Por que a pele tende a coçar cada vez mais com o avanço da idade?
Compartilhe o artigo:
Muitos idosos desenvolvem uma pele super sensitiva que se torna bastante suscetiva às coceiras ao mais leve toque. Infelizmente, os cientistas ainda não sabem o que causa essa agoniante condição - chamada de alloknesis- ou como tratá-la. Porém, um novo estudo publicado na Science (Ref.1) parece ter encontrado uma resposta para o problema, trazendo uma potencial e efetiva opção de tratamento.
- Continua após o anúncio -
COCEIRA CRÔNICA
A coceira crônica frequentemente acompanha muitas doenças dermatológicas, assim como certas condições neuropáticas e sistêmicas. Como exemplos, podemos citar dermatites atópicas, psoríase, neuralgia pós-herpética, falha renal, doenças hepáticas e avanço da idade. Nesse sentido, o ato de coçar exacerba inflamações na pele, levando a um vicioso ciclo de coceira que reduz significativamente a qualidade de vida. E similar às dores crônicas, a coceira crônica frequentemente apresenta anormalidades somatossensoriais.
A coceira crônica divide-se basicamente em dois tipos: alloknesis e hyperknesis. Tanto a alloknesis quanto a hyperknesis tipicamente ocorrem dentro da região de provocação da coceira e na pele imediatamente ao redor dessa área. Geralmente, os especialistas descrevem a alloknesis como uma coceira ocorrendo em resposta a um estímulo tátil inofensivo (dinâmico), e a hyperknesis como uma coceira em resposta a um estímulo de picada pontual - o qual pode ou não ser considerado levemente doloroso em condições normais. A hyperknesis também pode ser fomentada por estímulos químicos, como administração de histamina, e, em anos recentes, a alloknesis também está sendo usada para caracterizar coceira e agravação de coceira em resposta a estímulos térmicos (no caso, aquecimento, seja danoso ou inofensivo).
Os mecanismos moleculares e celulares específicos ainda são desconhecidos para essas condições. No geral, estudos recentes já identificaram uma subpopulação de neuropeptídeos Y (NPY)-positivos interneurais que são inervados por mecanorreceptores de baixo-limite nos pelos da pele (LTMRs) e que crucialmente regulam a coceira mecânica na medula espinhal
- Continua após o anúncio -
ALLOKNESIS, RATOS E HUMANOS
O toque é crucial para a exploração do ambiente e para a comunicação. No entanto, com o avanço da idade, é comum a ocorrência de alloknesis, especialmente associada com a pele seca (xerosis) - uma condição comum entre os idosos, já que nessa fase existe uma significativa perda de glândulas sudoríparas e oleosas..
Nesse sentido, pesquisadores da Washington University School of Medicine, St. Louis, Missouri, resolveram analisar ratos jovens e velhos (de 2 meses até mais de 24 meses de idade, respectivamente), sob variáveis níveis de força mecânica sobre determinado local da pele com o objetivo de irritá-la levemente. Como as pessoas, ratos ficam com a pele mais suscetível à coceira com o avanço da idade, servindo de modelos perfeitos para esse tipo de estudo.
Basicamente, Hongzhen Hu - autor principal do estudo e pesquisador anestesiologista - e colaboradores usaram um filamento bastante fino de nylon para aplicar uma quantidade precisa de pressão em uma região depilada da pele no pescoço dos roedores. Jovens ratos não responderam muito ao leve toque, mas os ratos mais velhos tendiam a coçar furiosamente no local pressionado.
Analisando amostras de pele dos roedores do experimento, os pesquisadores descobriram que os ratos mais velhos tinham menos células do canal-Merkel Piezo2 e quanto menor a quantidade dessas células, mais sensitiva a pele se tornava à coceira.
Na próxima rodada de experimentos, os pesquisadores testaram como jovens ratos geneticamente modificados para não expressaram as células Merkel responderiam às fibras de nylon. De fato, os ratos passaram a se coçarem com fervor, confirmando que as células Merkel são necessárias para frear a sensação de coceira. Além disso, os pesquisadores fomentaram a atividade de células Merkel geneticamente modificadas para ativar quando expostas a uma substância chamada de óxido-clozapina-N, e encontraram que isso reduzia a coceira em ratos que tinham uma condição de alloknesis
Os resultados do estudo claramente mostraram que a sinalização das células do canal-Merkel Piezo2 é crítica no processo de modular a conversão do toque para coceira, além de serem requeridas para o funcionamento normal dos mecanorreceptores, com isso, por sua vez, levando ao controle da atividade dos inibidores interneurais NPY+ e NPY-.
Para reforçar ainda mais essa conclusão, os pesquisadores apontaram que estudos passados já mostraram que as células Merkel na pele estão em quantidade reduzida na pele de pessoas mais velhas e/ou com a pele seca. Nesse sentido, o próximo passo dos pesquisadores é a análise de biópsias de peles humanas de diferentes idades com ou sem alloknesis para confirmar os achados. Se confirmado, isso pode levar à criação de ferramentas para tratar essa mais do que incômoda condição, visando uma maior ativação das células Merkel nos indivíduos afetados.
O que ainda não está resolvido é como exatamente os toques mecânicos geram os sinais na pele associados com a coceira vista na alloknesis.
- Continua após o anúncio -
CONCLUSÃO
Finalmente parece que os pesquisadores encontraram um dos principais responsáveis na pele que levam às terríveis coceiras nas pessoas idosas e naquelas que possuem a pele seca: células do canal-Merkel Piezo2. Quanto menos delas, mais sensível às coceiras a pele se torna. Porém, isso foi descoberto em modelos de roedores. Caso a extrapolação para os humanos seja confirmada - bem provável -, isso abre as portas para uma efetiva via de tratamento.
Artigo Recomendado: Terapia com veneno de abelha é seguro e efetivo?
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
- http://science.sciencemag.org/content/360/6388/530
- http://www.sciencemag.org/news/2018/05/why-getting-old-gives-you-itchy-skin
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29659469
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26645545
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4063361/
- https://www.nia.nih.gov/health/skin-care-and-aging