Qual é a menor ave do mundo?
Existem mais de 330 espécies conhecidas de beija-flores (família Trochilidae) e estima-se que quase 8 mil espécies de plantas dependem dessas pequenas aves como principais polinizadores. De fato, os bicos dos beija-flores representam um clássico exemplo de coevolução, os quais evoluíram morfologicamente em resposta aos formatos das flores onde se alimentam. Entre as centenas de espécies de beija-flores, o Colibri-Abelha-Cubano (Mellisuga helenae), também conhecido como Beija-Flor-Zumbidor, se destaca por ser a menor ave do mundo, sendo encontrado em diversos territórios de Cuba (endêmico desse país).
Com um comprimento médio de 5-6 cm, essa ave possui uma massa corporal média de apenas 2,28 gramas (g), com os machos não ultrapassando 2 g (média de 1,74 g)! Os machos, além de geralmente exibir menor porte corporal, apresentam uma coloração avermelhada e iridescente ausente nas fêmeas na região abaixo da garganta. Quando chega a época do acasalamento, os machos ficam com o topo inteiro da cabeça vermelho.
Importantes polinizadores, esse beija-flor se alimenta exclusivamente de néctar, sugando-o com o seu longo bico pontiagudo. Chega a visitar mais de 1500 flores por dia, parando no ar em frente às estruturas florais para se alimentar, com asas que podem chegar a bater 90 vezes por segundo! Quem vê um deles parado no meio do ar (uma habilidade aviária única compartilhada entre os beija-flores), apenas observará um vago borrão, como se não houvesse asas ali de tão rápido. Isso somado ao pequeno porte corporal explica o termo popular "abelha com penas" para se referir à espécie.
A lista dos predadores do colibri-abelha-cubano é grande, e inclui sapos e corujas. Para se defender, essas aves confiam na grande habilidade e agilidade de voo: chegam a alcançar velocidades de até 48 km/h, conseguem voar para trás (habilidade única entre os beija-flores) e, como mencionado, são capazes de parar no meio do ar. O corpo desse beija-flor é todo adaptado no sentido de otimizar ao máximo a capacidade de voo, e em torno de 22 a 34% da massa corporal dos indivíduos da espécie é composta de músculos especializados para essa função.
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Crédito: Aslam |
Exibindo um alto metabolismo, o colibri-abelha-cubano gasta cerca de 15% do dia comendo para suprir as altas necessidades energéticas. À noite, para economizar energia, essa ave diminui sua temperatura normal de 41°C para próximo de 30°C (!). Possui uma grande longevidade relativo ao esperado para o porte corporal, e potencialmente vive até 10 anos, mas geralmente não ultrapassa 7 anos no ambiente natural da espécie. Como habita um território muito restrito e insular, e alvo de intensa devastação ambiental, a espécie está sob potencial risco de extinção.
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(!) ESTADO DE TORPOR
Estado de torpor é pensado ser particularmente importante para pequenos animais endotérmicos ocupando ambientes frios e com limitada reserva de gordura para alimentar o metabolismo, apesar de ser raro e variável em extensão entre as aves. Um exemplo notável são os beija-flores.
Os beija-flores, entre os vertebrados, possuem as maiores taxas metabólicas relativas ao tamanho do corpo, as quais chegam a ser 77 vezes àquela observada nos humanos. No entanto, como são muito pequenos, manter a temperatura corporal em torno de 35-41°C é difícil, e, à noite e no frio os beija-flores podem diminuir a temperatura interna em 10°C até 30°C. Essa drástica redução na temperatura corporal diminui o metabolismo em até 95%, preservando suas reservas energéticas durante a noite e o sono. Nesse estado de torpor, batidas cardíacas de 1000-1200 batidas por minuto em voo diminuem até 50 batidas por minuto. É como se essas aves possuíssem uma contínua e intermitente hibernação.
Em um estudo publicado no periódico Biology Letters (Ref.3), pesquisadores analisaram 26 beija-flores capturados de 6 espécies - incluindo o Metallura phoebe de 12 cm e o maior beija-flor conhecido, o Patagona sp. - vivendo em altitudes em torno de 3800 metros nos Andes Peruvianos, onde as temperaturas à noite alcançam quase 0°C. Eles encontraram que, para sobreviverem nesses frígidos ambientes, essas aves conseguem reduzir a temperatura corporal, em média, até 5-10°C, ou seja, uma redução de 26°C ou mais na temperatura corporal quando estão ativos (35-37°C). Em humanos, uma redução de apenas 2°C já é considerado um preocupante estado hipotérmico.
A espécie Metallura phoebe bateu um recorde: conseguia reduzir sua temperatura até alcançar 3,26°C, a menor já registrada em aves ou em mamíferos não-hibernantes.
Leitura recomendada: Qual é o maior beija-flor do mundo?
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REFERÊNCIAS:
4.Lawrie et al. (2021). Systematic placement of the Bee Hummingbird (Mellisuga helenae) (Aves: Trochiladae) e potencial consequences for nomenclature of the Mellisugini. Ornitología Neotropial, 32: 45-50. https://doi.org/10.58843/ornneo.v32i1.947