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Quem eram as múmias de Tarim?


           Desde o final da década de 1990, a descoberta de centenas de corpos humanos naturalmente mumificados no deserto englobado pela Bacia de Tarim, China, e datados ao redor de 2000 a.C. até 200 d.C. têm atraído atenção da comunidade acadêmica internacional. Devido a uma aparência física a princípio similar àquela de povos Ocidentais da Era do Bronze, e roupas com tecido de algodão e economia agropecuária que incluía gado, ovelhas/bodes, trigo, cevada, milho e até mesmo queijo, há décadas arqueólogos e outros cientistas têm assumido que as múmias de Tarim eram migrantes do Ocidente, viajando por milhares de quilômetros e trazendo cultura e práticas agrárias para o Oriente. Outras hipóteses têm sugerido migrações de povos Orientais localizados em regiões mais próximas (ex.: Cordilheira do Himalaia).

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> Múmias bem conservadas estão localizados em cemitérios espalhados de sul (Tarim) a norte da região de Xinjiang, e alguns dos mais antigos se encontram em Gumugou (2135–1939 BC), Xiaohe (1884–1736 BC) and Beifang (1785–1664 BC). As áridas e inóspitas características da região (Deserto de Taklamakan) permitiram uma mumificação natural dos corpos.

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           Para esclarecer a questão, um estudo publicado em 2021 na Nature (1) analisou comparativamente amostras genéticas de algumas das mais antigas múmias (13 indivíduos de 4100-3700 anos atrás) de Tarim e traçaram a ancestralidade direta delas a antigos nativos da região da China e indiretamente a caçadores-coletores da Idade da Pedra que habitavam a Ásia há cerca de 9 mil anos. E mais: segundo o estudo, os nativos de Tarim permaneceram isolados na região, mas, apesar disso, aprenderam a criar animais domésticos e grão de forma muito similar a outros grupos vizinhos e longínquos. 

            Em outras palavras, as trocas culturais e comerciais entre povos antigos não necessariamente precisam envolver fluxo genético ou populacional. Às vezes, negócios são apenas negócios. 

           O estudo também analisou o genoma de 5 indivíduos mumificados no norte de Xinjiang, confirmando hipóteses prévias de que esses indivíduos tinham ancestralidade direta associada a povos migrantes das Montanhas de Altai, na Ásia Central, que viveram há cerca de 5 mil anos.


REFERÊNCIA

  1. Zhang et al. (2021). The genomic origins of the Bronze Age Tarim Basin mummies. Nature 599, 256–261 (2021). https://doi.org/10.1038/s41586-021-04052-7