Cistos de equinococo (equinococose) na perna de um homem
Em um caso reportado no periódico The New England Journal of Medicine (1), um homem de 35 anos de idade apresentou-se ao hospital com um histórico de crescente inchaço na sua perna direita (imagem acima à esquerda). Exame físico revelou firmeza na parte inferior da perna sem resposta de dor ao apalpamento. Imagem por ressonância magnética da área revelou múltiplas lesões císticas (imagem acima à direita).
Após análise médica, a aparência dos cistos mostrou-se consistente com cistos de equinococo, e um teste laboratorial enzima-baseado para anticorpos contra esse verme deu positivo. O paciente foi então tratado com albendazol (fármaco prescrito para tratamento de verminoses, como Ancilostomíase, Ascaridíase, Enterobíase), e infecção com a espécie Echinococcus granulosus foi confirmada após pericistectomia (retirada cirúrgica de todo cisto em uma espécie de enucleação junto a sua cápsula).
A equinococose (ou hidatidose) consiste em uma doença parasitária causada pelo estágio larvário do E. multiloculares, E. oligarthrus, E. vogeli e Equinococcus granulosus. Tem uma distribuição mundial, embora seja mais prevalente na Austrália, Nova Zelândia, Norte de África, Índia, Bacia Mediterrânea e em algumas regiões da América do Sul. Qualquer órgão pode ser afetado, no entanto, 90% das infeções localizam-se no fígado e no pulmão. O rim é atingido em apenas 2% dos casos
O E. granulosus, produtor de lesões císticas uniloculares, é prevalente em áreas de criação de gado em associação a cães e encontra-se na Austrália, Argentina, Chile, África, Europa Oriental, Oriente Médio, Nova Zelândia e Uruguai. O E. multiloculares, que produz lesões alveolares multiloculadas, em geral de invasão local, encontra-se em regiões árticas e subárticas, inclusive Canadá e Norte da Europa e Ásia. E. vogeli causa hidatidose policística e é encontrado nas Américas Central e do Sul. A equinococose raramente é encontrada nos Estados Unidos. Das espécies envolvidas com a doença, o E. granulosus consiste no mais comum causador da doença.
O verme adulto vive no intestino delgado de cães (hospedeiro definitivo) e o cisto hidático é encontrado, principalmente, no fígado e pulmões de ovinos, bovinos, suínos, caprinos, etc. (hospedeiros intermediários). No homem os cistos localizam-se, principalmente, no fígado, pulmões e outros órgãos, não havendo relatos de hidatidose em testículos e olhos. Os ovos eliminados junto às fezes dos cães contaminam o ambiente (pastagens, solo e alimentos, p. ex.), onde se mantêm viáveis por mais de um mês.
Os hospedeiros intermediários, acidentalmente o homem, ingerem os ovos junto com o alimento. A dissolução do embrióforo, a ativação e liberação do embrião (25 micra) dá-se através do estímulo do suco gástrico. Dessa forma, quando os ovos chegam ao duodeno, a oncosfera é liberada e entra na circulação portal, atingindo os sinusóides hepáticos. Ocasionalmente, atravessam os sinusóides hepáticos (30 micra) e atingem a circulação pulmonar (12 micra) e/ou sistêmica, disseminando-se por outros órgãos, inclusive ossos. A partir daí, desenvolve-se o cisto hidático, forma larval do parasita. O ciclo biológico completa-se quando o cão ingere as vísceras do hospedeiro intermediário e desenvolve em seu intestino a forma adulta do parasita.
REFERÊNCIAS
- https://www.nejm.org/image-challenge
- DOI: 10.5935/0101-2800.20160017 (Link)
- https://cdn.publisher.gn1.link/jornaldepneumologia.com.br/pdf/2001_27_4_9_portugues.pdf