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O que é o Sinal de Popeye?

Figura 1. Deformidade na parte superior mediana e anterior do braço do paciente, a qual se tornava mais notável durante a flexão do cotovelo. Ref.1

 
           Um homem de 70 anos de idade apresentou-se à clínica ortopédica com uma grande saliência na parte superior do seu braço direito, como mostrado na Fig.1. A saliência tinha se desenvolvido 1 dia antes da sua apresentação hospitalar, quando estava realizando uma dança com espadas e após sentir uma súbita e intensa dor no seu ombro direito. Imagem por ressonância magnética (MRI) do ombro demonstrou uma completa ruptura da cabeça longa do tendão do bíceps braquial. O paciente foi tratado com medicamentos anti-inflamatórios não-esteroides. Após 1 mês de acompanhamento seguindo a apresentação inicial, a dor do paciente foi aliviada e não mais afetava sua vida diária.

          O caso foi descrito em 2019 no periódico QJM (Ref.1).

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           Esse típico achado durante exame médico é conhecido como sinal de Popeye ou deformidade de Popeye, o qual é causado por acúmulo da "barriga" do músculo do bíceps após ruptura do tendão do bíceps. No entanto, pacientes com ruptura de tendão apresentando o sinal de Popeye são clinicamente raros. Isso geralmente ocorre proximamente e frequentemente em pacientes idosos, devido a mudanças degenerativas na articulação do ombro e músculos, tendões e ligamentos associados resultantes de uso excessivo [desgaste] e avanço da idade. Tratamento conservador é frequentemente suficiente para a maioria desses casos únicos, apesar de alguns atletas ou outras ocupações especiais que requerem total força do braço poderem necessitar de  reparo cirúrgico. 


Figura 2. Quando um tendão no seu músculo do bíceps é rompido, o músculo pode se acumular em uma saliência dolorosa na parte superior do braço (sinal de Popeye).

           O sinal de Popeye não é uma ocorrência incomum seguindo cirurgia na cabeça longa do bíceps (ex.: tenotomia) e, nesse caso, pode ser mais frequentemente detectado pelos médicos do que por pacientes (Ref.2). Mas não parece existir diferença clínica significativa com a presença ou ausência desse sinal seguindo a tenotomia, apesar do tema permanecer controverso (Ref.3-4). A amiloidose por transtirretina (ATTR) - doença hereditária ou adquirida causada por mutações no gene TTR (responsável pela formação da proteína transtirretina) - também pode provocar o sinal de Popeye via degeneração do tendão e retração do bíceps braquial (Ref.5-7). Por fim, o levantamento de carga excessiva - durante treino inadequado de musculação ou outra atividade usando o bíceps - pode também provocar a condição após rompimento do tendão do bíceps (Fig.3-4); nesse contexto, indivíduos de todas as idades estão suscetíveis - com ou sem doença crônica (ex.: ATTR) - e um som de "pop" no braço pode acompanhar o rompimento (Ref.7-9). Obviamente, indivíduos idosos são mais vulneráveis nesse último cenário.


Figura 3. Sinal de Popeye no braço esquerdo de um paciente de 72 anos com ATTR, mais pronunciado durante flexão do cotovelo. A deformidade se desenvolveu após o paciente ter levantado um objeto pesado; ele lembrava ter ouvido um som de "pop" seguido de uma súbita dor aguda e fraqueza no seu braço esquerdo. Ref.6

Figura 4. Sinal de Popeye em um paciente de 79 anos que apareceu após o levantamento de um objeto pesado. Ref.9

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> O sinal de Popeye é uma homenagem óbvia ao personagem Popeye criado por Elzie Segar em 1929, cujos bíceps crescem como uma bola [saliência] no meio do braço após se alimentar de espinafre. Porém, paradoxalmente ao aparente volume do bíceps e ao personagem de desenho animado, as pessoas afetadas por essa condição possuem a força do braço substancialmente reduzida devido inabilidade de alongamento das fibras musculares afetadas.

Figura 3. (a) Personagem Popeye e (b) a alegada inspiração real do personagem: Frank Rocky Fiegel, um Norte-Americano que parece ter vivido em Chester, Illinois, EUA. Ref.10

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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. Liu et al. (2019). Popeye sign. QJM: An International Journal of Medicine, Volume 112, Issue 12, Page 931. https://doi.org/10.1093/qjmed/hcz102
  2. Deurzen et al. (2021). The Popeye sign: a doctor’s and not a patient’s problem. Journal of Shoulder and Elbow Surgery, Volume 30, Issue 5, Pages 969-976. https://doi.org/10.1016/j.jse.2020.10.040
  3. Collin et al. (2018). Popeye sign: Frequency and functional impact. Orthopaedics & Traumatology: Surgery & Research, Volume 104, Issue 6, Pages 817-822. https://doi.org/10.1016/j.otsr.2018.02.016
  4. Yoğun et al. (2023). "Is biceps tenodesis necessary when performing arthroscopic rotator cuff repair in patients older than 55 years?" Arch Orthop Trauma Surg 143, 4267–4275. https://doi.org/10.1007/s00402-022-04707-8
  5. Nomura et al. (2023). Popeye Sign in Hereditary Transthyretin Amyloidosis. JAMA Neurology, 80(9):998-999. https://doi.org/10.1001/jamaneurol.2023.1975
  6. Kocabas & Turk (2020). P712 When Popeye had shortness of breath, European Heart Journal - Cardiovascular Imaging, Volume 21, Issue Supplement_1, January 2020, jez319.385, https://doi.org/10.1093/ehjci/jez319.385
  7. Viegas et al. (2023). Popeye Deformity: A Red Flag for Wild-Type Transthyretin Amyloidosis. The American Journal of Medicine, Volume 136, Issue 5, E90-E91. https://doi.org/10.1016/j.amjmed.2023.01.021
  8. Koo & Shin (2013). "Do You Know Popeye or Popeye Sign?" Ultrasound in Medicine and Biology, Volume 39, Issue 5, S53-S54. https://doi.org/10.1016/j.ultrasmedbio.2013.02.259
  9. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMicm1704705
  10. http://jmsronline.com/archive-article/Climb-6-hills-in-a-coat-with-Popeye-facioscapulohumeral-dystrophy-phenotype-to-genotype