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Por que o formol não deve ser utilizado para alisar o cabelo?


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          No Brasil, o uso do formol não é permitido como alisante capilar. Essa substância além de ser muito tóxica, é um cancerígeno comprovado. Entretanto, 35% dos fiscais de Vigilâncias Sanitárias de estados e municípios que participaram de uma recente pesquisa da Anvisa sobre este tema (Ref.1), relataram ter constatado o uso irregular de formol em alisantes. Por isso, a população precisa estar atenta aos riscos do uso irregular dessa substância em salões de beleza e na compra de produtos capilares para uso caseiro. A seguir, o tema é explorado ponto a ponto, expandindo esclarecimentos publicados pela Anvisa:

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1 – O que são alisantes?

Os alisantes são produtos cosméticos que modificam a estrutura química capilar para relaxar, alisar ou ondular os cabelos com duração do efeito após o enxague. Todos os alisantes capilares, inclusive os importados, devem ser registrados. Alisantes sem registro estão irregulares e podem causar danos à córnea, queimaduras graves no couro cabeludo, quebra dos fios e queda dos cabelos.

2 – Como identificar se um alisante é seguro? 

Verifique se a embalagem do produto contém o número de Autorização de Funcionamento da Empresa (AFE) e o número do processo, que corresponderá ao número de registro do produto. Todos os alisantes capilares, inclusive os importados, devem ser registrados. Alisantes sem registro estão irregulares.

3 – Quais os riscos da utilização de um alisante sem registro?

Produtos sem registro podem causar danos à córnea, queimaduras graves no couro cabeludo, quebra dos fios e queda dos cabelos, e o uso crônico pode expor o corpo a doenças como o câncer.

4 – Formol pode ser utilizado em alisantes de cabelo?

Não. O formol não pode ser utilizado como alisante capilar. Adicionar formol a esses produtos é infração sanitária (adulteração ou falsificação) e crime hediondo, de acordo com o art. 273 do Código Penal.

 O que é o formol?

O formol (formaldeído) é o mais simples e um dos mais reativos aldeídos (grupo de substâncias químicas de fórmula geral R1R2CO). O formaldeído pode ser produzido a partir de diversas fontes, naturais ou antropogênicas. Apenas nos EUA, são produzidos industrialmente em torno de 5 milhões de toneladas desse composto todos os anos. Fontes ocupacionais de exposição ao formaldeído incluem a manufatura de resinas para produtos de madeira, fornitura e ornamentos, vestuário e tecidos, produtos plásticos e químicos em geral. Vários serviços industriais (médico, dentário, veterinário, etc.) também liberam formol na forma de formalina, uma solução de formaldeído e água.


Formaldeído exógeno é rapidamente metabolizado no local de entrada para o corpo de mamíferos (tipicamente o trato respiratório superior). Esse composto também é produzido endogenamente e é um intermediário essencial na biossíntese de purinas, timidinas e vários aminoácidos.

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6 – Quais os riscos para a saúde do uso indevido do formol em alisantes de cabelo?

O uso indevido de formol em alisantes de cabelo pode causar diversos males à saúde, como: irritação, coceira, queimadura, inchaço, descamação e vermelhidão do couro cabeludo, queda do cabelo, ardência dos olhos e lacrimejamento, falta de ar, tosse, dor de cabeça, ardência e coceira no nariz. Exposições constantes podem deixar a boca amarga e causar dor de barriga, enjoo, vômito, desmaio, feridas na boca, narina e olhos, e câncer nas vias aéreas superiores (nariz, faringe, laringe, traqueia e brônquios), podendo até levar à morte.

Exposição a relativas altas concentrações de formol (ex.: exposição a longo prazo a concentrações maiores do que 4 ppm) já mostrou experimentalmente causar câncer nasal em modelos de animais não-humanos, como ratos. Estudos também já demonstraram que o formol é um importante fator risco para o desenvolvimento de câncer nasofaríngeo em humanos. Evidências também existem sugerindo fortemente a associação entre exposição ocupacional ao formol e risco de vários tipos de câncer.

Um estudo recente publicado no periódico International Journal of Cancer, e realizado por cientistas do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, encontrou que mulheres que usam tinturas permanentes e produtos químicos de alisamento para os cabelos possuem um risco substancialmente maior de desenvolverem câncer de mama do que mulheres que não usam esses produtos. Nos alisantes, o formol foi apontado como um dos agentes cancerígenos suspeitos. Para mais informações, acesse: Tintas permanentes e alisadores de cabelo associados ao câncer de mama


 Mas se o formol é produzido pelas nossas células, como ele faz mal à saúde?

De fato, o formaldeído é gerado de forma endógena no corpo humano e de outros animais como resultado do metabolismo celular. Aliás, esse composto é produzido em níveis suficientes dentro das nossas células para representar uma significativa ameaça à estabilidade genômica. Porém, os organismos evoluíram um sistema de desentoxicação centrado sobre a enzima álcool desidrogenase 5 (ADH5). Esse sistema converte formaldeído para íon formiato, uma molécula menos reativa que pode ser usada para a biossíntese nucleotídica. O caminho de reparo de DNA Anemia Fanconi (FA) garante uma proteção adicional contra o formaldeído ao aliviar danos no DNA. Aliás, a inativação simultânea tanto do ADH5 e do FA-DNA em ratos leva a disfunções de órgãos vitais e câncer. No entanto, esse sistema de defesa evoluiu para lidar com o formol endógeno, e de forma intra-celular, e não com excessos exógenos.

8 – Existem outras substâncias que também são utilizadas de forma irregular para alisar cabelos? 

Sim. O glutaraldeído (glutaral), devido à semelhança química com o formol, também tem sido utilizado de forma irregular como alisante de cabelo. Os riscos para a saúde associados ao uso do glutaral de forma irregular são os mesmos do formol. Além disso, substâncias químicas diversas nesses produtos também podem representar riscos à saúde. No geral, recomenda-se evitar ao máximo o uso de alisadores capilares, assim como de tintas permanentes para cabelo.


9 – Alisantes podem ser utilizados em crianças?

Não existem alisantes capilares destinados ao público infantil. Os produtos para alisamento capilar são indicados, exclusivamente, para adultos. O uso de alisantes em crianças é proibido.

10 – Quais os cuidados que devem ser observados antes do uso de um alisante?

Após constatar que o alisante é registrado na Anvisa, leia atentamente as instruções de utilização do produto e observe as advertências que constam na embalagem.

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11 – O que devo observar no rótulo de alisantes de cabelo?

O rótulo de um produto alisante deve conter as seguintes frases: 'Este preparado somente deve ser usado para o fim a que se destina, sendo PERIGOSO para qualquer outro uso'; 'Não aplicar se o couro cabeludo estiver irritado ou lesionado'; 'Manter fora do alcance das crianças'; Não usar em crianças'; 'Para o uso em grávidas e lactantes, consultar um médico'; e 'Aplicar o produto a meio centímetro da raiz'. Além disso, deve incluir o teste de mecha. Obs.: Produtos que tiverem derivados de ácido glioxílico (como, por exemplo, Glyoxyloyl Keratin Amino Acids e Glyoxyloyl Carbocysteine) em sua composição deverão apresentar também a frase: "Aplicações repetidas podem causar queda ou alterar a coloração dos cabelos".

12 – Onde posso consultar os alisantes de cabelo registrados?

Para saber se um alisante de cabelo é registrado na Anvisa, basta clicar aqui. Essa consulta também pode ser realizada aqui. É preciso ter em mãos uma das seguintes informações: número do processo ou número de registro, nome do produto, nome da empresa detentora do registro ou CNPJ.

13 – Quais procedimentos e métodos para alisamento capilar devem ser registrados?

Procedimentos e métodos para alisamento capilar, como escovas inteligente, definitiva e de chocolate, não são regulamentados pela Anvisa. A Agência registra somente os produtos que serão utilizados. Entretanto, todos os salões de beleza devem ser licenciados pela Vigilância Sanitária local.

14  O formol é uma preocupação para os consumidores apenas nos alisantes?

Nos alisantes o formol é geralmente um grande problema por ser encontrado em altas concentrações, mas esse composto tóxico é também encontrado em menores concentrações como um preservativo/anti-microbiano em vários produtos de consumo e industriais. O formol pode ser adicionado diretamente ao produto, ou liberado através da adição de agentes liberadores de formaldeído. Nesse sentido, várias substâncias químicas são capazes de liberar formol, como a hidantoína-DMDM e a ureia imidazolidinila; o grau de liberação/decomposição depende também de vários fatores como pH e temperatura. Esse é um perigo especialmente para quem possui alergia ou expressa irritação cutânea ao formol, porque muitos fabricantes irresponsáveis não declaram a presença direta ou indireta dessa substâncias em produtos que vão desde shampoo até protetores solares.


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/formol-nao-pode-ser-utilizado-em-alisantes-de-cabelos/219201
  2. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2468202017301456
  3. https://link.springer.com/article/10.1186/s12885-019-6445-z
  4. https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/Formaldehyde
  5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3893912/