YouTube

Artigos Recentes

Por que chuvas extremas e inundações estão ligadas ao aquecimento global?


- Atualizado no dia 18 de setembro de 2023 -

          Ao longo da última década, o mundo aqueceu mais 0,25°C na média, acumulando um aumento de +1,2°C em relação ao período pré-industrial e continuando a tendência de rápido aquecimento global desde a década de 1970. Eventos temporais extremos estão ficando cada vez mais comuns. Recordes de ondas de calor extremo testemunhados seriam virtualmente impossíveis sem o aquecimento global antropogênico. Em média, 1 em 4 recordes de chuva já podem ser atribuídos às mudanças climáticas. Países tropicais - e, tipicamente, mais vulneráveis (em termos socioeconômicos e estruturais) -, como o Brasil, estão sendo os mais afetados por esses extremos, especialmente com as inundações. 

- Continua após o anúncio -


          Precipitação extrema é esperada de intensificar cada vez mais com o avanço do aquecimento global à medida que a concentração de vapor de água na atmosfera - o qual supre a água das chuvas - aumenta em proporção ao aumento de temperatura (maior limite de saturação). A taxa de aumento do vapor atmosférico é estimado ser 6-7% para cada 1°C de aumento da temperatura global médica, de acordo com a relação termodinâmica Clausis-Clapeyron. 

           E essa intensificação do ciclo hidrológico reflete também o mais importante mecanismo de feedback do aquecimento global: vapor de água é o mais poderoso gás estufa com significativa presença no sistema climático global (!) . Quanto maior a concentração de água suportada pela atmosfera, maior é a amplificação do efeito estufa.

(!) Para mais informações, sugestão de leituraQuais os mecanismos do efeito estufa atmosférico?

          Aliás, o trágico evento de extrema precipitação que atingiu a região sudeste no Brasil em janeiro de 2020 teve como principal causa as mudanças climáticas. Usando modelos climáticos para a região, o estudo mostrou que os efeitos do aquecimento global antropogênico aumentaram a probabilidade de volumes muito maiores de chuva do que o esperado em 70% comparado com cenários marcados por uma temperatura média global 1-1,1°C menor. Para mais informações: Mudanças climáticas causaram as devastadoras chuvas que atingiram o Sudeste do Brasil em 2020, conclui estudo

          No nordeste dos EUA, cientistas estimam que eventos de precipitação extrema aumentarão em 52% até o final deste século devido ao clima mais quente tornando a atmosfera mais úmida (Ref.3). E nessa região, já houve um aumento de 50% em precipitações extremas de 1996 até 2014 que está ligado ao aquecimento global.

-----------

> A maior concentração de vapor de água na atmosfera e águas superficiais oceânicas mais aquecidas tendem a tornar também ciclones tropicais muito mais intensos e carregando chuvas muito mais pesadas. De fato, nas últimas décadas a frequência de ciclones tropicais muito intensos aumentou substancialmente. Sugestão de leitura: Furacão Florence foi amplificado pelo aquecimento global antropogênico, confirma estudo

Nesse último cenário, na recente tragédia que afetou a Líbia, onde estima-se que ~20 mil pessoas morreram  devido ao colapso de duas represas (liberando ~30 bilhões de metros cúbicos de água na cidade de Derna e com impacto em outras regiões ao redor), a causa imediata foi um evento de chuva extrema: o equivalente a um ano de chuvas caiu em 24 horas, com várias áreas na Líbia recebendo 150-240 mm de precipitação, e um recorde de 414,mm/24 horas no município de Al-Bayda. Em um típico ano, Derna geralmente acumula 274 mm de chuva. Especialistas apontam que a combinação entre mudanças climáticas, conflitos armados e crises sociais e econômicas na Líbia exacerbaram o desastre, em especial com o aquecimento global provavelmente intensificando a Tempestade Daniel (um sistema de baixa pressão que se formou sobre o Mar Mediterrâneo) (Ref.4). Com temperaturas na superfície oceânica mais altas, mais energia e vapor de água acabaram sendo injetados na tempestade, alimentando chuvas extremas ao avançar sobre a Líbia.

-----------


REFERÊNCIAS

  1. Robinson et al. (2021). Increasing heat and rainfall extremes now far outside the historical climate. npj Clim Atmos Sci 4, 45. https://doi.org/10.1038/s41612-021-00202-w 
  2. Tabari, H. (2020). Climate change impact on flood and extreme precipitation increases with water availability. Scientific Reports 10, 13768. https://doi.org/10.1038/s41598-020-70816-2 
  3. Picard et al. (2023). Twenty-first century increases in total and extreme precipitation across the Northeastern USA. Climatic Change 176, 72. https://doi.org/10.1007/s10584-023-03545-w
  4. https://www.nature.com/articles/d41586-023-02899-6