82 a.C. Um declínio ainda maior após 80 a.C. correspondeu à Guerra Sertoriana na Espanha (80-72 a.C.), e as emissões permaneceram bem baixas durante a próxima década coincidindo com as periódicas invasões Lusitanianas. Uma notável recuperação nas emissões começaram somente após 61 a.C. quando Júlio César - então governador da Espanha - liderou uma campanha contra os Lusitanianos para restaurar a ordem. Essa recuperação se sustentou por cerca de 10 anos, mas foi revertida durante as Guerras Civis, das campanhas de César na Espanha (49-46 a.C.) até a eventual vitória de Augustus, Gaius Octavius Caesar (31 a.C.), o primeiro Imperador Romano.


        Os repetidos padrões de declínios nas emissões de chumbo coincidindo com as deflagrações de guerras primariamente afetando a Península Ibérica, e subsequentes recuperações após o final de cada um desses conflitos, sugerem que os eventos de guerra causaram as maiores interrupções na extração de chumbo-prata pela metalurgia Romana durante o meio e o final da República. A Crise da República Romana caracterizada por repetidas guerras e instabilidade política a partir do segundo até o quarto século a.C. coincidiram com um consistente e sustentado período de emissões bem baixas de chumbo.

        Um respiro de paz após as Guerras Civis reverteram a tendência de baixas emissões de chumbo, com o maior nível de emissão da Antiguidade ocorrendo no século I d.C. Seguindo um rápido aumento nas emissões iniciado em 17 a.C., as emissões permaneceram bem altas até a década de 160 d.C. Esse período de altas emissões coincidiu com o apogeu do Império Romano na Pax Romana, marcada pela consolidação do controle imperial sobre as províncias e encontrando seu fim pela devastadora praga Antonina - provavelmente varíola - de 165 até 193 d.C. Grande parte dessas altas emissões podem ser atribuídas à exploração de minas no norte da Espanha seguindo a conquista da Astúria e da Cantábria, completada em 16 a.C., e na região Germânica em ambos os lados do Rio Reno a partir de 8 a.C.

         O declínio após o máximo ocorreu em 9 d.C., coincidindo com o abandono Romano do território ao leste do Reno, incluindo as minas Sauerland, depois que três legiões foram aniquiladas na floresta de Teutoburg. Após meados do século I d.C., os picos ainda altos de emissão do Império Romano se sustentaram provavelmente como resultado das atividades de mineração através da Espanha, na região centro-sul de Gaul, ilha Britânica e parte da região Germânica.



          As pragas Antoniana e de Cipriano, e os trágicos eventos climáticos no século VI d.C. (1), marcaram o ponto de virada entre os altos níveis de extração chumbo-prata durante o Império Romano e os níveis muito mais baixos observados a partir de meados do século II d.C. até o século VIII d.C. A violenta praga e as profundas crises de fome atrapalharam todo o sistema de mineração por causa das altas taxas de mortalidade e fuga das áreas afetadas, além de reduzir a demanda por mais moeda devido às grandes perdas populacionais. O período de mais baixa emissão após o ano de 900 a.C. coincidiu com a terceira Crise Imperial do século III de 235 até 284 d.C., e, em particular, com a grave pandemia conhecida como Praga de Cipriano (249-270 d.C.).




          A primeira maior recuperação nas emissões de chumbo ocorreu após a praga Antonina ter tido um fim (~750 d.C.), com o reinício das minerações medievais na França, notavelmente nas minas Merovingianas e a cunhagem de moedas em Melle, França, e na região Britânica ao redor de Wirksworth em Derbyshire. Mas dois picos notáveis de recuperação, segundo um estudo também publicado em 2018 no periódico Antiquity (Ref.10), ocorreram nos anos de 640 e de 660, muito provavelmente a partir do processamento de minérios de chumbo-prata em Melle, e os quais acompanharam a mudança monetária na Europa nesse período. Essa conclusão foi baseada na análise ultra-precisa de um núcleo de gelo de 72 metros de comprimento retirado da Geleira Colle Gnifetti, nos Alpes Suíços. Durante a segunda metade do século VI d.C., a moeda corrente no Noroeste da Europa mudou de ouro para prata. Essa mudança foi um fator chave para as transformações econômicas e sociais que resultaram no aumento do comércio de longa distância e na construção de grandes conglomerados portuários.


          Como pode ser visto no gráfico abaixo da Ref.10, o pico de chumbo em 640 d.C. ocorreu em um crucial e importante momento na história monetária pós-Romana da Europa Ocidental. No início do reino de Dagobert I (629-639 d.C.), o conteúdo de ouro na produção de moedas nos Reinos Merovingianos de Gaul declinou progressivamente e substancialmente, devido à adição intencional de prata provavelmente estimulada pelo fim dos subsídios Bizantinos com ouro a partir da década de 620 d.C. Já o segundo pico corresponde ao período quando pura prata começou a substituir as moedas feitas com liga prata-ouro. Moedas de prata em território Anglo-Saxão primeiro surgiram em 660 d.C. junto, pelo que parece, com uma massiva produção de prata nas minas de Melle, implicando que os Franceses e Ingleses simultaneamente começaram a substituir as moedas ouro-prata pela prata pura.




          O acentuado declínio em meados da década de 850 d.C. corresponde ao saque de Melle pelos Vikings em 848 d.C. e uma guerra civil na região entre Charles o Calvo e Pepino de Aquitaine nesse período. O subsequente pico em 860 d.C. se encaixa com a cunhagem de moedas renovada em Melle, antes da fragmentação política e econômica no oeste do reino de Frankish seguindo sua morte em 877 d.C.
       
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   CHUMBO NOS ALPES

          Um estudo subsequente, publicado na Geophysical Research Letters (Ref.11), corroborou as análises do gelo Groenlandês, ao fornecer um registro das condições atmosféricas impressas nas geleiras de Monte Branco, nos Alpes Franceses, com o auxílio da técnica de radiocarbono. Uma significativa poluição atmosférica de metais pesados - presença de chumbo (Pb) e de antimônio (Sb) - foi detectada no gelo alpino pela primeira vez e ligada às atividades de mineração e produção de chumbo e prata pelos Antigos Romanos. Foi também o primeiro estudo mostrando que as atividades de mineração e fundição em Roma impactaram substancialmente o ambiente com elementos tóxicos além do chumbo.




          Apesar de bem menos detalhado do que as análises de gelo da Groenlândia, os registros do gelo alpino cobrem todo o período da Antiguidade (800-2050 a.C.) e os principais períodos de prosperidade da Roma Antiga, com notáveis e bem distintos picos de emissão de chumbo observados durante o período Republicano (entre 350 e 100 a.C.) e o período Imperial (entre 0 e 200 d.C.). Por estar localizada dentro da Europa Continental, a perturbação via chumbo observada nas geleiras alpinas foi maior do que aquela vista na Groenlândia, por um fator de 100 durante o final da Idade do Ferro (ou período Republicano Romano Médio) - provavelmente em torno de 140 a.C. - e por um fator de 50 durante o Império Romano. Os pesquisadores mostraram que as atividades Romanas levaram a um aumento natural das emissões de chumbo para a atmosfera de 10 vezes, algo mais do que significativo quando comparado com as emissões mais recentes devido ao uso de gasolina com o composto tetraetilchumbo - para o aumento de octanagem - entre os anos de 1950 e 1985, essas as quais aumentaram em 100 vezes as emissões naturais desse metal pesado (algo também nitidamente registrado no gelo alpino).

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ANÁLISE GENÉTICA: Mais recentemente, em um estudo publicado no periódico Science, um time internacional de pesquisadores realizou provavelmente a maior análise de variações genéticas no DNA antigo de indivíduos que viveram até 12 mil anos atrás na região de Roma e próxima dela. As análises genéticas também possibilitaram a construção de uma cronologia de eventos históricos, revelando também dinâmicas populacionais antes não apontadas em registros históricos e arqueológicos. Para saber mais sobre o estudo, acesse: Grande parte dos cidadãos na Roma Imperial tinham raízes no Oriente
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    REINOS MEDIEVAIS BRITÂNICOS

          Fugindo do Império Romano, em um estudo publicado no periódico Antiquity (Ref.12), cientistas também revelaram que é possível acompanhar os eventos da economia medieval Inglesa a partir da análise de chumbo em núcleos de gelo retirados da Geleira Colle Gnifetti em 2013, nos Alpes Suíços. Em específico, foi analisado um núcleo de 72 metros de comprimento preservando o acúmulo de poluentes correspondendo a mais de 2 mil anos de história.

            Usando um laser para cortar secções de apenas 120 mícrons de espessura (representando apenas alguns dias ou semanas de neve depositada) ao longo do comprimento do núcleo de gelo, os pesquisadores obtiveram cerca de 50 mil amostras para cada metro, as quais foram analisadas para um número de elementos, incluindo chumbo. Eles encontraram vários picos de chumbo e, via análise de circulação atmosférica e registros geoarqueológicos, determinaram que a principal fonte da poluição de chumbo era oriunda das Ilhas Britânicas. E as variações acompanham bem a história Britânica entre 1167 e 1216.

          Por exemplo, em 1170, quando os níveis de chumbo caíram abruptamente, foi o ano que os assassinos do Rei Henrique II de Inglaterra (1133-1189) mataram o arcebispo da Cantuária (Thomas Becket) - após uma longa disputa com a Igreja - e Henrique foi excomungado. Nesse período, ninguém pagou impostos, e a mineração parou. Uma década depois os níveis de chumbo alcançaram um novo pico, quando Henrique II fez finalmente as pazes com o Papa e começou a injetar grandes somas de dinheiro (prata) para reconstruir as abadias Cisterciense. Em 1193, novo pico, quando Ricardo I (o Coração de Leão) foi feito prisioneiro na Alemanha pelo Sacro-Imperador Romano Henrique VI, este o qual demandou um alto resgate. De fato, parece que os Britânicos moveram esforços hercúleos para pagar o resgate, aumentando massivamente a produção de prata.



           Mas Ricardo I deixou seu sucessor e irmão, John I, um tesouro depletado. John perdeu a Normandia em uma guerra com a França e foi percebido como fraco, o que culminou em uma revolta dos seus barões em 1215, onde o rei foi forçado a assinar a Carta Magna, dando à Igreja e aos barões mais direitos. Isso reduziu a capacidade de John de construir castelos. John morreu em 1216 e, durante a transição para Henrique III, a produção de moedas - e de mineração - parou. Nenhuma taxa sobre mineração foi paga e os níveis de desse chumbo no núcleo de gelo caíram novamente.

           No geral, os níveis de chumbo mostraram diminuir durante as transições de reis, onde a falta de demanda real nesse incerto período resultavam em reduzida produção e mínimos pagamentos associados ao campo. Em 1190 e 1200, por exemplo, grandes pagamentos começaram a ser feitos uma vez que a sucessão foi assegurada. Níveis de chumbo caíam também durante crises políticas e ausências reais. Podemos citar 1173-1174, durante a guerra civil e conflito com a Escócia; 1191-1192, quando Ricardo I co-liderou a Terceira Cruzada (2); e 1215-1216, durante a guerra civil quando John assinou a Carta Magna, e a França invadiu a Inglaterra.


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   CONCLUSÃO

        As duas análises nas geleiras da Groenlândia e dos Alpes Franceses além de reforçarem as datações dos eventos históricos na era Romana com grande precisão, ainda trouxeram interessantes incongruências que podem revelar novos fascinantes fatos sobre a dinâmica econômica e política dos Romanos. Certos pontos obtidos no gráfico de emissões de chumbo na era Romana (Ref.1) encontram um notável desajuste com a taxa de produção de moedas. Segundo os especialistas, isso sugere que os Romanos podem ter extraído e estocado grandes quantidades de prata em certos períodos por algum motivo. Estudos futuros irão adereçar esses achados.

          É  válido destacar também que a partir do século I, as flutuações nas emissões de chumbo também refletiram a dinâmica de cunhagem das denarii. Uma forte queda nas emissões, por exemplo, coincidiram com a substancial diminuição na concentração de prata na denarius em substituição pelo cobre no ano de 64 d.C. e na troca da produção das denarii através de metal novo pela reciclagem de moedas. Similarmente, um pico de curto prazo no início do século II d.C. coincidiu com um breve período do uso de metal novo extraído das minas (103-107 d.C.). Quando as concentrações de prata caíram para menos de 4% nas denarii no século III d.C., atingimos o ponto mais baixo após 900 a.C. nas emissões. A partir do final do século III d.C. até meados do século IV d.C, o sistema monetário foi quase que totalmente substituído por moedas bimetálicas produzidas com ligas de cobre e ouro, com rara presença de moedas baseadas em prata.



REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. McConnell et al. (2018). Lead pollution recorded in Greenland ice indicates European emissions tracked plagues, wars, and imperial expansion during antiquity. PNAS, 115 (22) 5726-5731. https://doi.org/10.1073/pnas.1721818115
  2. http://www.sciencemag.org/news/2018/05/rise-and-fall-roman-empire-exposed-greenland-ice-samples 
  3. https://www.brown.edu/Departments/Joukowsky_Institute/resources/coins/Coin2.html 
  4. http://numismatics.org/crro/id/rrc-344.1a
  5. http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.511.7855&rep=rep1&type=pdf
  6. https://www.brown.edu/Departments/Joukowsky_Institute/resources/coins/Coin2.html
  7.  http://museum.classics.cam.ac.uk/collections/casts/head-julius-caesar-forgery
  8. https://en.natmus.dk/historical-knowledge/denmark/prehistoric-period-until-1050-ad/the-early-iron-age/the-chieftains-grave-from-hoby/the-battle-of-the-teutoburg-forest/
  9. https://www.metmuseum.org/toah/hd/barb/hd_barb.htm
  10. Loveluck et al. (2018). Alpine ice-core evidence for the transformation of the European monetary system, AD 640–670. Antiquity, 92 366: 1571–1585. https://doi.org/10.15184/aqy.2018.110
  11. Preunkert et al. (2019). Lead and Antimony in Basal Ice From Col du Dome (French Alps) Dated With Radiocarbon: A Record of Pollution During Antiquity. Geophysical Research Letters, Volume46, Issue9, Pages 4953-4961. https://doi.org/10.1029/2019GL082641
  12. Loveluck et al. (2020). Alpine ice and the annual political economy of the Angevin Empire, from the death of Thomas Becket to Magna Carta, c. AD 1170–1216. Antiquity, 94(374), 473-490. https://doi.org/10.15184/aqy.2019.202