Aves emergiram antes ou depois dos tiranossauros?
Aves (clado Avilae) são dinossauros terópodes, e são hoje um dos grupos mais diversos de animais, com ~10 mil espécies ainda vivas na Terra. Em outras palavras, os dinossauros continuam reinando no nosso planeta. E, sim, do ponto de vista filogenético, aves são répteis, ou seja, incluídas na classe Reptilia junto com os demais dinossauros (superordem Dinosauria).
A história evolucionária das aves não é ainda totalmente esclarecida, mas evidências paleontológicas, embriológicas e moleculares apontam que a origem das aves modernas (Neornithes) está associada a dinossauros terópodes com penas do clado Maniraptora. É seguro afirmar que as aves são descendentes de dinossauros terópodes não-aviários que viveram no Jurássico ou talvez no pré-Jurássico. Em outras palavras, aves conviveram com vários outros dinossauros por um longo período de tempo até o evento de extinção no final do Cretáceo, há ~66 milhões de anos (1).
Os mais antigos registros fósseis de aves primitivas datam do Jurássico Médio-Tardio, há 150-160 milhões de anos, e inclui os gêneros descritos Aurornis, Anchiornis, Archaeopteryx, Fujianvenator e Xiaontingia (Fig.2-3). Pegadas fossilizadas de dinossauros terópodes que parecem compartilhar um ancestral comum muito próximo com as aves, como o gênero Trisauropodiscus, são datadas do final do Triássico Tardio até o início do Jurássico. A morfologia de pés similares àqueles de aves data de pelo menos ~210 milhões de anos atrás (Ref.2).
As mais antigas evidências fósseis de bico, ausência de dentes, pigostilo e de plumagem sexualmente dimórfica em aves datam do Cretáceo Inferior, há ~135-120 milhões de anos, na família Confuciusornithidae (Fig.4). Dinossauros (ou seus ancestrais) inicialmente adquiriram penas por razões sem relação com o voo, e, de fato, as primeiras penas eram simplesmente cerdas similares a penugens, provavelmente úteis na regulação da temperatura corporal e inúteis em qualquer tipo de transporte aéreo. Vários dinossauros - e talvez até mesmo a maioria - exibiam essas penas rudimentares. Eventualmente, dinossauros terópodes evoluíram penas maiores, ramificadas e mais elaboradas, talvez sob pressão de seleção sexual. Com o tempo, essas penas ficaram ainda mais elaboradas e foram cooptadas para o transporte aéreo. É ainda incerto quando o voo autossustentado primeiro emergiu entre os dinossauros, mas terópodes aviários com essa habilidade parecem ter escalado dramaticamente a competição entre animais aéreos (ex.: insetos e pterossauros) já no início do Cretáceo (Fig.5).
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> Evidência mais recente sugere que o Longipteryx sp. possuía uma dieta frugívora, e provavelmente complementada com invertebrados. Ref.14
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E, nesse ponto, é importante realçar: aves NÃO tiveram origem de uma linhagem diretamente associada aos tiranossauros ou outros grandes terópodes tiranossaurídeos (2). Aves são bem mais antigas do que os tiranossaurídeos, estes estimados de terem emergido entre 90 e 80 milhões atrás.
Leitura recomendada:
- (1) Estudos sugerem um drástico escurecimento e resfriamento global atuando na extinção dos dinossauros não-aviários
- (2) Incrível fóssil de um jovem tiranossaurídeo revela sua última refeição
- Revelada transição evolutiva no voo dos dinossauros para as aves
- Estudo aponta que endotermia evoluiu em várias linhagens de dinossauros extintos, desde estegossauros até tiranossauros
Portanto, aves já existiam antes do Tiranossauro rex (!). É errônea a popular ideia - frequentemente retratada em memes - de que o "T. rex virou uma galinha". Galinhas e o T. rex compartilham um ancestral comum relativamente próximo entre os arcossauros (3), mas distante em relação a outros dinossauros terópodes extintos.
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(!) RELEVANTE: O gênero Tyrannosaurus (Tiranossauro) engloba pelo menos outra espécie além do T. rex, recentemente descrita: T. mcraeensis. Para mais informações: Por que o Tiranossauro rex tinha braços tão pequenos?
(3) Leitura recomendada: O que são Arcossauros?
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REFERÊNCIAS
- Chiappe, L.M. (2009). Downsized Dinosaurs: The Evolutionary Transition to Modern Birds. Evolution: Education and Outreach 2, 248–256. https://doi.org/10.1007/s12052-009-0133-4
- Abrahams & Bordy (2023). The oldest fossil bird-like footprints from the upper Triassic of southern Africa. PLoS ONE 18(11): e0293021. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0293021
- Yu et al. (2024). Avialan-like brain morphology in Sinovenator (Troodontidae, Theropoda). Communications Biology 7, 168. https://doi.org/10.1038/s42003-024-05832-3
- Kundrát et al. (2018). The first specimen of Archaeopteryx from the Upper Jurassic Mörnsheim Formation of Germany. Historical Biology, 31(1), 3–63. https://doi.org/10.1080/08912963.2018.1518443
- Xu et al. (2023). A new avialan theropod from an emerging Jurassic terrestrial fauna. Nature 621, 336–343. https://doi.org/10.1038/s41586-023-06513-7
- Novas et al. (2021). Comments on the Morphology of Basal Paravian Shoulder Girdle: New Data Based on Unenlagiid Theropods and Paleognath Birds. Frontiers in Earth Science, Volume 9. https://doi.org/10.3389/feart.2021.662167
- https://www.pnas.org/doi/epub/10.1073/pnas.2320846121
- Falk et al. (2019). On the Preservation of the Beak in Confuciusornis (Aves: Pygostylia). Diversity, 11(11), 212. https://doi.org/10.3390/d11110212
- Lowi-Merri et al. (2021). The relationship between sternum variation and mode of locomotion in birds. BMC Biology 19, 165. https://doi.org/10.1186/s12915-021-01105-1
- Wang et al. (2022). A new confuciusornithid bird with a secondary epiphyseal ossification reveals phylogenetic changes in confuciusornithid flight mode. Communications Biology 5, 1398. https://doi.org/10.1038/s42003-022-04316-6
- Chiappe et al. (2023). Flight Performance of the Early Cretaceous Bird Confuciusornis sanctus: Evidence from an Exceptionally Preserved Fossil. Spanish Journal of Palaeontology, 38(2), 101–122. https://doi.org/10.7203/sjp.27543
- Pan et al. (2024). Fossil evidence sheds light on sexual selection during the early evolution of birds. PNAS, 121 (3) e2309825120. https://doi.org/10.1073/pnas.2309825120
- Xu et al. (2024). Enhanced flight performance and adaptive evolution of Mesozoic giant cicadas. Science Advances, Vol. 10, Issue 43. https://doi.org/10.1126/sciadv.adr2201
- O'Connor et al. (2024). Direct evidence of frugivory in the Mesozoic bird Longipteryx contradicts morphological proxies for diet. Current Biology. https://doi.org/10.1016/j.cub.2024.08.012