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Popular medicamento usado para tratar hipertensão está associado com um elevado risco de desenvolvimento de câncer de pele


- Atualizado no dia 4 de dezembro de 2018 -

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       Usada por milhões de pessoas ao redor do mundo, a hidroclorotiazida é um medicamento utilizado para tratar hipertensão (pressão sanguínea acima do normal), e o qual é frequentemente usado em combinação com outros medicamentos do tipo. Porém, um recente estudo de alta qualidade, grande porte e confiabilidade encontrou uma forte associação entre o consumo dessa droga com um maior risco de desenvolver câncer de pele.

        Realizado por pesquisadores da Universidade do Sul da Dinamarca e da Sociedade Dinamarquesa de Câncer, e publicado no Journal of American Dermatology (2), o estudo mostrou uma clara conexão entre o uso da hidroclorotiazida e um maior risco de câncer de pele, especificamente o carcinoma celular escamoso. E isso vem para se somar ao achado anterior, dos mesmos pesquisadores, de que essa droga aumenta o risco para câncer de lábio.


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        O estudo analisou cerca de 800 mil casos de câncer de pele na Dinamarca e mostrou que o risco de desenvolver câncer de pele com o uso a longo prazo desse medicamento chega a ser de até 7 vezes maior em comparação com indivíduos que não usam a hidroclorotiazida. Nesse sentido, os pesquisadores estimaram que cerca de 10% de todos os casos de carcinoma celular escamoso na Dinamarca podem estar sendo causados pelo medicamento.

       Quando a hidroclorotiazida induz câncer, isso é devido ao fato de que essa droga pertence a um grupo de substâncias com efeito fotossensitivo. Isso significa que a hidroclorotiazida agrava os perigosos efeitos da exposição solar sobre a pele e os lábios, o que aumenta os riscos de câncer de pele (1). O tipo carcinoma celular escamoso, associado com a droga, é, felizmente, tratável e possui uma mortalidade bem baixa.

          Os pesquisadores também analisaram outros medicamentos para tratar hipertensão, mas não encontraram associação deles com o aumento de câncer de pele.

          Mas é preciso ficar atento. Apesar dos novos achados, os especialistas, incluindo os autores do novo estudo, não orientam as pessoas a suspenderem o uso de hidroclorotiazida sem antes consultar um médico responsável. Os riscos e benefícios do medicamento devem ser balanceados de caso para caso.

          De qualquer forma, caso você use o medicamento, a recomendação é você conversar com o seu médico sobre o assunto e, se possível, verificar se existe possibilidade de troca. Recentemente, a ANVISA também emitiu um alerta, com base principalmente nesse último estudo (4):

"A Anvisa, por meio da Gerência de Farmacovigilância (GFARM), vem informar e alertar a população e os profissionais da área de saúde sobre o aumento do risco de câncer de pele não-melanoma decorrente do uso cumulativo do medicamento hidroclorotiazida, utilizado para tratamento da hipertensão arterial e para controle de edemas.

A descoberta foi realizada por meio de estudos epidemiológicos que demonstraram uma associação dose-dependente cumulativa — que ocorre quando a dose utilizada de um determinado medicamento está diretamente relacionada com seus efeitos — entre o medicamento em questão e o câncer de pele não-melanoma.

A Anvisa solicita que os profissionais de saúde informem aos pacientes tratados com hidroclorotiazida sobre o risco de câncer de pele não-melanoma, especialmente aqueles pacientes que já fazem uso do fármaco em longo prazo. Os pacientes devem ser orientados a verificar regularmente a sua pele quanto a novas lesões e a notificar imediatamente ao profissional quaisquer lesões cutâneas suspeitas.

A orientação da Agência é que o tratamento não seja interrompido antes que os pacientes consultem o seu médico. Lesões cutâneas suspeitas devem ser prontamente examinadas, incluindo exame histológico de biópsias. Medidas preventivas, tais como limitação da exposição à luz solar e aos raios ultravioleta, podem ser realizadas no intuito de minimizar o risco de câncer de pele. O uso de hidroclorotiazida pode ser revisto em pacientes com histórico de câncer de pele não-melanoma.

A inclusão das novas informações de segurança nas bulas de todos os medicamentos que contêm o princípio ativo hidroclorotiazida que ainda não possuem tais informações será imediatamente solicitada pela Anvisa."


(1) Para entender mais sobre o câncer de pele e danos solares, acesse: Radiação UV, Danos na Pele e Bronzeamento


ATUALIZAÇÃO (14/09/18): Um estudo publicado na Nature Communications (Ref.3) revelou uma forte associação entre o uso crônico do medicamento azatioprina - amplamente utilizado para tratar a doença inflamatória do intestino, artrite e vasculite, assim como para a prevenção da rejeição de órgãos após transplantes - e a assinatura mutagênica 32 encontrada em casos de carcinoma celular escamoso cutâneo (cSCC), uma forma comum de câncer de pele. Além disso, já se sabia que a azatioprina aumenta a fotossensibilidade à luz UVA, provavelmente contribuindo para o desenvolvimento de cânceres de pele. O estudo englobou um número pequeno mas significativo de pacientes (37). Estudos de maior escala são necessários para corroborar ou refutar o achado. Os autores do estudo não defendem que o medicamento seja retirado de circulação, mas sim que os riscos e benefícios do seu uso sejam cuidadosamente analisados.


(2) Publicação do estudo: JAAD

(3) Publicação do estudo: Nature

(4) Alerta: ANVISA