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Qual o sentido devo pegar do Comunismo ao Nazismo: Direita ou Esquerda?


- Atualizado no dia 27 de março de 2019 - 

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          Em meio à crescente tensão política nos últimos anos e a outras acirradas questões sociais e econômicas globais, as discussões políticas estão sendo amplamente promovidas nas redes e círculos sociais. E, com isso, termos como 'Direita', 'Esquerda', 'Capitalismo', 'Socialismo', 'Comunismo' e 'Fascismo' são atirados para todos os cantos, atingindo até mesmo áreas completamente dissociadas. Os termos 'Esquerda' e 'Comunismo', sob suas mais variadas derivações pejorativas ('esquerdeopata', 'comuna', etc.), por exemplo, viraram sinônimos de ofensas por certos grupos ideológicos, seja qual for a discussão. As pessoas muitas vezes não fazem ideia dos significados dos termos, ou apenas adotam os esteriótipos vinculados, mas mesmo assim os usam como armas ou escudos de defesa para os seus argumentos.

          Aqui neste artigo, será feita uma tentativa de sintetizar e explicar esses termos mencionados, mesmo considerando a complexidade do tema e lembrando que existem amplos espectros de interpretação e metamorfoses entre eles ao longo das décadas ou mesmo dependendo de quais Estados os adotaram, sendo, portanto, impossível chegar a um mínimo consenso em muitos casos.

CONTEÚDO DO ARTIGO:
  • SISTEMA ECONÔMICO: Definindo e abordando historicamente o socialismo e capitalismo/A China hoje é um regime socialista ou capitalista?
  • GOVERNO E ECONOMIA: Definindo historicamente o Comunismo  e o Fascismo/Afinal, o Nazismo é um regime fascista?
  • ESQUERDA E DIREITA: Origem histórica e tentativa de definição/A Direita e a Esquerda na política brasileira
  • EXTREMA DIREITA, EXTREMA ESQUERDA E NAZISMO: Afinal, o Nazismo está posicionado em qual dos lados do espectro ideológico?

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  SISTEMA ECONÔMICO

           Apesar de muitos generalizarem os termos capitalista e socialista para fazerem referência ao quadro geral, ambos apenas definem sistemas econômicos a serem seguidos. Ou seja, podem existir diferentes sistemas governamentais para que tais sistemas econômicos sejam alcançados.

      CAPITALISMO

         Adam Smith (1723-1790), e sua obra ´The Wealth of Nations´ (A Riqueza das Nações) - oficialmente An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations -, são tidos por muitos como a fundação do capitalismo moderno. O capitalismo pode ser expresso como o conceito do 'liberalismo', e centra-se no direito à propriedade privada. Aqui, temos um sistema econômico no qual todos ou quase todos os meios de produção são operados e controlados de forma privada, e onde o investimento de capital e a produção, distribuição e preços das mercadorias (serviços e produtos) são determinados principalmente em mercado livre, ao invés do controle estatal.

          No capitalismo, os meios de produção são geralmente operados para o lucro e a função do governo restringe-se à proteção dos direitos individuais. Seus defensores geralmente reforçam a eficiência e a racionalidade do processo de desenvolvimento desse sistema. Nesse sentido, de forma subsequente, os interesses privados podem espontaneamente cair em linha com o interesse comum, e que o padrão de vida da população pode ser sistematicamente melhorado a longo prazo através de mecanismos de competição (quanto melhor o ambiente de produção e melhor o tratamento dados aos agentes de produção, maior a produção e lucro).

           Em termos de distribuição, esta é baseada no processo de mercado e é aproximadamente justa, já que o indivíduo, em princípio, ganha uma recompensa proporcional à sua contribuição produtiva.

          Para o capitalismo, o domínio pelo socialismo hipotético ou existente é considerado uma irracionalidade e ineficiência econômica, o qual destrói as bases institucionais e espirituais da 'boa economia'. Além disso, o socialismo seria não somente contrário à economia, mas também à liberdade política.

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      SOCIALISMO

           Foi em parte uma resposta ao capitalismo e aos efeitos da industrialização, e firmou-se principalmente pelos trabalhos de Karl Marx e Friedrich Engels, especialmente através do Manifesto Comunista de 1848. Emergindo primeiro na França, Inglaterra e na Alemanha, suas ideias iniciais tiveram início na década de 1830, apesar de alguns buscarem suas origens na Revolução Francesa (1789), com as atividades de Enragés ou a conspiração de Gracchus Babeuf.

           Na essência, o socialismo é uma sociedade na qual as coisas que nós precisamos para viver, trabalhar e controlar nossas próprias vidas - as indústrias, serviços e recursos naturais - seriam de propriedade coletiva do proletariado (socialização dos meios de produção). No Socialismo Científico - ou Marxista -, o socialismo acaba se referindo ao controle estatal da propriedade comum, ou o Estado sendo o proprietário dos meios de produção, e sendo o governo desse Estado representativo dos interesses do proletariado. Nesse sentido, o socialismo representa uma transição do Capitalismo para o Comunismo, e possui seu foco na desigualdade que surge dentro de um sistema capitalista através de um número de respostas que visam combater a pobreza derivada de uma rica mas desigual economia (crescente concentração de riquezas nas mãos de poucos); a alienação da sociedade produtiva; o individualismo fomentado pelo mercado; e o desespero daqueles que não conseguem encontrar um trabalho remunerado. Em outras palavras, o Socialismo Científico seria uma superação do Capitalismo (!).

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(!) Sugestão complementar de conteúdo: "S" de Socialismo [Canal Tese Onze]
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          Ainda seguindo o Socialismo Científico, idealizado por Marx e Engels e baseado no estudo do materialismo histórico e da evolução do capitalismo, os trabalhadores recebem pelo tanto que trabalham - sem exploração - visando criar condições para que o Comunismo seja estabelecido. Nessa fase de transição do Capitalismo para o Comunismo, a produção máxima de recursos é priorizada visando uma redistribuição confortável no momento em que o Comunismo seja alcançado, momento no qual as remunerações não mais seriam vinculadas apenas ao trabalho quantitativo e qualitativo e, sim, às necessidades de cada um. Caso o Socialismo se prolongue demais - vá além de uma fase de transição - e não promova a evolução de elementos indicando uma real busca pelo Comunismo, Marx projetava que o sistema falharia e seria eventualmente vencido pelo Capitalismo, jogando novamente a classe proletária para o estado de exploração e sofrimento .

          Aqui fica claro, portanto, que apesar do objetivo final do Socialismo Científico ser o Comunismo, ambos possuem estruturas bem distintas, especialmente poque esse último vai muito além de um sistema econômico. Enquanto o Socialismo possui um foco na produção, o Comunismo possui um foco na distribuição. E é importante diferenciar isso porque muitos tendem a jogar ambos na mesma caixa. Enquanto no Comunismo a motivação de trabalho e contribuição individual seria o bem da comunidade como um todo - por isso a tendência utópica desse ideal -, no Socialismo as pessoas são recompensadas pelo tanto que trabalharam e contribuíram para a comunidade, ou seja, existiria uma justiça nas recompensas em oposição às explorações geralmente vistas no capitalismo. Por isso entraria o controle estatal - e representativo do proletariado - sobre os meios de produção, para garantir a distribuição justa das recompensas. E como o Comunismo tende a ser utópico, uma fase de transição tornaria-se mais do que necessária, englobando uma luta de classes e uma epifania do proletariado que preparem a sociedade para essa nova realidade.
     
          Porém, historicamente, quando o Socialismo Científico tentou ser implantado em países diversos no século XX, isso acabou levando muitas vezes a sangrentas ditaduras, porque o Estado passava a desvirtuar a representação da propriedade social. Idealmente, é necessário um governo submetido ao proletariado para a sustentação do Socialismo, e não o Estado explorando e aterrorizando o proletariado, como ocorreu na União Soviética. Nesse sentido, é também argumentado que não existiu, de fato, o socialismo em países anti-democráticos como a China e a União Soviética, onde os interesses de ditadores prevaleceram em detrimento da classe operária. Aliás, os Anarquistas defendem uma transição do Capitalismo para o Comunismo sem a existência de um Estado, porque este seria um grande empecilho para a efetivação do processo transitório.



            Entre os Estados Socialistas, tivemos a URSS, a China Comunista (ainda é...?), a Suécia Socialista, a Inglaterra Socialista, Cuba, Coreia do Norte (ainda é), entre outros regimes menores na Europa Oriental, Leste da África e Sudoeste da Ásia. Porém, na Suécia e Inglaterra, por exemplo, o regime foi eleito democraticamente. Já na China e na URSS, o socialismo surgiu como resultado de violentas revoluções e evocação de ditaduras. Já outros surgiram como o produto de golpes militares (Cuba, Etiópia, Vietnã) ou invasão estrangeira (Bloco Oriental).

            Além do Socialismo Científico, existem outras formas de socialismo, como o socialismo utópico (idealizações socialistas não-teóricas que antecedem o Marxismo) e visões modernas revisionistas do socialismo marxista. Os Democratas Socialistas modernos argumentam por um sistema similar ao Welfare State (Estado de Bem-Estar Social), onde a propriedade privada é liberada e o mercado atua de forma bastante livre, mas o Estado intervém de forma crítica e cirúrgica na economia para a melhor distribuição de riquezas e amparo ao trabalhador, como a maior taxação dos mais ricos. Aqui não mais estaríamos visando o Comunismo, mas, sim, o estabelecimento de um sistema econômico 'socialista' mais estável e duradouro. Os Liberais Socialistas - Norberto Bobbio (1909-2004) sendo um representante notável - também defendem uma união saudável entre capitalismo e socialismo.

            No geral, os defensores do socialismo veem o capitalismo como um sistema irracional resultante da submissão tóxica do proletariado ao mercado, fomentando disparidades sociais e econômicas. Os seres humanos são uma espécie de natureza coletiva, e a ideologia capitalista quebraria essa harmonia. O socialismo fomentaria a igualdade social e poderia promover uma mais alta forma de liberdade onde a sociedade unida viria para dominar seu próprio progresso.

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       SISTEMAS NA PRÁTICA

            As experiências proporcionadas pelo século XX levaram a uma adaptação e a um fortalecimento dos argumentos de defesa em ambos os sistemas econômicos, especialmente durante o período de Guerra Fria.

           A Grande Depressão teve um profundo impacto em ambos os defensores e críticos do capitalismo. No final da década de 1940, em soma ao acúmulo das memórias da década de 1930 e à extensão do sistema socialista para uma parte significativa da Europa e da Ásia, houve um aumento expressivo quanto ao pessimismo em relação ao futuro do capitalismo. Além disso, muitos países recém independentes estavam na busca por uma via inovadora de modernização e desenvolvimento, atraindo a atenção para o modelo socialista.

           Em termos econômicos, em torno de meados do século XX até próximo ao seu final, o terreno global foi fértil para ambos os sistemas, marcando significativos crescimento e mudanças estruturais em vários países pertencendo a qualquer um dos dois modelos. Durante a década de 1960, o ritmo competitivo entre socialismo e capitalismo levaram a um intenso culto ao crescimento de produtividade por ambos os sistemas, em um processo liderado pelos EUA e pela URSS.

            Porém, no desenrolar da década de 1970, o socialismo de mercado, entendido como uma combinação econômica entre controle estatal e coordenação de mercado, nunca conseguiu - fora a China - se tornar uma alternativa crível. As crises que seguiram esse modelo, adotado pelos países socialistas, eventualmente levaram ao colapso da noção de superioridade do controle social sobre o controle privado. Assim, a maioria das reformas socialistas acabaram falhando em termos de melhorar, de maneira durável, a funcionalidade e performance da economia. Pelo fim da década de 1970, as economias socialistas europeias e soviética foram entrando em uma era de 'estagnação' - nas palavras de Gorbachev - enquanto as economias capitalistas encaravam uma nova grande crise onde o crescimento estabilizou, a inflação acelerou e o desemprego aumentou. Velhas críticas de ambos os lados novamente surgiram e as incertezas inundaram ambos os lados. Com isso, foi iniciada uma luta de adaptação ao novo ambiente econômico.

           Mas a década de 1980 veio para marcar o real ponto de virada. No Ocidente, os planos econômicos ativados por Margaret Thatcher e Ronald Reagan deram um novo ânimo para o capitalismo e ponderou importantes reformas para os países em desenvolvimento - apesar de não solucionar persistentes abismos socioeconômicos. Já no Oriente, a crise estrutural se espalhou e resistiu - novamente, com exceção da China - enquanto as bases de sustentação da hegemonia Soviética começaram a sucumbir com as novas políticas de Gorbachev. Entre 1989 e 1991, os regimes de política assim chamados "Comunistas" colapsaram, resultando em uma imediato desmantelamento da coerência sistêmica das economias socialistas. Inevitavelmente, foi iniciado a transição para o regime econômico que, mesmo cheio de falhas, se sobressaiu no final do século XX: o capitalismo.

            Na verdade, podemos ir de forma até mais científica e mostrar que em um mesmo país original, dividido entre planejamentos econômicos distintos  (capitalismo ou socialismo), os resultados finais ficam bastante visíveis: Alemanha e Coreia, a partir da Guerra Fria. Enquanto a Alemanha Ocidental (orientada pelo capitalismo) prosperou, a Alemanha Oriental (socialista, e controlada pela União Soviética) enfrentou diversas dificuldades, tanto econômicas quanto sociais. E não é preciso dizer muito sobre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte. E mesmo não sendo coerente do socialismo teórico, abismos sociais e má distribuição de renda - como ocorre no capitalismo - acabaram sendo gerados, devido aos privilégios excessivos das elites governamentais dominantes, insuficiente planejamento e outros empecilhos.

            Um dos grandes problemas do socialismo científico, na prática, é que essa concentração absoluta de poder nas mãos do Estado já gera um abismo e um fomento à corrupção. Além disso, como definir uma real justiça nas distribuições de riqueza? Como ter certeza de que um plano traçado, sem outros de oposição governamental para um justo debate, é o melhor para a sociedade como um todo? Se as reformas políticas em uma economia absolutamente controlada pelo governo não forem eficientes e adaptativas, o fracasso acaba sendo o caminho certo.

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       UNIÃO ENTRE SOCIALISMO E CAPITALISMO

             O capitalismo é o único sistema econômico moderno que provou ser estável a longo prazo na prática, enquanto o socialismo científico se tornou inviável dentro de algumas décadas, e nunca conseguia promover a evolução de elementos visando o Comunismo. De fato, como Marx previa, o socialismo científico mal executado inevitavelmente colapsaria perante o Capitalismo. Aliás, no início da década de 1920, a União Soviética adotou meios capitalistas para fomentar a recuperação econômica do país com o NEP (Nova Política Econômica), programa político famosamente caracterizado por Lenin como "Uma passo atrás, para dar dois à frente". Seria esse o passo inicial de desestabilização do Socialismo Soviético? Além disso, nenhum Estado Socialista ficou realmente livre de elementos associados à propriedade privada.

          Porém, atualmente, quase todos os países capitalistas, diferente do que muitos tendem a assumir, adotam um equilíbrio entre ambos os sistemas, com o predomínio, obviamente da via capitalista. E vários deles obtiveram grande sucesso nessa junção, como a Suécia, Canadá e a Noruega, os quais adotam hoje o sistema já mencionado de Welfare State.

           A realidade é que, na prática, nenhum país exibe zero controle estatal, zero regulação e cobrança zero de impostos. Em uma economia puramente capitalista, não existiriam escolas públicas, estradas controladas pelo governo, trabalhos públicos, seguro desemprego, compensação trabalhista, benefícios sociais, parques públicos, universidades federais/estaduais, etc. Em outras palavras, o Estado deveria apenas garantir a proteção de direitos individuais. Já em uma economia puramente socialista-marxista, seria aquela onde o Estado - representativo do proletariado - controla e opera todos os meios de produção.

            Para tornar mais palpável essas hibridizações de sistemas econômicos, podemos recorrer ao índice EFW (Economic Freedom of the World), o qual vai de 0 a 10 e mede o grau de liberdade econômica. Um país sem liberdade econômica (plenamente socialista) pontuaria 0 no EFW, e um país com total liberdade econômica pontuaria 10. Em 2016, os EUA possuíam um EFW de 8,0, os países Nórdicos uma média de 7,5, e a Venezuela 2,9 (Ref.8). É interessante apontar que os países Nórdicos em 1975 (pico socialista na Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) possuíam um EFW médio de 5,5, evoluindo progressivamente para uma economia mais livre, porém ainda marcada por importantes características socialistas, como o ensino superior gratuito suportado pelo Estado.

           Além disso, temos o corporativismo bastante presente no meio das economias capitalistas. Enquanto no socialismo o governo controla e gerencia diretamente as atividades econômicas, no Corporativismo temos um sistema econômico onde os negócios estão em mãos privadas mas estes estão sendo controlados pelo governo. Aqui, temos a organização de uma sociedade em corporações industriais e profissionais servindo como órgãos de representação política e exercendo algum controle sobre pessoas e atividades dentro das suas jurisdições. Em um Estado corporatista, representantes do governo frequentemente agem no encontro dos seus interesses financeiros para arquitetar políticas que darão a esses interesses uma posição de monopólio, em detrimento tanto da competição quanto do consumidor. Por outro lado, pode também ser uma ferramenta de grandes avanços econômicos e sociais, caso bem implantado. No geral, regimes corporatistas tipicamente promovem grandes projetos governamentais os quais não seriam financiados por empreendimentos privados. Esse sistema também acaba freando o capitalismo e historicamente também esteve lado a lado com ditadores, os quais direcionavam o corporativismo ao seu favor e mando, como ocorreu no Fascismo.

           Enquanto os direitos e liberdades individuais precisam ser respeitados, existe também a importância em se respeitar o interesse do coletivo, sendo talvez ideal o equilíbrio entre ambas as partes. Extremismos em ambos os lados geralmente tendem apenas à decadência. Isso se torna especialmente verdade quando consideramos Estados Socialistas, onde o "bem comum" acaba sendo distorcido e/ou mal planejado por causa da concentração excessiva de poder nas mãos do governo. De qualquer forma, teóricos defensores de uma economia com interferência menos do que mínima do Estado acreditam que também é possível viver em uma sociedade com um capitalismo mais puro sem ferir a democracia e o bem estar geral da população, caso o sistema seja bem planejado. Nesse sentido, defensores mais apaixonados do socialismo também sustentam a mesma ideia, citando inclusive a China como exemplo de um socialismo indo no caminho certo (considerando sua forte economia).

           A busca por um sistema econômico que converse com um sistema político para atender ao máximo possível os conflitantes valores universais modernos (liberdade, igualdade, racionalidade e solidariedade) continua, seja via otimização de sistemas hoje implantados seja através da construção de um sistema completamente novo. Apesar do socialismo científico "puro" ter até o momento falhado, as questões levantadas por Marx em busca da emancipação da sociedade de várias formas prejudiciais de exploração, dominação e alienação continuam ainda pertinentes e sem uma resposta satisfatória quando consideramos o contexto global.

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       CHINA

            Existe uma grande discussão sobre se a China ainda pode ser considerada um país socialista e que ainda persegue os ideais comunistas.

           A Revolução Comunista Chinesa foi guiada por Mao Tse Tung a partir da sua mobilização inicial na década de 1920, através de uma guerra civil e anti-Japonesa (resposta às marcas deixadas pela duro tratamento histórico de guerra dado pelo Japão na região asiática) nas décadas de 1930 e 1940, até a asseguração de poder em 1949 pelo Partido Comunista Chinês e o Exército Vermelho. O Marxismo de Mao foi fortemente influenciado pela ideologia Soviética, mas também incorporado à perspectiva da classe camponesa na revolução.

           Os líderes comunistas na China, assim como outras nações que implantaram o socialismo, também enfrentaram importantes questionamentos em como conduzir o país: se necessário e como implementar o controle social da propriedade na agricultura e na indústria; como alcançar uma rápida industrialização e modernização; como criar as condições políticas necessárias para sustentar o socialismo chinês e a identidade socialista entre a população chinesa; e como confrontar o mundo capitalista. A história da China, desde 1949, centrou-se ao redor dessas problemáticas. Nesse sentido, vários acontecimentos se seguiram, moldando a China que hoje conhecemos:

- O Grande Salto à Frente (1957), no qual a China passou por uma rápida coletivização da agricultura e subsequente alastramento da fome que resultou na morte de dezenas de milhões de pessoas
- A Revolução Cultural (1966-1976), na qual os Guardas Vermelhos por todo o país perseguiram e puniram professores, oficiais e outros segmentos com o objetivo de purificar a política;
- A Reforma da Agricultura baseada no sistema de Responsabilidade Familiar na década de 1980, resultando em um grande aumento de produtividade da economia agrária e grande crescimento econômico na década de 1990 e século XXI

           Bem, nesse ponto é iniciada a discussão. Muitos já não consideram a China um país socialista, onde as reformas econômicas teriam ido longe demais e já não mais partilham dos ideias Marxistas. Porém, é válido lembrar que se considerarmos a definição de 'Socialismo' pelo Marxismo, podemos inclusive jogar a União Soviética como um país não socialista. Ora, se o socialismo busca o combate à escravidão do proletariado gerada pelo capitalismo, o Stalinismo, e sua forte opressão e controle acaba criando uma forma também de escravidão. O trabalhador na União Soviética não tinha uma real escolha no que "investir" com o seu salário, porque não possuía liberdade política e, consequentemente, suas ações eram rigidamente controladas. Nesse sentido, Socialismo não pode, de fato, existir sem a coexistência de liberdade política, porque fere gravemente seu objetivo inicial. Aqui, estamos sendo mais "chatos" com a definição de socialismo, indo além da simples definição de "controle da economia pelo Estado", ou seja, indo além da sua base central e focando também no objetivo. Mas se voltarmos para uma visão mais simplista, será que a China ainda pode ser encaixada em algum espectro socialista?

          Quando olhamos para a sociedade chinesa, já nos deparamos com algo que foge de um capitalismo ideal: seu processo de industrialização é bastante incompleto, onde grande parte da população ainda é camponesa e não proletária, marcando uma economia ainda essencialmente agrária. Essa situação está mudando com relativa rapidez, mas, de qualquer forma, não nos dá uma resposta clara. Indo para a influência do Estado na economia, temos mais um golpe no capitalismo: o governo possui uma forte presença no controle de capital, investimentos e decisões econômicas. Apesar do mercado para serviços e produtos ser amplamente livre do controle estatal - sendo que 95% dos preços dos produtos para o consumidor são determinados pelo próprio mercado - e de que apenas em torno de 20 milhões de pessoas na China trabalham para as empresas do setor industrial do Estado, o governo ainda segura o monopólio ou quasi-monopólio de setores chaves na economia, incluindo telecomunicações, intermediários financeiros, energia e utilidades. Até 2014, 310 das 500 maiores companhias chinesas eram controladas pelo Estado e, em 2011, o lucro dessas 310 foi 4 vezes maior do que o lucro das 190 maiores companhias privadas. Certos estudos apontam que apenas 40% do lucro industrial na China seja oriundo do setor privado.

           E mesmo em companhias não controladas majoritariamente pelo Estado chinês, o governo ainda possui enorme poder sobre muitas delas, sendo capaz de apontar vários dos seus principais executivos. Além disso, 80% dos ativos de bancos são propriedade do Estado, e o governo interfere enormemente nas barganhas relativas aos investimentos estrangeiros, nas negociação dos preços de produtos importados, na canalização de investimentos para o favorecimento de um ou outro setor, entre outros. Isso sem contar o forte programa de censura chinês que atinge toda a sociedade, moldando ainda mais o sistema geral a favor do governo.

            É fato de que existe uma grande liberdade competitiva no setor privado chinês, mas marcas socialistas de pesada intervenção do Estado também estão presentes. Alguns acadêmicos dizem que se o Estado não está subordinado ao capitalismo como uma classe, isso significa que a sua economia essencialmente não é capitalista. Nesse sentido, o Estado chinês está longe de ser apenas uma classe sucumbida perante o capitalismo. Nas próprias palavras de representantes do Partido Chinês Comunista (PCC),  o sistema socialista na China é um "Socialismo com Características Chinesas". Se a China está caminhando ao encontro do capitalismo, fica a dúvida, mas hoje, sob vários pontos de referência, ela definitivamente não possui um sistema econômico primariamente capitalista.

           É válido lembrar que existe uma vertente do Socialismo que desenvolveu um modelo diferenciado para o socialismo de mercado, chamado de Democracia Econômica. Nesse modelo, é previsto ampla competição de mercado junto com o manejamento público de capital e democratização do ambiente de trabalho. Seu desenvolvedor, David Schweickart, acredita que a China está no caminho certo para o real e efetivo Socialismo, longe das atitudes de opressão e absolutismo experienciadas na União Soviética e, que segundo Schweickart, apenas serviu para eliminar o incentivo de trabalho e inovação ao matar os mecanismos de mercado. Mas, obviamente, ainda falta na China um dos três componentes chaves desse modelo: a democratização no ambiente de trabalho.


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     GOVERNO E ECONOMIA

            Aqui entramos com o Comunismo e o Fascismo, onde ambos fazem referência a um sistema econômico e governamental.

      COMUNISMO

           Considerado quase sempre como uma utopia, aqui temos o percurso final traçado pelas ideias de Marx, apesar deste não delinear muito bem como seria esse sistema. O Comunismo é um antiga ideia centrada na propriedade comum de bens. Primeiros registro datam da Grécia Antiga, mais notavelmente na exegese de Platão da boa sociedade - A República - escrita 2500 anos atrás. Mais tarde, algumas das primeiras comunidades Cristãs, acreditando no iminente retorno de Cristo e a criação do Reino do Paraíso na Terra, de fato mantiveram seus bens em propriedade comum. Após esse período, a ideia do comunismo encontra publicações episódicas em alguns trabalhos, como a Utopia (1516) de Thomas More, trabalhos de Gabriel Bonnot de Mably, e o Código da Natureza (1755) de Morelly.

          Em geral, o comunismo se refere ao controle da propriedade pela comunidade com o objetivo de alcançar a completa igualdade sócio-econômica. Nesse cenário, o socialismo científico é uma estrada para se chegar a essa idealização. Porém, o socialismo NÃO é sinônimo de Comunismo, porque se baseia na produção e na justa remuneração dos trabalhadores de acordo com o trabalho desenvolvido por cada um.

           A inspiração chefe do Comunismo é moral: o abandono da propriedade privada de bens e mercadorias para alavancar a harmonia social, onde as pessoas parariam de colocar seus interesses privados à frente do bem comum. O foco passa a repousar na distribuição, onde cada um ganha de acordo com a sua necessidade.

          Fundamentalmente, o comunismo argumenta que todo trabalho pertence ao indivíduo trabalhador, e que nenhum homem pode ser proprietário do corpo de outro homem, ou seja, que cada homem é proprietário do seu próprio trabalho. Aqui os lucros também pertencem ao trabalhador, e aqueles que controlam os meios de produção devem compartilhar o lucro obtido no empreendimento com os trabalhadores que também fazem parte desse sistema, e, novamente, de acordo com a necessidade de cada um.

          Nesse sentido, regimes ditos 'Comunistas' que se alastraram no mundo ao longo do século XX não representaram, de fato, o Comunismo. Foram apenas Estados autoritários que aplicaram de forma violenta uma política econômica pseudo-socialista, justificando os atos anti-democráticos e repressivos com uma alegada busca do Comunismo. Aliás, em última análise, não existem partidos ou mesmo Estado no Comunismo.


      FASCISMO

            A palavra 'fascismo' descende do Latin 'fasces', termo que representa um maço de vara contendo um machado que era usado pelos Romanos para simbolizar seu império. Nesse sentido, o Fascismo surge inicialmente para tentar recapturar a glória e a organização social da Roma Antiga.

          Em geral, podemos definir o Fascismo como um sistema governamental liderado por um ditador que detém o poder absoluto, suprimindo violentamente a oposição e o criticismo, regulando toda a indústria, comércio e outros setores econômicos, e enfatizando um nacionalismo agressivo e frequentemente também o racismo. Mas diferente do Socialismo, o Fascismo não abole a propriedade privada inteiramente (apesar do proprietário privado não ser politicamente livre, o que pode implicar certo controle governamental sobre sua propriedade).

          O fascismo opõe-se à propriedade estatal do capital e, ao contrário do comunismo, a igualdade econômica e social não é um princípio ou objetivo. O objetivo central era desenvolver uma política imperialista de expansão territorial colonial, apoiando-se nas classes médias e atacando/explorando o proletariado. Durante a década de 1930 e no decorrer da Segunda Guerra Mundial, o comunismo e o fascismo representaram extremismos na dinâmica política da Europa. Hitler, por exemplo, justificou tanto o anti-Semitismo quanto a ditadura em grande parte através da luta contra o comunismo.

          Além disso, até mesmo a Igreja atuou massivamente em todos os países europeus fascistas (Alemanha, Itália, Espanha e Portugal), carregando questões religiosas e morais frente à ameaça do "ateísmo comunista".

          O Fascismo combate todo o sistema complexo de ideologia democrática, repudiando sua premissa teórica ou sua aplicação prática. O Fascismo nega que a maioria, pelo simples fato de ser a maioria, possui o direito de decidir pelo destino de todos e, portanto, também repudia o direito universal de voto.

            Existe também uma ampla discussão acadêmica em relação às diferenças entre o Fascismo "clássico" - praticado na Itália - e o Socialismo Nacional (Nazismo). Muitos gostam de separar os dois, mas é inegável que os mesmos partilham de grandes similaridades. Em ambos, ideias foram combinadas com uma xenofobia altamente emotiva e cruéis formas exacerbadas de Nacionalismo. Além disso, a partir de 1938, o racismo e o antissemitismo também se tornou oficial no regime Italiano. As "raízes" aqui podem ser traçadas aos antagonismos entre crescente monopolização industrial e o sistema democrático. Em ordem de permitir a sobrevivência do monopólio capitalista, a classe trabalhadora de oposição tinha que ser neutralizada. Ou seja, as instituições democráticas não mais poderiam servir como efetivos canalizadores para o capitalismo (porém, no caso, um capitalismo fortemente reprimido pelo corporativismo). Assim, para a produção continuar e os lucros continuarem subindo, um terror totalitário era requerido.

           Ambos, Socialismo Nacional e Fascismo, foram usados para reprimir a classe trabalhadora para os interesses de grandes empreendimentos, bancos e várias outras preocupações financeiras mais urgentes. Foram movimentos de reação da classe média - apesar de englobar todas as classes, no geral - contra o Socialismo e o Liberalismo em um período de sérias revoltas sociais e políticas, e crise na Europa, aproveitando as instabilidades deixadas como marcas da Primeira Guerra Mundial. Em outras palavras, apesar de existirem óbvias diferenças, especialmente o maior foco racista e antissemita do Nazismo (superioridade da raça Ariana, principalmente em detrimento dos judeus), podemos englobar ambos os sistemas na mesma família ideológica.

           Uma outra diferença válida de ser citada entre a implantação do Fascismo na Itália e do Nazismo na Alemanha é o fato de que essa última, já na década de 1920, estava bastante industrializada e bem à frente dos italianos no aspecto socioeconômico.


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     DIREITA E ESQUERDA

          O uso das categorias esquerda e direita para indicar preferências políticas remonta à Revolução Francesa, na reunião dos Estados Gerais, no final do século XVIII. Delegados identificados com igualitarismo e reforma social sentavam-se à esquerda do rei; delegados identificados com aristocracia e conservadorismo, à direita. E o nascimento da distinção entre ambos os termos vem em sentido de disposição literalmente espacial, criando uma separação entre a defesa da ordem (conservadorismo) e a defesa da mudança (liberalismo) ao longo do século XIX.

            Com a expansão do movimento operário e a propagação das ideias marxistas o conteúdo da posição de esquerda passa a incorporar a defesa dos interesses da classe proletária. Com os debates da socialdemocracia no final do século XIX e a revolução russa de 1917, a defesa do capitalismo desloca a burguesia para a direita.

           A emergência do keynesianismo a partir da década de 1930, por sua vez, e dos estados de bem-estar social com suas políticas redistributivas, reforçaram a oposição entre a liberdade de mercado e o Estado interventor, deslocando também o liberalismo para a direita. Eventos como o colapso do socialismo real no leste europeu, a crise fiscal do welfare-state, a consequente proliferação do neoliberalismo e as revisões operadas nos partidos social-democratas levaram tanto a direita quanto a esquerda a migrarem mais para o centro. O fim da União Soviética e a queda do Muro de Berlim (e do Leste europeu socialista) retiraram as bases materiais mais fortes que sustentavam o movimento comunista mundial, forçando a esquerda a se reformar em significativa extensão.

             Até o final do século XX, os rearranjos globais mudaram bastante ambas as ideologias, especialmente quando se analisa país por país, mas a essência que vincula a defesa da igualdade social - herdeira de princípios socialistas - com a esquerda, e a defesa do livre mercado capitalista com a direita sobreviveram em termos relativos.

           Bem, nesse ponto, temos já definidas duas coisas: a distinção entre Direita e Esquerda na política existe muito antes do Socialismo se tornar uma significativa força na Europa, e continuou a existir nos países que clamaram a adoção do socialismo como base dos seus sistemas econômicos; e que - muito importante - não existem termos absolutos para descrever ambas as tendências políticas, onde o complexo espectro de ideologias mudou - e ainda continua mudando - ao longo da história.

            Ideologia política se refere à um conjunto inter-relacionado de atitudes e crenças dividido com um grupo identificável, e que funciona para organizar, motivar e direcionar comportamentos políticos. A maior parte das ideologias políticas são identificadas pelas suas posições em um espectro político, este o qual normalmente é descrito ao longo de uma linha 'esquerda-centro-direita'.

          Porém, como já dito, é preciso reconhecer que várias ideologias desafiam qualquer tentativa de categorização, especialmente porque elas englobam visões em diferentes partes do espectro. Segundo Norberto Bobbio, importante filósofo e historiador Italiano do pensamento político moderno, as atitudes em relação às (des)igualdades distinguem a direita e a esquerda. Ao ser mais igualitária, a esquerda busca reduzir as desigualdades sociais e procura fazer com que as desigualdades naturais sejam menos dolorosas. Ao contrário, a direita é mais desigualitária: acredita que a maioria das desigualdades são naturais e que, portanto, não podem ser erradicadas, e não considera o dever do Estado reduzir as desigualdades sociais. Essa definição de Bobbio seria a essência diferindo ambos os espectros políticos. De qualquer forma, podemos tentar ampliar essa definição englobando também tendências:

Esquerda: É uma ideologia que, em seu núcleo, preocupa-se em denunciar as desigualdades sociais e econômicas. Igualdade de oportunidades é visto pelos apoiadores da esquerda como essencial, e, para alcançar tal fim, seria necessário eliminar as práticas descriminatórias (exclusões baseadas na renda, raça, etnia, orientação sexual ou crença religiosa) e que a concentração de riquezas deve ser reduzida (taxando com maior peso os mais ricos, por exemplo). Geralmente advoga vigorosamente políticas públicas para reduzir ou eliminar essas desigualdades, vendo o governo como o meio para fazer isso possível, enquanto preservando liberdades/direitos civis e valores progressivos (quanto mais democrático se torna o governo do Estado, mais público ele se torna, ou seja, atende mais às demandas dos cidadãos e menos às das minorias poderosas). Acredita que a política pública deveria sempre focar na igualdade de direitos e que deve ser responsabilidade do governo assegurar a todos os cidadãos o acesso a um plano de saúde de fácil conquista, educação de qualidade, um ambiente limpo e programas de segurança social. Acredita, no geral, em programas de ações afirmativas, foco na saúde e proteção do trabalhador, e direito de firmar sindicatos com o intuito de atacar em defesa dos seus ideais.


Direita: Seus defensores, em geral, possuem preferência pela ordem já existente na sociedade e tendem a resistir a maior parte dos esforços de instalação de rápidas e fundamentais mudanças, porém esse conservadorismo está longe de ser uma regra. Em contraste com os defensores da esquerda, a direita busca inflamar a liberdade individual através da menor interferência do governo, exceto em áreas de defesa nacional. A direita acredita que as pessoas precisam de fortes instituições de liderança, firmas de advogacia e estritos códigos morais, sendo que suas bases de defesa frequentemente aderem a ensinamentos religiosos e à moralidade tradicional, tendendo também a desvalorizar teorias sociais promovidas por filósofos seculares, economistas e outros intelectuais. Para exemplificar essa linha, a direita tende a querer eliminar a prática do aborto, programas de ações afirmativas e sindicatos trabalhistas. Para a direita, o estado de direito ou o império da lei tem absoluta precedência sobre a justiça. A direita mais extremista tende a aceitar todas - ou quase todas - as desigualdades da sociedade em termos de riqueza, status e privilégios, frequentemente suportando um retorno para uma ordem política-econômica anterior, menos igualitária e mais hierárquica. O espectro de direita, nesse sentido, tende a carregar a crença de que as desigualdades sociais são naturais e não elimináveis, defendendo também um Estado forte e o Nacionalismo.

Moderados (Centro): Os moderados geralmente representam uma mistura de ideologias tanto liberais quanto conservadoras, assumindo um amplo e diversificado espectro de ideais. Muitos criticam o centrismo ao acusarem este de muitas vezes vestir um ou outro lado do espectro político como um camaleão, dependendo da ocasião, para ganhar vantagem no oportunismo. Já outros defendem que o centro é um importante ponto de equilíbrio para o sistema político. Um exemplo bem conhecido hoje de representação centrista (no caso, centro e liberal) é o Partido En Marche!, do Presidente francês Emmanuel Macron.


            Obviamente, essas definições são muito generalistas e devem ser levadas mais como uma base de referência do que uma cartilha literal. Existem diversas variações dividindo ambos os lados do espectro político, todas com características bem distintas entre si. Nesse sentido, a urgência em tentar classificar conclusivamente um ou outro lado entre a população muitas vezes acaba gerando problemas e dificuldade de diálogo. Em um clássico exemplo, a esquerda há muito tempo acusa a direita de quebrar a comunidade através da sua ênfase exagerada nos direitos de liberdade individual em detrimento do mais amplo interesse da comunidade. Já a direita acusa a esquerda do mesmo modo, mas com base de que ela denigre os valores religiosos e tradicionais para supostamente favorecer o todo. Além dos ataques serem extremistas - algo que tende a ocorrer quando um lado critica o outro -, a direita, por exemplo, esquece-se que assim como existem indivíduos da esquerda religiosos, existem também indivíduos da direita ateus. O mesmo erro vale para a esquerda, que sempre tende a associar a direita com um tradicionalismo obrigatório.

             Nesse sentido, temos ainda outro clássico exemplo. É muito comum as pessoas jogarem a esquerda para o socialismo-marxista/comunismo e a direita para o capitalismo, com alguns até mesmo dizendo que os termos são praticamente sinônimos. Embora o ideal socialista continua a ser um ideal das esquerdas, o socialismo científico na prática têm se mostrado falho. Mesmo em países com alto IDH, impor um sistema socialista mais puro e de sucesso é tido pela maioria do lado liberal como algo quase impossível. A esquerda moderada hoje, por exemplo, tende a pensar no socialismo científico como uma utopia e trata de promover de forma reformista a justiça social e a defesa do meio ambiente apoiando-se também em elementos do capitalismo.

            Em mais um exemplo, desta vez recente, a mais do que popular comentadora política conservadora nos EUA, Tomi Lahren, chegou a ser suspensa do seu talk show - Tomi - depois de defender o aborto como um direito devido à mulher. Políticas anti-aborto são uma visão fundamental da plataforma do Partido Republicano e dos conservadores norte-americanos. No programa da ABC, The View, ela afirmou, em relação ao aborto: "Eu sou alguém que defende uma limitação da interferência do governo, portanto, eu não posso sentar aqui e ser uma hipócrita dizendo que eu sou a favor de uma limitação governamental mas ao mesmo tempo ser a favor do governo decidir o que uma mulher pode ou não fazer com o seu corpo." Ela também acrescentou: "Fique longe das minhas armas, e também do meu corpo." Isso gerou uma grande repercussão negativa entre os conservadores e crítica de vários seguidores, principalmente pela parte do ´hipócrita´.


           Esse é último incidente é mais um exemplo mostrando que o espectro político está longe de ser preto e branco, e que a essência da direita não é o conservadorismo ou a irrestrita defesa da liberdade individual. Além disso, cada faixa do mesmo irá sofrer variações dependendo do país e posição geográfica sendo analisada, já que fatores culturais e históricos diferenciados deixam suas marcas distintas na construção política. Contribuem também para essa dificuldade a distinção entre liberalismo econômico e liberalismo político, a freqüente confusão com a dimensão progressista-conservador, os partidos religiosos na Europa, as peculiaridades do sistema partidário norte-americano, o fundamentalismo, o já citado fascismo, o esmorecimento das fronteiras entre as bases sociais de classe dos partidos, e mais recentemente, o neoconservadorismo e a dificuldade de enquadrar as chamadas questões pós-materialistas, tais como a questão ambiental e as questões étnicas e de nacionalidades


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       DIREITA E ESQUERDA NO BRASIL

            Atualmente, o Brasil tem trinta e cinco partidos políticos legalizados no Tribunal Superior Eleitoral, existindo mais 34 em processo de formação. Os principais partidos possuem apenas em torno de 30 anos de existência, criados a partir da abertura democrática que destituiu o bipartidarismo do período autoritário. Em 1982, o sistema partidário brasileiro somava 5 partidos, com o número crescendo acentuadamente desde então.

           Deixando de lado o debate sobre a real necessidade de tantos partidos, o cenário político brasileiro apresenta características peculiares que dificultam a distribuição das suas dezenas de partidos no espectro ideológico. Primeiro, é preciso considerar que somos uma ex-colônia de exploração. Segundo, por conta da experiência histórica da ditadura militar e da transição, a esquerda brasileira incorpora reivindicações consideradas por muitos como de direita: liberdade, direitos humanos e constitucionalismo, por exemplo; já a direita também incorpora características da esquerda: a forte defesa da democracia, por exemplo.

         Outra peculiaridade da nossa história é a questão do liberalismo econômico. Enquanto esse liberalismo (laissez-faire) e o Estado mínimo constituem um fundamentalismo de direita na Europa, aqui a direita é aquela que mais demanda a atuação do Estado na economia. Não faz muito sentido ter a direita brasileira como condenadora do protecionismo - como muitos tendem a supor - já que foram exatamente os governos da ditadura militar, invariavelmente classificados como de direita, que adotaram barreiras comerciais à importação com o objetivo de alavancar o desenvolvimento da indústria nacional.

          Além disso, como já falado, é preciso tomar cuidado ao associar o progressismo-conservador com o eixo esquerda-direita. Apesar de ser frequente uma adoção de ideais conservadores por aqueles aderentes à direita, isso está longe de uma regra. É o mesmo que afirmar que a esquerda é ateísta e a direita é religiosa.

          Para tentar encaixar os partidos brasileiros no espectro ideológico, é preciso levar em conta, além de fatores globais (como efeito ´pós-Muro de Berlim´) nossa grave questão de desigualdade econômica, a herança do governo militar e o grau de intervenção do Estado na economia. Apesar de questões pós-materialistas já estarem sendo abordadas com significativa ênfase pela nossa política, os abismos socioeconômicos fazem com que as mesmas percam boa parte da força quando comparamos com países europeus, por exemplo. Nesse sentido, um trabalho realizado pela Doutora em Ciência Política, Gabriela da Silva Tarouco, e pelo Doutor em Ciência Política, Rafael Machado Madeira, e publicado em 2013 (Ref.28), tentou organizar os partidos políticos no Brasil no espectro direita-esquerda usando dois conjuntos de critérios:

I. Como categorias indicativas de posicionamento à esquerda: regulação do mercado, planejamento econômico, economia controlada, análise marxista, expansão do Welfare State e referências positivas à classe trabalhadora;

II. Como categorias indicativas de posicionamento à direita: menções positivas às forças armadas, livre iniciativa, incentivos, ortodoxia econômica, limitação do Welfare State e referências favoráveis à classe média e grupos profissionais (para contrastar com as referências à classe operária).

           Com essas bases analíticas, e analisando o conteúdo dos manifestos de 11 partidos de maior importância selecionados (onde considerou-se também as siglas em diferentes décadas), foram obtidos valores percentuais de afinidade. Valores negativos representam posições de esquerda e valores positivos valores de direita. Aqui, portanto, considera-se +100 e -100 como as extremas direita e esquerda, respectivamente.



           Como podemos ver, no geral o cenário político brasileiro mais atuante tende mais para a esquerda, mas ao mesmo tempo afasta-se bastante dos extremismos, concentrando mais próximo do centro. Apenas dois (PFL* e PSDB) são considerados de direita. Essa tendência está diretamente relacionada com a brutal desigualdade social existente no país. Essa desigualdade, somada aos baixos níveis de educação e de formação cívica do povo brasileiro, fazem esse último esperar dos políticos um discurso voltado para melhor distribuição de renda. Como representante de maior importância da esquerda temos o PT e como representante de maior importância do centro temos o PMDB.  Lembrando, claro, que essa é apenas mais uma tentativa de classificação. *O PFL foi sucedido pelo DEM (Democratas), em 28 de Março de 2007.

             E para mostrar que essas classificações são relativamente frágeis, basta nos lembrarmos que o PSDB, no passado, era considerado um partido de centro-esquerda, mas, quando chegou ao poder, mudou seu perfil programático, caminhando para o lado direito do espectro. Fernando Henrique Cardoso, que se apresentava inicialmente como um representante intelectual da esquerda, migrou para a centro-esquerda durante seu governo e adotou medidas de direita no decorrer do mandato. Foi de centro-esquerda na área social, na medida em que aumentou a carga tributária e gastou mais e com mais competência em educação, saúde, reforma agrária e assistência social. Mas seu governo acabou concentrando renda. Adotou uma política cambial que aprofundou a desnacionalização da economia brasileira e levou a duas crises de balanço de pagamentos. Adotou igualmente uma política monetária de elevadas taxas de juros do Banco Central (BC), a qual beneficiou os rentistas, ou seja, os que vivem de juros, e o sistema financeiro que recebe comissão dos rentistas.


         A eleição presidencial de Lula, em 2003, também mostrou bem essa volubilidade, onde as medidas tomadas pelo governo petista tenderam um pouco para a direita, sendo até justo uma classificação na época de centro-esquerda. O fato de a transição para o novo governo dos Partidos dos Trabalhadores ter sido absorvida sem grandes choques pelo empresariado nacional e pelo próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) - que elogiou as medidas sendo tomadas - é sintomático de que a nossa linha política não contém elementos que entram em fervoroso confronto entre as ideologias de oposição. O governo Lula não apenas se comprometeu a atingir as metas propostas pelo FMI, como, por conta própria, aumentou a meta do superávit fiscal primário por intermédio de um corte nos gastos do governo que diminuiu as verbas necessárias para vários projetos na área social e de investimentos.

          Apesar de um governo de real esquerda em um país capitalista ser viável - como pode ser visto nos oito anos do partido trabalhista no Reino Unido e nas grandes melhoras sociais e econômicas tragas nesse período -, o Brasil ainda possui desigualdades socioeconômicas muito profundas, ficando difícil conciliar grandes gastos em prol do social com um satisfatório crescimento econômico e agrado da elite que concentra a renda. Assim, mesmo o povo moldando um perfil de esquerda nos programas de grande parte do nosso espectro político em busca de políticas distributivas, os governos eleitos acabam sendo puxados para a direita, afastando-se do social para focar no econômico e quase sempre sucumbindo à corrupção imposta pelo sistema concentrador das riquezas.


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     EXTREMA DIREITA, EXTREMA ESQUERDA E NAZISMO

           Recentemente, centenas de supremacistas brancos e manifestantes antirracismo entraram em violento confronto nas ruas da cidade de Charlottesville, em Virgínia, EUA.


           A cidade, com cerca de 47 mil habitantes, decretou estado de emergência e virou palco de guerra quando supremacistas brancos e grupos nacionalistas extremistas carregavam tochas e palavras de ordem contra imigrantes, negros, homossexuais e judeus. Em meio a demonstrações nazistas, gritos a plenos pulmões:

"Vocês não nos substituirão!"

"Judeus não nos substituirão!"

           Ativistas vestidos de militares carregavam escudos e exibiam armas de grosso calibre, além de muitos hastearem a bandeira dos confederados. Até o momento, uma pessoa morreu. Os grupos de ódio alegam que o avanço de direitos para imigrantes e negros levaria à extinção deles do território norte-americano. Muitos estavam carregando bandeiras do Donald Trump, afirmando:

"Nós iremos concretizar as promessas de Trump de tomar o nosso país de volta."

           O gatilho para a marcha de ódio - iniciada na noite de sexta-feira - veio depois que a administração local decidiu retirar de um parque uma estátua do general Robert E. Lee (1807-1870) e remover outras homenagens a líderes confederados de locais públicos. Durante a Guerra Civil dos EUA (1861-1865), os Estados do Sul se reuniram em uma confederação para lutarem pela independência e manter o direito de terem escravos (essa última defesa visando o apoio de regiões onde o trabalho escravo era muito lucrativo). Derrotados, os sulistas seguiram sob o controle de Washington.

          O caso ainda está gerando bastante repercussão na Justiça, e existe muita controversa sobre os planos de retirada das estátuas dos Confederados de locais públicos do país, sendo que o Trump rejeita bastante a ideia, afirmando que isso irá destruir parte importante da história do país.


         Bem, mas somando-se a à tragédia, outro conflito foi disparado pelo incidente, especialmente nas redes sociais: a afirmação pela maior parte da mídia de que o movimento 'pró-nazista', xenofóbico e homofóbico era de 'extrema-direita'. Aqueles que defendem a direita mostraram grande indignação e, surpreendentemente, muitos também retribuíram a acusação afirmando que o nazismo, assim como toda forma de fascismo, era algo da extrema-esquerda. Aliás, esse é um debate já antigo.


           Da mesma forma que em 1922 o Fascismo na Itália adereçou a restrição do laissez faire do capitalismo através de uma Terceira Via Corporatista - em um "meio" termo entre o comunismo e o capitalismo -, o Nazismo Alemão também adotou uma Terceira Via para atingir seus objetivos. Combatia tanto o socialismo marxista quanto o capitalismo liberal que existia na época. O suporte dos industrialistas e Capitalistas pelo Fascismo, incluindo o Nazismo, foi amplo, especialmente entre diferentes países, mas isso não quer dizer que havia um extremismo de direita caracterizando a essência do Fascismo. Ambos marcaram um regime totalitário único. No geral, o Nazismo procurava um socialismo mais voltado para o nacionalismo, e ia de encontro com à perspectiva de revolução global propagada pelo marxismo. Isso sem contar o foco racista - algo que destoa de qualquer princípio de esquerda - e a refutação da existência de uma luta de classes.

           E é nesse ponto que surgem as confusões e acusações de ambos os lados - direita e esquerda -, por causa dessas defesas meio contraditórias. O intenso uso de propagandas e a extrema intervenção do Estado na vida pública e privada do país levam muitos a compararem o regime com aquele da União Soviética ("Socialismo"). Já a grande perseguição a vários grupos, incluindo homossexuais, ciganos e testemunhas de Jeová, leva muitos a classificarem o Nazismo como extrema direita (em ligação com os grupos que pregam contra a comunidade LGBT, contra imigrantes e contra muçulmanos, por exemplo). Sob análise desse balanço, é por isso que faz mais sentido encaixar o Nacional-Socialista como uma Terceira Via. De qualquer forma, a nível internacional, acadêmicos e instituições de pesquisa - como o Museu do Holocausto em Israel - tendem a classificar o Nazismo como uma movimento de extrema-direita, por causa do seu grande foco Nacionalista e amplo apoio sobre o racismo.


           No final, fica que regimes totalitários são regimes totalitários. Ideologias saudáveis de esquerda e direita acabam se perdendo em ambos, sendo impossível jogar com certeza a União Soviética e o Fascismo, por exemplo, em um ou outro. Regimes totalitários mesclam e/ou distorcem o espectro ideológico de uma forma única e sempre gerando como resultado graves infrações aos direitos humanos. E é válido lembrar também que tanto o extremismo de direita quanto o de esquerda tendem a ferir os direitos humanos de forma grave, e não é só porque afastamos a exclusividade de ambos do Nazismo ou outros regimes totalitários que devemos fazer vista grossa para esses extremos ideológicos, ainda mais considerando que os mesmos são fontes de elementos estruturais desses violentos regimes.

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REFERÊNCIAS
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