YouTube

Artigos Recentes

Qual espécie de cobra possui uma "aranha" na cauda?

 
          A cobra da espécie Pseudocerastes urarachnoides é uma víbora peçonhenta com uma das mais elaboradas estratégias visando a captura de presas. Habitando regiões montanhosas (Cordilheiras de Zagros) no oeste do Irã e no leste do Iraque, essa cobra possui no final da cauda uma estrutura que lembra muito um aracnídeo. Escondida (camuflada com a ajuda das cores crípticas do seu corpo) em ambientes rochosos e com grande parte do corpo imóvel, essa cobra balança a cauda fazendo o "fantoche-aracnídeo" se mover como uma real aranha no solo. Isso atrai predadores - particularmente certas espécies de pássaros -, os quais se aproximam para tentar comer a aparente aranha. Quando estão bem próximos, a cobra ataca.

- Continua após o anúncio -


          No vídeo abaixo, é possível ver a captura de um pássaro pela P. urarachnoides com a ajuda da cauda (Ref.1):

          

          Descrita pela primeira vez em 2006 (Ref.2), a P. urarachnoides possui, quando adulta, um comprimento total de ~53 cm (e ~5,5 cm de cauda). A estrutura aracnídea na cauda não é desenvolvida nos indivíduos juvenis mas se forma progressivamente à medida que a cobra cresce. A cauda da P. urarachnoides é talvez a mais especializada e elaborada entre os répteis, evoluindo provavelmente como um reflexo do seu nicho ecológico muito restrito e limitada oferta de presas (aparentemente, se alimenta de forma exclusiva dos pássaros atraídos pela sua cauda).


          Infelizmente, o habitat dessa espécie vem sendo cada vez mais destruído por atividades humanas e ameaçado pelas mudanças climáticas (Ref.3). Esse problema é particularmente sério para espécies endêmicas de regiões territorialmente tão limitadas quanto a P. urarachnoides. Entre as três espécies conhecidas do gênero Pseudocerastes (P. urarachnoides, P. persicus e P. fieldi), a P. urarachnoides é única com a estrutura aracnídea na ponta da cauda, divergindo da espécie P. persicus (P. fieldi mais próximo do ancestral comum) há cerca de 8,2 milhões de anos atrás (Ref.4). A composição do veneno dessas três espécies também difere de forma significativa entre si (Ref.5). 

-----------

> Um número de cobras usam a cauda para atrair potenciais presas (anfíbios, lagartos e aves), tipicamente imitando uma larva de invertebrado se movimentando (Ref.6). Entre víboras, essa tática de predação é mais comum em cobras juvenis, frequentemente desaparecendo nos adultos de várias espécies à medida que o alvo predominante de caça passa a ser animais endotérmicos (especialmente roedores) - incluindo perda da coloração conspícua na ponta da cauda. Exceções onde os adultos continuam usando essa tática incluem as espécies Bothrops bilineatus, B. insularis, Cerastes vipera, e Vipera latastei; nessas espécies ou os adultos continuam se alimentando de animais ectotérmicos ou de aves. A subespécie Bothrops bilineatus smaragdinus, nativa da Amazônia e arbórea, é notável por usar a cauda como isca durante suas caças noturnas.

-----------


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. Fathinia et al. (2015). Avian deception using an elaborate caudal lure in Pseudocerastes urarachnoides (Serpentes: Viperidae). Amphibia-Reptilia, 36(3), 223-231. https://doi.org/10.1163/15685381-00002997
  2. Bostanchi et al. (2006). A new species of Pseudocerastes with elaborate tail ornamentation from western Iran (Squamata: Viperidae). Proceedings of the California Acadamy of Sciences, Fourth Series, Volume 57, No. 14.
  3. Fathinia et al. (2020). The past, current and future habitat range of the Spider-tailed Viper, Pseudocerastes urarachnoides (Serpentes: Viperidae) in western Iran and eastern Iraq as revealed by habitat modelling. Zoology in the Middle East, Volume 66, 2020 - Issue 3 https://doi.org/10.1080/09397140.2020.1757910
  4. Fathinia et al. (2018). Molecular phylogeny and historical biogeography of genera Eristicophis and Pseudocerastes (Ophidia, Viperidae). Zoologica Scripta. https://doi.org/10.1111/zsc.12311
  5. Brouw et al. (2021). Extensive Variation in the Activities of Pseudocerastes and Eristicophis Viper Venoms Suggests Divergent Envenoming Strategies Are Used for Prey Capture. Toxins, 13(2), 112. https://doi.org/10.3390/toxins13020112
  6. Fonseca et al. (2019). Caudal luring in the Neotropical two-striped forest pitviper Bothrops bilineatus smaragdinus Hoge, 1966 in the Western Amazon. Herpetology Notes, Vol.12. https://www.biotaxa.org/hn/article/view/42628