Alerta: Medicamentos anticonvulsivos são inefetivos para o tratamento de lombalgia e de dor ciática
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Nos últimos 10 anos, a prescrição de anticonvulsivos para o tratamento de dores nas costas e no pescoço, incluindo dor radicular em cuidado primário, aumentou impressionantes 535% ao redor do mundo. Entre os quadros de dores visados, o mais comum é a lombalgia (dor crônica na parte inferior da coluna), a qual afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. No entanto, uma revisão sistemática e meta-análise publicada no CMAJ (Canadian Medical Association Journal) (Ref.1) mostrou que os anticonvulsivos são inefetivos para o tratamento de lombalgia e dor ciática, podendo causar eventos adversos sem quaisquer ganhos significativos de benefícios.
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LOMBALGIA E ANTI-CONVULSANTES
A dor crônica na parte inferior da coluna (lombalgia crônica) é uma condição debilitante muito comum que afeta tanto a qualidade de vida quanto a performance em atletas. Suas causas são complexas, e muitas delas ainda desconhecidas, mas caracteriza-se como uma dor na parte inferior das costas que persiste por mais de 12 semanas. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), em média 80% dos adultos entrarão em crise de dor lombar ao menos uma vez ao longo da vida, e 90% dessas pessoas irão apresentar mais de uma crise. Entre os afetados, 10% costumam evoluir para o quadro de debilidade associado a dor lombar crônica, com um número total de debilidades que ultrapassa qualquer outra condição de saúde. Estratégias de tratamento para a condição partem do campo da fisioterapia até treinos de fortalecimento muscular (1).
- (1) Leitura recomendada: Fortalecimento do core: pode tratar e prevenir a dor lombar associada ou não às corridas
Em torno de 5-10% das pessoas com um quadro de lombalgia possuem ciática, na qual a dor na perna segue o nervo ciático e pode ser acompanhada por mudanças na força, sensibilidade e reflexos nesse membro. Uma menor proporção de pessoas possuem claudicação neurogênica, na qual a dor na perna está associada com estenose espinhal e sintomas são exacerbados com atividades de extensão - como caminhar - e aliviadas com flexão - sentar, por exemplo. A dor na perna com origem na espinha lombar é comumente referida como dor radicular.
Mas apesar das recomendações de práticas clínicas geralmente buscarem tratamentos não-farmacológicos e analgésicos não-opioides, a prescrição de analgésicos mais fortes tem aumentado de forma mais do que substancial, especialmente de anticonvulsivos (também chamados de anticonvulsivantes, estabilizantes de humor ou antiepiléticos).
Os anticonvulsivos são medicamentos utilizados, primariamente, para a prevenção e tratamento de crises convulsivas e epiléticas, via supressão da ativação rápida e excessiva dos neurônios. A epilepsia é uma das causas mais comuns de convulsões, representando um transtorno neurológico que afeta aproximadamente 2,4 milhões de adultos nos EUA. Outras indicações para o uso de anticonvulsivos incluem:
- Transtorno bipolar I;
- Mania;
- Neuralgia posterpética;
- Tratamento e prevenção de convulsões ocorrendo durante ou após neurocirurgias;
- Profilaxia de fortes dores de cabeça;
- Convulsões em geral;
- Neuralgia trigeminal.
A ação analgésica dos medicamentos anticonvulsivos, em específico, parece ser resultado da limitação na excitação e otimização inibitória na atividade neuronal. Anticonvulsivos como a gabapentina e a pregabalina - às vezes chamados de gabapentinoides - já mostraram ser eficazes para condições de dores neuropáticas como a neuropatia periférica diabética. No entanto, as evidências científicas de eficácia e segurança desses medicamentos para a lombalgia e dor lombar radicular são inconclusivas.
Mesmo com essa incerteza terapêutica, os anticonvulsivos estão sendo amplamente prescritos por profissionais de saúde para esses dois tipos de dores. Recentes orientações de agências de saúde nos EUA e Reino Unido não recomendam o uso desses medicamentos para tratar a lombalgia devido à falta de evidências científicas conclusivas suportando um balanço positivo entre riscos e benefícios. Porém, mesmo no Reino Unido, orientações de 2016 recomendam o uso de anticonvulsivos para o tratamento de dores ciáticas.
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ALERTA!
Nesse sentido, pesquisadores da Universidade de Sydney, liderados pelo Dr. Oliver Enke, realizaram uma revisão sistemática e meta-análise englobando 9 estudos de moderada e alta qualidade para verificar a eficiência e segurança no uso de anticonvulsivos para o tratamento de dores crônicas na parte inferior da coluna e de dor lombar radicular.
O resultado da revisão - a qual incluiu 859 participantes com uma média de idade de 51 anos - mostrou que esses medicamentos não são mais eficazes do que um placebo e, para piorar, estão associados com um aumento de eventos adversos nos pacientes - no caso, para os anticonvulsivos do grupo dos gabapentinoides (mais comumente prescritos para a lombalgia). Entre os eventos adversos mais comuns reportados pelos participantes estavam incluídos sonolência, tontura e náuseas. Isso sem contar na vasta gama de outros efeitos colaterais com os quais esses medicamentos estão associados.
O grande aumento na prescrição de anticonvulsivos para o tratamento de lombalgia e dores ciáticas possivelmente deve estar seguindo a tendência de diminuição na prescrição de opioides, especialmente no cenário de atual crise de saúde pública que os EUA vêm enfrentando (2). Porém, em luz do novo achado, os anticonvulsivos devem ser abandonados para tratar esses quadros crônicos de dor. Pacientes estão sendo expostos de forma desnecessária ao aumento de riscos de eventos adversos.
- (2) Para saber mais, acesse: Abuso e manejamento responsável de opioides
IMPORTANTE: Medicamentos anticonvulsivos estão associados com sérios efeitos colaterais - principalmente em crianças - e devem ser usados apenas para o tratamento de condições específicas onde os benefícios compensam os riscos, e sob orientação médica. Mesmo as drogas anticonvulsivas mais modernas, como o felbamato, gabapentina e a zonisamida, consideradas mais seguras e toleradas, também carregam um potencial de preocupantes efeitos adversos, especialmente quando mal utilizadas.
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
- http://www.cmaj.ca/content/190/26/E786
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28741370
- https://www.cms.gov/Medicare-Medicaid-Coordination/Fraud-Prevention/Medicaid-Integrity-Education/Pharmacy-Education-Materials/Downloads/ac-adult-factsheet11-14.pdf