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A molécula de laminina possui a forma de uma cruz?

Figura 1. Reais imagens via microscopia eletrônica de moléculas de laminina.


Circula há muitos anos na internet e nas redes sociais a alegação de que "a molécula de laminina, essencial às células do nosso corpo, possui a forma de uma cruz". Essa alegação é usada como evidência de um sinal Cristão em narrativas religiosas. Porém, a realidade se afasta muito dessa narrativa. Primeiro, não existe "uma molécula de laminina" e, sim, múltiplas moléculas de lamininas. Lamininas representam uma família de grandes glicoproteínas não-colagenosas extracelulares presentes nas membranas de base das células. Existem várias lamininas (1, 2, 3...). E também como observado nas Fig.1-3, a conformação dessas moléculas no espaço frequentemente se afasta muito da forma de uma cruz. Aliás, a laminina-1 (Fig.1A) é muito mais sugestiva de uma suástica do que de uma cruz.

Figura 2. Microscopia eletrônica de lamininas recombinantes: (A) laminina-111, (B) laminina-121, (C) laminina-211 e (D) laminina-221. Essas são um pouco mais similares a cruzes, mas obviamente vários outros símbolos podem talvez melhor ser associados. Ref.3

Figura 3. Microscopia eletrônica de moléculas de laminina-10. Ref.4

Figura 4. Ilustrações esquemáticas colocam algumas lamininas na forma "perfeita" de cruz para facilitar compreensão dos seus componentes, como observado na representação acima para a laminina 111. Mas mesmo assim existem dramáticas variações nos tamanhos dos "braços" entre essas moléculas, como observado na laminina 332 que mais parece um 'T'. Ref.5


REFERÊNCIAS

  1. Aumailley & Rousselle (1999). Laminins of the dermo–epidermal junction. Matrix Biology, Volume 18, Issue 1, Pages 19-28. https://doi.org/10.1016/S0945-053X(98)00004-3
  2. Kulczyk, A. W. (2023). Artificial intelligence and the analysis of cryo-EM data provide structural insight into the molecular mechanisms underlying LN-lamininopathies. Scientific Reports 13, 17825. https://doi.org/10.1038/s41598-023-45200-5
  3. https://www.med.oita-u.ac.jp/matrix/member/sasaki/sasaki_3.pdf
  4. Doi et al. (2002). Recombinant Human Laminin-10 (α5β1γ1): Produção, Purificação, and Migration-Promoting Activity on Vascular Endothelial Cells. Journal of Biological Chemistry, Volume 277, Issue 15, P12741-12748. https://doi.org/10.1074/jbc.M111228200
  5. Marinkovich, M. (2007). Laminin 332 in squamous-cell carcinoma. Nature Reviews Cancer 7, 370–380. https://doi.org/10.1038/nrc2089