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O que significa Fratura do Cassetete?

Figura 1. Radiografias do antebraço da paciente. Ref.1

          Uma mulher de 60 anos canhota apresentou-se ao departamento de emergência com dor no seu antebraço esquerdo. O braço estava inchado e sensível a dor, especialmente com pronação e supinação passivas. A pele na região afetada estava intacta, e os resultados do exame neurovascular não revelaram nada anormal. Radiografias do antebraço esquerdo foram realizadas (Fig.1): (a) visão anteroposterior, (b) visão lateral.

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Figura 2

          Fraturas isoladas na ulna (um osso longo do antebraço) (Fig.2), também conhecidas como "fraturas do cassetete" (Nightstick fractures, no inglês), resultam de um trauma direto no antebraço. Essa lesão classicamente ocorre quando o braço é levantado em um reflexo de autodefesa contra um ataque à cabeça ou torso, associado, por exemplo, com violência doméstica. De fato, a paciente acima descrita foi vítima de violência doméstica; o caso foi reportado no periódico The New England Journal of Medicine (Ref.1). 

           Avaliação compreensiva da segurança e saúde mental da paciente foi realizada, e serviços sociais foram oferecidos. A paciente foi submetida a uma redução aberta e fixação interna da fratura, seguida por engessamento, apesar desse tipo de lesão não precisar de procedimentos operativos em alguns casos (!). Após acompanhamento por 10 semanas, a paciente reganhou completa função do braço lesionado; também obteve uma ordem de restrição para sua proteção e estava recebendo assistência de um trabalhador social.

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(!) Fraturas ulnares isoladas são incomuns e podem resultar de mecanismos de lesão associados a baixa ou alta energia. Afetam pacientes de todas as idades e podem resultar em desconforto, fraqueza e perda de função. A ulna e o rádio formam uma unidade funcional; portanto, mal posicionamento resultante de fratura na ulna pode resultar em limitação funcional do antebraço. No entanto, persiste ainda controvérsia relativa ao melhor tratamento inicial oferecido. Para fraturas simples e sem significativo deslocamento (<5 mm deslocado e <50% de translação), tratamento sem operação é preferido. No entanto, essas fraturas são associadas com um alto de não-união (quando o osso não apresenta completa reparação no tempo normalmente esperado pela posição e tipo da fratura). Um estudo publicado em 2022 no periódico British Journal of Surgery (Ref.3), analisando os dados de 124 pacientes com fraturas ulnares isoladas atendidos entre 2015 e 2020, recomendou que para lesões sem deslocamento significativo, tratamento sem operação deve ser a escolha inicial.

> O nome 'fratura do cassetete' tem origem de pacientes com lesões provocadas por golpes diretos na parte medial do antebraço desferidos por bastão expansível tático policial (cassetete) durante reflexo do corpo para a proteção da cabeça. Importante apontar que fratura ulnar isolada pode também resultar de excessiva pronação ou supinação do antebraço (Ref.4). 

> Radiografia (imagem via raio-X) é o teste inicial mais importante a ser realizado em pacientes com suspeita de fratura. Tomografia computacional (CT) ou imagem por ressonância magnética (MRI) são muito raramente necessárias, à medida que qualquer fratura não claramente elucidada na radiografia é facilmente tratada sem necessidade de operação. 

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REFERÊNCIAS

  1. Tai & Chen (2023). Isolated Ulnar Shaft Fracture. New England Journal of Medicine, 388:e59. https://doi.org/10.1056/NEJMicm2211242
  2. https://orthoinfo.aaos.org/en/diseases--conditions/nonunions/
  3. Easwaran & Easwaran (2022). 124 Nightstick Fractures: To Fix or Not to Fix?, British Journal of Surgery, Volume 109, Issue Supplement_6, znac269.455. https://doi.org/10.1093/bjs/znac269.455
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK555951/