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Hans Asperger: O cientista que cooperou com Nazistas no assassinato sistemático de várias crianças


- Atualizado no dia 3 de março de 2023 -

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         Segundo revelou em 2018 um impactante estudo publicado no periódico Molecular Autism (Ref.1), o famoso e consagrado médico Austríaco, Hans Asperger, cooperou de forma terrível com o regime Nazista, estando envolvido com o envio de dezenas de crianças para a morte. Um trabalho investigativo paralelo realizado pela historiadora Edith Sheffer e um estudo posterior publicado em 2020 corroboraram as alegações. E o mais irônico e revoltante: Asperger por décadas era tido como um herói  que lutou contra o programa de extermínio Nazista.

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   SÍNDROME DE ASPERGER

          A Síndrome de Asperger (SA) tradicionalmente é descrita como um transtorno de desenvolvimento incluído no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) (1), este o qual engloba condições neurológicas caracterizadas por um menor ou maior prejuízo nas habilidades de comunicação e de linguagem, assim como padrões repetitivos ou restritivos de pensamento e comportamento. Além do SA, compõem o TEA: clássico, autismo, síndrome de Rett, transtorno infantil desintegrativo e transtorno de desenvolvimento pervasivo não especificado (PDD-NOS, na sigla em inglês) (!).

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(!) Na atual versão do CID (Classificação Internacional de Doenças), tanto a Síndrome de Asperger quanto o PDD-NOS foram removidos.
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        Ao contrário de crianças com autismo, é historicamente argumentado que crianças com SA retêm suas habilidades iniciais de linguagem. Nesse sentido, o mais distinto sintoma da SA seria o interesse obsessivo da criança em um único objeto ou tópico em exclusão de quaisquer outras coisas. A criança com SA quer saber tudo sobre seus tópicos de interesse, e suas conversas com as outras pessoas terá pouca referência a outros assuntos. Aliás, o alto nível de conhecimento sobre o tópico, alto nível de vocabulário e padrões formais de discurso faria a criança parecer como um pequeno professor.

         Outras características da SA incluiria rotinas ou rituais repetitivos; peculiaridades na fala e na linguagem; comportamentos sociais e emocionais inapropriados, e a inabilidade de interagir bem com potenciais amigos; problemas com comunicação não-verbal; e movimentos motores desajeitados e descoordenados.

         O diagnóstico desse transtorno é geralmente feito por um time de profissionais multi-disciplinar, frequentemente incluindo um terapeuta em fala e linguagem, pediatra, psiquiatra e/ou psicólogo. Como a SA varia bastante de pessoa para pessoa, fazer o diagnóstico pode ser uma tarefa difícil.

        O tratamento da SA envolve várias estratégias, as quais visam principalmente os três sintomas núcleos do transtorno: baixas habilidades de comunicação, rotinas repetitivas ou obsessivas, e movimentos corporais desajeitados. E quanto mais cedo a intervenção profissional, melhor o prognóstico.

       Com um tratamento efetivo, crianças com SA podem aprender a conviver com o transtorno, mas podem ainda continuar encontrando situações e relações pessoais mais desafiadoras do que o normal. Muitos adultos com AS são capazes de trabalhar com sucesso em empregos diversos, apesar de ainda poderem necessitar vez ou outra de suporte moral e encorajamento para manter uma vida independente.


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   HANS ASPERGER E O NAZISMO

         O médico pediatra Hans Asperger (1906–1980) foi um dos primeiros pesquisadores a descreverem o autismo, e décadas de trabalho com crianças mais tarde levaram à criação do conceito de 'espectro do autismo'. Em 1938, o pediatra primeiro definiu distintas características psicológicas como 'psicopatias autísticas', vários anos antes do famoso artigo de Leo Kanner sobre o autismo, publicado em 1943. Em 1944, Asperger publicou um estudo compreensivo sobre o tópico (submetido à Universidade de Viena em 1942 como sua tese de pós-doutorado), o qual encontrou importante reconhecimento internacional apenas na década de 1980.


         Porém, de acordo com o reporte no Molecular Autism e o trabalho de investigação realizado pela historiadora Edith Sheffer - o qual foi detalhado no livro Asperger’s Children: The Origins of Autism in Nazi Vienna, publicado em 2018 (Ref.3) -, o antes venerado pesquisador estava associado com o Partido Nazista em seus esforços de eutanasiar crianças com certas condições de saúde ou deficiências - com o horrível objetivo de realizar uma "limpeza" dentro do povo Germânico. As evidências são gritantes e praticamente conclusivas. Um estudo de revisão histórica subsequente, conduzido pelo autor principal do estudo de 2018 - o médico e historiador da Universidade Médica de Viena, Herwig Czech -  e publicado em 2020 no periódico Alemão Monatsschrift Kinderheilkunde (Ref.9), voltou a reforçar que Asperger se juntou a várias organizações afiliadas ao Partido Nazista, publicamente legitimou as políticas de higienização racial - incluindo práticas de esterilização - e, em várias ocasiões, ativamente cooperou com o programa de eutanásia infantil.

        Segundo as fortes evidências históricas e relatos encontradas pelos pesquisadores, Asperger encaminhou dezenas de crianças para uma clínica chamada Am Spiegelgrund, em Viena, onde médicos realizavam experimentos nelas ou as matavam. Quase 800 crianças, muitas das quais deficientes ou doentes, foram mortas lá. Os funcionários da clínica também administravam arbitrariamente e descontroladamente barbiturato - sal originado do ácido barbitúrico, usado na preparação de droga anestésica - nessas crianças, algo que frequentemente levavam às suas mortes por pneumonia.


         Asperger nunca foi um membro oficial do Partido Nazista, e, por décadas, livros e artigos acadêmicos o descreviam, ironicamente, como uma figura benevolente que salvou crianças com autismo de centros Nazistas de extermínio.

          As suspeitas contra Asperger começaram a aflorar em 2003, quando o pesquisador Helmut Gröger reportou que Herta Schreiber - uma menina de 3 anos de idade com deficiências mentais - estava em arquivos onde o nome de Asperger aparecia três vezes; Schreiber foi enviada para Spiegelgrund e morreu lá 2 meses depois. Já em 2005, um médico e historiador chamado Michael Hubenstorf revelou que Asperger manteve uma relação próxima com o notável médico Nazista Franz Hamburger. Somando-se a isso, no livro de 2015, titulado Neutribes: The Legacy of Autism and the Future of Neurodiversity, o jornalista Steve Silverman também ligou Asperger a Hamburger, mas sem encontrar uma ligação direta com o programa de eugenia do Partido Nazista.

          Essas evidências iniciais só foram amplificadas e corroboradas bem recentemente, com a revelação dos registros clínicos de Asperger recuperados por historiadores que cobriam seus trabalhos científicos do ano de 1928 até 1944.

         A clínica infantil onde Asperger trabalhava tinha sido bombardeada pelas forças Aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, e, por décadas, muitos acreditavam que os registros da clínica tinham sido destruídos. Porém, em 2009, Herwig Czech foi convidado a discursar em um simpósio de 2010 comemorando a morte de Asperger. Isso inspirou o pesquisador a explorar mais profundamente os arquivos de Viena por detalhes sobre o médico. Como resultado das investigações, Czech acabou encontrando registros muito bem preservados que denunciavam arquivos do Partido Nazista que atestavam a lealdade de Asperger, mesmo ele não sendo um membro oficial. Além disso, os registros também traziam várias casos médicos e notas pertencentes ao médico.

         Dois anos após essa preocupante descoberta, a historiadora Edith Sheffer - acadêmica da Universidade da Califórnia, no Instituto para Estudos Europeus de Berkeley - visitou os mesmos registros em Viena. Sheffer tinham um filho com autismo e sempre esteve muito interessada nos trabalhos de Asperger, o qual era reconhecido mundialmente como um herói.

       Segundo as investigações de Sheffer, ficou claro desde o início que Asperger estava associado com o programa Nazista que levou à morte de inúmeras crianças com deficiências e problemas de saúde.


         Autora do novo livro sobre o caso, Sheffer mostrou que Asperger descrevia o comportamento das crianças com autismo como sendo o oposto dos valores sustentados pelo Partido Nazista. Em um exemplo, o médico escrevia que uma típica criança interagia com outras como um "membro integrado da sua comunidade", mas que aquelas com autismo seguiam seus próprios interesses "sem considerar restrições ou prescrições impostas pela sociedade."

         Além disso, os arquivos clínicos de Asperger descreviam crianças com deficiências e condições psiquiátricas de forma muito mais negativa do que seus colegas faziam. Em outro exemplo, médicos do Am Spiegelgrund descreveram um garoto chamado Leo como uma criança "muito bem desenvolvida em todos os aspectos". Já Asperger descreveu Leo como um "garoto psicopático e muito difícil, de um tipo que não é frequente entre crianças pequenas."

        Ainda segundo Sheffer, todas as evidências fortemente indicam os colegas e mentores mais próximos de Asperger como os arquitetos dos programas eugênicos de Am Spiegelgrund, implicando que o respeitado médico era mais do que um seguidor passivo.


         E em muitos diagnósticos tendenciosos, Asperger claramente ignorava outros fatores externos, como maus tratos e abuso, especialmente o medo e pressões impostas em pacientes Judeus vítimas de perseguição. No caso específico de abusos sexuais de menores, o médico frequentemente culpava as vítimas, taxando meninas de 14-15 anos estupradas de serem "depravadas" por não oferecerem suficiente resistência e muitas vezes recomendava que fossem internadas. Também afirmava que crianças e adolescentes saudáveis não sofreriam com traumas de guerra, com tais sintomas indicando problemas mentais anteriores. Em ambos os casos, Asperger dava seus diagnósticos com ênfase na 'inferioridade' que tais pacientes representavam, seguindo uma linha Nazista de raciocínio.

"Anny Wödl, uma enfermeira Vienense, não tinha dúvida de que a transferência do seu filho Alfredo para Spiegelgrund, forçada no início de 1941 apesar da resoluta resistência da mãe, significaria a sua morte." (Ref.1)

        Czech, em seu estudo de 2018 - reforçado pelo estudo subsequente de 2020 -, encontrou fortes evidências apontando que Asperger pessoalmente transferiu, no mínimo, duas crianças para Am Spiegelgrund, e que também serviu em um comitê que enviava dezenas de outras para lá com o objetivo de serem exterminadas. E mais: não existem evidências de que Asperger salvava crianças da clínica. Pelo contrário, o médico chegou a defender a lei de esterilização, apesar de reforçar que ela precisava ser "implantada com responsabilidade" e considerando que os impactos dessa lei foram bem menos extensivos na Áustria do que na Alemanha.


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> O programa Nazi Aktion T4 visava matar todos aqueles com doenças psiquiátricas, estes os quais não se encaixavam com a ideia de uma 'sociedade Alemã ideal' (Volksgemeinschaft) defendida pelo Terceiro Reich. Aproximadamente 200 mil pessoas morreram durante o Aktion T4, mas essa estimativa não leva em conta aqueles que foram assassinados sem ordens oficiais e pacientes que continuaram sendo mortos por muito tempo após o Aktion T4 ter sido finalizado. Além da participação ativa de Asperger nesse programa, muitos outros psiquiatras na época foram cúmplices, dando voluntariamente permissões para os assassinatos (Ref.9).
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   ASCENSÃO PARA O LADO SOMBRIO

        Traçando uma linha do tempo a partir das informações obtidas nos arquivos revelados, em 1937, pouco antes da Segunda Guerra Mundial ter início, Asperger estava seguindo um protocolo de prudência ao classificar as crianças sendo por ele estudadas. Porém, já poucos meses após a anexação da Áustria pela Alemanha em 1938, o médico começou a descrever as crianças com autismo como um "grupo de crianças bem caracterizado". Dentro de 3 anos, Asperger começou a descrevê-las como "crianças anormais". Em 1944, as descrições passaram a descrevê-las como indivíduos fora "do grande organismo" visado pelo ideal Nazista.


        Sheffer sugere que a evolução negativa dos registros clínicos de Asperger objetivavam uma promoção dentro do Partido Nazista. À medida que seus colegas Judeus eram removidos das suas posições, o médico começou a subir nos cargos. Em 1938, o Reitor da Escola de Medicina removeu mais da metade dos membros da faculdade, na maioria médicos/pesquisadores Judeus. Já Hans Asperger, aos 28 anos de idade, subitamente ganhou uma promoção prematura para ocupar o cargo de Diretor da Clínica de Educação Curativa, mesmo com um currículo acadêmico ainda relativamente insuficiente.


        Já após a guerra, Asperger começou a descrever a si mesmo em entrevistas - especialmente uma que ocorreu via rádio em 1974 - como um severo opositor da ideologia Nazista e chamava o programa de eutanásia como algo "totalmente inumano", obviamente para escapar de perseguições. De fato, grande parte das bases que o glorificavam como um herói tanto no meio acadêmico quanto no meio popular encontravam sustentação nessas entrevistas de auto-promoção, com pouco sendo conhecido a respeito do médico e sua carreira durante o período Nazista.

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   REAÇÕES NO MEIO ACADÊMICO

         Desde que o estudo de 2018 foi publicado, muitos especialistas - incluindo Sheffer - passaram a demandar que o termo 'Síndrome de Asperger' fosse abolido, algo que inclusive entraria em concordância com o DSM-5 (5°' Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos Mentais, no significado da sigla em inglês), este o qual já tinha dispensado o termo por razões acadêmicas ligadas a redefinições dentro do espectro do autismo - apesar de ser ainda muito utilizado para se referir a alguém com sintomas característicos e específicos dentro do espectro do autismo. Nesse sentido, em 2019, o CID-11 (Classificação Internacional de Doenças 11), o qual entrou em vigor em janeiro de 2022, removeu o termo de uso, embora a adoção da nova atualização seja um processo lento ao redor do mundo (Ref.11).

        Somou-se à campanha a falta de reconhecimento das contribuições do médico psiquiatra Georg Frankl (Ref.10) e da psicóloga Anni Weiss, também Austríacos, para o entendimento do autismo antes mesmo de Asperger - ambos eram inclusive judeus e tiveram que deixar a Áustria após a imposição do regime Nazista. Aliás, as ideias de Frankl representaram importante suporte para os trabalhos clínicos de Asperger. Além disso, a "síndrome de Asperger", ou algo muito similar, havia já sido descrito em 1926 pelo neurologista Russo G Ssucharewa (Ref.13).



          Por outro lado, alguns outros especialistas - incluindo Czech - não acham correto apagar da memória as contribuições científicas de Asperger, independentemente das ações por ele praticadas no passado. Uma das justificativas é a de que manter viva a memória nos faz lembrar dos erros históricos cometidos e que não devem ser repetidos.

          Rebatendo esse último argumento, outros especialistas argumentam e lembram que a decisão do CID-11 de remover o termo foi baseada em evidências científicas, e não apenas em ideologia ou reparação histórica. De fato, o diagnóstico de Síndrome de Asperger é controverso há décadas, porque baseia-se na ausência de atraso cognitivo ou de linguagem para se diferenciar de outros diagnósticos associados ao transtorno do espectro autista. Hoje já é estabelecido que esses traços não são componentes essenciais ou de ampla prevalência do autismo, onde a grande maioria dos indivíduos autistas possuem capacidade cognitiva e linguística dentro da média populacional, tornando a Síndrome de Asperger um diagnóstico sem justificada validade (Ref.12).

           Relevante mencionar que no final de 2022 um estudo publicado no periódico Acta Paediatrica (Ref.14) concluiu que "não existe evidência que Asperger sabia sobre o programa de eutanásia", relativa aos pacientes que ele mandou para Am Spiegelgrund. Porém, existem gritantes conflitos de interesse associado aos três autores do paper. Dois deles foram estudantes e, mais tarde, colegas de Hans Asperger; o terceiro têm sido amigo da família Asperger há vários anos. De fato, uma resposta recente ao estudo publicada no mesmo periódico pelo Dr. Herwing Czech, do Departamento de Ética, Coleções e História da Medicina, da Universidade de Medicina de Viena, Áustria, levantou pesadas críticas contra a publicação, apontando também que nenhum dos autores possuía especialização em história contemporânea, sendo apenas "ex-discípulos de Asperger e um deles amigo de longa data da família" (Ref.15). Além disso, Czech realçou que o conhecimento de Asperger sobre o assassinato das crianças havia sido explorado em um número de publicações, e os autores do estudo ignoram a maior parte delas - em especial sem enfatizar que Asperger era o diretor da mais proeminente instituição da Universidade de Viena para "crianças difíceis", detendo óbvios privilégios de informação.


Artigos recomendados: 


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. https://molecularautism.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13229-018-0208-6
  2. https://molecularautism.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13229-018-0209-5
  3. http://www.sciencemag.org/news/2018/04/pioneering-autism-researcher-cooperated-nazis-new-evidence-suggests
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/PMHT0024670/
  5. https://www.ninds.nih.gov/Disorders/All-Disorders/Asperger-Syndrome-Information-Page
  6. https://medlineplus.gov/ency/article/001549.htm
  7. http://www.autism.org.uk/about/what-is/asperger.aspx
  8. Czech, H. (2020). Hans Asperger und der Nationalsozialismus: Konturen einer Kontroverse. Monatsschr Kinderheilkd 168, 163–175. https://doi.org/10.1007/s00112-020-00947-3
  9. Shalvey, Aisling (2021). Commentary: The diagnostic label of Asperger's in historical perspective – a commentary on Kehinde et al. https://doi.org/10.1111/camh.12491
  10. Muratori et al. (2021). George Frankl: an undervalued voice in the history of autism. Eur Child Adolesc Psychiatry 30, 1273–1280. https://doi.org/10.1007/s00787-020-01622-4 
  11. https://www.who.int/standards/classifications/classification-of-diseases
  12. https://www.spectrumnews.org/opinion/viewpoint/people-mourn-asperger-syndromes-loss-diagnostic-manuals/
  13. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/apa.16697
  14. Waldhauser et al. (2022). An assessment of what Hans Asperger knew about child euthanasia in Vienna during the Nazi occupation. https://doi.org/10.1111/apa.16571
  15. Czech, H. (2023). Response to Tatzer et al: Their paper on what Asperger knew about Nazi “child euthanasia” does not provide a rigorous assessment of the available evidence. https://doi.org/10.1111/apa.16730