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Qual é o maior peixe ósseo do mundo?

- Atualizado no dia 14 de maio de 2024 -

           Em um estudo recentemente publicado no periódico Journal of Fish Biology (Ref.1), pesquisadores reportaram o mais massivo peixe ósseo até o momento registrado, com uma massa corporal ultrapassando 2744 kg (>2,7 toneladas) e um comprimento de 325 cm (>3,2 m). O espécime foi encontrado morto no Arquipélago de Açores (Atlântico Norte), Portugal, e pertence à espécie Mola alexandrini, popularmente chamada de peixe-lua do Sul. 

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          Espécies do gênero Mola (família Molidae; Tetraodontiformes) são peixes ósseos altamente derivados e de grandes dimensões caracterizados por um corpo orbicular e fortemente comprimido, o qual alcança facilmente 3 metros de comprimento e massa de 2 toneladas. Membros desse grupo - representados hoje por três espécies (M. mola, M. alexandrini e M. tecta) e popularmente chamados de peixes-lua - são amplamente distribuídos no oceano aberto de mares tropicais e temperados. Esses peixes não possuem nadadeira caudal, a qual é substituída por um amplo lobo na forma de leme chamado de clavo.




          O recorde prévio de peixe ósseo mais massivo também pertencia a um M. alexandrini, no caso, um espécime fêmea com 2300 kg, 272 cm de comprimento e registrado em 1996 no Japão (Ref.3).

          Embora o grande tamanho e estranha forma corporal sugiram pouca agilidade e baixa habilidade de nado, os peixes-luas são poderosos nadadores - e capazes de rápida aceleração, alcançando até 6.6 m/s (Mola mola) - e conseguem realizar notáveis e ágeis manobras de evasão quando estão interagindo com um dos seus mais temidos predadores, as orcas (Orcinus orca) (Ref.5).


Figura 4. (A) Larva do peixe-lua da espécie Mola alexandrini. (B) Comparação de duas larvas de Mola com a mão de um humano adulto. Apesar de observados desde o século XVIII nos oceanos, só em 2020 análise de DNA comprovou que esses minúsculos peixes eram larvas ("bebês") de peixe-lua - algo por muito tempo nunca suspeitado devido à extrema diferença de tamanho e à morfologia muito divergente. Ref.6-7

          Apesar de tradicionalmente descritos como "gelatívoros obrigatórios", evidências recentes acumuladas apontam que os peixes-luas podem se alimentar de um amplo espectro de presas, incluindo crustáceos, moluscos e outros peixes (Ref.8). Especificamente, os peixes-luas passam por uma mudança ontogenética na dieta, onde indivíduos de menor porte se alimentam se um amplo espectro de presas bênticas de alta densidade energética próximo dos ambientes de praias, enquanto indivíduos maiores exibem uma dieta constituída primariamente de animais gelatinosos capturados em alto-mar.

> Os peixes ósseos (classe Osteichthyes) apresentam esqueleto ossificado e as brânquias cobertas pelo osso denominado opérculo. Os registros fósseis mais antigos desses peixes datam da Era Paleozoica, período Siluriano superior (há cerca de 440 milhões de anos). No período seguinte (o Devoniano, por volta de 440 milhões de anos), houve grande diversificação de formas, eventualmente dando origem aos primeiros vertebrados terrestres (incluindo humanos) (!). Importante mencionar que estruturas ósseas em peixes não são exclusivas dessa classe.

(!) Leitura recomendada: Revelado o mais antigo ancestral mandibulado dos humanos até o momento conhecido


REFERÊNCIAS

  1. Gomes-Pereira et al. (2022). The heaviest bony fish in the world: a 2744 kg giant sunfish Mola alexandrini (Ranzani, 1839) from the North Atlantic. https://doi.org/10.1111/jfb.15244
  2. Sawai et al. (2017). Redescription of the bump-head sunfish Mola alexandrini (Ranzani 1839), senior synonym of Mola ramsayi (Giglioli 1883), with designation of a neotype for Mola mola (Linnaeus 1758) (Tetraodontiformes: Molidae). Ichthyological Research, 65(1), 142–160. https://doi.org/10.1007/s10228-017-0603-6
  3. Sawai & Nyegaard (2022). A review of giants: Examining the species identities of the world's heaviest extant bony fishes (ocean sunfishes, family Molidae). Journal of Fish Biology, Volume 100, Issue 6, Pages 1345-1364. https://doi.org/10.1111/jfb.15039
  4. Peter & Biscoito (2019). The distribution of Mola alexandrini in the Subtropical Eastern Atlantic, with a note on Mola mola. Bocagiana (Museu de História Natural do Funchal), 245: 1-6.
  5. Nyegaard et al. (2023). Ocean sunfish, genus Mola Kölreuter, 1766 (Pisces Molidae), exhibit surprising levels of agility during interactions with orca, Orcinus orca (Linnaeus, 1758) (Mammalia Delphinidae). Biodiversity Journal, 2023,14 (1): 3–17. https://doi.org/10.31396/Biodiv.Jour.2023.14.1.3.17
  6. https://www.australiangeographic.com.au/topics/wildlife/2020/07/baby-sunfish-reveal-early-life-of-one-of-the-oceans-weirdest-fish/
  7. https://australian.museum/learn/animals/fishes/bump-head-sunfish-mola-alexandrini/
  8. https://www.taylorfrancis.com/chapters/edit/10.1201/9780429343360-9/diet-trophic-role-ocean-sunfishes-natasha-phillips-edward-pope-chris-harrod-jonathan-houghton