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Mitos e correções históricas VI




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              Mais uma vez, pessoal, estamos aqui para mergulhar na História e corrigir os mitos e desinformações que acabaram ficando raízes no meio popular ou até mesmo acadêmico. Seja por causa de novas descobertas seja por distorções se acumulando no ´boca-a-boca´, iremos explorar 6 correções e esclarecimentos hoje, começando pelo nosso grande Marco Polo (ou será nem tão grande assim...?).


1.Será que o Marco Polo realmente viajou para a China?




Marco Polo é notável na história como um excepcional explorador, tendo supostamente viajado para várias partes do globo. Hoje, o livro associado ao explorador, ´Le devisamente dou monde´, completa mais de 700 anos e é uma narrativa das aventuras de viajante feita pelo próprio Marco Polo, sendo o livro mais vendido na época e uma das grandes fontes de entendimento moderno do mundo no século 13. Nele, é dito que ele foi a China e voltou com várias novidades, mas qual será a veracidade nessa história?

Pesquisadores há muitos anos vem questionando as histórias narradas por Marco Polo, o qual pode ter sido um belo de um marketeiro safado (Risos). No caso da sua viajem à China, vários historiadores acham que ele nem mesmo pisou no país. Evidências disso vem que dentro do seu livro ele não faz menção a costumes bastante comuns praticados na China (e impossíveis de não serem notados) - como o hábito de se tomar chás e o uso de palitos de madeira para comer - e que os arquivos chineses antigos não mencionam nenhuma vez sequer o nome do explorador, pelo menos o que se conseguiu examinar até hoje. Além disso, alegações de que Marco Polo teria participado do cercamento e captura de uma cidade chinesa, Xiangyang, é mais do que falso, já que essa cidade em específico já tinha tido o seu fim 1 ano antes da suposta chegada dele na China. O mesmo é válido para suas afirmações de que ele foi governador da cidade de Yangzhou, algo sem base histórica. E, falando em cidades chinesas, ele descreve ela em seu livro e citações diversas com muito poucos detalhes, diferente do que fazia em outras partes onde ele realmente esteve (segundo alguns historiadores, ele nem mesmo ultrapassou as fronteiras de Constantinopla ou do Mar Negro). Sob esse ponto de vista, é provável o Marco Polo ele criou histórias baseadas em contos que ele ouvia em outras partes do Oriente.

Por outro lado, alguns historiadores defendem Marco Polo. Mesmo concordando que o nosso supervalorizado explorador realmente inventou diversos fatos para ficar "mais bonito na fita", muitas evidências apontam também que ele realmente esteve na China. Quando olhamos para o seu vasto conhecimento dos Mongóis e as relações destes com os chineses, seria suficiente para provar que ele, de fato, chegou a passar pelos territórios chineses. Além disso, a China não ter arquivos sobre ele seria fácil de ser explicado se considerarmos que muitas das histórias de Marco Polo são falsas e que sua influência na China foi menos do que mínima, não fazendo peso para uma citação histórica no país. Já a falta de detalhamento das cidades e omissões dos hábitos chineses seria explicado como sendo uma consequência dos resumos das suas histórias para serem publicados em livros e outros arquivos, onde muita coisa ficou de fora, talvez em notas de diários secretos. Alguns recentes estudos também mostram que especiarias, moedas e aspectos financeiros na China descritos por Marco Polo não poderiam ter sido inventados em suas descrições caso ele não estivesse estado lá.

Bem, no final, sabemos que o Marco Polo não era o "Senhor da Sinceridade", mas não resta dúvida que as opiniões se dividem bastante entre os especialistas quando o assunto é a sua viagem à China. (Ref.1,2,3,4 e 5)



2. Marco Polo trouxe o macarrão para a Itália?



E você também achava que o Marco Polo era o responsável por trazer o macarrão para a Itália? Bem, tire isso então da cabeça porque a história não passa de outro mito envolvendo nosso famoso explorador.

Existe uma controvérsia entre os historiadores de qual foi a origem do macarrão no território italiano, mas a teoria mais aceita que as invasões árabes no século 8 trouxeram um produto alimentício similar até à Sicília, este o qual foi então moldado pela culinária italiana até originar o nosso conhecido macarrão. Porém, uma coisa é certa: o macarrão chegou à Itália muito antes do suposto retorno de Marco Polo da China.

No fim, a origem do macarrão é tanto chinesa quanto italiana. Ambos as nações desenvolveram uma receita similar, com algumas pequenas diferenças no trigo utilizado e modo de preparo. A partir de ambos os territórios, o macarrão alçou voo para o resto do mundo. (Ref.6, 7 e 8) 




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     3. Parceira entre Marlowe e Shakespeare! 



Christopher Marlowe (1564-1593), um influente dramaturgo, poeta e tradutor inglês, bastante conhecido pelo roteiro de Doctor Faustus, e que era suspeito de ter participação em algumas obras de Shakespeare (1564-1616), recebeu finalmente crédito oficial nas páginas do roteiro de Henry VI. Segundo um recente e grande estudo estilometria feito pela Universidade de Oxford (Ref.9), Reino Unido, é clara a participação de Marlowe como co-autor na peça. Agora, a obra receberá, oficialmente, o nome dos dois autores como assinatura.

Apesar de vários dramaturgos da época serem rivais, eles acabavam influenciando um ao outro na construção das suas peças. Mas a colaboração entre eles para a escrita de obras parece ser maior do que antes imaginado. No caso do Shakespeare, uma pesquisa feita por 23 acadêmicos internacionais, já identificou 17 das 44 peças peças do inglês que foram co-escritas por outros autores (Ref.10).

Aliás, existe a dúvida de muitos há séculos se algumas ou todas as peças de Shakespeare foram totalmente escritas por outros autores, como Marlowe e Edward de Vere. Será?

*Na imagem acima, Marlowe à direita e Shakespeare à esquerda.



 
      4. Gaetan Dugas foi o Paciente Zero?



Um estudo publicado recentemente pela Nature (Ref.10) mostrou que Gaetan Dugas, um homossexual nos EUA que era creditado como Paciente Zero da Aids no país durante os anos de 1970, na verdade era apenas um entre milhares de infectados nessa época.

Gaetan Dugas, um funcionário da companhia aérea Air Canada e que morreu no ano de 1984, era demonizado como a primeira pessoa a trazer o vírus para os EUA, e isso veio depois de uma confirmação dada pelo US Centres for Desease Control. Mas analisando o sangue de 2 mil amostras dos anos de 1970, de New York e San Francisco, foi possível ver que a diversidade genética dos vírus HIV encontrados era muito alta poucos anos antes de 1980. Isso significa que o vírus provavelmente chegou nos EUA no início dos anos de 1970 (1970-1971) e não é possível que Dugas fosse o primeiro caso (sendo que os sintomas dele começaram a surgir já indo para o final dessa década). Somando-se a isso, os dados genéticos da amostras do vírus no sangue de Dugan e uma pesquisa histórica no CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) mostrou que ele não era o primeiro paciente com Aids reportado.

Além de desmistificar essa ´lenda científica´, o estudo mostrou que a epidemia veio da África para o Caribe em torno do ano de 1967 e, em 1971, chegou à New York, onde, então, se dirigiu para
San Francisco próximo de 1976, se espalhando, finalmente, para todo o território norte-americano.

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       5. Qual é a origem da feijoada?



Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a feijoada não teve origem nas senzalas do Brasil. Segundo a história contada, os escravos aproveitavam os restos de partes do porco, como pés, orelhas e rabo, descartados pelos Senhores da Casa-Grande, para fazer a base do prato conhecido hoje como feijoada. Mas isso não passa de uma lenda, porque naquela época nem mesmo essas partes do porco eram descartadas, onde tudo era aproveitado pelos Senhores, já que carne era um produto muito escasso e valorizado aqui no período colonial. Isso sem contar que essas partes do porco eram apreciadas na Europa. Os escravos viviam com um mínimo para sobreviver e qualquer tipo de carne era bastante raro em suas refeições. A alimentação base nas senzalas era uma mistura de feijão e farinha de mandioca, herança dos indígenas no país.

Além disso, imagina a quantidade de carne de porco que teria que ser consumida na Casa-Grande para dar conta dos inúmeros escravos na senzala. Algo mais do que improvável naquela época. De qualquer forma, não existe evidências históricas que corroborem uma suposta origem brasileira desse prato.

É provável que a feijoada teve origem do ´cozido português´. A partir dele, variações europeias começaram a surgir, onde feijão e carnes eram misturados (no caso, feijão branco) na Europa, como o cassoulet francês. Ao chegar no Brasil, outras variações teriam sido feitas com a receita, onde entrou o feijão preto, couve, laranja, entre outros. (Ref.11, 12 e 13)



6. O que fomentou a Guerra do Paraguai?




Sempre foi um erro comum no ensino da história apontar os ingleses como financiadores da Guerra do Paraguai. A justificativa seria que o Paraguai estava se desenvolvendo muito, o que poderia ameaçar o monopólio da Inglaterra no comércio da América do Sul. Mas isso não faz sentido nenhum, primeiro porque o Paraguai estava realmente crescendo mas nunca teria o mesmo poder inglês; e, segundo, a Inglaterra lucrava muito com a industrialização em exponencial dos paraguaios pois ela é quem vendia as tecnologias e peças de base para o país.

Na verdade, ainda não existe um consenso entre os historiadores sobre o verdadeiro motivo para o ditador paraguaio Francisco Solano López declarar guerra ao Brasil, em 13 de dezembro de 1864, o maior erro do Paraguai na História. Alguns dizem que isso fazia parte das políticas expansionistas de Solano, mas outros dizem que o ditador ficou com medo das intenções brasileiras quando nós invadimos o Uruguai (com a alegação de que era necessário intervir na guerra civil ocorrendo no país, a qual poderia afetar negativamente o Império brasileiro). No primeiro caso, o Paraguai estaria buscando novos territórios, especialmente uma saída livre para o mar através dos domínios do Rio da Prata, visando se livrar das tarifas alfandegárias cobradas pelos argentinos. Já no segundo, o país agiu de forma não pensada por medo, e Solano poderia ter achado que ganharia um apoio da Argentina. No geral, independente dos interesses envolvidos, especialistas dizem que uma guerra em grande escala nessa região sul-americana seria inevitável, considerando a situação geopolítica ali na época.

A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado da América Latina, onde a Tríplice Aliança (Argentina, Uruguai e Brasil) lutou contra o Paraguai, destruindo totalmente este último durante o período de anos entre 1864 e 1870. Estimativas colocam que cerca de 90% da população masculina acima de 20 anos do Paraguai foi morta na guerra, e o país, até hoje, não se recuperou plenamente do conflito. (Ref.14, 15 e 16)

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REFERÊNCIAS
  1. http://vc.bridgew.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1904&context=br_rev
  2. https://www.amherst.edu/system/files/Jackson%2520Marco%2520Polo.pdf
  3. http://uschinaforum.usc.edu/topic19140-did-marco-polo-go-to-china.aspx
  4. http://www.history.ac.uk/reviews/review/1667
  5. http://afe
  6. https://cup.columbia.edu/book/pasta/9780231519441
  7. https://www.amherst.edu/system/files/Jackson%2520Marco%2520Polo.pdf
  8. https://www.amherst.edu/system/files/Jackson%2520Marco%2520Polo.pdf
  9. https://www.theguardian.com/culture/2016/oct/23/christopher-marlowe-credited-as-one-of-shakespeares-co-writers
  10. http://www.bbc.com/news/entertainment-arts-37750558
  11. http://www.nature.com/articles/nature19827.epdf
  12. http://www.pucsp.br/maturidades/sabor_saber/quem_feijoada_34.html
  13. http://super.abril.com.br/ciencia/a-feijoada-foi-criada-pelos-escravos
  14. A Origem da Feijoada - Universidade Anhembi Morumbi
  15. http://www.museus.gov.br/tag/guerra-do-paraguai/
  16. http://www.defesa.gov.br/index.php/noticias/13840-especialistas-debatem-perspectivas-de-estudos-sobre-historia-militar
  17. http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/12/apos-150-anos-estopim-da-guerra-do-paraguai-ainda-gera-controversia.htm