YouTube

Artigos Recentes

Alerta: Prata coloidal é tóxica e NÃO deve ser usada para o tratamento de doenças

 

          O uso oral de prata coloidal - pequenas partículas de prata suspensas em uma mistura aquosa - têm sido amplamente promovido para o tratamento de diversas doenças, e, desde o início da atual pandemia, diversas postagens no Facebook têm incentivado seu uso para o tratamento da doença (COVID-19) causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Defensores da prata coloidal alegam que tal mistura aquosa pode tratar todos os tipos de condições de saúde, agindo como um "antisséptico" e fortalecendo o sistema imune. No entanto, não existem mínimas evidências científicas dando suporte para um uso sistêmico nesse sentido. Aliás, ao contrário de metais como ferro e zinco (e na forma de íons), prata não possui funções no corpo humano, podendo causar danos renais, problemas neurológicos e argiria - uma condição na qual sua pele se torna azul-cinzenta - em especial quando exposta ao Sol - devido ao acúmulo de prata nos tecidos do corpo, e geralmente de forma permanente (Ref.1). A ingestão oral de prata coloidal é nociva. A prata possui aplicabilidade médica apenas via uso tópico, para tratar queimaduras, infecções de pele, etc., e para prevenir conjuntivite em recém-nascidos.


- Continua após o anúncio -


          A prata têm sido usada desde a antiguidade pela humanidade para o tratamento de várias doenças, desde resfriado comum até o câncer, assim como a sangria foi por muito tempo usada para tratar várias doenças sem suporte científico para tal. Porém, devido à sua atividade antimicrobiana bem estabelecida, prata é ainda usada em produtos para tratamento antimicrobiano local (ex.: em curativo de feridas). Na década de 1920, antes da descoberta dos antibióticos, prata e nitrato de prata eram os principais antibacterianos utilizados para feridas diversas. No entanto, uso sistêmico (ex.: ingestão ou via intravenosa) têm sido banido em vários países como uma terapia não-efetiva e potencialmente tóxica. Somando-se a isso, apesar de nanopartículas de prata (AgNPs) serem realmente efetivas contra bactérias in vitro e em feridas na pele, assim como contra alguns fungos e vírus, bactérias podem se tornar resistentes à prata. 

          Uso tópico de spray nasal contendo prata coloidal para tratar infecções no trato nasal também não possui evidência clínica de suporte e falhou em um estudo clínico randomizado de 2017 (Ref.8).

          Por fim, a promoção falsa da prata coloidal como terapia efetiva contra doenças diversas pode atrasar ou impedir o tratamento dessas mesmas doenças com vias terapêuticas realmente efetivas.


-----------

> Prata coloidal consiste de partículas de prata e de íons de prata suspensos em solução aquosa. Nessa mistura o tamanho das partículas de prata geralmente varia entre nanopartículas (≤100 nm) e micropartículas (até 1000 nm). Quanto menor o tamanho das partículas (especialmente no espectro de 1 nm até 10 nm), maior sua atividade antimicrobiana e citotoxicidade, devido à maior área superficial por massa. Os íons de prata (Ag+) nos produtos de prata coloidal mediam em maior extensão os efeitos tóxicos no corpo humano. As nanopartículas e micropartículas de prata são constituídas do elemento metálico prata reduzido (Ag0), este o qual pode ser obtido via métodos físicos, eletroquímicos e químicos (ex.: uso de borohidreto de sódio ou de citrato de sódio para reduzir íons de prata dissolvidos em água). 

-----------


   MECANISMO DE TOXICIDADE

          Um importante mecanismo dos efeitos antimicrobianos das nanopartículas de prata e de prata coloidal  é a forte atividade oxidativa devido à liberação abundante de íons de prata (Ag+), o qual é também a base  para sua toxicidade em vários órgãos.

          Após a ingestão de prata nanoparticulada, está passa a ser sistematicamente disponível em pequenas quantidades. Tanto as nanopartículas quanto os íons Ag+ liberados se acumulam de forma persistente no corpo, e 2-4% da prata absorvida é retida nos tecidos. Os íons Ag+ e as nanopartículas (Ag0) causam múltiplos danos celulares, incluindo danos no DNA nuclear e no DNA mitocondrial e alteração da integridade da membrana celular, os quais levam à produção excessiva de espécies reativas oxigenadas, necrose celular e apoptose celular. No organismo, parte dos íons Ag+ se ligam preferencialmente aos átomos de enxofre nas proteínas (associados ao grupo tiol do aminoácido cisteína) e parte reage com íons cloreto, precipitando na forma de cloreto de prata (AgCl), ambos mecanismos facilitando o acúmulo no corpo. 


- Continua após o anúncio -


           A mais visível consequência da exposição prolongada à prata é a argiria, uma pigmentação azulada irreversível na pele devido ao acúmulo de prata. Não existe tratamento efetivo para tratar argiria sistêmica; diminuir a exposição da pele ao Sol pode ajudar a prevenir a progressão da coloração azul-cinza. Para argiria local, pode ser tentado tratamento com laser, de forma similar ao usado na remoção de tatuagens (1). Em adição à argiria, numerosos estudos têm descrito múltiplos efeitos adversos e de toxidade em vários órgãos. Prata coloidal e nanopartículas de prata em geral são comprovadamente ou potencialmente tóxicas em outros seres vivos, desde mamíferos até invertebrados e microrganismos.



           Algumas poucas colheres de sopa (cerca de 15 mL) de prata coloidal com concentração de apenas 10 mg/L contêm cerca de 300 microgramas de prata e excede em 2-16 vezes os limites de toxicidade estabelecidos em diferentes guias internacionais de saúde para uma pessoa de 60 kg (Ref.5).


REFORÇANDO: Não existe benefícios cientificamente comprovados da ingestão de prata coloidal, e, sim, séria toxicidade comprovada. Overdose crônica de prata pode causar dados irreversíveis à saúde, incluindo argiria permanente, problemas neurológicos, leucemia, danos renais e morte. Suplementos alimentares contendo prata coloidal são ilegais e tóxicos. 

> PRATA pode ser obtida de depósitos puros assim como de minerais contendo prata, como a argentita. A maior parte da prata comercializada é obtida como um subproduto do processamento de minerais contendo ouro, cobre e chumbo. É estimado que quase 320 toneladas de prata nanoparticulada é produzida anualmente e usada em campos diversos. No campo biomédico é usado em aplicações como curativos de feridas, desinfetantes e instrumentos cirúrgicos.


REFERERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. https://nccih.nih.gov/health/colloidalsilver
  2. https://www.mdpi.com/1422-0067/21/7/2375/htm
  3. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0304389419319284
  4. https://www.mdpi.com/2079-6382/9/1/36
  5. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214750020304662
  6.  https://www.fda.gov/inspections-compliance-enforcement-and-criminal-investigations/warning-letters/colloidal-vitality-llcvital-silver-604885-03062020
  7. https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1
  8. https://link.springer.com/article/10.1186/s40463-017-0241-z078155219832966
  9. Reporte de caso (2011): Case In Point