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Chá verde emagrece?



- Atualizado no dia 9 de abril de 2021 -

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          O chá verde é um dos produtos mais difundidos no mundo, muito popular na cultura Asiática e ganhando cada vez mais espaço no Ocidente. Porém, o chá verde chegou ao lado não-Oriental vendido principalmente como um poderoso emagrecedor natural, mesmo sem sólido suporte científico para tal. Para vendê-lo como um produto de emagrecimento, os fabricantes aproveitaram evidências escassas e não significativas e as extrapolaram para afirmações que se afastam muito da real ciência.

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          Assim como o chá preto, a versão verde dessa bebida utiliza como matéria prima as folhas secas da planta Camellia sinensis, mas sem passar pelo processo de fermentação que escurece o produto. Isso conserva os pigmentos verdes da folha e grande parte da massa de polifenóis, estes últimos os grandes suspeitos de serem os responsáveis por todos os possíveis efeitos benéficos do chá verde. Cerca de 30% da massa das folhas é composta por esses polifenóis, os quais são representados por flavanóis, ácidos fenólicos, flavandióis e flavonóis, com todos tendo, como generalização, o nome de catequinas. O resto é dividido entre aminoácidos, carboidratos, fibras, vitaminas, minerais, e alcaloides como a cafeína.

            Os polifenóis são antioxidantes poderosos ligados à vários benefícios à saúde. As catequinas são consideradas polifenóis especiais e têm sido amplamente estudadas nas últimas décadas. Durante a preparação do chá verde, muitos desses compostos são difundidas das folhas secas para a solução aquosa. A principal catequina desse chá, mais visada nas pesquisas, é a (-)-epigallocatechina-3-gallate (EGCG). A esses compostos são dadas propriedades anti-envelhecimento, anti-tumorais, anti-inflamatórias, além de serem fortes candidatos em ajudar no tratamento de diabetes, problemas neurológicos, danos cardíacos, entre outros. Evidências de estudos diversos sugerem uma ação positiva do consumo de chá verde na prevenção, em alguma extensão, de um número de doenças.

          Evidências mais fracas também sugerem ação do chá verde como um auxiliar no emagrecimento, através de mecanismos de indução à oxidação de gorduras no corpo e/ou aumento do metabolismo basal quando considerada a ação da cafeína em conjunto. Esse último efeito, de aumento do metabolismo e da temperatura média corporal, são os mais propagandeados para a venda do chá verde, seja através de suplementos alimentares ou uso tradicional das folhas secas.

            Mas apesar do potencial terapêutico e de auxiliar no processo de emagrecimento, não existe evidência conclusiva de suporte. No caso específico do emagrecimento, a questão fica ainda mais obscura, existindo vários estudos científicos que não encontram efeito significativo de emagrecimento, manutenção da massa adiposa perdida e controle da obesidade com o consumo de chá verde. Um trabalho de revisão de 2012 deixa isso bem claro (Ref.1). Nem mesmo os mecanismos de ação biológica nesse sentido são conhecidos, mesmo muitos aproveitadores afirmando coisas do tipo 'aumento do metabolismo' e 'queima espontânea de gordura corporal'. 

          A única coisa realmente comprovada relacionada ao poder de emagrecimento do chá verde seria que a sua bebida, se não acrescentado açúcar, virtualmente não possui calorias, já que é composta de 99,9% de água. Isso pode ajudar a diminuir o consumo de outras bebidas mais calóricas, como refrigerantes. Mas, nesse caso, outros chás e mesmo água cumprem a mesma função. 

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ATUALIZAÇÃO (09/05/20): Uma revisão sistemática e meta-análise de estudos clínicos randomizados publicada no periódico Phytotherapy Research (Ref.30) encontrou evidência de que o consumo de chá verde pode ajudar a reduzir significativamente a massa corporal total e o índice de massa corporal (IMC), caso consumido por um período acima de 12 semanas e em doses maiores do que 800 mg/dia. No entanto, o consumo não mostrou alterar significativamente a circunferência abdominal, o que deixa dúvidas quanto ao real poder de emagrecimento da erva (redução de massa adiposa). Os pesquisadores reforçaram que o uso visando o emagrecimento deve ser aliado aos exercícios físicos e dieta de restrição calórica.
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   CHÁ VERDE E SAÚDE

             O real foco das pessoas ao tomar chá verde deveria estar concentrado nos possíveis benefícios à saúde dos seus polifenóis, todos relacionados com menor risco de causas de morte diversas. Apesar de não existir comprovação científica de que essa bebida ou do extrato puro das folhas ajuda a combater ou prevenir qualquer doença, existe relativa forte evidência de que o chá verde possui algum papel benéfico nos quadros de inflamação generalizada, problemas cardíacos e alguns tipos de câncer, como o de mama. 

          Em um estudo publicado no periódico Nature Communications (Ref.31), pesquisadores encontraram no chá verde um antioxidante que pode aumentar os níveis de p53, uma crucial proteína anti-câncer do nosso maquinário celular, responsável pela reparação de danos no DNA ou pela destruição de células cancerosas. Aliás, esse antioxidante é inclusive o componente mais bioativo e abundante da C. sinensis - 50-80% do conteúdo de catequinas no chá - e vendido comumente como suplemento alimentar

           O composto antioxidante em questão é o polifenol EGCG (epigalocatequina-3-galato), e segundo os resultados do estudo parece preservar a proteína contra degradação. Tipicamente, após ser produzido dentro do corpo, o p53 é rapidamente degradada quando o domínio N-terminal interage com uma proteína chamada de MDM2. Esse contínuo processo limita os níveis de p53. Os pesquisadores mostraram que tanto o MDM2 quanto o EGCG se ligam no mesmo lugar do p53, ou seja, no domínio N-terminal, levando ambos a competirem pela ligação. E quando o EGCG se liga ao p53, este fica protegido de ser degradado pelo MDM2, potencialmente elevando seu nível no interior celular.

            Para cada 240 mL de chá verde, geralmente temos cerca de 200-300 mg de EGCG. O efeito anti-câncer desse composto e do consumo de chá verde tem sido, de fato, demonstrado em estudos epidemiológicos, in vitro, in vivo e mesmo em alguns testes clínicos.

          De qualquer forma, a EFSA (Autoridade Europeia de Segurança Alimentar) deixa claro em seu painel que nenhum benefício à saúde relacionado ao chá verde é comprovado, sendo que muitas alegações são consideradas infundadas. (Ref.2)Já o FDA (Administração de Drogas e Alimentos dos EUA) deixa claro que não existem evidências suficientes para qualificar o chá verde como um fator de prevenção e/ou tratamento para doenças cardíacas e cânceres (Ref. 20,21 e 22). E é preciso também deixar claro que o consumo exagerado desse produto pode ser prejudicial, já tendo mostrado efeitos tóxicos no fígado, além de existir o pouco entendido paradoxo dos antioxidantes (O que é o Paradoxo dos Antioxidantes?).


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   CONCLUSÃO 

             Não existe medicamento (!) ou suplemento alimentar hoje, a não ser intervenções cirúrgicas (redução de estômago; cirurgia bariátrica), que faça a pessoa emagrecer de forma drástica e mantendo os resultados do emagrecimento a longo prazo. É necessário uma real mudança no estilo de vida, principalmente no que diz respeito à reeducação alimentar. Ao invés das pessoas se preocuparem com um ou outro produto milagroso de saúde e emagrecimento, seria muito melhor se o dinheiro investido fosse voltado para a busca de uma alimentação diversificada e saudável, incluindo frutas, verduras, legumes, carnes, laticínios, ovos, cereais, sementes, etc., mas de forma a alcançar uma redução calórica, idealmente sob orientação de um nutricionista. Seu corpo agradeceria muito mais.

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IMPORTANTE: NUNCA utilizem extratos vegetais na forma injetável! Essa moda irresponsável começou em anos recentes e alguns empregam chá verde nas injeções para supostos efeitos mais fortes de emagrecimento. Isso é extremamente perigoso e não possui respaldo científico nenhum. A ANVISA, em 2012, proibiu a comercialização, divulgação e produção de produtos injetáveis dessa natureza aqui no Brasil (Ref.24).

(!) ATUALIZAÇÃO (10/02/21): Em um estudo clínico randomizado de grande porte e alta qualidade publicado hoje no periódico The New England Journal of Medicine, pesquisadores anunciaram um "novo" medicamento que pode revolucionar o tratamento farmacológico da obesidade e do sobrepeso. Mais de um terço (35%) dos participantes que tomaram o fármaco em questão (semaglutida) perderam 20% ou mais da massa corporal total, e, na média mais de 15%, sustentando a perda de massa corporal por mais de 1 ano (interrupção do tratamento). O fármaco é atualmente prescrito para tratamento de diabetes, mas em doses menores do que aquela usada no estudo clínico. Para mais informações, acesse: Medicamento de emagrecimento é tão efetivo que pode substituir a cirurgia bariátrica
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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23235664
  2. http://www.efsa.europa.eu/en/efsajournal/pub/2055 
  3. https://nccih.nih.gov/health/greentea
  4. http://ajcn.nutrition.org/content/91/1/73.short
  5. http://www.nature.com/ijo/journal/v33/n9/abs/ijo2009135a.html
  6. https://dx.doi.org/10.1016%2Fj.nut.2015.02.004
  7. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2855614/
  8. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16445946
  9. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17569617
  10. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/mnfr.200500102/abstract
  11. http://advances.nutrition.org/content/4/2/129.short
  12. http://jn.nutrition.org/content/early/2015/12/23/jn.115.219238.short
  13. http://online.liebertpub.com/doi/abs/10.1089/acm.2005.11.521
  14. http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/07315724.2006.10719518
  15. http://ict.sagepub.com/content/4/2/144.short
  16. http://ajcn.nutrition.org/content/70/6/1040.short
  17. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19147161
  18. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0091743509002217
  19. http://archinte.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=773949&wptouch_preview_theme=enabled
  20. http://www.fda.gov/Food/IngredientsPackagingLabeling/LabelingNutrition/ucm073207.htm
  21.  http://www.fda.gov/Food/IngredientsPackagingLabeling/LabelingNutrition/ucm301644.htm
  22. http://www.fda.gov/NewsEvents/Newsroom/PressAnnouncements/2005/ucm108452.htm
  23. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2676575/
  24. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23780706
  25. http://www.nutritionjrnl.com/article/S0899-9007%2815%2900072-6/abstract
  26. http://link.springer.com/article/10.1007/s10549-009-0415-0 
  27. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23235664
  28. http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/anvisa+portal/anvisa/sala+de+imprensa/assunto+de+interesse/noticias/anvisa+proibe+injeao+de+extratos+vegetais+sem+registro
  29. Chackoet al.Chinese Medicine 2010,5:13 http://www.cmjournal.org/content/5/1/13
  30. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ptr.6697
  31. https://www.nature.com/articles/s41467-021-21258-5